Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 16
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo, fresquinho.



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Capítulo 16 - Daniel Gonzales

Marco saiu, deixando aquela fumaça de tensão entre mim e Ray. Ela olhava para a porta com os olhos vazios. Parecia perdida e bastante confusa. Dei um passo na sua direção, então me detive. Ela piscou com força e me encarou com aqueles grandes rubis por um longo tempo. Ela deveria estar pensando nas opções. Então, abaixou a cabeça e a balançou.

“Você deveria aceitar, Ray.”, eu disse calmamente.

Ela me encarou como se visse um ser de outro planeta. Passou a mão pelo rosto com força e respirou fundo, algo que raramente ela fazia. Passei a língua pelos lábios secos e dei um passo em sua direção. Minhas pernas babearam um pouco, mas me mantive firme. Ray observava cada movimento meu, sem piscar.

“Eu não vou te deixar para trás, Daniel.”, ela respondeu em voz baixa. “Se eu vim até aqui foi para te salvar, não para aceitar a primeira proposta suja que Marco me fez.”, ela desviou seus olhos dos meus. “Até porque, se fosse assim, eu não estaria aqui, mas me esbaldando numa cama com ele.”

Meus ombros ficaram tensos e minhas mãos começaram a tremer. Eu comecei a respirar devagar, tentando controlar a minha raiva. Era isso o que Marco queria. Que eu Ray ficássemos brigando e ele conseguiu, por um tempo, mas eu não daria mais esse ostinho para ele. Me sentei, sentindo tudo a minha volta rodar.

Minha mandíbula estava doendo, como se eu tivesse tomado um soco e tivesse quebrado. Abri e fechei a boca, tentando massageá-la. Passei a mão por meus olhos, vendo que minha visão estava embaçada. Meu estômago se apertou e minha garganta se fechou. Minhas gengivas também doíam, mas isso era por causa de minhas presas a muito tempo guardada.

“A quanto tempo você está sem sangue?”, Ray perguntou.

Mesmo não conseguindo enxergar direito, pude me guiar por sua voz. E ela estava se aproximando. Comecei a respirar ruidosamente e rápido. Era como se todos os meus membros estivessem pegando fogo. Ray parou a um passo de mim e esperou por minha resposta. Mesmo estando um pouco confuso, pude fazer as contas mentalmente.

“Acho que uma semana, ou menos.”, eu disse confuso.

“Você é louco?”, ela praticamente gritou. Logo em seguida, estava ajoelhada ao meu lado pondo a mão em meu rosto e o estudando com cuidado. “Está me enxergando?”, ela perguntou com a voz controlada.

“Não.”, eu respondi baixo. Senti minha língua começando a enrolar. Pisquei com força, tentando fazer com a escuridão saísse de minha frente. Logo em seguida veio os zumbidos. “Minhas orelhas.”, eu reclamei tapando meus ouvidos.

“Droga, Daniel!”, ela reclamou. “Você é um vampiro novo, tem que se alimentar de dois em dois dias no máximo. Uma semana é quase suicídio.”

Sei que ela falou mais, só que o próximo sentido que eu perdi foi a audição. Tudo o que eu escutava eram zumbidos, logo em seguida silêncio. Minhas mãos começaram a formigar e eu já soube que o próximo seria o tato. Eu não podia perder tudo isso tão rápido e não agora.

Levantei minhas mãos com cuidado, em meio a escuridão e consegui tatear o rosto de Dinnie Ray. Os pequenos olhos vermelhos, o nariz também pequeno e um pouco arrebitado. As bochechas macias e que faziam seu rosto um pouco redondo. Engoli em seco quando cheguei na boca. Pequena, mas com lábios cheios e beijáveis. Eu só queria provar mais uma vez.

Senti Ray se afastando de mim, e seus pés roçaram levemente em minhas mãos, mostrando que ela estava se levantando. Eu não escutei nada, mas tinha certeza que ela estava me xingando de todos os nomes humanamente possíveis e em todas as línguas que ela conhecia.

