Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 14
Paz para uma nova guerra




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- Trecho de Nach Dir Kommt Nichts-

 

-x-

Meu maior pecado

Entrou pela porta

Estou severamente machucado

E ansioso por você        

Eu sinto.

-x-

 

 

 

 

 

            Engel saiu sem rumo pelo salão, não sabia para onde estava indo, mas, no momento, também não lhe importava. Passou esbarrando por várias pessoas enquanto pedia desculpas quase que automaticamente. A menina estava completamente desnorteada, não acreditava que havia chegado tão perto de se entregar para um completo estranho, enquanto o garoto por quem ela sentia algo realmente forte estava no palco, cantando para ela e, acima de tudo, presenciando aquela cena deplorável com o seu próprio irmão gêmeo.

 

 

            “- Engel, os rapazes e eu tocaremos em um Pub no Ano Novo... Gostaria muito que você fosse!... – Bill dizia com um sorriso enorme nos lábios, enquanto carregava alguns livros de Engel pelo corredor do colégio, sem conseguir encará-la por conta de sua timidez e pela ansiedade que tomava seu corpo a espera da resposta.

 

 

            - Bill, ainda falta mais de um mês para o Ano Novo... Mas com certeza estarei lá! – Engel também trazia um sorriso radiante no rosto, ela ficava feliz em saber que sua presença era importante para o garoto.

 

            -Vou cantar especialmente para você... – ele falou, fitando-a rapidamente nos olhos e depois baixando a cabeça para olhar o chão.


            - Sério? – a menina perguntou sentindo o rosto corar.


            - É... Você é muito especial pra mim, Engel, afinal, é minha melhor amiga! – Bill sorriu e entrou na sala com o material da amiga, que ficou por um tempo pensando no que acabara de ouvir do moreno mais velho, decepcionando-se um pouco, pois pensara que ouviria uma confissão de que ela era especial para ele...”


  

            Talvez fosse as semelhanças entre os gêmeos que a fazia achar Tom interessante, ela não sabia ao certo, pois, ao mesmo tempo em que os achava parecidos, também os achava completamente diferentes, tanto no estilo como em caráter e personalidade. “Bill nunca faria isso, nunca passaria por cima do próprio irmão”, mas não podia negar que Tom a atraía, “Talvez a atitude, o jeito de como ele me olha, aquela conquista toda, isso deve favorecê-lo...”, ainda assim, sentia-se mal por tê-lo beijado; mesmo que ele a tivesse forçado, achava que agora Bill estaria chateado, e não tiraria a razão do moreno caso ele não quisesse mais falar com ela. “Acho que ele não vai me perdoar, ele odeia o irmão, eu sei que não tenho nada haver com isso, mas ele vai me odiar também”.

 

            A garota estava cada vez mais confusa, todas as perguntas sem respostas vinham em sua cabeça e a luta travada em seu subconsciente não a ajudava em nada já que uma parte dela não se arrependia de ter deixado se levar pelo momento. “Talvez eu devesse dar uma chance ao Tom, nem sei se realmente Bill gosta de mim, ele nunca me deu sinal nenhum disso, ele nunca teve coragem de se aproximar...”. Somente de uma coisa Engel tinha certeza agora, que sua noite estava acabada ali, queria somente voltar para casa e descansar, não pensar mais em nada. Pegou seu celular automaticamente e ligou para casa, onde seu motorista apenas esperava sua ligação para ir buscá-la. Logo em seguida resolveu sair pela porta dos fundos para não precisar se despedir de ninguém.

 

            Passou pelo backstage, próximo a saída lateral, e rumou mais para o fundo do Pub, já vendo a luz que iluminava a porta dos fundos, por onde provavelmente saíam os músicos famosos da Alemanha após suas apresentações para não serem assediados. Ao passar pela porta do backstage, Georg, que estava parado próximo a ela, sorriu e acenou para a garota, que não prestou atenção em quem se tratava e passou direto por ele, sem ao menos olhá-lo. O mais velho achou estranho, mas resolveu deixá-la ir, sabia que algo estava acontecendo ainda mais por que também presenciara toda a cena na pista de dança, sabia que Engel talvez estivesse à procura de Bill.

