Amor Mascarado escrita por LunaCobain


Capítulo 4
A casa do Lago


Notas iniciais do capítulo

Ai esse capítulo é maiorzinho do que os outros... Tô amanddo escrever isso.



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Quinta-feira à tarde, comecei a ouvir a Voz de novo, a Voz da minha infância. Estava com saudades dela, por mais estranho que isso possa parecer. Na verdade eu só me dei conta disso porque passei a tarde inteira ajudando as meninas nos ensaios e voltei para o quarto exausta. Me deitei e percebi uma voz ao longe, que depois começou a aumentar. Logo, parecia-me que a Voz, a Voz de anjo, suave, estava entre as quatro paredes do meu quarto. A música era, definitivamente, uma composição de gênio, calma mas brilhante, e eu adormeci.

Ainda um pouco consciente, soube quando a Voz estava indo embora e foi no momento em que algumas meninas estavam entrando no quarto - ouvi a voz de Camille, Audrey e Mirelle, algumas meninas que o dividiam comigo. Contudo, não abri os olhos, com a esperança de que elas fossem embora e a Voz voltasse pra mim, pra me lembrar a infância, pra me fazer sentir segura de novo... Assim eu acabei sem jantar e só acordei na sexta-feira de manhã.

Mas eu acordei meio cedo demais. As três horas da manhã, para ser mais exata, e ouvi um ruído baixinho vindo de qualquer lugar fora do quarto. Era uma música -eu estava certa disso - mas não parecia algo que estava ficando mais forte, então resolvi ir atrás dela. Vesti um roupão por cima da camisola e fui seguindo o som, com uma lanterna, até o salão principal. Era uma música linda, realmente, vinda de um piano. Me perguntei se não era meio estranho que alguém estivesse treinando às três da manhã, principalmente porque a pessoa que tocava obviamente não estava precisando de treinos. Concluí que todas as portas e paredes abafava o som e por isso que a música, a música mais linda do mundo, era ouvida apenas como um ruído para os moradores da Ópera - e eles tinham medo, com certeza, de sair às escuras de seus quartos.

O som não vinha da Orquestra, dos instrumentos perto de mim. Não, ele vinha do céu, à minha esquerda - do camarote nº 5 para ser mais exata. Na minha breve passagem por lá, eu com certeza não percebi nenhum piano, mas tinha certeza de que estava lá. Subi, hesitante, as escadas e corri até a porta do camarote. Entrei na pequena sala e vi o piano - um piano de cauda, preto - encostado na parede revestida de veludo vermelho - mas não vi quem tocava. Aliás, ninguém mais tocava, percebi, e não havia ninguém lá. Ninguém que eu pudesse ver, eu disse , porque ouvia uma respiração perto de mim. E foi chegando cada vez mais perto de mim.

–O que faz aqui, Catherine ? - era ele. Ele, o dono da Voz, o homem da máscara de caveira, e de olhos azuis intensos. Estava parado bem ao meu lado, perto demais, com uma meia máscara branca, dessa vez, para que eu pudesse me concentrar em alguma outra coisa. Pensei em algo qualquer pra responder.

–Achei ter ouvido alguma coisa, e vim ver o que era.

–Certamente ouviu, eu estava tocando algo que compus.

–Você compõe? - perguntei, meio tonta, mas logo recobrei o juízo -Não acha loucura tocar enquanto as pessoas dormem?

–Acho muito bom ; é o melhor horário, sem dúvida, para se tocar quando não quer que as pessoas ouçam. - disse ele, os olhos fixos em mim.

–Bem, se é assim, me desculpe. - disse, fazendo menção de me retirar, começando a caminhar de volta para a porta entreaberta.

–Não, não me refiro a você! Fique! - ele não parecia alguém que estivesse acostumado a implorar, mas as palavras que saíram de seus lábios perfeitos tinham o tom de súplica. Depois, retomou a calma e o ar misterioso de sempre - É bom que ouça. Você gosta de música. - Não foi uma pergunta, mas tive que responder.

–Gosto, sim. A música é minha vida e é por isso, e não pela atuação, que eu gosto de viver no Teatro.

Ele se aproximou ainda mais, como se fosse possível, ficando de frente para mim, o rosto alguns centímetros acima do meu.

–Então, minha jovem, acho que temos ao menos uma coisa em comum.

Não pude deixar de sorrir. Ele estava tão perto, e eu tinha certeza que estava rosada da vergonha, que fiquei distraída, os meus olhos viajando pela metade visível de seu rosto. Então ouvimos alguns passos no corredor. Não era, com certeza, apenas uma pessoa que estava vindo aí, mas podiam perfeitamente ser 3, 4 curiosos moradores da Ópera que, assim como eu, tinham ouvido a música, ou melhor, o ruido em seus quartos, mas tinham chegado atrasados.

