Lissa’s POV

Eu estava na aula de comportamento dos animais e fisiologia rabiscando coisas sem sentido no meu caderno. Eu ouvia a professora falar, mas como eu já sabia aquela matéria não estava fazendo esforço para prestar atenção.

Eu sei que esse comportamento não era típico meu, mas não sei por que hoje eu estava... não sei, agitada.

Bom, talvez eu soubesse o porquê.

Olhei de lado para Rose que estava sentada ao meu lado e vi que ela estava tão entretida tentando não dormir que não prestaria atenção nos meus pensamentos.

Suspirei.

Bom, na noite passada eu estava no sótão da capela e, bem... Christian apareceu.

“-O que você está fazendo aqui? – ele disse em uma voz bem grossa. Levantei assustada, achando que tinha sido descoberta pelo padre e fiquei aliviada quando vi Christian Ozera com um sorriso torto.

–Christian! – eu disse irritada. – Você não pode fazer isso, eu levei um susto. Eu poderia ter gritado e alguém poderia nos encontrar aqui e...

–E você perderia seu lugar preferido para se afogar em auto-piedade – ele disse puxando uma cadeira e sentando na minha frente no banco da janela. – Tudo bem. Não vou fazer isso novamente. Só estou feliz em saber que minha atuação como padres está funcionando.

Balancei a cabeça, era incrível como eu estava cercada de pessoas irônicas e também era incrível como eu gostava delas.

–Por que você está aqui? – Christian perguntou. – Nós não tínhamos combinado nada.

–Então quer dizer que eu só posso vir até aqui combinando alguma coisa com você? – eu disse desafiadoramente jogando meu cabelo para trás.

Ele deu de ombros.

–Não é da minha conta o que você faz – ele disse em um tom que me deu arrepios.

–Não? – eu perguntei.

–Não – ele respondeu.

–Tem certeza? – eu perguntei pronta para entrar em um assunto que para mim não estava acabado ainda.

–O que quer dizer com isso? – ele perguntou e algo brilhou em seus olhos azuis gelo. Era estranho como perto de Christian eu me sentia... excitada.

–O que eu quero dizer é que você não pode tacar fogo em uma pessoa só porque ela estava importunando outra.

–Esse assunto de novo? – Christian suspirou. – Eu não me arrependo de ter atacado Ralf. Quero dizer, assustado. O fogo não tocou nenhuma parte do corpo dele. E ele não estava somente “importunando outra pessoa”. Ele estava importunando a você, Lissa.

Tentei não ficar lisonjeada com a menção que Christian fez sobre mim. O que claro, foi impossível.

–Mesmo assim – eu disse -, você não pode fazer coisas erradas.

–Não foi tão errado assim – ele disse olhando para a janela. Algumas pessoas diziam que Christian Ozera era perigoso, mas eu sabia que ele não era. Eu conseguia ver que através dessa camada de indiferença que ele impunha para o mundo havia um Christian que sofria muito e que não merecia nada de ruim que acontecera com ele. Desde a morte dos pais, até ser solitário. Voltando a olhar para mim seus olhos estavam com aquele brilho desafiador. – E algo me diz que você gosta quando eu faço coisas erradas.

–Talvez esse ‘algo’ esteja errado – eu disse com meu coração acelerado e minha respiração fora de ritmo.

–Será? - Ele sorriu e se inclinou um pouco para frente, deixando apenas alguns centímetros nos separando. – Eu acho que terei de tirar a prova.

–E como você vai fazer isso? – eu perguntei tentando parecer calma, o que eu acho que foi inútil.

–Fazendo uma coisa errada – ele disse e acabou com o espaço entre nós. Em um segundo, nossos lábios se tocaram e eu pude sentir que Christian realmente dominava o elemento fogo. Era impossível eu estar sentindo todo aquele calor... toda aquela vontade de ter ele mais e mais perto de mim. Christian era como o fogo... perigoso, arisco, quente e atrativo.

Christian colocou os braços na minha cintura, trazendo-me mais para perto, ao mesmo tempo em que minhas mãos foram para seu pescoço e depois para seu cabelo.

O mundo naquele momento parou e pela primeira vez eu senti. Eu me senti feliz. Me senti viva. Me senti completa. Senti que havia um lugar no mundo feito para mim e que finalmente chegara nele.

Quando Christian e eu paramos para respirar, olhei dentro dos olhos azuis gelo dele e sabia que ele também estava se sentindo tão completo quanto eu. Sorri e sentei em seu colo na pobre cadeira antiga que magicamente não desmontou. Enterrei meu rosto no pescoço de Christian e ele me abraçou.

–Eu disse que você gostava quando eu fazia coisas erradas – ele disse e por mais que eu não estivesse olhando para seu rosto eu tinha certeza que ele estava sorrindo.

–Isso não é errado - eu disse sorrindo também -, isso é o certo.

A única resposta que recebi foi Christian apertando seus braços ao meu redor.”.

–...eu não aguento mais. Essas aulas estão me matando... – Rose começou a reclamar interrompendo minha memória.

Eu nem havia percebido que a aula tinha acabado e comecei a recolher minhas coisas quando vi um papel verde dentro do meu estojo. Peguei o papel e li as palavras que fizeram meu coração pular.

“Quer fazer o certo hoje de novo?”

Olhei para trás e vi Christian parado na porta piscando para mim e acho que meu sorriso respondeu qualquer duvida que restasse.