Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 5
Dinnie Ray


Notas iniciais do capítulo

Supresinha! Escrevi essa capítulo ontem e estava super ansiosa para postar e aqui estou eu. Bem, a maioria das pessoas pediram opção B e aqui está. Vocês me ajudaram muito e já sei que essa história ainda tem muita água para rolar.
Enjoy!



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Capítulo 5 – Dinnie Ray

Não sei quando tempo fiquei ali, parado olhando por onde Marco tinha saído. Passei a mão por meu rosto e soltei o ar. Minha língua umidificou meus lábios secos. Aquele desgraçado. Era tão mais fácil pensar coerentemente quando ele não estava perto de mim. Uma raiva irracional tomou conta de mim e eu soquei a janela de vidro, sem me preocupar com os vidro entrando em minha pele. Logo ela se curaria. Meu coração que era outra coisa.

Eu poderia ter gritado e quebrado o restante do quarto, mas sabia que seria inútil. Eu não poderia resolver tudo enfiando uma estaca em Marco. Em parte por ele saber como mexer comigo. Em parte por eu não poder tocar em prata. É, vampiros não podiam tocar em prata. Luz do sol, crucifixos, água benta e alho nos fazia rir. Mas, prata, ainda mais manuseada por um caçador experiente poderia machucar e matar.

Bati meu salto com força no chão enquanto saía do posto e olhava ao redor. Nenhum sinal de Marco. O vento forte da tarde tinha levado o cheiro dele para longe de mim. Felizmente. Engoli a seco e tentei colocar meus pensamentos em ordem. Noah tinha dito para não contar a Daniel, mas Barão tinha o direito e saber, não tinha? Afinal de contas, ele era o pai de Marco. Os grandes olhos cinzas herdados em vida, eram a grande prova.

Talvez Barão me ajudasse, tanto com Daniel, quanto comigo mesma. Na verdade, talvez não fosse a melhor ideia contar a Barão. Ele não era o mesmo homem da época em que eu namorava Marco. Ele já deveria ter se aposentado daquele espelunca de caçadores a muito tempo. Não tinha o mesmo fôlego de correr atrás de um vampiro. Se ele tivesse deixado na mão de Daniel, teria evitado muitos problemas.

Teria evitado que ele me conhecesse, talvez. Pressionei meus lábios juntos e apertei o passo ao avistar a casa de Barão. Já cheguei na porta com os braços esticados e tocando a campainha. Respirei fundo, esperando. O cheiro de Daniel encheu meu pulmão e eu recuei. Droga! Eu deveria ter respirado primeiro, depois tocado a campainha. Antes que eu pudesse fazer alguma menção de ir embora, a porta se abriu e eu estava encarando os olhos cinzas e culpados de Daniel.

Ficamos um tempo assim, nos olhando, até que ele desviou o olhar para o chão. Eu deveria ter ido outro dia ali. Era óbvio que ele iria pedir ajuda ao avô. Encarei Barão, que tinha os lábios pressionados.

“Me desculpe.”, eu disse percebendo o silêncio incomodo. Daniel continuou olhando para baixo. Talvez com raiva demais. “Não sabia que tinha companhia.”

“Não se preocupe. Já estava de saída.”, Daniel se levantou e forçou um sorriso antes de me encarar.

Olhar em seus olhos cinzas me deu dor. Minha vontade foi de gritar a verdade a plenos pulmões, mas me calei mordendo o lábio inferior. Meus pés ganharam vida própria e eu dei um passo a frente na porta. Para quebrar aquele momento curto, Barão limpou a garganta, chamando atenção de nós dois. Sua sobrancelha levantada, questionando nossa sanidade.

“Eu já vou, vô.”, ele disse cauteloso, com cuidado para não voltar a me encarar. Estava deixando todos os meus sentimentos irem a tona para que ele visse o quanto eu precisava dele. Ele abraçou o avô e então se virou para mim, lentamente. A minha saudade fazia minha pele coçar. Tive que me segurar para não ir abraçá-lo. “Com licença”, pediu.

Dei um passo para o lado, mesmo com meus pés não querendo me obedecer. Ele começou a passar e eu senti seu peito roçando no meu. Um choque elétrico passou por nós e eu tive que me segurar para não agarrá-lo ali mesmo. Ele se virou para mim, com a mão levantada. Respirei devagar, esperando que ele me tocasse, mas no último segundo ele pareceu mudar de ideia e passou a mão pelo cabelo.

