O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 26
A Varinha das Varinhas




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XXVI

A VARINHA DAS VARINHAS

Quanto mais ele conseguiria suportar?

Nas últimas semanas, Severo Snape constantemente fazia aquela pergunta a si mesmo, e a resposta sempre era a mesma: não muito. Tudo que ele estava fazendo, o seu jogo duplo, as suas traições... aquilo tudo estava consumindo-o. Da forma mais terrível.

Já não era mais a sua sanidade que estava em jogo. Já não era mais a sua vida. Era o seu caráter. As suas convicções, as suas crenças... e até mesmo os motivos que o levaram àquela guerra.

Ele sentia como se o homem que nascera com a morte de Lílian Evans estivesse desaparecendo, para dar lugar ao Severo Snape anterior. O Prince, que era movido pelo poder.

Severo gostava de poder. Mas, com o passar dos anos, ele fora se esquecendo que era justamente aquilo que o Lorde das Trevas o oferecia.

Agora, no entanto, enquanto ele fazia questão de se manter longe de Alvo Dumbledore e que sequer ouvia falar de sua esposa, ele não tinha mais distrações... e, sem distrações, ele podia se concentrar novamente em seu passado. Ele podia lembrar que não fora vinganças ou a vontade de se provar para a sua família e seus amigos o que o levou a se alistar no exército das Trevas quando tinha apenas dezesseis anos. Naquela época, ele já sabia que era uma pessoa essencialmente má. E, agora que ele não tinha ninguém para lhe dizer o contrário, estava voltando a acreditar naquilo. Poder voltou a ser uma palavra chave em sua vida.

Se ele era, de fato, uma pessoa essencialmente má, era apenas natural que ele estivesse gostando de cada serviço sujo que ele desempenhava em nome de uma causa que não era dele. Os trabalhos que ele não mais acreditava ser obrigado a exercer apenas para manter o seu disfarce entre os Comensais da Morte, mas que ele fazia por lhe darem poder.

Estar na presença do Lorde das Trevas estava se mostrando cada vez mais fácil com o passar do tempo. Prazeroso, ele não podia negar. Aos poucos, Severo se via mais próximo do seu antigo mentor, tendo retomado, inclusive, o título de aliado em quem o Lorde das Trevas mais confiava... acima inclusive de Bellatrix, a amante louca.

E ele sentia-se orgulhoso, também não podia mais negar aquele fato. Especialmente em tardes como aquela.

O Lorde o chamara para conversar – não para questionar, ou dar ordens. Para conversar de igual para igual, como se eles fossem amigos. Há horas, ele apenas dividia com Severo as suas ambições e dizia frivolidades, enquanto tomava com ele uísque de fogo.

- Mulheres, meu amigo, mulheres... – O Lorde das Trevas tomou um gole da sua bebida e suspirou. – Elas não valem o trabalho que dão. Acho que todo homem deveria ter ao seu lado uma cadelinha fiel, como a Bella!

Severo de um meio-sorriso.

- Rodolphus dificilmente chamaria a mulher dele de cadelinha fiel, Milorde.

- Na relação dos dois, meu amigo, eu diria que Rodolphus é a cadelinha! Você também o acha afeminado, Severo?

- É uma piada recorrente entre os Comensais.

O Lorde das Trevas soltou uma risada rouca – típica de alguém que não costuma rir com freqüência.

- Sim, sim... Ele e Aleto, não? Com a diferença que a nossa querida Aleto saiu do armário. Se ela fosse bonita, seria uma pena.

- Ou se a família Carrow fosse relevante.

- Claro, claro! Por falar em famílias relevantes, Severo, o que você acha do rumor sobre a união entre uma certa ex-Malfoy e um Yaxley?

Severo sentiu o seu coração parar por um momento. Teve que se concentrar para manter-se inexpressivo.

- Eu não tenho mais notícias de Linda. Se ela quiser ficar com Yaxley, bom para ela, ruim para ele.

- Nossa! Eu ia perguntar se você quer que eu peça para que ele pare de procurar Linda Marie?

- Eu quero – Ele respondeu rápido demais. – Peça.

