Desviei das pessoas na churrasqueira entretidas demais para me notar e saí correndo para longe da casa. Não me importava se estava chovendo ou não, se ficaria doente, se me molharia mais do que imaginava. Eu só queria ficar sozinha relembrando do jeito frio de Stefan que eu não conhecia.

Caminhei um bom tanto por uma estrada cercada de árvores crescidas o suficiente para formarem uma camada de folhas que servia como um teto quase impermeável. No meio das árvores a chuva parecia ter diminuído seu ritmo e eu decidi que era ali que iria ficar.

Minhas lágrimas misturavam-se com as gotas vindas do céu e quanto mais me distanciava da casa e de todos, mais eu sentia que meu peito ardia com um sentimento de mágoa que eu nem notara que era tão grande.

Eu chorava porque sabia que o problema era Damon. A presença dele havia causado tantas confusões em minha vida e estava prestes a estragar o meu bom relacionamento com Stefan. O grande impasse na resolução de tudo isso era o fato de que eu não conseguia manter-me longe de Damon. E não havia culpa nisso senão minha. Eu fui atrás dele na varanda enquanto seu irmão dormia. Eu desafiei o pedido de Stefan e corri para Damon. Cantamos, dançamos e rimos juntos.

Eu sabia muito bem que meu noivo reprovaria minha atitude, mas não imaginava que ficaria tão ferido com o que vira. Droga, eu estava feliz demais ao lado do meu futuro cunhado. Por Deus, o que é que estou fazendo? Arriscando o meu casamento por alguns bons momentos ao lado do irmão do meu noivo. Bons momentos. Era a única coisa que eu sabia e eram exatamente esses instantes que me faziam sentir melhor do que eu estava. Eu sentia falta de me divertir assim. E tinha que ser ao lado de Damon, porque ele era todo o contrário de Stefan.

Não que eu tenha um noivo carrancudo e preguiçoso. Nos divertimos juntos do nosso jeito. Rimos, dançamos, cantamos também, diversas vezes durante esses anos de namoro e noivado, mas eu insistia em compará-lo com o irmão mais velho e isso me deixava extremamente furiosa comigo mesma.

Ouvi o barulho de alguns passos amassando as folhas molhadas e virei imediatamente para o ponto de onde o ruído surgia. A figura inconfundível de Damon apareceu na entrada da estrada, trazia consigo um guarda-chuva, mas que não fora suficiente para impedir que seu cabelo e suas roupas ficassem levemente úmidas.

And we don't know how, how we got into this mad situation

Only doing things out of frustration

Trying to make it work but man these times are hard

E nós não sabemos como entramos nessa terrível situação

Apenas fazendo coisas sem frustrações

Tentando fazer isso funcionar, mas, cara, os tempos estão difíceis.

Assim que me viu começou a correr driblando algumas poças d’água que se formaram no caminho. Pensei em fugir dele, correr o máximo que podia, mas decidi ficar ali e chorei ainda mais ao ver que ele me cobrira com o guarda-chuva impedindo a chuva de disfarçar as minhas lágrimas.

- Vamos voltar. – ele pediu. Seus olhos azuis me fitando preocupados.

- Me deixe sozinha. - limpei meu rosto obrigando as lágrimas a cessarem.

- Não vou deixá-la aqui esperando que fique doente. Pare de ser teimosa Elena. – ele reprovou.

- Você não entende não é? – minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. – Fique longe de mim Damon. – pedi.

As lágrimas irritantes aos poucos voltavam a se formar em meus olhos e eu lutei para que elas não caíssem. Ele não precisava me ver chorando de novo.

- A culpa disso tudo é minha. – ele disse.

- Não. – balancei a cabeça. – É minha culpa. A culpa é toda minha por não conseguir me afastar de você.

Confessei. As palavras saindo como se fossem fáceis demais. Seu olhar surpreso me observando cuidadosamente, como se não quisesse perder um só dos meus movimentos.

Someone help us cause we're doing our best

Alguém nos ajude porque nós estamos dando o nosso melhor.

- Volte pra lá, as coisas só ficarão piores se nos virem juntos. – avisei levantando meus olhos para encará-lo.

- Eu não ligo e só saio daqui com você. – ele avisou segurando meu braço levemente.

- Pare de fazer isso, pare de fingir que se importa! Não vê o que está acontecendo? Vou me casar em um mês e estou chorando porque briguei com o meu noivo. – gritei balançando fortemente meu braço tentando inutilmente fazer com que Damon me soltasse.

- É como me vê? – ele riu sem humor. – Posso ter sido um canalha com muitas garotas, mas eu nunca fui tão verdadeiro como sou com você.

O aperto em meu braço se intensificou e eu senti que meu corpo foi fortemente puxando de encontro ao seu. Olhei-o confusa, mas eu parecia não conseguir reagir à sua atitude. Só consegui encará-lo e sentir seu hálito fresco bater sobre meu rosto.

Seus olhos azuis não paravam quietos, Damon parecia estar fazendo uma força sobrenatural para manter o controle. Minhas mãos foram de encontro ao seu peito e levemente puxei a sua jaqueta aproximando-nos ainda mais surpreendendo a mim mesma.

É irônico como somos, não é? Em um momento eu o estava chutando para longe, longe de mim e do meu relacionamento com Stefan, longe da minha vida. E agora eu fazia questão de aproximar-me mais dele, sentir aquele corpo tão bem formado no meu e deliciar-me com os ligeiros arrepios que passavam por mim.

We're smiling but we're close to tears

Even after all these years

We just now got the feeling that we're meeting

Estamos sorrindo, mas muito perto das lágrimas

Mesmo depois de todos esses anos

Apenas agora temos a sensação de que estamos nos encontrando

Sua mão livre do cabo do guarda-chuva subiu do meu braço ao meu pescoço. As pontas de seus dedos tocaram a minha nuca e seu polegar massageava a minha bochecha. E num piscar de olhos Damon puxou-me de encontro aos seus lábios.

For the first time

Pela primeira vez.

As suas últimas palavras martelavam em minha mente. “Eu nunca fui tão verdadeiro como sou com você” ele disse. Que se dane se era mentira ou verdade, se era certo ou errado, mas eu queria aquele beijo mais do que pude suspeitar.

Eu cedi. Correspondi ao beijo mesmo sabendo do perigo que corria por ter baixado a guarda diante de Damon Salvatore, mas confesso que eu não estava nem um pouco preocupada com as conseqüências disso. Aproveitei o momento e ainda fiz questão de envolver meus braços ao redor de seu pescoço deliciando-me mais por aprofundar o beijo fazendo desaparecer de minha mente, nem que seja por instantes, o problema que eu estava arrumando.

For the first time.

Pela primeira vez.