Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 18
Cicatrizes




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- Trecho de Der Letzte Tag -

 

-x-

No caso desse dia ser o último
Por favor, não me diga ainda
E no caso de você permanecer então eu morrerei
Ainda não
Ainda não

-x-

 

 

Bill acordou em um pulo. Estava assustado, seu peito subia e descia sem parar à procura de ar. Sua testa estava coberta por uma fina camada de suor gélida; havia tido novamente outro daqueles pesadelos, mas esse parecia ter sido muito mais assustador do que os que já tivera antes. Ficou por um bom tempo sentado na sua cama tentando se acalmar, mas imagens turvas e escuras vinham em sua mente, o que o fazia um arrepio incômodo passear por todo o seu corpo. Olhou para o relógio e constatou que logo ele tocaria incessantemente, despertando-o para o seu primeiro dia de aula após as ferias.

Ele levantou-se devagar e desligou o despertador. Dirigiu-se ao banheiro e ligou o chuveiro em uma temperatura agradável. Só foi preciso tirar as boxers, já que Bill gostava de dormir apenas com elas, e logo sentiu a água caindo pelo seu corpo. Ainda estava trêmulo, e encostou-se superficialmente à parede de ladrilhos, deixando que a água percorresse lentamente o seu corpo, sem fazer qualquer movimento.

Depois de quase meia hora debaixo do chuveiro, Bill resolveu sair, não queria se atrasar para a aula logo no primeiro dia após as férias de fim de ano. Estava animado com o pensamento de voltar, muitas coisas haviam acontecido desde que saíra de férias, coisas que ele queria esquecer, e outras que tentava guardar lá no fundo de sua memória, para nunca mais perdê-las.

Saiu sorridente do banheiro, as constantes variações no seu humor já não o assustavam mais, foi ao guarda-roupa e escolheu o que vestiria: uma calça listrada em preto e vermelho - bem justa ao seu corpo - uma camisa branca, e seu casaco preto curto nas mangas, onde mostrava sua tatuagem. Depois de se vestir, decidiu não arrepiar seu cabelo, não teria tempo para tanto, só se maquiou de forma diferente, mais leve. Passou apenas um pouco de lápis de olho, sem marcar muito, deixando um pouco para trás a sua característica marcante e pesada.

Estava quase pronto quando ouviu alguém bater na sua porta, ele apenas olhou na direção e viu sua mãe abrir uma frestinha, sorrindo, esperando que ele a chamasse para entrar. Bill não hesitou em sorrir para Simone, fazendo um leve aceno com a cabeça, o que a fez adentrar no quarto e se sentar na frente do filho.

- Está lindo, meu amor! – ela sorriu, fazendo um leve carinho no seu rosto. – Senti tantas saudades suas... – ela mantinha seu sorriso e a voz doce, que para Bill era tão relaxante, fazendo com que ele se esquecesse completamente do pesadelo que tivera há pouco.

- Também senti muito a sua falta, mãe! – abraçou-a forte, dando um beijo demorado em sua bochecha.

- Não vai tomar café-da-manhã? Está tudo pronto, Gordon e Tom já estão lá embaixo, só falta você.

- Eu já vou mãe, só preciso terminar uma coisinha! – sorriu, fazendo a mãe se levantar.

- Não demora muito! Se não você se atrasa...

- Pode deixar! – exclamou por fim, vendo-a sair pela porta.

Simone desceu as escadas um pouco distante. O fato é que estava muito preocupada com Bill. Gordon havia lhe contado que no tempo que esteve fora o garoto quase não comeu, dizia estar sem fome, com pressa, que não tinha tempo. Sempre arrumava alguma desculpa para não se alimentar direito, e isso só estava deixando Simone e Gordon bastante preocupados, já que ela havia conversado com o médico da família a respeito, e ele havia lhe alertado que poderia ser o começo de uma anorexia.

 

Ela respirou fundo, não queria demonstrar sua preocupação, sabia que Bill iria ficar triste, e também tinha Tom para cuidar agora. Este era outro motivo de sua apreensão, já que ele havia se envolvido com Hannie, algo com o qual ela não contava, e desejava que nunca tivesse acontecido. Agora que relembrava a noite anterior, tinha certeza que ele não iria se afastar, já que faria de tudo para irritá-la, e que aquilo só tinha feito com que ele passasse a odiá-la ainda mais. Ela precisava encontrar um jeito de mudar isso.

Após alguns minutos, finalmente Bill desceu, já arrumado, foi direto para a cozinha e pegou somente uma xícara de café. Sentou-se ao lado de Gordon lhe dando bom dia, e um beijo demorado na bochecha. Gordon sorriu, adorava ver o filho feliz daquele jeito.

