Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 2
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

Fiquei um pouco triste com os poucos Reviews, mas aqui estou eu, fiel. Aqui está mais um capítulo. Comentem e não me matem no final.



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Capítulo 2 – Daniel Gonzales

Cinco minutos depois que Dinnie Ray saiu, meu celular tocou. Com uma pequena ajuda dos meus novos sentidos vampíricos, consegui chegar ao quarto, pegar meu celular e voltar para a cozinha antes do final do segundo toque.

“Alô”, atendi. Mexi no prato de bacon a minha frente e o larguei, sentindo a falta de fome.

“Daniel”, uma voz iluminada respondeu. Sorri.

“Luanne, o que aconteceu?”, perguntei olhando para o relógio do microondas. Era um pouco suspeito ela me ligar aquela hora, já que deveria estar no seu trabalho na veterinária.

“Não se preocupe”, ela me assegurou. “Por que vocês, Gonzales, são tão desconfiados? Até da ligação de uma amiga.”, pudia imaginá-la balançando a cabeça. Revirei os olhos.

“Não sou tão preocupado”, só estava preocupado aqueles dias. “Mas, me diga. O que te fez me ligar?”

“Além do tédio de não ter ninguém com polegares para me fazer companhia?”, ela riu, irônica. Esperei ela terminar e seu tom mudou para sério, mesmo que houvesse um indício de um sorriso usual. “Gostaria de conversar com você. Poderia vir até aqui em meia hora?”

“Posso chegar em menos, Luanne”, me gabei.

Luanne estalou a língua.

“Seja discreto, Daniel. Já te explicamos.”

“Eu sei, eu sei.”, balancei a cabeça com a falta de humor de alguns vampiros. Coloquei os pés na mesa e me encostei na cadeira. “Mas, é sobre o quê?”

“Venha que você saberá”, ela disse misteriosa e em seguida, desligou o celular.

Suspirei alto, jogando minha cabeça para trás e levantei. Se Luanne queria falar comigo a essa hora, com o sol quase a pino, deveria ser sério. Nós sempre conversávamos no quartel general. Assuntos bobos e desnecessários, mas conversávamos. Muitas dessas conversas eram sobre sua vida humana.

Luanne foi transformada em 1870 e tinha nascido em Detroit. Sua vida não era uma maravilha quando humana, mas ela sempre tentava ver o lado bom das coisas. Ela nunca conheceu o pai, depois que ele abandonou sua mão grávida. A própria mão morreu quando ela tinha acabado de completar 21 anos. Luanne não quis me contar com detalhes sobre o que aconteceu depois da morte de sua mãe, só disse que foi horrível, até para o dia de hoje.

Ela me contou que, quando perdeu de vez as esperanças de que sua vida iria dar certo, encontrou, ou melhor, foi encontrada por Mikael. Ele foi o seu criador. Lhe ensinou tudo o que ela sabia até hoje, inclusive sobre o amor. Eles namoraram desde o dia em que se tornou vampira, até o dia que ele morreu. Incrivelmente, eles nunca pensaram em casar, dizendo que faria as coisas esfriarem. Mas, junto com Mikael, Luanne abriu a veterinária de que era dona.

Muitas conversas com Luanne me revelaram curiosidades, tanto sobre ela mesmo, quanto de Dinnie Ray. Por exemplo, quem comprava a maioria das roupas formais de Ray , era ela. E não foi muito diferente comigo. A calça jeans escura, com a blusa branca de manga curta e a camisa quadriculada verde escuro que eu usava, tinham sido escolhidos por Luanne.

Outra particularidade da vida de Luanne que também envolvia Ray, era as mexas em seus cabelos. Antes, eu pensava que era alguma coisa de vampiro, até que tome coragem e perguntei a Luanne. Depois que ela terminou de rir tudo o que queria, me explicou que, quando conheceu Ray, ela tinha um estilo meio dark, que ela gostou e adotou para si. E, para completar, elas faziam mexas em seus cabelos, apenas por estilo.

Conversar com Luanne era bem agradável, já que eu não conseguia mais fazer a mesma coisa com Dinnie Ray, ainda que morássemos na mesma casa. Era como um dejá vù de meus primeiros dias ali, só que mais doloroso e desgastantes.

Ao mesmo tempo que ela estava ali, parecia presa em outro mundo com os olhos vazios e expressão em branco. Sabia que perguntar não levaria a nada além de perda de tempo. Questionei Luanne e Noah sobre o comportamento de Dinnie, mas eles afirmaram ser uma reação a morte de Luke. Eu duvidava muito.