“Me desculpe.”, eu sussurrei, mesmo não podendo escutar a resposta.

Ela tinha razão. Tudo aquilo era culpa minha. Eu deveria morrer, e não ser salvo por ela. na verdade, deveria ficar cego e surdo para sempre. Tentei buscar em minha memória alguma lembrança de Ray comentando comigo sobre os efeitos colaterais da falta de alimentação em vampiros jovens. Só uma lembrança estalou na minha mente.

Havia sido duas semanas antes dessa confusão começar. Ray ainda estava distante e deitada na cama, folheando uma revista, sem realmente estar interessada. Eu estava ao seu lado, a estudando e tentando entender o porque daquela mudança de humor. Ela me olhou e de um pequeno sorriso. Eu retribui, sabendo que era forçado.

Logo em seguida, ela jogou a revista de lado e se jogou em meus braços. Pensei que ela iria começar com aquele jogo de sedução, mas apenas me abraçou e deitou a cabeça em meu peito, escutando enquanto eu respirava desnecessariamente. Ela ficou em silêncio por alguns minutos e eu acariciei seus cabelos escuros.

“Você é tão humano.”, ela sussurrou contra o meu peito e levantou os olhos vermelhos. “E está cheirando a sangue.”, ela deu outro pequeno sorriso. Sua voz estava tão baixa e fraca. “Uma pena saber que esse sangue não é realmente seu.”

“Eu posso parar de beber se você quiser.”, eu ofereci cauteloso.

“NÃO”, ela se sentou alerta. Seus olhos arregalados. “Você não pode simplesmente parar de beber sangue. Você é um vampiro, Daniel. Coisa horríveis acontecem se você deixa de beber sangue.”

“Você já tentou?”, eu disse tentando fazê-la ficar mais calma. Ray suspirou e voltou a deitar sua cabeça em meu peito.

“Já.”, ela fez uma careta. “Queima muito e acontecem coisas horríveis.”

Na época eu fiquei pensando em que coisas horríveis ela estava se referindo, não sabia que ela estava falando de perder, um a um os sentidos. Meu corpo estava mole, tanto pela falta de sangue, quanto pelo efeito da prata em mim. Não queria admitir para Ray, mas tinha sido a raiva que eu senti dela que me fez para de beber sangue.

Eu queria ser mais humano para ver se ela voltaria para mim. Parecia besteira se pensasse em voz alta, mas era o que eu queria. Mas, se eu soubesse que isso iria acontecer, nunca teria renegado a minha verdadeira identidade. Agora, teria que viver eternamente com as lembranças.

Senti algo se pressionando em minha boca, que formigava indicando que o paladar era o outro sentido que eu perderia. Era um gosto conhecido. Tinha cheiro bom, e bastante atrativo. Aos poucos, comecei a sentir minhas mãos e pressionei o pulso de Ray com mais força contra minha boca. Minhas presas se prenderam em sua pele, puxando o sangue com mais vontade.

Claro que o sangue vampiros não tinha um gosto tão bom quanto o humano, e nem nutria o bastante, mas era o suficiente para fazer com que meus sentidos voltasse. Comecei a sentir a maciez da pele do braço de Ray contra a minha mão. Pude escutar o seu gemido baixo enquanto eu sugava com mais força. E vi seus olhos vermelhos queimando de prazer, presos em meus olhos cinzas. Mas, logo ela desviou.

“Beba bastante.”, ela disse e procurou por algo em seu bolso.

A vi puxando o celular com o braço livre e discando. Luanne. Era o nome que brilhava na tela. Ray pôs o celular contra o ouvido e esperou, para logo em seguida xingar e colocar o celular de volta no bolso. Aqui dentro realmente não tinha sinal. Ela voltou a me olhar enquanto eu continuava tomando seu sangue. Os lábios pressionados com força e os olhos estreitos.

“Pode, por favor, não puxar tão forte?”, ela pediu em um sussurro.

