A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 28
CAPÍTULO VI: Deixado para trás


Notas iniciais do capítulo

um capítulo chato (ou talvez mais um) só de dialogos (infelizmente necessário rsrsrs) com revelações e um certo resumo do enredo.



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— “Eu não estive sempre sozinho...”, Yoseph responde a pergunta de Deborah, assumindo um tom entristecido na voz. O velho, então, guia a jovem ao longo de alguns corredores até o laboratório, o atravessa, até uma porta metálica, aparentemente bem grossa. No teclado numérico do lado direito da porta, ele digita um código de quatro dígitos, o que destrava a porta, ele a empurra abrindo-a e dando acesso a um quarto. Ele faz um gesto convidando a garota a entrar, e ela o faz. Caminhando precavidamente, ela adentra o cômodo, que se mostrava não muito grande, e repleto de aparelhos médicos. No centro do quarto havia um leito ambulatorial com uma cobertura de acrílico (que se assemelhava a uma espécie de “caixão de vidro”), no interior do qual se podia ver um corpo de uma mulher, já aparentando certa idade, inconsciente e, ao que tudo indicava, mantida viva pela infinidade de aparelhos da sala. Deborah se aproxima da maca lentamente, ao que o velho começa a lhe explicar:

 

— “Esta é Heloysa, era minha noiva... E o motivo de ter ficado aqui.” Deborah questiona o que ocorrera, ao que a resposta é singela: - “Está infectada... Por anos, que já nem sei quantos mais, tenho trabalhado neste búnquer procurando alguma cura, alguma forma de salvá-la, mas sem resultados concretos...”

 

— “Mas como vocês terminaram aqui e assim, vocês estavam aqui enquanto a cidade ainda era habitada?” Deborah insiste em questionar, ao que o velho passa a lhe contar sua história:

 

— “Bem, de fato, não somos daqui. Conheci Heloysa em nossa terra natal, eramos jovens, estávamos na universidade, a que na época era chamada Universidade de Toronto, creio que hoje, ela, e a cidade ao seu redor, não seja mais do que um complexo de ruínas, igual a esta cidade em que estamos; mas, na época, era uma das maiores e melhores do mundo. Eu estava cursando biomedicina, e ela, bioengenharia, ah, nos completávamos até nas áreas de estudos... Mas, bem, nós nos graduamos, ambos com as melhores notas de nossas turmas, e creio que foi isto que atraiu a atenção do governo para nós, o governo da União estava recrutando técnicos e cientistas para pesquisas relacionadas com a guerra, que já se arrastava a alguns anos. Bem, eramos recém-formados, o governo pagava bem e tínhamos a oportunidade de trabalharmos juntos, era perfeito, praticamente um sonho, ainda mais quando soubemos com quem trabalharíamos. O responsável por nosso departamento seria o Dr. Mikhael Dawbhinzer, sei que o nome pode não significar nada para você, ou para qualquer um hoje em dia, mas ele foi o maior cientista de minha época, qualquer um envolvido com qualquer biociência o idolatrava, fora considerado o homem do século pela revolução que suas descobertas e teses fizeram no campo da genética, e era outro ponto que Heloyse e eu tínhamos em comum, a admiração pelo trabalho do dr. Dawbhinzer. Podíamos não gostar da grande probabilidade de nosso trabalho possuir finalidades bélicas, mas não podíamos deixar passar tal oportunidade. Logo recebemos as informações de nossa pesquisa: a finalidade seria uma nova arma biológica, e, sinceramente, me pareciam ótimos os projetos, tal arma não seria letal, mas apenas debilitadora, o propósito dela era enfraquecer as tropas inimigas, de forma que se tornassem incapazes de lutar. Com isso, os Aliados se renderiam, e a guerra terminaria, evitaríamos milhares, talvez milhões, de mortes. Mas não seríamos nós que criaríamos a arma, esta seria criada por outra equipe em outro laboratório, talvez até em outro país, nunca nos contaram os detalhes, nossa equipe seria responsável por criar um imunizante, um antídoto, para ser aplicado em nossos próprios soldados, para evitar que a arma os afetasse também. E assim foi, levamos um bom tempo, mas tivemos bons resultados e tudo parecia que ocorreria como o planejado. Começamos a usar a arma e ela estava dando os resultados esperados. Até que houve o atentado. Não sei como os malditos terroristas descobriram a localização do laboratório que produzia a arma, nem nós da equipe tínhamos acesso a tal informação... Mas ocorreu... Entraria pra história como o primeiro atendado terrorista usando arsenal radioativo, mas as consequências do atentado chamariam muito mais atenção. Nos contaram que a radiação causou alguma mutação nos germes sintéticos que constituíam a arma que usávamos, os tornando imunes ao antídoto que desenvolvemos e muito mais poderosos. Nossa equipe foi incumbida de desenvolver um novo imunizante e transferida para esta localidade, por ser mais distante do local do incidente, acreditavam que estaríamos a salvo da pandemia que temiam que se alastraria a partir do local. Porém, os germes se espalharam bem mais rápido, e de forma muito mais sútil do que esperávamos. Os germes se espalharam infectando animais mais simples, assim seu avanço foi quase imperceptível, até porque se consideravam lendas urbanas os relatos de baratas e vermes gigantes vivendo nos esgotos, até que eles começaram a sair a superfície, eram inacreditáveis. E continuaram se espalhando lentamente, bem debaixo de nossos narizes, infectando pouco a pouco animais cada vez mais complexos, outros insetos, repteis, aves, pequenos mamíferos, eles pareciam estar se adaptando pouco a pouco a seres cada vez mais complexos... Oh, lembro quanto começaram a infectar cães, o governo, numa tentativa inútil de controle, organizou a caça e o extermínio de todos estes animais, sabe o quanto as pessoas resistiam a entregar seus animais de estimação ao sacrifício, quantas crianças vi chorando por que íamos as casas apreender seus animais e quantos casos de donos atacados por seus próprios mascotes... E só piorou, demorou pouco para começarem a surgir animais de grande porte infectados. Até criaturas dóceis se tornavam extremamente agressivas... E nós não conseguíamos qualquer resultado significativos em nossas pesquisas, no máximo conseguimos um soro que retardava o desenvolvimento dos germes, mas não era o suficiente... Por fim começaram a surgir casos humanos... Era uma incógnita, como aquilo estava ocorrendo e não conseguíamos qualquer controle, chegamos até mesmo a ter cobaias humanas em alguns de nossos testes, traí tantos de meus princípios em busca desta cura e, mesmo assim, nada... Heloysa também se dedicara ao extremo a nossas pesquisas, talvez até demais, tanto que acabou ela mesma infectada... Com isto o desespero tomou conta de mim, fiz tudo ao meu alcance, estudei como os germes se desenvolviam, e nada, só descobri que a partir de certo ponto, era irreversível, e mesmo o soro que tínhamos desenvolvido, se tornava letal para o infectado. Temendo que Heloysa atingisse este nível, tomei a decisão de incubá-la até descobrir a cura... A pandemia que temiam ocorreu, já não havia como controlar e ordenaram a evacuação das cidades... Mas eu não podia ir, temia que se tirasse Heloysa dos equipamentos, mesmo que por poucas horas, ela atingiriam um nível crítico, consegui fazer medições, ela estava, e ainda está, infectada em cerca de 17%, o nível irreversível é próximo aos 30%. Aceitei ser deixado sozinho para continuar as pesquisas, embora não tenha sido o único, outros cientistas, em outros laboratórios, optaram pelo mesmo, mantive contado com eles pelo rádio. No inicio, trocávamos nossas fórmulas e compartilhávamos nossos resultados uns com os outros, mas aos poucos eles foram desaparecendo, talvez desistindo, talvez morrendo. Nos últimos anos estava me comunicando apenas com mais um e ele me revelou ter encontrado sobreviventes, talvez por isso não tenha me surpreendido tanto encontrá-la, mas já faz um bom tempo que não consigo mais contato com ele. O fato é que, desde que vim para cá já se passaram muitos anos, para se ter uma ideia, quanto encubei Heloysa ainda não tinha nem sequer um fio de cabelo branco na cabeça, e agora já estou grisalho e ficando calvo...”