Ele arregalou os olhos, provavelmente querendo se esconder para que ninguém descobrisse as suas artimanhas noturnas, e puxou minha mão - com força, mas ainda assim, de um jeito gentil - para o canto mais escuro da sala, ao lado do balcão, e, me pedindo para fechar os olhos, me colocou nas suas costas e pulou. Sim, sim, ele pulou do balcão do camarote para o chão, lá embaixo, há metros de altura, do salão principal - e tudo isso comigo nas costas. Não posso dizer como foi possível chegarmos ao chão ilesos, e nem tive tempo para pensar, pois nossa queda produziu um baque estrondoso no solo e fui puxada, quase arrastada, pela sala, antes que , quem quer que fosse que estivesse lá em cima, pudesse nos ver. Então, enquanto atravessava o tablado, um alçapão se abriu aos meus pés, e eu fui caindo, caindo.

Em algum momento, nessa queda toda, eu desmaiei, ficando apenas semi-consciente. Nessas condições, ainda, percebi que alguém me carregava em seus braços, e esse alguém, se não tínhamos sido pegos, com certeza era ele. E se tívessemos sido pegos... Bom, eu realmente não queria pensar nessa hipótese. E tampouco queria acordar, em especial depois que comecei a ouvir a Voz cantar baixinho no meu ouvido e tive certeza de que era o homem mascarado que estava comigo.

Recobrei meus sentidos algum tempo depois, não fazia nem ideia de quanto. Estava numa cama, com uma espécie de véu preto e rendado ao redor. Demorei um breve momento para entender o que estava acontecendo. O quarto tinha paredes de pedra e era possível ouvir o murmurinho de água, vindo do lado de fora... O ambiente se assemelhava a uma caverna, com a diferença de que essa era uma caverna excentricamente mobiliada. Meus pensamentos depois disso vieram muito rápido. A rosa, a máscara, a Voz, a caverna... O Fantasma da Ópera!

Não consegui me convencer de meus pensamentos. Estava caindo no ridículo, virando só mais uma supersticiosa da Ópera. Procurei por ele pelo quarto - não achei. Então percebi que eu estava no colo dele. Olhei pra cima, ainda meio sonolenta e confusa, e lá estava o homem misterioso. Ele estava sorrindo.

–Bom dia. - disse estendendo-me uma rosa vermelha, delicadamente decorada por uma fita preta.

–Obrigada... - fiz uma pausa, lembrando que nem sequer sabia o nome dele.Ele adivinhou meus pensamentos.

–Erik. O meu nome é Erik.

Limitei-me a sorrir pra ele e cheirar a rosa. De algum modo, tudo aquilo não me surpreendia. Mas afinal, o que é que tinha acontecido? Eu realmente não me lembrava de muita coisa. Perguntei a Erik .

–Parece que algumas pessoas curiosas como você quiseram atrapalhar o nosso showzinho... - respondeu simplesmente - A propósito, deve estar com fome já que passou quase um dia desmaiada. - acrescentou ele com um leve sorriso.

Concordei com a cabeça e ele me conduziu para fora do quarto por uma porta que eu não tinha visto, para uma espécie de sala de jantar ilhada. Digo 'ilhada' porque ela estava no meio da água que eu tinha escutado antes. Sentamos os dois, um de frente para o outro, e eu comi, feliz, enquanto ele observava. É claro, ele já devia ter comido. Então me lembrei que eu tinha os ensaios hoje, além da representação de Aníbal , de noite.

–Sinto muito, Erik, mas acho que devo ir embora. Preciso ajudar as meninas com os ensaios para a representação de hoje... - ele pareceu meio aborrecido com isso.

–Bom, eu posso te mostrar o caminho de volta, Catherine. Mas para isso, você precisa prometer duas coisas - ele parou e eu apenas assenti com a cabeça - Prometa-me que não vai contar pra ninguém onde esteve e, mais importante, prometa que vai voltar. - Eu sorri. Mesmo que ele não quisesse, eu voltaria.

–Eu prometo, Erik. Vou voltar, sempre que você quiser. - estava ficando levemente rosada, senti. Mas ele deu um sorriso lindo e isso me fez sentir bem.

Pegou a minha mão e começou a me conduzir em meio a túneis e corredores escuros... O que me fez repensar a promessa : se eu conseguisse voltar por aquele caminho todo, eu voltaria. Mas isso não era nem um pouco garantido.

Não sei por onde saí, mas de repente eu estava no meu quarto. Troquei de roupa e corri para o salão principal. Estava todo mundo me procurando, ao que me pareceu. "Aposto que se perdeu nos corredores com algum menino" , diziam alguns, "acho que estava com o Fantasma da Ópera", falavam outros, e riam, todos riam. Não participei dos ensaios, não estava conseguindo me concentrar, mas ajudei com tudo o que precisavam.

E de noite, adormeci com a Voz de novo...

Quinta-feira à tarde, comecei a ouvir a Voz de novo, a Voz da minha infância. Estava com saudades dela, por mais estranho que isso possa parecer. Na verdade eu só me dei conta disso porque passei a tarde inteira ajudando as meninas nos ensaios e voltei para o quarto exausta. Me deitei e percebi uma voz ao longe, que depois começou a aumentar. Logo, parecia-me que a Voz, a Voz de anjo, suave, estava entre as quatro paredes do meu quarto. A música era, definitivamente, uma composição de gênio, calma mas brilhante, e eu adormeci.

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