Levantei uma sobrancelha e puxei seu sangue com mais força. Ela rangeu os dentes juntos e deixou um pequeno gemido escapar de seus lábios. Vê-la daquele jeito, se contendo, me deixou ativo, além de agitado. Dei uma última sugada e a vi jogando a cabeça para trás e respirando com força. Soltei seu braço e ela me encarou com os olhos atentos.

Envolvi sua cintura com meu braço e a puxei com mais força contra o meu corpo. Ela arfou e pousou suas mãos em meu peito, sem desviar seus olhos do meu. Então, engoliu em seco, esperando meu próximo movimento. Meus olhos vagavam por seu rosto. Em algum momento de minha breve cegueira, ela tinha prendido o cabelo, mas alguns fios tinha escapado, deixando seu rosto mais bonito. E sensual.

Comecei a aproximar nossos rosto e vi que ela não recuava, mesmo estando um pouco tensa. Eu já conseguia sentir seus lábios macios por cima do meu. Meus olhos começaram a se fechar enquanto os de Ray já estavam fechado, mas toda o clima acabou quando abriram a porta e o riso conhecido de Francesca.

“O amor não é lindo?”, ela disse entrando.

Ray se levantou e ficou tensa. Francesca começou a se aproximar e Ray rosnava freneticamente. Francesca sorriu, jogando seus cabelos loiros por cima dos ombros e piscando os incríveis olhos verdes. Me levantei, parando ao lado de Ray, apenas para me certificar que ela não iria fazer alguma coisa que dificultasse a nossa saída dali.

“Sabe, Dinnie Ray, é um pouco chato ver vocês dois juntos depois que eu e Daniel quase transamos.”, Francesca disse com um sorriso, então colocou um dedo em seu queixo, como se pensasse. “Acho que, se você não tivesse ligado empatando tudo, nós estaríamos tomando champanhe e rindo a suas custas.”, ela levantou uma sobrancelha para mim e piscou.

“Vadia.”, Ray rosnou.

“Uma vadia que seus homens adoram , querida.”, ela disse suavemente e suspirou olhando para a bagunça a nossa volta. Os saltos de Ray em um canto, a blusa dela jogada em cima da cadeira que eu estava sentado. “Até que você não é de se jogar fora, mas seus homens cismam de ficar vindo atrás de mim. Daniel, até que foi interessante. Mas, ninguém supera Marco na cama. Você não sabe o que perdeu com esse surto de EU SEI DE TUDO.”

Francesca deu um pequeno sorriso, quando Ray deu um passo para trás, atingida por suas palavras. Ela me encarou pelo canto dos olhos. Sua expressão vazia e cautelosa, como se ela esperasse alguma coisa de mim. Talvez uma negação das palavras de Francesca. Mas eu não podia negar, infelizmente, era tudo a mais pura verdade.

“Agora, vocês devem estar se perguntando o porque de eu ter me juntado a Marco.”, ela disse atraindo nossa atenção. “Daiene e Luke foram por vingança, por que o meu não seria diferente?”, ela deu de ombros. Então apontou para Ray, acusadora. “Você acabou com a minha vida, no momento que matou Gustavo. Sua vadia prepotente.”, Francesca gritou.

Eu olhei confuso para Ray, que tinha os olhos frios enquanto encarava Francesca. Então, me surpreendendo, ela deu um pequeno sorriso frio. Francesca estreitou seus olhos verdes com a atitude de Dinnie. Ray soltou uma gargalhada e bufou.

“Eu tive prazer em torturar aquele filho da mãe.”, declarou.

“E eu vou ter prazer em torturar você e seu namoradinho. E mais prazer ainda me deitando com seu ex-amor.”, Francesca sorriu e Ray voltou a ficar tensa. “Na próxima vez, querida, faça direito na cama. Eles adoram.”

Então se virou e saiu da sala.

Ray ameaçou avançar na direção dela, mas eu a segurei. Ela olhou para as minhas mãos, como se fossem veneno, então encarou o meu rosto, com raiva e se afastou, voltando a se sentar em silêncio no canto.


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Notas finais do capítulo

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