- Você é previsível, meu amigo. Considere feito. Eu posso também mandar alguém vigiá-la... ela jamais ficaria sabendo.

Severo ficou em silêncio por um momento, considerando... sabendo que não deveria deixar que o Lorde fizesse aquilo, mas sentindo-se absolutamente tentado à aceitar a oferta.

Por fim, respondeu:

- Não. Não será necessário.

- Como você quiser. – Ele suspirou. – Severo, eu gostaria de lhe mostrar uma coisa... uma coisa que tem que ser mantida no mais absoluto segredo.

Severo assentiu lentamente, procurando não demonstrar a sua ansiedade. O Lorde das Trevas parecia incerto, o que lhe denunciava que o que ele queria revelar era importante. Ele observou o Lorde se levantar e vagar pelo escritório de Lúcio, olhando com atenção para os inúmeros livros e estatuetas ali exibidas.

Finalmente, sacou a sua varinha. O Lorde das Trevas murmurou um encantamento que Severo não conhecia, e aquilo fez com que a estante partisse em duas, dando passagem para uma espécie de cofre. E foi de lá que surgiu a penseira dos Malfoy.

- O que você sabe sobre as Relíquias da Morte, Severo?

Severo franziu o cenho ao ouvir aquela pergunta.

- É uma lenda. Uma história infantil.

- É o que se acredita hoje. Mas, há anos, as pessoas não viam as Relíquias como uma lenda.

Severo deu um meio-sorriso.

- Eu acho difícil acreditar que a morte tenha presenteado os Peverell com objetos mágicos, Milorde.

- Sim, isso é difícil de imaginar. Mas e se não fosse a morte, Severo? E se fossem apenas três objetos incrivelmente poderosos, forjados por um bruxo igualmente poderoso... como Merlin, talvez? Você acreditaria?

Ele deu de ombros.

- Nesse caso, Milorde, acho Potter tem uma Capa da Invisibilidade que poderia lhe interessar muito. Nunca a vi, mas Dumbledore me disse, antes do garoto ingressar em Hogwarts, que Tiago havia lhe deixado uma capa sobre a qual não recaía o feitiço da desilusão ou o feitiço camaleão. Ele disse que jamais vira algo igual e eu imediatamente pensei que pudesse ser Capa da Invisibilidade da lenda... Claro que imediatamente descartei a teoria, simplesmente por ser absurda.

O Lorde das Trevas sorriu.

- A capa que o garoto possui é, de fato, a mesma mencionada na lenda.

Boquiaberto, Severo o encarou por um segundo.

- Como o senhor pode ter certeza?

- Pesquisas, Severo. Eu sabia que aquela capa estava com os Potters muito antes de Tiago Potter colocar as mãos nela. Mas, sinceramente, ela nunca me interessou. O anel, por outro lado, eu já achei e já fiz um bom uso dele.

Severo assentiu, se aproximando automaticamente do Lorde e da penseira.

- Então, eu imagino que o senhor queira me mostrar algo sobre a Varinha das Varinhas?

- Justamente – Ele sorriu. - A Varinha das Varinhas elevaria o meu poder ao máximo. Eu estive traçando o rastro de morte que ela deixou nos últimos séculos... mas está complicado.

- E é por isso que o senhor seqüestrou Olivaras!

- Sim, mas ele não sabe muito. Tive que fazer outras investigações... Acho que estou perto, agora. Eu sei que ela pertenceu ao fabricante de varinhas Gregorovich...

- A quem o senhor já assassinou, se não me engano?

O Lorde das Trevas não pareceu aborrecido com a interrupção. Ao contrário, os seus lábios curvaram-se num ensaio de sorriso e ele assentiu.

- Sim... Em setembro do ano passado. Eu vi que ela foi roubada por alguém e eu tenho certeza que conheço o seu rosto. E gostaria que você o olhasse.

Dizendo isso, o Lorde gesticulou em direção à penseira, pedindo que Severo se aproximasse. Apesar de o seu sangue correr mais rápido pela excitação de ver algo que, talvez, pudesse ajudar em seu verdadeiro propósito naquela guerra, não conseguiu deixar de sentir uma ponta de orgulho ao ver a confiança que o Lorde lhe depositava.