- Animado pelo recomeço das aulas?

- Hum, Hum! – limitou-se a dizer, já que estava engolindo uma quantia grande de café.

Tom permanecia calado, mas sua expressão não era brava, muito menos emburrada. Apesar de estar com raiva de Simone, e nada animado em ter que ir para o mesmo colégio de Bill, o que mais o incomodava era o fato de que já estavam no meio do ano letivo, e que, se ele tivesse que alcançá-los em qualquer que fosse a matéria, isso significaria muita correria e dor de cabeça. Tudo o que ele queria ficar bem longe no momento.

Após o rápido café, no qual Simone insistiu inúmeras vezes para que Bill comesse algo, eles acabaram indo para escola. Bill decidiu que não queria ser levado, que iria a pé, o colégio não era muito longe. Tom resolveu ir com ele, mesmo não falando nada o caminho inteiro; era como se fossem completos estranhos. Assim que chegaram, Bill foi conversar com seus amigos, com a esperança que veria Engel. Estava com saudades dela, e resolvera que iria finalmente acabar de vez com a sua timidez, e pedir para namorar a garota. Desde o ano novo, do beijo que trocaram, que não a via, já que ele esteve muito ocupado com a banda, e, por um momento, esqueceu-se completamente do mundo a sua volta.  Queria vê-la e pedir desculpas por estar ausente durante aquelas duas semanas, e aproveitaria para perguntar se ela queria namorar com ele, mesmo sabendo que poderia se decepcionar, tentaria; já que, se não arriscasse, nunca iria saber.

Tom aproveitou para ir à sala da diretora, dar o seu papel de transferência e saber em que sala estava. Após uma conversa rápida com ela resolveu ir direto para lá, não tinha mesmo o que fazer no pátio, e logo o sinal tocaria.

 

Bill procurou por Engel praticamente a escola inteira, perdendo um pouco de sua animação ao constatar que ela não havia ido. “Será que aconteceu algo? Ela não é de se atrasar, muito menos faltar, é o primeiro dia depois das férias, ela deveria ter vindo...”, pensava distraído quando sentiu alguém tocar seu ombro com delicadeza. Por um momento pensou que fosse ela e se virou com um enorme sorriso no rosto, que desapareceu quando percebeu que se tratava de Emily.

- Oi, Bill! Tudo bem? – disse com um sorriso doce, sorriso que Bill não hesitou em atestar como sendo falso, já que ele não ia nem um pouco com a cara da garota, pelo menos não agora, depois de tudo o que ela havia feito a ele. – Procurando alguém? – a vontade de Bill era sair e deixá-la falando sozinha, mas sinceramente não gostava de ser grosso, mesmo tratando-se de Emily. Respirou fundo e resolveu dizer, talvez ela soubesse onde Engel estava, já que era sua melhor amiga.

- A Engel! Sabe onde ela está? – sem demonstrar muito interesse em conversar com ela.

- Ela não conseguiu voltar a tempo! Talvez também não venha amanhã... Os pais dela resolveram viajar, conseguiram mais um tempo de férias, os dois juntos, e resolveram levá-la, mesmo sabendo que talvez não voltassem a tempo do começo das aulas... Mas ela não vai perder muita coisa – sorriu.

Bill não disse mais nada, nem precisou - e ficou feliz por isso -, já que o sinal tocou assim que ela acabou de falar. Simplesmente sorriu de volta pra ela, um pouco amargo, e dirigiu-se à sala. Emily não disse nada, deixou que ele se afastasse e, logo após se despedir de algumas amigas, tomou o mesmo caminho.

Quando entrou na sala, Bill estava novamente um pouco desanimado, seu olhar percorreu os que já estavam ali dentro, e logo viu uma figura familiar. “Ah! Não acredito! Por que logo aqui? Tantas salas! Tinha que ser essa?!”, bufou andando até sua cadeira, fingindo não se importar com a presença de Tom.

- Ei! – Tom disse ao ver Bill entrando, surpreendendo-se por estar na mesma sala dele, agora sua idéia sobre o novo colégio, que seria um porre, estava ficando mais animadora, já que teria seu tão ‘amado’ irmão pra importunar. – Aqui! Não vai me deixar sozinho, vai? – sorriu de canto, vendo que os alunos começavam a prestar atenção nele.

Bill fingiu não ser com ele e dirigiu-se para o outro lado da sala, sentando-se perto da janela, como sempre fazia. Colocou seus fones no ouvido, e colocou uma música qualquer para tocar bem alto, só para não aturar o irmão, que ainda tentava chamar sua atenção.