 

            Quando finalmente Engel chegou ao lado de fora, avistou a única pessoa que não queria encontrar naquele momento, pois não teria coragem de encará-lo, sentia-se muito envergonhada para isso. Ela ficou observando Bill por muito tempo, ele estava realmente lindo, e por mais que não quisesse ficar ali, não conseguia tirar os olhos do moreno que se encontrava sentado em um dos bancos do belo jardim que havia nos fundos do Pub.

 

            Engel conseguia se lembrar exatamente do primeiro dia em que viu Bill, e, observando-o agora, podia ver como ele havia mudado. Mesmo depois de quase sete anos de amizade, cada dia que passava ao lado dele era diferente e especial, ela podia sentir que a amizade que os unia se tornava mais forte, simplesmente a menina já não conseguia se imaginar sem o moreno ao seu lado. Todos os simples minutos que passava ao lado dele só a faziam ter mais certeza de seus sentimentos, e era exatamente quando se lembrava de tudo o que passara ao lado de Bill que podia afirmar a si mesma, mesmo com toda a confusão em sua cabeça, que o amava... Como amava!

 

            “Por que você mexe tanto comigo?”, sorriu com seus próprios pensamentos, sentindo um friozinho na barriga. Ria de si mesma, sentia-se uma idiota por nunca ter tido a coragem de dizer o que realmente sentia por ele. “E se ele não sentir o mesmo?”, novamente a insegurança tomou conta de seu corpo, fazendo-a estremecer. “Eu nunca vou saber se não tentar”, sorriu novamente, entusiasmando-se. Engel se encaminhou em direção a Bill, tomando finalmente coragem para explicar tudo o que acabara de acontecer, assim como tentar lhe dizer tudo o que sentia. Não sabia ao certo como poderia fazê-lo entender o porquê de seu coração acelerar a cada novo contato, o porquê de sentir-se trêmula só em chegar perto dele, o porquê de ele conseguir acalmá-la com apenas um sorriso... Como ela explicaria algo que nem mesmo ela conseguia entender? Talvez dizer que o amasse bastasse... Talvez não... Mas, dessa vez, ela não queria deixar de tentar. Mesmo nunca tendo demonstrado um pingo de nervosismo, controlando-se o máximo que ela podia para que ele não percebesse, já estava mais do que na hora de entregar-se as emoções. “Já que ele não toma uma iniciativa, acho que cabe a mim começar...”, e foi  com esses pensamentos que ela enfim aproximou-se de Bill, que continuava sentado distraído olhando as estrelas. Ele brincava com um cigarro entre seus dedos, dando longas tragadas de vez em quando, sem nem ao menos perceber que Engel vinha em sua direção.

 

 

            Tom ficou por um longo tempo parado no meio do salão, sem saber ao certo o que fazer; só quando as pessoas já se dispersavam pelo Pub, com os encerramentos dos shows da noite, foi que ele se deu conta do que realmente aconteceu. Dirigiu-se ao bar e ficou por lá mais algum tempo, não pediu nada, apenas ficou sentado, pensando. A maioria das garotas olhava para ele, poucas sabiam que se tratava do irmão gêmeo de Bill, mas nenhuma teve coragem de ir em sua direção, deixando-o sozinho com seus pensamentos.