O Lorde foi na frente dele passou a sua varinha sobre a superfície gasosa prateada... E Severo pôde ver o gás espesso dissipar-se e formar uma imagem.

Severo espiou brevemente a imagem. Era um homem loiro de olhos azuis que- que ele já vira diversas vezes por entre as coisas de Dumbledore. Era Gellert Grindelwald. Rapidamente, a sua mente fez as contas: Dumbledore subjugara Grindelwald no campo de batalha, o que queria dizer que a varinha lhe pertencia antes de...

Ele prendeu a respiração por um momento.

Era ele mesmo. O Lorde das Trevas vinha procurando o portador da Varinha das Varinhas, e aquele era o próprio Severo. E, para se tornar o mestre daquela Relíquia da Morte em particular, o Lorde teria que subjugá-lo... com a morte, para não arriscar um erro.

Severo sabia que era um Comensal importante. Mas sabia que não era tão importante.

- Então? – A voz fria soou, despertando-o.

Aquilo era o que ele precisava para fazer com que o espião renascesse.

Olhou para o Lorde, com a expressão limpa de qualquer sentimento.

- Não o conheço.

- Você tem certeza?

- Absoluta. Eu nunca esqueço um rosto.

O Lorde das Trevas bufou, frustrado.

- Se você pensar em alguma coisa, me avise, Severo.

- Claro, Milorde.

O Lorde o guiou para fora do escritório dos Malfoy.

- Confio que essa conversa permanecerá em segredo.

- Naturalmente.

XxXxXxX

Ela se olhou no espelho pelo que parecia ser a milésima vez. Linda estava se sentindo como uma adolescente. No entanto, depois de dez anos sem ir a um encontro, ela tinha direito de sentir como bem entendesse.

Ela sorriu nervosamente, enquanto os seus olhos capturavam a pequena caixa de chocolates e o cartão que, naquela manhã, lhe foram enviados por Andrew Weiss. Aquilo seria bom para ela – voltar a ter uma vida amorosa.

Há dias Linda não pensava no marido; ela se proibia de fazer isso, na verdade. As roupas que ele ainda tinha dentro da casa estavam, agora, ocupando duas malas magicamente reduzidas no fundo de uma gaveta – junto com todas as fotos que eles tinham juntos, os livros prediletos dele e, claro, a maldita poltrona marrom que ele amava, mas sempre odiou em segredo. E ela procurava manter a sua cabeça ocupada... não mais no pequeno emprego no St. Mungus – Severo tinha conseguido aquela vaga para ela, o que a contaminava –, mas se divertido na Riviera Francesa e, depois, passando dias e dias enfurnada no Três Vassouras.

E dias enfurnada no Três Vassouras sempre significava dias na companhia de Andrew.

Claro que ela ainda não gostava dele como homem... Mas Linda tinha a mais absoluta certeza que, se desse a ele uma chance, logo começaria a vê-lo com outros olhos.

Duas batidas leves na porta a tiraram dos seus pensamentos. Mordendo nervosamente o lábio inferior, ela colocou o seu casaco e se encaminhou para a porta... Mas, do outro lado, não era Andrew que a esperava.

- Thomas?

Thomas Yaxley passou as mãos pelos seus cabelos loiros e deu a Linda um sorriso encantador.

- Oi! Posso entrar?

Linda apenas abriu mais a porta e deu espaço para ele. Yaxley logo entrou.

- A casa está diferente.

- Eu fiz algumas mudanças. Ficou bom?

- Sim, sim... – Ele pigarreou. – Você provavelmente está se perguntando o que eu estou fazendo aqui...

Linda sorriu.

- É dia dos namorados, Thomas. Você não tem nenhum compromisso?

- Eu achei que, talvez, você estivesse se sentindo só.

- O que te faz pensar isso?

- A sua separação – Linda ergueu uma sobrancelha. – Foi há pouco tempo, então não acho que você tenha companhia para a noite... certo?

- Thomas, eu agradeço a sua preocupação mas...

- Você se lembra daquele verão? – Ele a interrompeu. – Admita, Linda, você também se divertiu muito!