Depois de um tempo, ainda tentando chamar a atenção de Bill, Tom percebeu que o moreno não iria ao seu encontro, ele se levantou, e se dirigiu onde o mais novo estava, sentando na cadeira ao seu lado, já que estavam em duplas.

- Por isso que não me ouve! – disse tirando os fones pretos do ouvido do irmão. – Não vai deixar seu irmãozinho sozinho logo no primeiro dia, vai? – disse cínico, ainda observando os outros alunos olharem-nos curiosos, já que Tom era novo na sala.

- Me deixa em paz! – Bill disse baixo, mas ao mesmo tempo firme, sentindo sua cabeça doer e seu estômago revirar. Não deu sinal algum de dor, ou mal estar, somente pôs novamente os fones, sabia que Tom não iria deixá-lo em paz.

- Qual é, maninho?! – tirou novamente os fones. – Me dá atenção! – sorriu divertido. – Eu já pensei sobre o que quero! – concluiu, referindo-se à condição para entrar na banda, o que fez Bill voltar imediatamente sua atenção a ele.

- Então diz logo e me deixa em paz! – falou baixo, sem o encarar, como se fosse um completo estranho.

- Quando chegarmos em casa eu digo! – disse, levantando-se quase que instantaneamente, sorrindo, dirigindo-se logo a seguir para onde estava seu material. Sabia que Bill era curioso, que ele ficaria se remoendo por dentro, louco para saber. Fizera de propósito, e seu sorrisinho de canto só comprovava isso.

Bill bufou, e seguiu Tom com o olhar até que o garoto se sentasse na última cadeira da fila que correspondia justamente ao oposto da sua, no outro extremo da sala, com a cadeira encostada à parede e bastante próximo à porta. O garoto olhou para ele assim que se acomodou, e Bill fitou-o intensamente, como se pedisse para que ele dissesse. Tom apenas relaxou o corpo na cadeira, meio que deitando sobre ela, e deu de ombros, com um sorriso brincalhão, como se dissesse que não podia fazer nada, fazendo um sinal para que Bill olhasse para a porta. E foi o que o moreno fez, vendo o professor entrar, cumprimentando rapidamente alguns alunos e dirigindo-se automaticamente para a frente da sala. Bill olhou de relance para Tom e depois voltou seu olhar furioso ao professor que ajeitava suas coisas sobre o birô. “Idiota! Você me paga! Ah, se paga!”

A aula correu tranqüilamente, Tom não fez mais nada para importunar Bill. Agora a sala inteira sabia que eram irmãos, Bill estava um pouco contente por saber que a maioria deles nunca imaginaria que eles eram gêmeos. Pelo menos essa era a parte boa de tudo o que estava acontecendo: não serem iguais a esse ponto.

Não demorou muito para que o sinal do intervalo soasse. Até que as aulas passaram relativamente depressa para os garotos, talvez isso se devesse ao fato de ser apenas o primeiro dia de aulas depois das férias, os professores enrolavam mais do que davam aula, com seus avisos e explicação sobre como seriam suas aulas. Como sempre, Bill permaneceu no corredor com seus amigos, que lhe fizeram várias perguntas sobre a existência de Tom; várias das quais ele não respondeu, mas nenhum deles resolveu insistir no assunto, já que era visível pra todos que os dois não se davam nem um pouco bem. Assim como o intervalo, as aulas após ele também passaram voando, e Bill só percebeu isso quando o último sinal finalmente tocou. Levantou-se sem pressa, esperando que os alunos saíssem, queria falar com Tom antes de chegar a casa, mas assim que se virou para chamá-lo, percebeu que ele já não estava mais ali.

- Scheisse! – Balbuciou alto, extremamente irritado, mas ele não podia fazer mais nada. Recolheu seu material, pondo sua mochila nas costas, e saiu, dirigindo-se para casa.

O caminho de volta sempre parecia mais rápido. Bill sempre pensava sobre isso enquanto voltava, mas, naquela tarde, tudo o que ele queria era chegar logo e deitar-se em sua cama, finalmente podendo fechar os olhos e descansar um pouco. De repente os pesadelos que viam lhe atormentando há algum tempo vieram em sua mente, e ele sentiu um calafrio percorrer o seu corpo. Balançou a cabeça tentando esquecer-se daquilo e rapidamente suas mãos seguram-na; só agora ele havia percebido o quanto ela estava doendo. Apressou o passo, já imaginando que teria que tomar um calmante ou um remédio para passar a dor, pois só o que queria era poder dormir tranqüilo e aliviar o mal estar que estava sentindo.