Fiquei um pouco decepcionada, mas entendi que ele estava me dando um tempo e que ele não voltaria até que eu contasse. Sem mais nenhuma palavra, ele se virou e começou a ir embora. Voltei meu olhar para Barão que sinalizou para que eu entrasse, ele fechou a porta atrás de mim e eu me joguei no sofá. Coincidentemente, o mesmo sofá que Daniel estava sentado antes. Quando meu corpo teve contato com o couro, o cheiro dele subiu, me fazendo fechar os olhos por um momento e aproveitar.

“O que te traz aqui, Dinnie Ray?”, Barão disse se sentando no sofá em frente ao meu e tomando o seu chá, aparentemente, interrompido.

“Eu gostaria de ser suave ao te contar isso, Barão, mas não tenho tempo.”, fechei os olhos por um segundo, sentindo a pontada de dor em meu peito. A cada vez que eu dizia aquelas palavras em voz alta, parecia que um buraco estava se abrindo em meu peito. E pensar que eu daria qualquer coisa para que me dissessem isso vinte anos atrás. “Marco está de volta.”

Um silêncio infernal fez com que meus ouvidos queimassem. A frequência cardíaca de Barão aumentou, assim como o fluxo de sangue. Pudia escutar sua respiração ficando mais rápida e urgente. Abri lentamente os olhos a tempo ver os seus perdidos na parede atrás de mim. Uma lágrima desceu por seu olhos esquerdo. Engoli a seco e me movi até ele, cautelosa. Quando me sentei ao seu lado, ele levantou seus olhos para mim e começou a balançar a cabeça.

“Você disse que ele estava de volta.”, Barão fungou e eu assenti, concordando. “Isso quer dizer que...?”, ele deixou em aberto. Eu entendi, mesmo querendo o contrário.

“Ele é um vampiro.”, afirmei. Ele pôs o rosto entre as mãos e voltou a chorar. “E, ele participou da confusão com os vampiros Rebeldes. Ele é um vampiro tigre.”, disse deixando de fora a parte que ele tinha criado os vampiros. Os grandes olhos cinzas arregalados na minha direção me calaram.

“O quê? Ele estava nessa confusão?”, seu ar saiu de uma vez e ele pôs a mão sobre o coração. Meu Deus, eu iria infartá-lo com tanta informação. Então seus olhos foram de confusos para acusativos. “Por que não me disse antes, Dinnie Ray? A quanto tempo sabe disso?”

Reprimi um xingamento e suspirei alto.

“Barão, isso tudo, mexeu comigo. A volta de Marco me afetou de um jeito que nunca pensei que seria atingida. Eu, literalmente, caí de bunda no chão quando o vi. Me senti incapaz. E eu odiei isso.”, balancei a cabeça e as lágrimas começaram a cair. “O mais irônico era que eu imaginava essa cena todos os dias. Ele aparecendo em minha porta dizendo que estava tudo bem e que estava vivo. Mas, agora, isso só serviu para ferrar a minha vida com Daniel.”, minha voz mudou de tom drasticamente por conta do choro. “Eu nunca pensei em encontrá-lo. Não daquele jeito frio e calculista.”

Isso fez com que Barão hesitasse nas próximas palavras. Eu sabia o que estava passando em seu mente. Marco sempre tinha sido uma pessoa cheia de vida. E quente. Meu Deus, como ele era quente. Fazia todos ao seu redor sorrir, mesmo em um momento triste. Isso tinha sido uma das coisas que me atraíram nele. E uma das coisas que Daniel tinha herdado dele. Era normal de Barão desconfiar um pouco.

“Eu não acredito nisso.”, ele disse depois de alguns momentos perdidos em pensamentos. “Isso não pode ser real.”, ele afundou o rosto nas mãos mais uma vez e voltou a chorar.

“Me desculpe, Barão, mas é verdade.”, ainda afetada pelo choro, minha voz tremeu e falhou na última palavra. Ele me olhou, compreensivo. Funguei mais uma vez. “Queria que fosse mentira, mas não é.”, minha garganta queimou ao dizer aquelas palavras.

“Tem certeza que é ele?”, Barão perguntou mais uma vez.

Suspirei mais uma vez e me levantei do sofá. Sabia que estava pronta para chorar novamente, então transformei minha dor em raiva e soquei a parede com força, deixando um buraco enorme ali. Me arrependi um pouco. Barão não merecia um prejuízo desses. Mesmo com motivos fortes.

“Droga, Barão.”, eu rosnei com raiva de mim mesma. “Sou uma vampira, não louca. Sei o que vi.”, afirmei e encostei minha testa na parede, respirando devagar.

“E Daniel?”, ele perguntou indo para o assunto que mais me doía.