- Mais diversão do que dois adolescentes deveriam ter, Thomas! Mas isso foi há muito tempo!

- Sim, foi. Mas talvez, agora...

- Agora eu estou acabando um casamento. Eu não quero saber de diversão.

Yaxley deu um meio-sorriso.

- Então você vai passar a noite aqui, só?

- Na verdade, eu... – Duas batidas na porta a interrompeu. – Eu já tenho planos. Licença.

Ela se levantou e se encaminhou para a porta tão rápido quanto pôde, evitando observar a expressão de Yaxley. Do outro lado da porta, como esperado, estava Andrew.

- Boa noite, Linny! Vamos?

Linda assentiu brevemente antes de se virar.

- Tomas, esse é Andrew Weiss, um velho amigo meu. Andrew, esse é Thomas Yaxley... ele também é um velho amigo.

Yaxley se levantou, aproximando-se dos dois.

- Andrew Weiss? O fruteiro? Linda Marie, por favor! Você é uma Malfoy!

- Thomas, eu tenho que ir.

- Primeiro um mestiço, e agora um fruteiro. Eu sei que dizem que gosto não se discute, mas...

- Adeus, Thomas.

Ele assentiu.

- Claro, claro. Foi prazer conhecê-lo, Weiss. Divirta-se, Linda, se for possível.

E, com isso, Yaxley deixou-os só. Linda sorriu, envergonhada.

- Ele não é sempre assim.

Andrew rolou os olhos.

- Não se desculpe por ele, Linny. Podemos ir, agora?

Ela respirou fundo.

- Sim, podemos.

E os dois saíram, para o que seria uma noite divertida, displicente, ligeiramente romântica... e única.

XxXxXxX

A adrenalina ainda corria pelas suas veias quando Severo chegou do eu encontro com o Lorde das Trevas. Em muitas ocasiões, ele dissera a Dumbledore que estava disposto a morrer para fazer com que a morte de Lílian Evans não fosse em vão... Mas ele sempre confiou em sua habilidade como espião. Aquela era a primeira vez que Severo se sentia como um alvo, como um homem no corredor da morte. E ele, naquele momento, fez uma incrível descoberta: ele não tinha vocação para mártir.

Irritado, ele entrou no escritório da direção de Hogwarts.

- Alvo! – Ele bradou para o quadro vazio do ex-diretor. – Alvo, apareça aqui!

Com uma expressão atônita, a imagem de Alvo Dumbledore apareceu em seu quadro.

"Severo? Algo aconteceu?"

- O Lorde das Trevas quer a Varinha das Varinhas? Você sabia disso, não sabia? Aquele anel que você pegou no ano retrasado era a Pedra da Ressurreição, não era?

O velho fechou os olhos e inspirou lentamente. Os olhos azuis miraram Severo com uma sinceridade desconcertante.

"Sim. Para as três perguntas."

Severo parou de respirar.

- Você não pensou nisso antes de pedir que eu matasse você? Você não pensou que eu viraria o segundo alvo predileto do Lorde das Trevas, assim que ele descobrisse que você era o antigo mestre da Varinha?

"Você não deveria ter essa informação... nem ele."

- Acontece que o Lorde das Trevas é muito mais poderoso e inteligente do que você jamais sonhou, Dumbledore! Ele já possui a imagem de Grindelwald em sua memória! E ele não vai demorar a descobrir de quem se trata! E então bastará juntar dois mais dois para chegar a você e a mim! – Ele olhou com ódio para Dumbledore, esperando uma resposta; mas a imagem apenas se calou. – Era apenas então que você pretendia me dizer que os meus dias também estão contados?... Ou será que você tem outro peão para fazer isso, assim como eu tenho que dar a notícia a Potter?