Ela parecia mais longe de si quando me olhava. Seu sorriso, antes tão raro e brilhante, se tornou artificial. Eu demonstrava estar ali para ajudá-la, só que ela me ignorava. Ás vezes, de manhã, eu a pegava encarando o teto e pensando. Esperava que ela deixasse transparecer algum sinal que me revelasse o porque dela estar daquele jeito. Ela se fazia longe de mim no trabalho, atrás de inúmeros papéis cobertos de burocracia.

Mas o pior era em casa.

Era como se ela se sentisse culpada por me deixar insatisfeito e fosse para cama comigo por obrigação. Não irei dizer que o sexo era ruim. Não, Dinnie Ray era mágica na cama. Mas, era só isso. Sexo. Puramente carnal. Eu não via mais o brilho em seu olhar e não conseguia escutar seu prazer nos gemidos. Ás vezes achava que ela nem chegava ao clímax. Ela apenas me fazia chegar ao auge do prazer e saía de perto de mim. Era como se ela sentisse que seu trabalho estava feito.

Aquilo estava me corroendo por dentro. Eu queria a minha Dinnie Ray de volta. Se, pelo menos, eu soubesse o que tinha acontecido para que ela ficasse assim, seria melhor. Se ainda existisse relação. O jeito com que ela agia, era como uma prostituta satisfazendo seu cliente.

Quando dei por mim, estava parado em frente a veterinária de Luanne, com a mão na porta entreaberta, hesitando em entrar. Entranhei o fato da recepcionista mal-humorada de Luanne não ter vindo me atender. Entre, olhando para os lados, me sentindo um pouco perdido.

“Dan”, Luanne chamou vindo me abraçar.

“Luanne”, retribui o abraço e olhei além da vampira loira com grandes olhos azuis para com um belo sorriso a minha frente. “Onde está a senhora sorriso?”

“Pediu demissão.”, ela respondeu e deu de ombros. Imitei seu movimento, não muito surpreso. Se ela já não era muito simpática com as pessoas, imagine com os animais. “Era isso o que eu queria falar com você”, seus olhos azuis brilharam e ela começou a caminhar até seu escritório. A segui.

“Você quer me contar como ela se demitiu?”, perguntei confuso.

Luanne se sentou e rolou os olhos, como se eu fosse a pessoa mais idiota do mundo naquele segundo. Me sentei do outro lado da mesa e esperei ela dizer alguma coisa. Luanne soltou o ar e inclinou o corpo para frente, deixando seus olhos fixos no meu rosto.

“Quero que trabalhe para mim, Daniel.”, ela esclareceu. Franzi as sobrancelhas. “Denise se demitiu e você pode tomar o lugar dela. Será bom para nós dois. Não precisarei me esconder e você terá o emprego que tanto queria.”

“Sério?”, eu disse esperançoso.

“Sim”, ela sorriu. “Mas, só porque sou sua amiga, não quer dizer que pegarei leve com você.”

“Estou a sua disposição”, dei um meio sorriso. Luanne corou e desviou o olhar para as folhas em cima da mesa. Eu nunca tinha visto ela assim. Foi meio estranho. Limpei a garganta e me recostei na cadeira. “Então, quando começo?”

“Ah, sim” , ela pareceu acordar de um longo pensamento. “Amanhã mesmo”

“Tudo bem”, disse me levantando. “Melhor eu ir. Dinnie Ray logo chegará em casa”

“Claro, claro”, Luanne parecia ter grudado seus olhos na mesa e seus dedos mexiam nos papéis sem fundamentos aparentes. “Até amanhã”

Saí da veterinária repassando as reações de Luanne na cabeça. Se eu não estivesse um pouco confuso por causa de Dinnie Ray, diria que ela estava sem graça comigo. Mas era impossível ela ficar sem graça com alguém. Não ficava sem graça nem com Noah, com que eu achava que tinha um caso.

Cheguei em casa mais rápido do que imaginava e não fiquei surpreso ao ver que Ray ainda não tinha chego. Talvez só fosse a encontrar no quartel general como a maioria das vezes. Meu estômago se revirou e me joguei na cama. Não queria ver Dinnie. Sua confusão estava em atingindo. E, isso não estava me fazendo bem. O que quer que Ray estivesse escondendo de mim, estava atingindo a nossa relação.

Mal senti quando o sono me atingiu, só me dei conta que estava dormindo quando escutei a porta da frente se abrindo e o barulho dos saltos das botas de Dinnie se aproximando. Me sentei na cama, passando a mão por meu rosto e piscando rápidos meus olhos. Ela , sequer me encarou e jogou sua bolsa no canto do quarto.