 

            “O que eu fiz de errado? Por que ela fez isso? Eu achava que ela estava gostando, mas...”, lembrou-se repentinamente que Bill os observava, e instantaneamente ligou os acontecimentos, “Foi por causa dele, só pode ter sido...”, pensou, sentindo o ódio subir por suas veias. “Por quê? Por que sempre ele? Eu não entendo! Ele é tão sem graça... Não é justo que ele tenha tudo e eu não possa ter nada!”, sem perceber, bateu fortemente na bancada com os punhos cerrados, fazendo o garçom derrubar um copo no chão, sobressaltado. Ao perceber o olhar irritado do homem, resolveu sair dali antes que quebrasse algo, ou assustasse mais alguém.

 

            O garoto saiu do Pub, precisava de ar, na verdade, queria encontrar Engel e perguntar se suas suposições estavam corretas, se ela realmente havia batido nele por causa de Bill. Ele lembrava-se que a garota apenas tirou os olhos do irmão quando ele começou a acariciá-la e, mesmo assim, isso não impedia que o olhar dela tivesse cruzado eventualmente com o de Bill, e ela acabasse se afastando dele por isso.

 

            Ao invés de procurar Engel, como pretendia, ficou apenas parado, encostado à porta lateral, de onde dava para ver a rua e o pequeno jardim que tinha atrás da casa de apresentações. Olhando ao redor, procurando inconscientemente pela garota, acabou avistando o irmão, sentado em um dos bancos do jardim, fumando e observando o céu que estava realmente lindo aquela noite, e acabou irritando-se com isso.

 

            “Era só o que me faltava”, bufou, “Dar de cara com logo quem?”, pensou em procurar Gordon e avisá-lo que pretendia voltar sozinho para casa, pois aquela era a confirmação que, para ele, a noite havia acabado. Entretanto, por um motivo que o próprio desconhecia, não conseguia sair dali, ficou parado no mesmo lugar, observando o irmão, e perguntando-se a situação dos dois ainda podia piorar.

 

             Passado algum tempo, exatamente quando viu o irmão se levantar e seguir despreocupadamente pelo jardim, viu a pessoa por quem tanto procurou andar apressadamente em direção ao moreno, chamando-o sem obter resposta, o que só fez com que sua raiva reaparecesse repentinamente, aumentando cada vez mais.

 

 

            Bill ouvia Engel chamá-lo cada vez mais próximo de si. Não queria encará-la, não naquele momento, não conseguia, estava chateado demais para isso. Sentia-se extremamente mal por nunca ter declarado-se a ela, imaginava agora se isso poderia tê-lo impedido de presenciar aquela cena entre a menina que ele tanto amava e o irmão, a quem ele odiava profundamente. “Ela não tem culpa, se eu tivesse dito tudo o que sinto, talvez estivéssemos juntos; e aquele imbecil não a teria usado para tentar me atingir, eu sou um idiota”.

 

            - Bill – Engel chamou mais uma vez, agora bem próxima a ele, colocando a mão sobre seu ombro para que o garoto finalmente a encarasse.

 

            Bill virou-se sem vontade, com os olhos tristes, a maquiagem borrada denunciava que ele estivera chorando há poucos minutos atrás, ao notar isso Engel arregalou levemente seus olhos, sentindo o coração apertar dentro do peito. “Ela não podia ter feito isso, eu entenderia se fosse com qualquer um, mas tinha que ser logo com o ele?”, Bill a encarou e tentou sorrir, mas não conseguiu. “Ela é livre, pode ficar com quem quiser”, ele tentou relaxar o corpo enquanto pensava isso.

 

            - Bill, me desculpa, eu não queria te magoar, se não quiser falar comigo eu entendo... Mas me ouve, por favor...

 

            - Engel – Bill disse interrompendo-a. – Você não precisa me dar satisfações, você é livre, pode ficar com quem quiser, eu não vou te impedir disso – disse meio sem jeito, completando seu pensamento logo em seguida. – Afinal, você é linda, inteligente, meiga, todos devem querer estar ao seu lado, eu não estou chateado... – Bill tentava em vão juntar sua coragem para dizer o que sentia, mas parecia que as palavras fugiam quando olhava aqueles lindos olhos azuis que ele tanto amava – Engel eu queria... – Gaguejou um pouco, sentindo-se um idiota por não conseguir.