“Não sabe.”, disse soltando o ar e me desencostando lentamente. “Não sei como ele reagiria quando contasse.”, caminhei até o centro da sala, encarando Barão como se ele fosse louco. “Não é como eu pudesse chegar para ele e dizer: Hey, amor. O meu estado catatônico e minhas mudanças de humor do último mês são por causa de um homem. E não qualquer homem. Oh, não.”, minha voz se elevou uns dois tom e eu estalei a língua soltando um riso amargo.

Antes que eu pudesse continuar meu discurso, escutei um som baixo vindo da porta. Parecia um silvo. Eu arfei. Conhecia aquele som em qualquer lugar. Andei decidida até a porta e estava pronta para abrí-la, quando Barão me interrompeu.

“Você vai contar a Daniel, não vai?”, ele perguntou. Aquilo me tirou do objetivo inicial e me deixou pensativa.

“Eu amo Daniel, Barão.”, tive orgulho quando minha voz ficou firme. Senti-me mais leve quando afirmei isso. “Meu Deus, eu o amo tanto que chega a doer. Esconder isso está me matando, de dentro para fora, mas não posso contar agora.”, passei a mão por meu cabelo. “Eu estou confusa demais. Preciso estar focada para quando contar. Ele vai ficar bastante confuso. Não é todo dia que se recebe uma notícia dessas.”

“Tem razão.”, ele assentiu concordando.

Seus batimentos cardíacos se tornaram constante e seu fluxo sanguíneo também. Fiquei aliviada quando percebi que ele tinha se acostumado com a volta do seu filho. Não queria ser a culpada do seu ataque do coração. Eu iria embora, mas Barão insistiu para que eu ficasse para o almoço. Não quis deixá-lo sozinho, então aceitei.

Quando saí da casa de Barão já tinha escurecido. Havíamos conversado bastante. Consegui acalmá-lo o suficiente para que tivesse a certeza que ele não iria atrás de Marco. Não poderia defendê-lo se estivesse em outro território de outro vampiro. Enquanto eu caminhava para casa, meu único pensamento era de me jogar na cama e acorda só no dia seguinte. Mas tive certeza que isso não aconteceria quando vi Marco parado em frente ao meu prédio.

Fingi não tê-lo visto, mas ele me interceptou na entrada com os braços cruzados e um sorriso no rosto. Também cruzei meus braços e levantei uma sobrancelha para ele. Em minha mente, corria um milhão de coisas. Seu cheiro meu pegou desprevenida e eu tive que segurar um suspiro. Era o mesmo cheiro, só com um toque imortal. Ele deu um passo a frente, fazendo com que seu cheiro ficasse mais intenso para mim.

“Está com tanta pressa.”, ele disse levantando a mão para tocar o meu rosto. Recuei automaticamente.

“Como descobriu onde eu moro?”, disse sendo direta.

“Além do seu cheiro maravilhoso?”, ele perguntou irônico. “Você se esqueceu que Luke era o meu parceiro? Eu sabia cada passo que você dava.”

“E agora não sabe mais.”, rebati , sorrindo.

“Você é quem acha.”, ele riu de volta.

Fiquei tensa e passei por ele. Claro que Marco não me deixaria em paz. Ele me seguiu escada a cima (era óbvio que eu não ficaria em um elevador fechado com ele, e meus sentimentos confusos.), até a porta do meu apartamento. Remexi em minha bolsa, apreensiva, quando senti seu corpo se pressionando atrás de mim. Fechei meus olhos, esquecendo as chaves por um minutos enquanto suas mãos subiam e desciam por meu corpo. Minha respiração saía pesada e eu soltei um gemido baixo quando ele mordeu o lóbulo da minha orelha.

“Viu? Eu ainda lembro o que fazer para te deixar louca.”, ele sussurrou contra a minha pele.

O barulho da bolsa caindo do chão me tirou do torpor e eu me afastei rapidamente, colocando minhas costas na porta. Marco ainda tinha o mesmo sorriso nos lábios, e eu tremia como um coelho assustado. O filho da mãe ainda mexia desse jeito comigo. Balancei a cabeça com força e o escutei gargalhar.

“Saia daqui.”, ordenei, com os olhos arregalados.

Minha voz tremeu, traduzindo o meu medo. Ele deu um passo a frente e eu me pressionei com mais força contra a porta. Em minha mente, gritava o nome de Daniel como um mantra, para me manter segura de mim mesma. Fechei os olhos quando ele parou a um passo de mim e sua presença tomou conta de todo o meu corpo. No exato segundo em que a porta se abriu e eu caí para trás.

