Estávamos só nós quatro, no salão comunal: eu, Hermione, Harry e Gina.

– Ai, quanta melação! – fiz uma careta.

– Acalme-se, Ronald. – Hermione me repreedeu - Eles só estão conversando... um nos braços do outro...

– Ta bom, Hermione! Eu já entendi.

Gina e Harry estavam mais afastados de mim e Hermione, ou melhor, eu e Mione estamos mais afastados deles. Afinal, eles estavam se agarrando e se eu ficasse lá pra olhar, ia acabar surtando.

Comecei a me concentrar no trabalho que Binns passou, hoje cedo.

– Amor, - Mione me chamou – olhe pra mim. Só pra mim, ok? Eu te amo. – achei estranho ela falar isso justo agora. Antes de vir me beijar, ela olhou na direção em que minha irmã estava, e depois se voltou pra mim; antes dos nossos lábios de tocarem, olhei no mesmo ponto e me arrependi.

Não dava pra distinguir qual era o braço de Gina e o de Harry, eles estavam na maior agarração.

– Ei, Potter! Olhe essa mão boba aí, hein!? – falei raivoso – E você, Srta. Granger, tentou encobri-los, né?

– Ron, eles já estão namorando a mais de um ano! Você quer o que? Que o máximo que eles façam é dar as mãos e beijinho na bochecha?

– É. Não é?

– Não, não é.

– Você mesmo disse a ele, pra não ficar agarrando ela na minha frente.

– Ai, Ron, para de olhar. Assim você até esquece que eles estão aí.

Hermione se levantou de onde estava, se sentou no meu colo e encostou no meu peito.

– Não é ótimo? A professora Minerva dar mais uma chance pra nós?

– Ah, não sei. Sim, foi grande consideração a dela... Mas você sabe que eu não gosto de estudar.

– Haha, vê pelo lado bom, você vai passar mais tempo comigo...

– Nem um pouco convencida você.

– E seus amigos. – acrescentou – Porque, se não tivermos voltado já teríamos arranjado um emprego e ficaríamos separados o dia todo.

– É... Dá ver por esse lado. O pior vai ser os N.I.E.M.S.

– Não se você tiver uma namorada sabe-tudo. – ela deu um sorriso bobo

– Mas eu não tenho namorada... – provoquei

– Ah não? Não foi isso que eu escutei quando o Goyle tentou me matar na sala precisa...

– Ah... Isso? Foi só pra te defender.

Cheguei mais perto e lhe tasquei um beijo cheio de amor.

– Acho que vou dormir – escutei Gina falando – Vem comigo, Harry?

– O QUE? – levantei da poltrona, quase derrubando Hermione - Pode ficando aí Potter. Ela sabe muito bem achar a própria cama.

– Tapado! – Gina reclamou

– Calma, Ron, só vou até as escadas do dormitório feminino – Harry levantou as mãos em sinal de rendição.

Sentei-me novamente e Hermione seguiu para as escadas.

– Já vai? – ela acentiu – Nem vai me dar um beijo?

– Por quê? Não sou sua namorada – me mostrou a língua e subiu – Você vai ficar aí?

– Vou. Já já eu subo. To sem sono. – e perdi-a de vista

“Como eu amo essa garota.”

Levantei-me e fui até a lareira acesa. Sentei-me de frente a ela e fiquei jogando feitiços fracos pra ‘atiçar’ mais o fogo.

E o sono não vinha...

“É isso que dá dormir no período livre.”

Saí dos meus pensamentos quando um castiçal, que ficava em cima da lareira, caiu. Algum feitiço deve ter ricocheteado e bateu no objeto.

O pior foi o barulho que o castiçal fez quando chegou ao chão. Me levantei e botei de volta ao lugar.

“Será que acordei alguém?”

Mal pensei, e senti braços me agarrando por trás.

“Ah, essa Hermione, viu?”

Escutei uma risadinha infantil e me virei rapidamente.

– Boa noite, meu Won-Won.

– Lilá, já te disse pra não me chamar assim. E além do mais, não sou seu, ok?

– É o que você acha. Mas da Granger você também não é.

– O que você quer?

– Eu escutei um barulho, e vim ver o que aconteceu. E encontrei você parado. Perto de uma tentação como você, não tem como se controlar.

– Obrigada pelo elogio, mas eu estou morrendo de sono – tentei forçar um bocejo, mas foi inútil.

– Tsc tsc. É feio mentir, sabia? – ela estava se aproximando cada vez mais, e eu, a cada passo dela, ia me distanciando – Sinto falta de nós dois... – danou-se. Ela me prendeu contra a parede; não tem como escapar. Remexi meus bolsos da calça a procura da minha varinha, mas ela não estava lá. Estava na mesinha perto da lareira.

– Lilá, sai de cima de mim... - tentativa inútil. Ela colocou as mãos em minha nuca e me puxou pra um beijo. Admito: eu senti falta daqueles lábios. Mas o beijo não teve graça, porque não teve amor.

Ela foi me guiando para o sofá, mas no caminho, esbarrei numa prateleira e derrubei um pesado troféu, que fez um estrondo maior que o castiçal.

“Isso! Agora, aluem deve ter escutado. E quando descer vai tirar essa praga de cima de mim.”

Escutei passos descendo as escadas, não só de uma pessoa. Mas várias. E a Lilá, que pelo jeito também ouviu, só aprofundou mais o beijo. E o ar? Como é que fica?

“Ai meu Merlin! Acordamos toda a torre! Só falta a...”

– Ronald Weasley!

“... Mione descer”

– O que significa isso? – ela continuou

– Hermione, me deixa explicar. Eu... Ela... – mas eu não pude terminar. Ela saiu correndo, escada a cima. Fui logo atrás, empurrando todos que estavam na frente.

Cheguei perto do dormitório feminino, e quando subi o primeiro degrau, a escada sumiu, dando lugar a uma rampa lisa – o que me impossibilitou de subir.

– HERMIONE! – tentei chama-la – HER... Mione... – sabia que ela não me ouviria.

Lágrimas teimavam a sair. Quem sou eu pra impedi-las? Encostei-me na parede e me deixei levar pelo choro. Já era tarde, e adormeci lá mesmo.