 

 

            Engel, ao perceber que Bill estava cada vez mais envergonhado e enrolado com suas próprias palavras, não deixou de sorrir, um sorriso meigo e carinhoso, o sorriso mais lindo que Bill já vira. O moreno também sorriu, sentindo-se mais seguro, fez menção de continuar, mas Engel o surpreendeu colocando o indicador em seus lábios, fazendo-o calar.

 

 

            Ela não vai me deixar explicar, eu acabei com tudo...”, Bill pensava com um pouco de receio, temendo que tivesse perdido a chance que tanto esperou por causa da sua timidez.

 

            Engel não disse mais nada, apenas aproximou-se. “Tem que ser agora, eu preciso saber...”; Bill sentiu seu corpo estremecer com a aproximação, e logo pode sentir seus lábios sendo selados aos dela, em um selinho demorado. Os corações batiam acelerados, era um momento mágico para ambos.

           

            “Bill... Eu te amo tanto... Faça acontecer ou acabe com tudo, antes que eu possa acreditar que você sente o mesmo por mim...”, a garota pensou um pouco preocupada, mas não recuou e abriu um pouco sua boca, dando passagem a língua de Bill, que finalmente tomou uma iniciativa e a beijou, colocando a mão em sua nuca, aprofundando ainda mais o beijo, que se tornava intenso, cheio de desejo e carinho. Engel se arrepiava ao sentir o piercing de Bill se movendo pela sua boca, tornando o beijo cada vez mais agradável. Bill passou a mão pela cintura da menina e seus corpos se colaram um pouco mais, fazendo com que arrepios mais fortes percorressem o corpo dos dois. A menina podia sentir o seu coração batendo acelerado... Tão próximo ao dele... Era quase como um só, batendo em sintonia. Ela não conseguia parar de se perguntar se ele sentia o mesmo, ou se era apenas diversão. Ela não queria pensar naquilo, queria se deixar envolver completamente pelo momento, mas sua insegurança não a abandonava. Se ele pelo menos dissesse que a amava... Dissesse o que ela precisava ouvir... Ela cravou as unhas da sua mão direita no peito dele, tentando apagar suas divagações. Um leve tremor correu pelo corpo de Bill, mas esse não passou despercebido a Engel, que sorriu levemente, separando-se um pouco, sentindo o moreno morder seu lábio inferior.

 

 

            Tom observava tudo de longe, controlava-se para não ir em direção a ambos e acabar de uma vez por todas com aquele clima que tanto o irritava. Queria Engel só pra ele, não era somente uma questão de honra, ele a queria, estava encantado por ela, não que fosse admitir isso para alguém, mas essa era a verdade. Ele olhou para baixo e seus punhos estavam cerrados, ele mordia a boca e tentava controlar-se para agir racionalmente. Queria ir lá e acabar com tudo, mas não podia. Só o afastaria ainda mais dela, da possibilidade de ficar com ela; e ele já tinha prometido a si mesmo que Engel ainda o olharia como olhava para o irmão... E ela seria sua. Ele faria o que fosse preciso para isso.

 

            Depois de um tempo resolveu ir embora, antes que não conseguisse mais se controlar e fizesse alguma besteira. Deixaria o irmão aproveitar aquele momento... Seria o único. Entrou novamente no Pub, procurando por Gordon, mas não o achou. Acabou resolvendo ir para o bar e pedir algo forte para beber, que o fizesse esquecer pelo menos por um segundo da cena que presenciara há pouco.

 

            Pediu uma tequila e assim que o garçom lhe serviu, olhando-o desconfiado, ele tomou tudo em um gole só, ficando lá ainda por muito tempo, sem nem ver o que se passava ao seu redor. Várias coisas brigavam entre si, tentando tomar o lugar em sua mente, mas ele não se concentrou em nenhuma delas.

