Amor Sulista escrita por Nynna Days


Capítulo 14
Daniel Gonzales


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora. A volta as aulas me consumiu, mas aqui está mais um capítulo.



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Capítulo 14 – Daniel Gonzales

Dizem que quando estamos a beira da morte, um flash de nossas vidas passa por nossa mente. Eu estava tendo um desses flash. Começava com meus quatorze anos, quando meu avô me contou a verdade de como meus pais haviam morrido. Não que eu tivesse ideia antes. Eu só sabia que eles tinham morrido. Eu havia criado a morte deles em minha mente. O jeito que eles haviam morrido. Para alguns eu dizia que tinha sido acidente de carro. Outros que tinha morrido em um assalto. Mas nada tão improvável quanto ser mortos por vampiros.

Quando meu avô me contou isso, comecei a me preocupar com seu estado mental. Quero dizer, quem, em sã consciência diria ao neto que os pais deles haviam sido mortos por vampiros? Meu avô o fez. Obviamente eu não acreditei em uma palavra do que ele disse. Mesmo ele dizendo sobre eu ter que seguir sua linhagem de caçadores. Teve até uma época que eu rezava para que as aulas demorassem a acabar , só para que eu chegasse na hora que meu avô saísse.

Outro flash que passou por mim foi do meus dezesseis anos. Estava em uma das minhas fases mais rebeldes. Matava aula para sair com meus amigos. Fugia de casa no meio da noite, mesmo meu avô me alertando que isso era perigoso. Mas eu estava na fase de fazer e depois pensar. E numa dessas minhas escapadas que eu dei de cara com um vampiro. Minha sorte era que eu ainda estava a poucos metros da minha casa e meu avô sabia de minhas escapadas.

Ele conseguiu me salvar quando o vampiro já tinha me segurado pela gola de minha camisa e estava pronto para tomar meu sangue. Barão foi rápido ao colocar uma estaca no peito do vampiro e matá-lo. Eu fiquei em estado de choque. Olhei para as minhas mãos cheias de sangue e pude sentir a adrenalina fluindo com rapidez e quando encarei meu avô, ele estava colocando fogo no corpo muxo a minha frente.

Quando ele levantou os olhos cinzas para mim, estavam sério. Ele não disse nada até chegarmos em casa. Então me explicou sobre os caçadores e que meu destino era ser o seu descendente. Dessa vez, eu acreditei e aceitei.

Meu último flash foi aos dezoito anos. Estava no último ano e já treinava com os caçadores. Queria entrar em ação e matar muitos vampiros. Queria vingar a morte de meus pais. De rebelde, comecei a ser problemático e briguento. Quase todos os dias eu estava na secretaria. Meu avô tentava me explicar que nossos inimigos tinham presas e não eram meros humanos. Mas eu tinha pavio curto e não gostava de ser provocado.

No último ano também conheci uma garota linda, por quem me apaixonei. Luna Mary era tímida. Sempre andava com os grandes olhos verdes abaixados e os cabelos castanhos claros presos em um rabo de cavalo. Eu a achava encantadora. Ela raramente vinha falar comigo, por eu ser encrenqueiro. Mas quando falava, parecia que eu poderia flutuar. Foi a primeira garota que me amarrou.

Começamos a namorar alguns meses depois e quando estávamos nos formando prometemos que iríamos esperar nossas faculdades acabarem e nos casaríamos. Eu era um garoto apaixonado, tinha o direito de sonhar. Então ela se mudou para a Carolina do Norte e eu continuei empenhado na minha caçada aos vampiros.

Nos víamos todas as datas comemorativas e ficávamos juntos o máximo possível. Mas, no último ano da faculdade, ela me ligou dizendo que era melhor nós terminarmos. Por um momento fiquei confuso. Estávamos tão bem. Tão apaixonados. Então Luna me explicou que tinha se apaixonado por outra pessoa e não queria me ferir.

Estava desolado, mas meu avô disse que era melhor. Ter uma namorada ou uma esposa, sempre era um perigo. Vampiros adoravam usar os pontos fracos dos caçadores para matá-los. E no último ano, fiquei mais empenhado no trabalho de caçador. Tudo para poder esquecer Luna e ir em frente. Para poder matar os vampiros e fazê-los sentir a dor que eu sentia.

Mas, tudo mudou no momento em que meus olhos encontraram Dinnie Ray. E, conforme eu ia me aproximando dela e amando cada detalhe seu, percebia que o que sentia por Luna era mera paixão adolescente. Nada comparado com o amor escaldante que sentia por Ray. Mesmo estando ali, preso e desacordado, tinha arrependimentos.

Me arrependia deter sido tão idiota com Ray, ao ponto de deixar meus ciúmes ficarem acima do nosso amor. Meu pai deveria estar rindo de mim, enquanto tomava meu lugar na cama dela. E ela deve estar pensando o quão estúpida foi ao pensar que poderia substituí-lo comigo. Se eu pudesse vê-la apenas mais uma vez, faria diferente. Pediria desculpas. A abraçaria e diria que tinha sido um idiota.

Só precisava de uma chance.

Entre a minha inconsciência, conseguir identificar alguns sons que vinham de perto. Mas, apenas um ficou bastante distinto para mim. Um choro. Baixo e harmônico. Um choro que eu conhecia muito bem. Então, o mundo ao meu redor começou a entrar em foco. Comecei a sentir sua mão em meus cabelos, tão leve quanto uma pluma.

Seu cheiro adocicado se mesclou com o ambiente ao redor, fazendo-o um pouco ardido. Meus pulsos não queimavam mais por conta das algemas, mas eu conseguia sentir a pele exposta. Minha garganta queimava. A quanto tempo eu não me alimentava? Desde que havia brigado com Dinnie Ray? Talvez um pouco mais, mesmo ela me alertando sobre o meu estado frágil de recém criado.