“Oi”, ela disse.

Não tirei meus olhos dela, enquanto tirava as botas e a a blusa. Eu engoli a seco. Mesmo estando confuso e tudo, mas ainda conseguia me deixar com a mente em branco com seu corpo perfeito. Mordi meu lábio, sentindo o prazer tocando minha pele. Ela me encarou de canto de olho e sorriu. Mas o sorriso não chegou aos seus olhos vermelhos. Sorri de volta a abaixei meus olhos para as minhas mãos.

Apenas de roupas íntimas, ela começou a caminhar até mim. Os olhos frios e calculistas, como se tivesse tudo o que iria fazer, planejado. Eu não queria planejado. Ela tocou meu ombro e empurrou meu corpo até que eu deitasse totalmente na cama. Ao mesmo tempo que meu corpo começou a reagir, minha mente estava presa ao fato dela estar fazendo isso só pro meu prazer.

Ela deitou seu corpo em cima do meu e encostou nossas bocas se encontraram. Minha mão traçou seu corpo delicadamente desde a perna até a nuca, esperando algum sinal de que ela estava gostando. Ela nem se mexeu. Senti seus dedos entraram por dentro da minha camisa e, com toda a minha força de vontade, me desvencilhei dela.

Dinnie Ray arregalou os olhos e tentou me novamente. Me levantei da cama e parei de costas para a porta. Nunca pensei que rejeitaria Dinnie Ray em toda a minha vida. Muito menos que eu pegaria em seus ombros, a faria olhar no fundo dos meus olhos cinzas e diria:

“Ray, melhor nós darmos um tempo.”

Seus olhos se estreitaram e franziu os lábios confusa. Minha expressão estava séria, mas por dentro, aquelas palavras ditas por meus lábios, estava me definhando. Ela abaixou a cabeça e fungou. Eu conseguia ver o quanto aquela situação estava me machucando e a ela. Me surpreendendo, Ray me abraçou.

“Daniel, me desculpe”, ela sussurrou. “Eu sou a pessoa mais desprezível do mundo e que nunca mais quer me ver.”, a apertei mais forte contra o meu peito e cheirei seus cabelos castanhos.

“Não, Ray.” , a afastei de mim, o suficiente para encarar seus grandes olhos e para que ela pudesse ver o quanto eu estava sofrendo com aquilo. “Não é você. Não tanto. É esse segredo que você está guardando.”, balancei minha cabeça, cansado. “Eu não consigo ver isso te definhando aos poucos.”

“Daniel, eu...”, ela tentou dizer algo, mas eu sabia que eram apenas desculpas para não me contar a verdade. Por exemplo, que isso iria me machucar. Mas, isso já estava me machucando.

“Shi”, coloquei meus dedos em seus lábios, a calando. “Não diga nada. Sei que você não vai me contar o que está te perturbando. E eu não vou ser hipócrita o suficiente para fingir que isso não está acontecendo. Não vou aguentar te dividir com ninguém.”

“Você não está me dividindo.”, ela afirmou, segura.

“É o que você pensa.”, corrigi. “Seu corpo está comigo, mas sua mente está em outra coisa.”, ou pessoa. Acrescentei mentalmente. A soltei e abri a porta do quarto, saindo. “Vou passar um tempo longe. Quando resolver me contar o que aconteceu, sabe o meu número.”

Eu abri a porta para sair, mas só dei um passo para fora. Uma parte de mim estava gritando o quanto eu era covarde ao abandoná-la daquele jeito. Mas, eu sabia que, quando mais eu insistisse em saber o que estava acontecendo, mais ela se fecharia comigo. Se fosse para eu descobrir o que estava acontecendo, teria que sari por livre arbítrio da boca dela.

Senti a respiração dela atrás de mim, se acelerando. Agindo por puro instinto, me virei e a agarrei pela cintura. Enlacei seus lábios finos com os meus. Aquele beijo tinha gosto de despedida e de lágrimas, de Dinnie Ray. A dor em meu peito se tornou um grande buraco, onde eu só fazia afundar e afundar.

Me afastei e abri os olhos. As mãos de Ray se fecharam em minha blusa, como um pedido silencioso que eu ficasse. Com delicadeza, libertei dedo por dedo de minha camisa e dei um passo para trás. Ela levantou os olhos tristes para mim.

“Me ligue”, sussurrei e fui embora.


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Notas finais do capítulo

O que será que Dinnie Ray fará sem Daniel agora? e Marco? Quando será que ele irá aparecer...? Mais breve do que vocês imaginam.
Até Sexta que vem.