 

 

            Engel sorriu, ainda com seus lábios próximos aos de Bill, separando-se rapidamente assim que ouviu a buzina de seu motorista, que acabara de parar em frente ao Pub.

 

            Ela caminhou em direção a porta da frente, sorriu mais uma vez, olhando para trás, vendo que Bill continuava parado sem reação, e saiu andando rápido para o carro, entrando logo em seguida, deixando o garoto sozinho com seus pensamentos.

 

            Bill ficou observando a ruiva até que ela entrou no carro e ele partiu, sumindo de sua vista. Assim que Engel foi embora, Bill ouviu a contagem regressiva soar pelo jardim; quando deu por si várias pessoas estavam ao seu redor e ele olhou para cima bem na hora que os fogos começarem a estourar. Sorriu encantado, enquanto via as luzes tomarem as mais variadas formas, lembrou-se do que havia acontecido pouco antes e seu sorriso apenas alargou-se em seu rosto. Engel havia lhe dado o melhor presente de toda a sua vida, e aquele momento tornou-se ainda mais especial por conta dela. Sentia-se culpado por nunca ter se declarado a ela, mas isso já não lhe importava mais.

 

 

            Engel abaixou o vidro do carro ao ouvir os primeiros fogos, observando-os com ele em movimento.  Sorriu pensando em Bill, derreteu-se só em lembrar-se do beijo deles, mal podia acreditar que aquilo havia acontecido. Seu coração ainda batia acelerado e ela sentia-se leve, quase como se pudesse voar. “Será que ele sentiu o mesmo? Eu só queria ser especial para ele... como ele é para mim”, sua insegurança não lhe permitia respirar em paz; faltou ele dizer que a amava, que a queria; faltou ele segurá-la e beijá-la mais uma vez antes que ela pudesse ir embora, ou apenas sorrisse, um sorriso que demonstrasse que o que aquele momento havia representado para ele... Mas ele não fez nada disso. Ela sabia que talvez tivesse sido porque ele estava atônito demais para tomar alguma atitude, no entanto, não podia ter certeza. Engel só saiu de seus pensamentos quando ouviu seu motorista lhe dar feliz ano novo, e ela olhou-o e desejou o mesmo, sorrindo abobada, um vestígio de como Bill mexia com ela.

 

 

            Tom ouviu os fogos, mas não teve coragem de sair como todos para ver, apenas ficou no bar sozinho, com o seu oitavo copo vazio em cima da mesa, pensando no que faria para ter Engel somente para ele. “Eu preciso bolar um plano... Tem que ter alguma saída... Não adianta, ela vai ser minha, eu vou encontrar um jeito.”, pensou decidido.

 

 

            Bill voltou para a parte da frente do Pub onde todos comemoravam a passagem do ano, brincando e pulando pela rua. O garoto sorriu a ver a felicidade de todos, e se assustou quando sentiu alguém tocar seu ombro, chamando sua atenção.

 

            - Bill, onde esteve? Estava te procurando esse tempo todo...

 

            - Estava com alguém especial – sorriu para o padrasto, que entendeu de imediato a quem o garoto se referia.

 

            Tom que acabara de chegar, junto com Gustav e Georg, ficou olhando feio por muito tempo para Bill, que sorria radiante. “Não se preocupe, irmãozinho, sua felicidade vai durar pouco. Quando você menos perceber, ela vai estar totalmente apaixonada por mim.”, pensava deixando que sua boca se curvasse num sorriso malicioso, enquanto via Gustav e Georg abraçando o irmão, desejando a ele um feliz ano novo.

