"O que você faria por amor?"

L Pov

Bem, já faz  um mês que eu e Raito estamos juntos... Não, não tenho aliança..ao menos, não ainda.. Também não falamos com os pais dele, mas , ele me garantiu que a mãe aceitou... Sempre achei Sachiko legal, mas,  realmente me surpreendeu o modo como aceitou rapidamente essa situação... Mães, seres que desafiam a ciência da dedução...Qualquer um levaria de 2 a 7 dias para assimilar essa situação... Mas, ela precisou de 2 a 7 minutos.. Raito realmente tem muita sorte... Oh é...Onde eu estava?

Ah sim. Voltei ao trabalho também e minha amiga loira está cada vez mais feliz... Claro que contei a ela sobre meu novo relacionamento, me parabenizou sorridente após pular múltiplas vezes sobre mim.

Até que é bom ter um namorado... Ainda mais como o Raito.

Toda noite me busca no trabalho –vive dizendo que andar sozinho a noite é perigoso- e sempre que pode me liga para falarmos de trivialidades... É até engraçado.

Saímos todo fim de semana e –como estamos de férias- quase todos os dias à tarde nos vemos também.. É ótimo.. O tempo que passo com ele é sempre curto. O tempo voa quando nos divertimos né?

Numa manhã.. Fui limpar a casa –coisa que não fazia a um bom tempo- e encontrei abaixo do tapete uma carta endereçada a mim... Realmente era muito estranho.. Quem me enviaria uma carta? Por que me enviariam uma carta? Há quanto tempo ela estaria ali?

Abri-a com cuidado e li o que havia dentro.. Lembro-me de cada linha.

“Querido L. Lawliet,
Sentimos muito pela sua perda, nós do Wammy’s House desejamos a você toda a força necessária para superar esta situação desagradável.”
Wammy’s House..É o orfanato de onde eu vim!

É...eu me lembrava vagamente dele.. Para crianças ‘especiais’.. Entretanto, não era somente este o assunto da carta.

“Gostaríamos de oferecer a você a vaga que é sua por direito, poderá voltar a Inglaterra e se tornar um renomado detetive -auxiliando a Scotland Yard¹-, tudo que tem a fazer é retornar ao Wammy’s House. Estaremos aguardando contato e sua vinda se assim desejar
 Agradecemos a atenção.” –logo após essa mensagem havia um telefone para contato.

A primeira coisa que fiz, foi ligar para Raito e pedir para que viesse conversar comigo a respeito de um assunto importante. Prontamente atendeu a meu pedido e alguns minutos depois, adentrava minha casa com a cópia da chave que dei a ele.

“Boa Noite amor” – entrou, sentou-se ao meu lado e me beijou rapidamente.

“Boa Noite..” –respondi com um breve sorriso.

“Então? O que houve?”

Silêncio..

Minhas palavras não queriam –aliás não podiam- sair,apenas levantei a carta e continuei a encarar o chão.

Não demorou muito para que ele a lesse. O sorriso que trazia consigo se desfez, ficou encarando a carta longos segundos.

“Então..Você...vai?” -sussurrou pausadamente.

“Eu..não sei” –respirei fundo.. Por que isso agora? A dois meses atrás eu teria aceitado mas..Agora eu estou...Feliz...

“É seu sonho..L” –continuava olhando-me.

“Eu sei..mas--” –fui interrompido

“Digamos que você vá..Voltará?”

“Claro!” –encarei-o, simplesmente sorriu.

“Promete?” –Assenti. –“Vamos conversar sobre todos os detalhes e.. decidimos tudo, tá bem?” –passou os dedos de leve sobre meu rosto, sorri involuntariamente.

Puxei-o para um beijo e sussurrei um “obrigado” antes de me afastar.

Ah..Raito..

Ele ainda ficou um tempo... Simplesmente relaxamos e conversamos após ligar a TV.

Algum tempo depois, nos despedimos e ele se foi.

“Sonha comigo viu branquinho?” –sorriu apertando minhas bochechas

“Pode deixar!” –abracei-o e nos beijamos –“Até amanha”

“Até” –disse sem me soltar- “Tenho um presente pra você” –sorriu

“Aah! Onde? Cadê?” –comecei a procurar em seus bolsos da calça.. Nada.

“Ficou em casa né” –riu –“Só vai ganhar se sair comigo amanha!”

“Aah! Vamos Vamos Vamos! O que é? Vamos sair pra onde?”

“Nháa...Tudo surpresa!”

“AAAH! Seu mal... Só por que eu sou curioso!” –olhei-o com uma raiva improvisada, ele riu.

“Te encontro às 5 da tarde no parque okay?”

“Tá!” –nos beijamos novamente –“Se eu não dormir de curiosidade a culpa será sua Raito!”

“Eu me responsabilizo” –riu, acompanhei-o.

Logo nos soltamos e ele tomou o rumo de casa.

Fechei a porta e sentei-me no sofá.. Encarei a carta mais uma vez... Por que agora?

Minutos depois, alguém bateu a porta.

‘Será que Raito esqueceu a chave aqui?’ –provável...

Fui até a porta e a abri e não era Raito a pessoa que estava do lado de fora.

“Soichiro-san?” –olhei-o espantado.. O que ele faz aqui a essa hora?

“Boa noite..Posso entrar?” –somente isso..disse seco, frio..

“Claro” –abri espaço para que ele entrasse, em seguida, fechei a porta.

