POV>Katie

Quero deixar claro que a culpa não foi minha.

A culpa foi totalmente de Deméter. Porque, finalmente, minha mãe ficou louca. Acho que, com todas essas quase-guerras, minha meia-irmã sequestrada e casada com o deus dos mortos, e coisa e tal, não deve ser fácil ser a deusa da agricultura. 

Vou contar o que aconteceu. 

Nos reunimos para ouvir o resultado do karaokê, e adivinha quem ganhou? A dupla Atena e Annabeth. Secretamente, acho que a performance delas não foi essas coisas todas, mas Afrodite e Apolo que decidiram, e suponho que tenham ficado animados por Atena cantar uma música que dizia que ela era uma vadia louca. 

Como ninguém tinha mais nenhuma atividade - ou tortura, melhor dizendo - para o dia, os deuses e semideuses se dispersaram. Foi aí que Deméter me sai com aquela ideia brilhante:

- Ei, Katie, o que você acha de darmos uma olhadinha na sua irmã e no Caveira Pai?

- A senhora quer dizer espionar Perséfone e Hades?

- Não seria bem espionar...Vamos?

- Hm, mãe... - comecei, nervosa. - Eu acho que não é muito seguro para mim, porque se os dois descobrirem eu posso ser transformada em um dente de leão, ou ser mandada para o Tártaro, coisa que eu não estou muito afim de fazer, por isso...

- Que é isso, menina, eu não te criei para ser assim medrosa! - disse minha mãe. Mordi a língua para não dizer que ela não me criou porcaria nenhuma. - Eu não vou deixar ninguém fazer nada com você, vamos,Katie...

Suspirei.

- Está certo. Onde eles estão?

- Por incrível que pareça, perto do lago. Tem uma campina cheia de flores ou coisa assim lá, da qual Perséfone gosta muito. Venha.

* * *

Nos escondemos atrás de alguns arbustos, observando o casal deitado na campina. Eles realmente eram um contraste e tanto. Ao redor de Hades, as plantas estavam secas e a grama, morta. Já em torno de Perséfone, as plantas estavam as coisas mais lindas que eu já vira e a grama ondulava, macia e verde.

Os dois estavam de mãos dadas, deitados de lado, muito próximos e conversando baixinho, dando risadinhas... Pareciam adolescentes. Depois de alguns minutos, quando eu estava quase sugerindo que saíssemos de lá, Hades e Perséfone se beijaram. O beijo logo virou agarração pesada, e eu arregalei os olhos para minha mãe, que estava vermelha até a raíz dos cabelos, com os punhos cerrados e brilhando. Ou seja, ela estava muuuuuito furiosa.

- Esse vagabundo imprestável fica aí... Agarrando a minha filha, como se eles fossem felizes...

- Mãe. - puxei a manga dela. - Mãe, escuta. Vamos embora antes que a senhora perca o controle e acabe causando a terceira guerra mundial. Vem...

Aparentemente, Hades me ouviu, pois abriu os olhos e se separou bruscamente de Perséfone. Seus olhos se estreitaram e percorreram o espaço ao redor, pousando...

Exatamente sobre mim.

Fechei os olhos enquanto Deméter se transformava em luz e ia embora, me deixando sozinha, com minha meia-irmã aborrecida e o Senhor dos Mortos furioso comigo.

- Obrigada pela força, mãe. - murmurei. Então olhei para os deuses na campina e dei um sorriso nervoso. - Eu só estava passando por aqui, e... - minha voz foi sumindo diante do olhar que Hades me deu, aquele olhar tipo: "você tem dez segundos para correr".

E foi o que eu fiz.

Disparei pela floresta, onde cauculei que seria mais difícil para ele me pegar. Pensei se deveria subir em uma árvore, mas calculei que não havia tempo, então corri até o acampamento e procurei algum deus que pudesse me oferecer proteção.

Ironicamente, não vi o que estava na minha frente, que era exatamente o que eu precisava. Por isso, acabei esbarrando em Hermes, Connor, Travis, Poseidon, Percy e Nico. Mais especificamente em Travis. Basicamente, eu estava indo tão rápido que não consegui parar, então bati de frente com ele e o derrubei, caindo encima do garoto. Assim, na frente de dois dos deuses mais maliciosos do Olimpo e de um dos semideuses mais maliciosos do mundo. Ah,  e encima DO semideus MAIS malicioso do MUNDO INTEIRO.

Constrangedor, pensei.

Travis sorriu maliciosamente.

- Porque você se jogou encima de mim? - perguntou. Senti meu rosto ficar quente.

- Eu não me joguei encima de você. Eu caí.

- Então... Por que ainda não se levantou? Não que eu esteja reclamando, nem nada, mas, se você caiu encima de minha pessoa, deveria ter se levantado.

Depois dessa, devo ter ficado roxa de vergonha.

- Eu... Anh... Fiquei muito surpresa para reagir de imediato. - tá, não era completamente mentira. 

- Está certo, Katie. Eu acredito. - o sorriso do filho de Hermes se ampliou e ele ergueu as sobrancelhas sugestivamente, olhando para nossos corpos juntos. - Já pode levantar agora. 

Me afastei dele como se tivesse sido eletrocutada, e vi Connor e Hermes dando risadinhas maliciosa e cochichando entre si, Poseidon com um sorriso sugestivo no rosto, e Percy com cara de quem se diverte, além de Nico, que balançou as sobrancelhas para mim. Então tá, nossa "ceninha" não havia passado despercebida. 

Mega constrangedor, pensei.

Então ouvi umas risadinhas histéricas atrás de mim. Comprimindo os lábios, me virei e vi Drew e Afrodite rindo, e Deméter me encarando com os lábios comprimidos - da mesma forma que os meus, aliás -, braços cruzados e claramente com uma expressão reprovadora.

Ah, meus deuses, pensei, minha vida acabou.

Minhas suspeitas se confirmaram quando Hades e Perséfone irromperam da floresta, parecendo bem fulos. Pensei em correr para minha mãe, mas ela estava muito longe, então virei para Poseidon e implorei:

- Por favor, não deixe eles me matarem.

Como o deus só me olhou com cara de ponto de interrogação, olhei para Percy.

- Por favor...

 Percy fez cara de desespero, indicando que não era páreo para um dos Três Grandes. Então apelei para Nico, apertanda a mão dele. Com força.

- Por favor, Nico, não deixe o seu pai me matar, a culpa não foi minha... Foi ideia da minha mãe... Por favor, Nico...

Acho que o fato de eu ter segurado a mão dele o surpreendeu, pois a maioria dos semideues o evitava. Ele abriu a boca para responder quando Travis se inclinou e sussurrou alguma coisa para Hermes, que franziu a testa. Os dois tiveram um diálogo breve. Então, uma faísca de energia dolorosa fez com que eu soltasse a mão do filho de Hades.

Olhei para Hermes, perplexa. O que fora aquilo? O deus sorriu e fez um leve gesto de cabeça indicando o filho mais velho. Então se virou.

- Hey, titio, o que está acontecendo aqui?

- Essa... - Hade respirou fundo. Seus olhos pousaram em mim por um momento, e eu me encolhi. Depois ele olhou para Deméter. - Essa velhaca insuportável fica me espionando por aí...

- Velhaca insuportável? Eeeu? - exclamou minha mãe, indignada.

Resolvi aproveitar o momento de distração deles e, como sou muito esperta, caí fora.