Meus olhos tremularam um pouco enquanto eu hesitava em abrí-lo. Escutei seu arfar, tão perto de mim. Seu hálito quente bateu em meu rosto, me fazendo ficar mais relaxado. Abri meus olhos lentamente, com medo de ser algum tipo de ilusão de quase morte. Mas, quando encontrei seus lindos olhos vermelhos me encarando, meu peito se encheu de alegria.

“Ah, Daniel”, ela lamentou enquanto eu tentava levantar.

Sem pensar duas vezes, a abracei, apertando seu corpo perfeito contra o meu. Tão pequena, mas tão forte. Ela pôs os braços magros ao meu redor e respirou em meu pescoço parecendo aliviada. Eu que deveria estar aliviada de poder vê-la tão perto uma última vez. Lamentei a iluminação precária. Faria de tudo para poder ver seu rosto com a perfeição que merecia.

“Como você veio parar aqui dentro?”, perguntei, ainda a abraçando.

Ray segurou meus ombros e nos afastou. Fez uma leve inspeção com os olhos e passou a mão por meu rosto suado, antes de sorrir e soltar o ar. Engoli a seco. O fato de Ray está demorando tanto tempo para me responder não poderia significar uma coisa muito boa. Ela pendeu a cabeça para o lado, cuidadosa e começou a pentear meus cabelos com os dedos, sempre evitando olhar em meus olhos.

“Descobri que Marco e Francesca estavam juntos e o fiz me trazer até aqui.”, ela disse ainda penteando meus cabelos.

“Eles são namorados.”, eu disse e ela assentiu consigo mesma. “Era isso o que você tentou me dizer quando me ligou?”

“Me desculpe, Daniel”, ela suspirou. “Deveria ter sido mais esperta e descoberto mais rápido. Assim não estaríamos preso nessa sala.”

Ela olhou ao redor e se levantou. Só então pude perceber que ela estava sem a blusa e apenas de calça jeans e sutiã. Passei a mão por meu peito, percebendo que eu também estava sem camisa. Ela também olhou para o meu corpo e começou a andar de um lado para o outro. Puxou seu celular do bolso e bufou. Eu já imaginava que ele estaria sem sinal.

“Por que está sem a blusa?”, perguntei, não conseguindo impedir que o ciúme soasse em minha voz. Talvez ela tenha tido a revelação do plano de Marco e de Francesca no meio de um momento íntimo deles.

Ray estava de costas quando a perguntei isso, mas ela se virou com um sorriso triste nos lábios e estendeu as mãos na minha direção. Quando as encarei, vi que estavam em carne viva, iguais aos meus pulsos. Sem pensar duas vezes, coloquei-as entre as minhas e as acariciei.

“Usei a blusa para te soltar, mas parece que não funcionou.”, ela suspirou, ficando séria. Seus olhos analisaram a sala ao redor e pressionou os lábios juntos, frustrada. “Não será fácil sair daqui.”

“É impossível, Ray.”

Me levantei, parando ao lado dela e também analisando a sala ao nosso redor. Eu também queria sair dali, mas quando parei ao lado dela, só queria sentir um pouco mais de sua presença perto de mim. E pensar que eu considerei esquecê-la com Francesca. Não tinha mulher como Ray. Luna poderia ter sido minha primeira namorada. Mas Ray era meu único amor.

Ray deu um meio sorriso com as minhas palavras e começou a andar ao redor. Parou em frente a uma parede e tocou com a ponta dos dedos. O som de algo sendo frio, foi agoniante. Ela tirou rapidamente a mão e fez uma careta de dor. Me movi para o seu lado e tentei pegar a sua mão, mas ela se afastou de mim.

Eu suspirei, a entendendo. Ela estava presa por minha causa. Por eu ser tão cabeça dura. Era natural ela estar com raiva. Só o fato de Ray estar dentro daquela sala por mim, já e surpreendia o suficiente. A segui com alguns passos de distância, enquanto ela olhava para as paredes e suspirava. Seus olhos não voltaram a me encarar. Eu quase conseguia escutar sua mente trabalhando. Queria poder ler sua mente para poder ajudar.

Finalmente, parecendo desistir, ela voltou a se sentar no chão e cruzou as pernas, paciente. Levantei uma sobrancelha, confuso. Ela fechou os olhos e pousou as mãos nas pernas, respirando fundo, como se meditasse. Me sentei ao seu lado, tentado a tocá-la , mas me segurei.

“Então é isso?”, eu perguntei. “Vamos ficar aqui sentados esperando a morte chegar e nos carregar?”

Então, ela abriu seus olhos vermelhos e , pela primeira vez desde que tinha acordado, olhou no fundo dos meus olhos. Tinha algo ali que não tinha conseguido identificar de primeira, mas segundos depois soube o que era. Mágoa. Ela estava magoada comigo. Então desviou seus olhos dos meus, um pouco raivosa e fechou-os.

“Se eles pudessem , já teriam nos matado.”, ela disse calmamente e respirou fundo. “Eles querem alguma coisa. Marco não dá ponto sem nó.”

“Esqueci que você o conhecia tão bem.”, disse irônico.

Novamente ela me encarou, só que dessa vez com raiva.

“O conheço o suficiente para saber que ele está tramando algo mais maligno que apenas nos prender aqui e nos ver discutindo a relação.”, ela rebateu.

Bufei e cruzei meus braços como uma criança pequena. Seria um longo tempo.  


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Notas finais do capítulo

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