           

            Ficaram por mais um tempo, e assim que as pessoas começaram a ir embora, Gordon resolveu que também já estava na hora de partir, já estava realmente tarde, passava das cinco da manhã, e Bill não estava totalmente recuperado, precisava de repouso. Sentia-se um pouco culpado por ter deixado-o fazer o show mesmo sem permissão médica, não queria piorar a condição do afilhado, ainda mais por que se algo acontecesse ao menino, Simone ficaria muito chateada por não estar com o filho quando ele mais precisava. A única coisa que o tranqüilizava era que até agora havia dado tudo certo, Tom não tinha brigado com ninguém, e fazia alguns meses que ele não via Bill tão feliz.

           

            - Já está na hora de irmos, garotos... – Gordon disse, virando-se em seguida para despedir-se de seus amigos, enquanto os garotos faziam o mesmo. Tom era o único que esperava-os pacientemente, encostado no carro, enquanto batia nas suas pernas no ritmo da música que tocava no local.

 

            - Pai, os G’s podem dormir em casa? – Bill perguntou animado ao aproximarem-se do carro. Tom ao ver que eles já se encaminhavam em sua direção, entrou rapidamente no carro, sem interesse algum no que eles conversavam.

           

            - Claro, eles podem sim, aí terminaremos de comemorar nosso ano novo com a família completa! – Gordon dizia feliz, já dentro do carro junto com os outros.

 

            Tom não se controlou e riu alto, balançando a cabeça negativamente enquanto batia na perna, apontando em seguida para Gordon e soltando um “Muito bom, muito bom”. Todos voltaram suas atenções para ele, que logo começou a falar explicando seu ataque de risos, meio alterado pelas bebidas consumidas.

 

            - Tem certeza que a família vai estar completa? Não falta o principal? Cadê a Simone? – perguntou cinicamente, olhando para os lados, como se a procurasse no carro. Bill olhou-o com raiva, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu a mão de Georg sobre seu ombro. O mais velho fez um sinal negativo com a cabeça, repreendendo-o.

 

            - Sim, a família vai estar completa! Quando chegarmos vocês vão ver, não posso falar mais nada! – sorriu, dando partida no carro.

 

            - A mamãe voltou? – os olhos de Bill brilhavam de tanta felicidade e, por um momento, Tom sorriu, sentindo uma grande alegria encher seu peito, pensando que talvez pudesse finalmente ter sua mãe próxima a ele na passagem de Ano Novo, parte de tudo que ele sempre sonhou nesses dez anos que só estava ao lado de seu querido pai.

 

            - Não é exatamente isso Bill, Simone voltará apenas semana que vem, mas temos uma surpresa para vocês! – Georg e Gustav sorriram, também se sentiam parte daquela família, gostavam de verdade de Simone e Gordon, esses eram para eles como seus segundos pais, e amavam o Bill e o Tom - mesmo depois de tanto tempo ausente - como se fossem seus irmãos.  – Quanto à banda, esqueci de falar para vocês, David esteve no Pub, ele amou o som de vocês, disse que tem futuro. Ele quer que vocês se inscrevam para o festival, disse que é bem provável que consigam chegar à final.

 

            Bill e os garotos pareciam animados com a notícia que o produtor do festival esteve no pub e tinha adorado a apresentação deles, só Tom se mantinha com a expressão emburrada e com os braços cruzados, como se odiasse a tudo e a todos. Na verdade, ele estava profundamente decepcionado por ter tido esperanças de algo que não aconteceria.

 

            - O problema é que ainda não têm guitarrista, foi exatamente sobre isso que eu estava conversando com ele. David então me disse que era uma pena, que esperava que vocês conseguissem um até lá, já que as inscrições se anteciparam, e acabarão daqui a dois dias... – Gordon sorriu ao ver a expressão decepcionada de Bill, tudo aquilo era mentira, Gordon não se orgulhava nem um pouco disso, mas combinara com David toda aquela história para pressionar Bill e fazer com que ele aceitasse de uma vez por todas o irmão na banda. – Vai ser difícil achar um guitarrista tão em cima da hora, e o pior é que vocês não podem deixar para depois, porque todos os integrantes devem estar na inscrição para assinar os papeis, e fazer uma breve audiência...