Entrou em casa dizendo um breve ‘cheguei’, e foi direto para o seu quarto. Seu estômago revirou fortemente assim que ele abriu a porta e ele sentou-se na cama. Estava com tanta fome assim?! Resolveu ver se o almoço já estava pronto e, se não estivesse, era melhor beliscar alguma coisa, ainda não havia esquecido seus planos de dormir um pouco, mas antes ele precisava de uma coisa. Vasculhou os bolsos de sua mochila e eles estavam vazios. Abriu a gaveta de cabeceira de sua cama e revirou-a, mas o que ele procurava não estava ali. “Não acredito que eu já tomei todos!”, foi então até o seu banheiro e, abrindo uma caixinha de remédios que estava em cima da pia, não demorou a encontrar o que queria. Pegou duas aspirinas e engoliu com a própria saliva. “Assim essa dor de cabeça vai passar mais rápido”. Desceu para a cozinha, abriu apenas uma beirinha do forno e olhou para dentro, pelo visto a comida ainda não estava pronta, mas parecia estar tão gostosa que ele inspirou fundo para sentir melhor o cheiro. Cobriu a boca logo depois, soltando a porta do forno que se fechou depressa, e apoiou-se na mesa. Seu estômago havia revirado ainda mais forte que a primeira vez, e agora uma náusea incomodava-o profundamente.

Desistiu de comer e subiu para o seu quarto, a ânsia era mais forte agora, assim como a tontura repentina que sentiu. Apoiou-se na parede, abrindo com certo esforço a porta de seu quarto. Praticamente jogou-se na cama, olhando para o teto. Tentou inspirar e expirar compassado, para ver se aquilo ajudava o seu mal estar a passar, mas parecia só piorar. Levantou-se correndo quando sentiu que tudo o que - não - havia comido iria voltar e correu ao banheiro, apoiando-se nas paredes pelo caminho. Levantou a tampa do vaso sanitário, segurando seus cabelos para trás -não queria sujá-los-, e, sem conseguir mais segurar, acabou vomitando. Bill assustou-se ao olhar para dentro do vaso e constatar que o que vomitara não era o café tomado pela manhã e, sim, sangue. Levantou-se assustado, de uma só vez, sentindo novamente tontura. Jogou água no rosto e encaminhou-se com um enorme esforço para o seu quarto, deitando-se na cama meio sem jeito. Estava se sentindo fraco, seu corpo estava mole na cama, e ele sentia o suor frio escorrer pelo seu rosto. “O que está acontecendo comigo?”, mal ele terminou de pensar isso e sentiu vontade de vomitar novamente. Ele andou até o banheiro devagar, segurando-se na parede, e mal alcançando o sanitário, vomitou novamente. Apoiou-se na pia, olhando seu reflexo pálido no espelho, e viu a imagem embaçar, e tudo escurecer por um momento, como se as luzes se apagassem e depois se acendessem novamente. Estava cada vez mais desesperado, resolveu pedir ajuda, abriu a boca para gritar pela mãe, mas sua voz não saia. Tentou mais uma vez, pensou ter conseguido, mas sua voz estava fraca, assim como seu corpo; ele sentia-o ainda mais mole que antes e quase não conseguia mais se segurar na pia. As luzes apagaram-se novamente; e depois se acenderam. Tentou gritar mais uma vez, e nada saiu de sua garganta. Sentiu-se amolecer totalmente após essa última tentativa, e já não tinha mais forças para ficar em pé. Seu corpo foi deslizando pausadamente pela parede, e ele viu a imagem à sua frente ficar cinzenta e depois se encolher lentamente, até que tudo se apagou. Seu corpo desceu de vez pela parede, com um baque surdo no chão. Dessa vez, as luzes não voltaram a se acender, e tudo o que restou foi o seu corpo desfalecido no chão frio do banheiro, com um filete de sangue descendo pelo canto direto de sua boca.


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Notas finais do capítulo

Preview do próximo cap.:
"Podia ouvir somente os pingos do soro, que era injetado diretamente em sua veia."

Gente, antes que vocês gritem, sim, o cap. demorou! Entretanto... Acho que os outros não demorarão mais! Só o prazo de uma semana - se Deus quiser! Porque o vestibular finalmente passou e eu estou de fériasss *__*
Feliz, não?! E eu não viajei só pra terminar de ajeitar esse cap. com a Keca e postar pra vcs! Então, né? Espero que gosteem!
Beijos a toodos! Meus e da Keca