Levantei de súbito. Eu não tinha deixado a porta aberta. E mesmo se tivesse, ela não abriria sozinha do nada. Me virei lentamente e arregalei meus olhos. Daniel estava parado, em uma posição de ataque, rosnando com uma verdadeiro vampiro para Marco. Eu soube o que ele ia fazer, antes que ele pulasse no pescoço de seu pai e eles rolassem escada a baixo.

Levou um instante, depois do susto para que eu fosse atrás deles com os passos apressados. Minhas sorte é que meus vizinhos eram idosos e dormiam cedo. Mas, aquele barulho acordaria eles sem problema. Meus saltos batiam com força contra a escada e eu via, por fração de segundos, o corpo dos dois enrolados e os rosnados. Eles iriam se matar sem saber que eram parentes.

Acelerei minha corrida e parei na entrada do prédio, onde os dois se encaravam com raiva. Olhei para Daniel, aliviada por ele estar bem. Marco o encarava com ódio. Pelo seu olhar, ele não sabia realmente que aquele era o seu filho, mesmo que as semelhanças gritassem a verdade. O modo que os dois se encaravam e rosnavam eram idênticos. E com a pouca diferença de idade e a cor diferente de cabelo, eles poderiam se passar por irmãos.

“Então é com esse que você está me traindo, Dinnie Ray?”, Daniel exigiu sem tirar os olhos de Marco. As presas pressionadas em seus lábios com raiva. O encarei confusa. Eu traindo Daniel com Marco? Claro que eu estava perto de fazê-lo hoje, mas mantive meus pés no chão.

“Do que, diabos você está falando?”, perguntei franzindo as minhas sobrancelhas.

“Eu escutei você e o meu avô conversando”, ele contou, frustado. Congelei. Se ele tivesse escutado desde o início, ele saberia a quem estava atacando, certo? “Escutei você falando que estava estranha por causa de um homem.”

Suspirei aliviada. Pelo menos ele não sabia de Marco. Mas, observando bem a situação onde nos encontrávamos, não demoraria muito tempo para que a verdade transparecesse. Antes que eu pudesse abrir a boca para explicar o que estava acontecendo, Marco avançou em direção a Daniel e os dois voltaram a se atacar.

Eu segui em passos acelerados em quanto ele entravam em um beco. Hora Daniel tinha vantagem, ora Marco tinha vantagem. Eu estava apreensiva. Congelei no momento em que Marco parou em cima de Daniel com as presas aparentes. O ante braço na garganta do seu filho e o punho fechado e levantado, pronto para um ataque fatal.

“Parem”, eu gritei.

Os dois arrastaram seus olhos para mim e lentamente se separaram. Caminhei rapidamente até os dois, parando propositalmente entre eles. Olhei de um para o outro. Os dois sujos e encarando-se prontos para se matar. A raiva apareceu tão subitamente quando o desespero. Senti o poder dos meus 450 anos tocando a minha pele e eles se arrepiaram. Eram bebês perto de mim.

“Querem se matar, se matem.”, dei mais um passo estratégico no espaço entre os dois e cruzei os braços. “Mas, vão ter que me matar primeiro.”

Os dois me encararam como se eu fosse uma louca suicida. Talvez eu fosse mesmo. Mas eu não deixaria que pai e filho se matassem por minha causa. Não mesmo. Encarei primeiro Marco e fiz um sinal para que ele recuasse mais um pouco. Demorou um pouco, mas ele relaxou. Já quando eu encarei Daniel, tinha um olhar duro.

“De onde você tirou a ideia maluca que ele é meu amante, Daniel?”, gritei com todas as forças dos meus pulmões. Ele recuou com a força do meu grito. “Não se pode sair atacando todo mundo que você acha que é meu amante. Ele”, apontei para Marco que permanecia quieto atrás de mim. “Não é meu amante.” , Agora, adicionei mentalmente.

“Então, quem é ele?”, Daniel disse, também apontando para Marco, mas com os olhos presos em mim. Engoli a seco, me impedindo de falar.

“Seu pai.”, me virei para Marco que andava com os olhos presos em Daniel. O mesmo arregalou os olhos similares na direção do pai e de volta para mim. Abaixei a cabeça, envergonhada por guardar aquele segredo. “Eu sou seu pai, Daniel.”


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Notas finais do capítulo

Comentem! O que acham que Daniel irá fazer? E o que acharam de sua atitude? Barão quase teve um ataque. Ah, e os que escolheram opção C, ainda irá acontecer e muitas outras coisas.