 

            - Ok! O Tom pode entrar, precisamos de um guitarrista, se não, não poderemos nos inscrever. Algo contra Gustav? – Bill perguntou olhando para o garoto que sorriu fazendo um negativo com a cabeça – Algo contra Georg? – Georg fez o mesmo que Gustav, fazendo Gordon sorrir, por ver que finalmente Bill engoliu seu orgulho e deixou o irmão participar do sonho que também era dele. – Pronto, você está dentro!

 

            - Hum... Eu não me lembro de ter dito que queria entrar nessa banda... – Tom falou, mas seus olhos brincavam num sorriso esperto. Queria que seu irmão lhe implorasse. - Aliás, eu já disse que sua voz é horrível? Acho que sim... Então, como eu poderia tocar com alguém com uma voz dessa? Sabe, não há sintonia. – ele concluiu, espremendo os olhos enquanto fazia uns gestos estranhos com as mãos.

 

            Bill não disse nada, controlou-se para não xingar o irmão, sabia que era o sonho dele que estava em jogo, não podia pôr tudo a perder por causa de um capricho do irmão.

 

            - Precisamos de você, por favor, Tom... Eu juro que não peço mais nada para você...

 

            “Eu juro que não peço mais nada para você”, Tom repetiu a frase do irmão na cabeça e logo sua mente se iluminou. Sorriu e, depois de um tempo em silêncio, deliciando-se com a expressão que o irmão mantinha no rosto, deu sua primeira cartada.

 

            - Hum... Eu não sei... Tenho que pensar...

 

            - Droga, Tom! Eu faço o que você quiser, mas, por favor, entre na banda! – Ele caiu.

 

            - Se é assim, eu até aceito... mas com uma condição. - Tom falou, e logo um sorriso enorme apareceu em seu rosto, e Bill se arrependeu amargamente do que acabara de propor.

 

            - E que condição seria essa? – Bill perguntou já querendo voltar a trás, mas agora não podia. Se voltasse, todo o esforço dele e dos rapazes teriam sido em vão até aquele momento, não poderia perder aquela oportunidade.

 

            - Ainda não pensei em nada, mas você me deve uma. – seu sorriso só aumentava, enquanto Bill ficava preocupado com que o que aconteceria com ele dali pra frente. “Não se preocupe, irmãozinho, eu vou saber usar isto a meu favor”, e relaxou no banco do carro, sem que o sorriso saísse do seu rosto.

 

 

            Gordon levou os garotos direto para a casa de Eliza. Assim que chegaram lá, a senhora beijou a todos desejando feliz Ano Novo, fazendo todos sorrirem radiantes, principalmente Tom, que amava muito a avó. Enquanto eles se cumprimentavam, Gordon guardou o carro e entrou já dando um beijo demorado na bochecha de sua sogra. Sorriu em seguida, pedindo desculpas por tê-la feito ficar acordada até àquela hora e levou os meninos para sala, fazendo todos se sentarem. Assim que todos estavam devidamente acomodados, Gordon foi ao seu quarto e trouxe com ele o seu notebook. Nenhum deles estava entendendo o que o mais velho fazia, mas, mesmo assim, resolveram esperar para ver o que ele estava planejando.

 

            Tom cruzou os braços sem dizer nada, estava curioso para saber o que ele faria.

 

            Depois de alguns minutos, que para todos pareceram horas, Gordon sorriu e ajeitou o computador em cima da mesa de um modo que todos pudessem ver.

 

            - Tenho uma surpresa para vocês meninos... Feliz Ano Novo! – sorriu e ligou a vídeo chamada.

 

            Tom descruzou os braços e inclinou-se rapidamente para frente ao ver quem estava do outro lado. Não conseguiu ter nenhuma reação de imediato, estava surpreso demais para isso, mas depois um sorriso se formou de leve em seus lábios, sem que ele percebesse.