"Severo, pode haver esperança! Talvez não-"

- Talvez não? – Severo bradou. – Assim como você acreditou que ficar perto do Lorde das Trevas talvez não pudesse arruinar a minha vida? E que mais uma morte em minha consciência talvez não fosse tão prejudicial? Eu vou mais longe, porque você também acreditou que Pedro Pettigrew talvez não fosse um aliado do Lorde das Trevas? Ou que Lílian talvez não precisasse de tanta proteção! E quanto ao garoto? Que você brincou de ser o pai dele por todos esses anos, apenas para mandá-lo para o matadouro! Você acha que ele talvez não vá te odiar por isso? Você acha que você mesmo talvez não vá para o inferno por tudo que você causou?

"Severo..."

- Eu não pretendo ser um peão em seu jogo, Dumbledore! Então diga logo, isso estava nos seus planos? A minha morte era apenas mais uma parte do jogo, assim como a morte de Potter? É isso que você faz com todos, não é? Você finge proteger para então-?

Finalmente Severo se calou. Ofegante, ele olhou para Dumbledore, esperando uma resposta. A imagem de Dumbledore tinha um olhar angustiado, onde Severo podia reconhecer a culpa. Mas aquilo não o acalmou.

"Não, Severo, a sua morte jamais esteve em meus planos. Você já passou por muito em sua vida, e tudo que eu sempre quis foi que você pudesse terminar a sua missão e ir viver em paz com a sua esposa." Ele pausou por um momento. "Eu acreditava que tinha apagado bem o rastro da Varinha das Varinhas, para que Voldemort jamais chegasse a ela; e, enquanto ele não soubesse que eu fui o mestre da Varinha, ele jamais lhe atingiria. As informações que ele conseguiu juntar me surpreendem, sim... como você disse, talvez eu sempre tenha subestimado o meu oponente.

"Mas você não tem que estar em perigo, Severo. Você é o novo mestre da Varinha e poderá pegá-la. Vá à minha tumba e troque a minha varinha pela sua. Quando Voldemort finalmente chegar a ela, ele terá apenas uma falsa e você terá a verdadeira; para usá-la quando ele quiser conquistar. Você terá poder suficiente para fugir."

Severo deu um sorriso sarcástico.

- Ótimo... Agora, além de assassino e torturador, eu sou também profanador de tumbas!

Alvo franziu ligeiramente o cenho.

"De tudo que você fez, isso será difícil?"

Ele fechou os olhos. Como explicar que não conseguiria ver o cadáver do antigo amigo, a menos que fosse estritamente necessário? Então, ao invés disso, decidiu que era melhor usar sua lógica infalível.

- Não seria difícil, seria inútil. A Varinha tem que ser conquistada e eu não fiz isso. Aquilo não foi assassinato, Alvo; foi uma eutanásia assistida.

"Eu não havia pensado nisso. De fato, creio que o novo mestre da varinha seja Draco, que me desarmou antes de minha morte." Ambos ficaram pensativos por um momento, antes que Alvo dissesse: "Severo, eu tenho que lhe fazer uma pergunta." Severo apenas assentiu. "Você ainda está disposto a fazer o que é necessário?"

Severo suspirou.

- Sempre que eu estou aqui. Sempre que penso. Mas, quando estou do lado do Lorde das Trevas e dos Comensais, eu me sinto em casa. Quase como o filho pródigo que retorna ao lar – ele disse com sinceridade. – O que eles me pedem para fazer parece... natural. E as idéias que eles exprimem soam lógicas... e eu me pego sem acreditar quanto tempo eu passei negando a minha própria natureza.

Os olhos azuis brilharam em decepção.

"Sua natureza? O seu coração faz parte da sua natureza?"

- Eu sei o que você vai começar a dizer, Alvo. Poupe-me do sermão que eu tenho sido obrigado a ouvir pelos últimos 18 anos. É a minha natureza, sim. Foi isso que eu aprendi com minha mãe e, principalmente, com os meus avôs. Essa era a idéia que os meus amigos tinham... quando eu chamei Lílian de Sangue-Ruim, eu estava falando sério! Eu não queria impressionar ninguém; eu apenas fui espontâneo!

"Eu não vou acreditar-"

Severo balançou as mãos em impaciência:

- Eu não amava Lílian pelo seu sangue! Eu amava Lílian apesar do seu sangue! Aquilo era um defeito que eu seria capaz de relevar; mas não mudava a minha opinião! Eu não entrei para os Comensais porque eu tinha que impressionar alguém; mas porque eu acreditava! – Ele respirou fundo. – Eu sei diferenciar o certo e o errado, hoje em dia. Mas as minhas idéias continuam as mesmas.