 

— “Espere um poco”, Deborah lhe chama a atenção, “então é você que produz isto?”, ela lhe mostra uma dose, que de fato era sua última, da vacina que carregara. Yoseph apanha o pequeno frasco e lhe pede um tempo para analisar, indo ao laboratório. Alguns minutos depois, ele informa a garota: - “De fato, isto foi feito baseado em nosso soro, mas é uma versão bem fraca e com muito mais efeitos colaterais, talvez algum dos outros cientistas tenham desenvolvido alguma técnica 'caseira' de fazer o soro e ensinado a sobreviventes, ou alguns de vocês tenham encontrado um ou mais lotes abandonado e diluído ou misturado o soro com outra coisa para render mais...” “Nossa”, a garota comenta, “isto é vendido a um preço muito alto, e está cada vez mais difícil encontrar...”

 

— “Sinto por isso, talvez eu poderia ajudar, fabrico o soro apenas para uso próprio e para fazer testes, ainda buscando uma cura... Mas ainda sim tenho uma boa quantidade em estoque, por precaução, e até mesmo por ter ouvido falar de sobreviventes, ficaria feliz em compartilhar... Porém, tenho que admitir, que já não me restam muitos materiais para uma 'produção em massa'...”

 

— “Isto é uma pena, um novo produtor nos ajudaria bastante...” - Deborah lamenta.

 

— “Mas creio que há uma solução para isto também. Este distrito industrial está repleto de fábricas e laboratórios, e, como o restante da cidade, foi evacuado as pressas, deixando estoques e laboratórios repletos de produtos, componentes e materiais. Infelizmente, já não tenho o vigor necessário para sair em buscas por aí, mas se você pudesse fazer isto, eu poderia produzir o soro e o distribuir, você e outros sobreviventes ainda ganhariam tendo acesso a uma versão mais forte e com menos efeitos colaterais.” Yoseph concluí enquanto olhava para a garota, percebendo que ela também parecia se animar com a ideia.


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