 

            - Mãe! – Bill disse feliz ao ver Simone na tela. – Feliz Ano Novo! Como está tudo ai? Quando você volta? – disse de uma só vez, quase indo ao encontro da tela tamanha sua felicidade e saudades.

 

            - Meus amores! Georg, Gustav, fico feliz em vê-los também... Tom, Bill me desculpem ter lhes deixado em pleno Ano Novo... Eu amo tanto os dois... Meus amores, meus filhos... – ela dizia com lágrimas nos olhos pela emoção de vê-los depois de quase uma semana.

 

            “Se amasse mesmo não teria nos deixado...”, Tom pensava enquanto Simone falava, e Bill sorria por estar pelo menos vendo por alguns minutos sua mãe. “Era pra ser nosso primeiro Ano Novo, eu esperei tanto por isso”, ele pensou, baixando os olhos tristemente.

 

            - Tom! Meu amor... Eu sei que errei, sei que gostaria de passar esse dia comigo e com seu irmão, como uma família – ela falou como se adivinhasse o que o garoto estava pensando, Tom não disse nada, mas sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e contraiu seu corpo, tentando mantê-las em seu lugar. – Mas teremos muitos anos pela frente Tom, será um melhor do que o outro, eu prometo! – Simone sorriu, e Bill olhou de relance para o irmão. Viu que os olhos dele estavam cheios de lágrimas e percebeu que ele se segurava para não deixar que elas escapassem, mas não disse nada. Assim como por um momento pensou em abraçá-lo, para reconfortá-lo, como Tom fez com ele durante muito tempo, mas seu orgulho era bem maior que isso, e também não o fez.

 

            “Ela diz tudo isso, mas não fez nada pra ficar conosco... E quem garante que ano que vem não terá outro desfile? Eu não acredito! Em mais nada!”, Tom cerrou os punhos, estava quase cedendo e não podia acreditar nisso. Simone continuou contando como foram os desfiles, e disse também que voltaria em três dias, fazendo Bill ficar radiante a cada palavra, mas Tom não prestou atenção nisso e só voltou a olhar para a tela quando ela se despediu, e pela última vez disse que o amava muito, pedindo desculpas por não ter sido uma boa mãe para ele. “Agora não adianta mais, dez anos não são dez dias...” – quando Gordon desligou a tela, todos começaram a falar alegremente, exceto Tom, que se levantou por fim e saiu da casa, torcendo para que ninguém sentisse a sua falta.

 

            Bill percebeu quando o irmão fechou a porta da casa e olhou para Gordon, que fez um sinal negativo com a cabeça, indicando que não era um bom momento para que Bill o seguisse; o garoto precisava ficar sozinho, e ele sabia disso. Ele não iria embora, o mais velho sabia que ele apenas os esperaria do lado de fora, até que todos estivessem prontos para ir embora da casa de Eliza.

 

 

           

Assim que saiu, Tom olhou para o céu e apoiou-se no muro, suspirou e deixou que uma lágrima descesse lentamente pelo seu rosto. “Queria que você estivesse aqui agora, papai...”, ele pensou, e mais lágrimas desceram pelo seu rosto. “Mãe... Eu também te amo.”, e então seu corpo escorregou pela parede até chegar ao chão, e ele escondeu seu rosto por entre as mãos, chorando livremente.

 

 

 

 

 



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Notas finais do capítulo

Preview do próx. cap.: "- Tom, eu trouxe uma coisa para você. - ela falou sorrindo. - Espero que goste!"

Poxa... Eu já estava me sentindo mal pelo tempo sem postar! Tantas saudades de vcs, dos reviews carinhosos, de escrever... Não estava podendo entrar no computador esses dias, e eu e a Keca tivemos uns probleminhas xP Mas agora estamos de volta, e o cap. está aí! :D
Espero que gosteem! - e é um pouco grandinho, só pra vcs ficarem felizes :D -