"Então por que você ainda não abandonou tudo?"

- Caráter. Porque eu amava Lílian. Porque ainda não existe um dia que eu não feche os olhos e saiba que ela apenas está morta por minha culpa. E eu não vou conseguir me livrar da culpa a menos que eu me certifique que o filho dela será capaz de destruir o Lorde das Trevas... apesar das minhas ideologias.

"Eu suponho, então, que você ainda está comprometido com a nossa causa" Severo assentiu, apesar de ter dúvidas sobre isso. "Nesse caso, eu te digo: conhecendo a cabeça de Voldemort como eu conheço, ele não te matará de imediato. Você é um Comensal muito útil para ele e, apesar das características do Lorde, ele realmente sentirá ter de te matar. Assim, ele apenas o fará quando precisar; quando tiver Harry perto o suficiente. E é justamente essa a oportunidade que você terá de aproveitar para dizer o que você tem de dizer a Harry e fugir."

Severo assentiu lentamente.

"Claro, isso é apenas uma suposição; e, como você disse, eu posso estar subestimando o meu oponente mais uma vez. Quando ele descobrir, Severo, você precisará ter cuidado extra. Eu aconselho que, assim que isso acontecer, você avise a sua esposa para estar de sobreaviso; para fugir para o mais longe possível dessa guerra caso você... caso você não consiga."

- Eu não quero dizer isso à Linda. Nós não estamos mais juntos.

"Linda Marie é um pouco mais ligada a você do que você imagina, Severo. Se você morrer, será interessante que ela tenha instruções para fugir e não se encontrar com nenhum Comensal ou Auror. Como você, ela está envolvida nisso tudo."

Ele suspirou.

Talvez o velho estivesse certo. Talvez devesse falar com Linda. Não para avisar, mas... para se despedir, caso os planos de Dumbledore falhassem.

Assim, ele concordou.

- Eu farei isso.

"Muito bem... E, Severo, se você está no corredor da morte, não seria bom fazer as pazes com a sua mulher? Você sabe que dia é hoje?" Ele balançou a cabeça. "Dia dos namorados. Não é a data perfeita para uma reconciliação?"

Para a imagem de Dumbledore, ele se mostrou cético à possibilidade de reconciliação. Mas, por dentro, Severo acreditava que aquilo podia acontecer. Se aqueles fossem, de fato, os seus últimos dias, era com Linda que Severo queria passá-los. E, naquela noite, ele estava decidido a fazer e dizer o que fosse necessário para que aquilo se tornasse realidade.

Logo ele se encaminhava para Hogsmeade, tenho a mais absoluta certeza de que a sua esposa estava em casa. Porém, enquanto caminhava pelas ruas já vazias do vilarejo, viu Linda caminhar de mãos dadas com outro homem... Andrew Weiss.

A cólera que ele sentira há algumas horas voltou, e ele não pôde evitar se esconder no escuro da noite e apenas observar... observar o sorriso constante no rosto da sua esposa e a falta de aliança no anelar esquerdo dela.

Sentiu sua mão se fechar na varinha ao ver os dois pararem de frente à sua casa, e Linda confessar que se divertiu mais do que ela imaginaria. Cólera, a mais pura, ao ver a mãos de Weiss acariciar o rosto que apenas pertencia a ele. Apenas a ele!

E, por fim, a insanidade ao presenciar os lábios dele tocar os lábios da sua mulher, beijando ela profundamente, de uma forma que apenas Severo tinha permissão de fazer...

Maldito sangue-ruim!

Lentamente, o homem se afastou, desejou boa noite a Linda e deixou-a entrar sozinha em casa. Severo sobressaltou-se ao sentir uma mão em seu ombro esquerdo. Era Yaxley.

- Então... Vamos chamar Lúcio para nos divertirmos com aquele fruteiro?

Um sorriso maléfico delineou-se nos lábios de Severo.

- Sim. Vamos.

XxXxXxX


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