A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 37
CAPÍTULO XV: Revelações




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A infectada, agonizante, estava deitada no chão da caverna. Alan, ajoelhado junto a ela, a tomara nos braços, lhe erguendo a cabeça e a parte superior do corpo para seu colo, e tentava lhe oferecer água para beber.

— “Vamos, beba, vai lhe ajudar...” - ele insistia com ela.

— “A... Alan...” - para sua surpresa ela demonstrava ainda conseguir reconhecê-lo - “O que... acon... teceu...”

— “Você foi infectada... está... se tornando...”

— “E você... a vacina...”

— “Sim... Mas creio que já seja tarde demais... Mas eu precisava lhe pedir perdão...”

— “Não tenho o que lhe perdoar... Mas tenho algo para contar... que... você precisa saber...”

A dose de vacina estava matando os germes que a infectavam, mas matava juntamente com eles, todas as células de seu corpo que haviam sido contaminadas. Ela já estava num nível que não conseguiria se recuperar, mas lhe fora suficiente para retomar a consciência. Além do mais, Samaria era uma mulher forte, uma monja preparada pela ordem dos Imortais. Era capaz de se manter calma e racional, mesmo que seu corpo estivesse implodindo aos poucos. Assim, ela reuniu suas forças para contar a Alan o que se passara com ela:

— “Quanto Paulo e seus aliados se voltaram contra nós no vilarejo, tentamos convencer Jeremie a contra-atacar, mas ele insistia em não aceitar... Eu e alguns outros sabíamos que nenhum de nós poderíamos lhe fazer mudar de ideia, mas talvez você conseguiria... Assim, saímos atrás de você... Mas quando nos aproximávamos desta região, pelo oeste... Nos encontramos com... os que se chamam Cavaleiros, eles nos atacaram, aparentemente sem motivo... Tentamos revidar, mas eles pareciam imunes a qualquer forma de ataque, mataram todos. Consegui resistir, e eles optaram por me capturar... Me levaram para um local onde estavam, bem ao norte, se não me engano... Me colocaram em uma espécie de jaula... Estavam ali, muitos deles, e equipamentos, máquinas que nunca havia visto, estavam escavando, buscando minérios, aparentemente. Mas era algo distinto o que estavam refinando ali. Eles tinham outras jaulas ali, em algumas haviam hell-hounds... O minério que estavam buscando... eu os vi colocarem perto de uma das jaulas, e as criaturas em seu interior entraram em pânico, tentavam a todo modo se afastar da pedra... Pelo que percebi, ela emitia algo, algum tipo de radiação, creio eu... prejudicial aos infectados... Parecia lhes fazer muito mal mesmo... Vi como os Cavaleiros usavam pequenas barras, que pareciam ser daquele material, como se fossem pingentes... E logo percebi porque me capturaram viva... Me queriam usar como cobaia, assim como usavam os cães... Entre os testes que faziam, eu os vi colocarem um minério em uma das jaulas com um hell-hound, e o deixarem ao longo da noite... Ao amanhecer, o animal estava morto... Também colocaram uma daquelas pedras junto comigo e deixaram... Eu passei semanas sem tomar a vacina... e nada me passou... eles colocaram minha jaula ao lado da dos animais infectados para ter certeza que me contaminariam... mas não me ocorreu nada... Chegaram até mesmo a colocar um deles na mesma jaula que eu, mas o animal se mostrou muito mais preocupado em tentar fugir daquela pedra do que em me atacar... Também me coletaram amostras de sangue... E depois de muito tempo, já não sei dizer quanto... me deixaram, inicialmente, ainda na jaula, sem o minério, acho que queriam que os germes me contaminassem... Eu fiquei lá, enquanto eles pareciam estar levantando o acampamento e se preparando para partir... Levou mais um bom tempo até que comecei a sentir os efeitos de estar infectada... As crises raivosas... a perda de coordenação... movimentos involuntários... a lenta degradação do corpo... Era horrível, pouco a pouco minha mente foi se nublando... Eles me libertaram e eu fugi... vim para estas cavernas... sentia necessidade de me esconder... Mas não consigo me lembrar de muita coisa desde então... Tenho apenas lampejos de memória... Acho que ataquei algumas pessoas... Mas não me lembro exatamente como ou porque... Sentia como se todos me ameaçassem... Até você, quanto apareceu... Sentia que você me odiava e havia vindo me matar... Eu acho...”

— “Mas, no final,” - Alan lhe responde sentidamente - “é exatamente o que estou fazendo... A vacina, a matará... Apenas o que fiz é lhe devolver o juízo para que você sofra e agonize até perecer... Me desculpe por isso... Mas não podia deixar você ir... Não podia lhe perder, sem lhe pedir desculpas... Tudo poderia ter sido diferente, nada disso precisava ter ocorrido...”

— “Não... Tudo coopera para o bem... As coisas são da... como devem ser... Se chegou minha hora... é porque me tornei digna de viver no Paraíso...”

— “Mas...” - Alan insiste em suas justificativas - “Se eu tivesse lhe honrado... lhe visto como deveria... Você é que sempre esteve comigo... é que deveria estar... mas eu não vi... Deixei meus olhos me cegarem... Me perdoe...”

Mas diante de tal confissão, Samaria sorri, e, com um estranho brilho no olhar, ela ainda lhe fala: - “Não se culpe pelo que não é sua culpa... Eu o amei, e ainda amo, e você me mostrou que merece isso... Mas precisa se lembrar do que lhe disse... O minério... Os Cavaleiros o usam, pode ser uma cura... Além do mais, os próprios Cavaleiros, os equipamentos, as máquinas que os vi usar... Não podem ser daqui... Não esqueça... Faça...” Após as palavras, a garota então, passa a se contorcer e gemer de dor, ao que parecia, ela havia chegado a um ponto crítico. Incapaz de fazer qualquer outra coisa, Alan a abraça, um abraço apertado, devolvido por ela por alguns segundos, até que as forças lhe abandonam e ela expira.

Alan carrega seu corpo para fora. Cava um cova e lhe propicia um sepultamento, inclusive apanhando dois galhos, juntando-os no formado de uma cruz e fincando-os como uma lápide para a sepultura improvisada. Abalado, ele deixa o local, de inicio nem mesmo conseguindo dar atenção a tudo que ela lhe havia dito. Ele passa o resto do dia vagando, praticamente sem rumo por aquela região, assim como também a noite e o dia seguinte; até que na segunda noite apenas andando, sem comer, beber, descansar ou qualquer outra coisa, ele simplesmente desmaia na entrada de uma das cavernas da área.


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