Sentou-se,  fiquei de pé o encarando.

“Aceita..café?” –não custa nada ser cortês com meu sogro.

“Não..obrigado. Vou direto ao assunto” –respirou fundo, um arrepio passou pela minha espinha , continuou –“ Quero que se afaste do meu filho”

“O..que?” –Levei de 2 a 5 milésimos para processar a informação.. mas.. Por que me afastaria dele?

“Quero que se afaste do Raito”

“Por que me afastaria dele? Eu..o amo” –Raito não me disse que havia contado ao pai sobre nós, mas, o cara é da polícia.. Um dos melhores pelo que eu soube.. Mentir não irá adiantar.

“Olha, Raito não é gay, ele já teve namoradas e antes de você reaparecer a vida dele estava a mil maravilhas e o que sentem um pelo outro não é esse tipo de amor.”
Espera como ele sabe o tipo de amor que sinto? E..reaparecer?

“Re..aparecer?”

“Oh..então ele não contou a você?”

“Contar..O que?” –Meu namorado..escondendo coisas de mim?

“Quando seus pais biológicos ainda eram vivos, você veio ao Japão e conheceu Raito. Viraram muito amigos um do outro, de repente, você foi embora e nunca mais deu notícias... Agora você volta e acha que está apaixonado pelo meu filho, que claramente só te corresponde por que não quer vê-lo triste.. em nome dos velhos tempos”

“O..Senhor está indo longe de mais Sr. Yagami” -É mentira não é?Só pode..Ele está indo longe demais!

“Acha que estou mentindo?” –e preciso responder? –“Eu sei que você tem um ursinho...um panda”

“Sim..”

“Pode trazê-lo aqui?” –caminhei até meu quarto e peguei-o de cima da cama. Voltei e entreguei-o a ele.

Ele mostrou-me um RY na costura de uma das patas da pelúcia, engoli seco..
RY...

“Raito Yagami” –disse apontando as iniciais-“Ele deu a você quando foi embora”

Agora..Tudo que aquele homem dizia fazia sentido.. Ele não havia alterado o tom de voz em nenhum momento...

O que eu sinto pelo Raito..é só...amor de amigo quase irmão?

Então por que quero tanto um beijo dele?

Amigos não se beijam..Beijam?

Se eu não estiver enganado quanto a meus sentimentos..Ele só está comigo por..pena?

Por que ele não me contou?

Ele..sabia disso tudo?

“Preciso insistir para que se afaste dele.. Devo pedir que não estrague o futuro brilhante que ele tem pela frente..”

Eu queria chorar, me debater, pegar pirraça como uma criança de 5 anos, gritar que já chega...Mas, tudo que consegui fazer foi..Assentir.

Eu amava o Raito..Mas, esse incidente havia deixado em mim uma dúvida.. Eu conseguia me lembrar de algumas coisas agora.. O parque onde o conheci... O xadrez.. E..Que contei meu nome a ele..

É mesmo melhor que eu me afaste... Poxa.. Ele é pai né? Deve conhecer melhor o filho do que eu... E sim..eu sei que Raito faria qualquer coisa por um amigo.. Mas..

Ele se levantou e saiu da casa.. Deixando-me completamente confuso.. Agarrado a única coisa certa que restava de mim.. Aquele Panda.

Eu sabia que o amava.. Mas, de que modo o amava? Enquanto não respondesse essa pergunta a mim mesmo, não voltaria a vê-lo...
Era isso..E mais nada..

Isso me fez aceitar a proposta da Wammy’s House...

Isso me fez pedir demissão e me despedir de Misa prometendo manter contato...

Isso me fez deixar um bilhete de adeus à Raito..

Isso me fez entrar no primeiro voo para a Inglaterra...

Mas, isso não me fez esquecê-lo ou deixar o Panda.

Todos podem achar que eu estava errado, até eu me pergunto isso de vez em quando!...Eu deveria ter conversado com ele a respeito disso antes de tomar essa decisão.. Eu deveria ter tirado tudo isso a limpo...ter tentado me lembrar de mais.. Deveria.. Mas, não o fiz.

Preferi seguir o conselho da pessoa que mais ama Raito, seu pai.

Resolvi deixá-lo sem me despedir, sem pedir explicações...

Sem..beijá-lo uma última vez.

Deixei-o pensando que ele pode encontrar alguém para amar de verdade..Alguém que cuide dele direito...Alguém no qual não sinta pena.. Alguém que tenha mais experiência com isso...Alguém que possa dar filhos biológicos a ele.

"Raito..Por que essa relutância em contar a seu pai?"

"Aah..L..Ele..Não entenderia..É muito conservador e.." -respirou fundo.

"E..?"

"Quer ter netos" -parou de me encarar e olhou pro céu.

"Ué..podemos adotar não é?"

"Claro..Eu sei, mas, ele é super conservador..Mas..Vou contar, minha mãe vai me ajudar" -e deu um daqueles sorrisos que me fazem compartilhar de sua calma e sorrir involuntariamente.

Não posso impedir lágrimas de virem à meus olhos..Deixei a pessoa que mais amei.. Sabia que quando voltasse -se voltasse- ele poderia não mais ser meu.. Não mais me amar...

Mas..É para isso que estou o deixando não é?

Não me passou pela cabeça que Soichiro estava usando e montando todos os argumentos de forma que tivessem coerência. Só sintia que talvez isso fosse o melhor..

Sei o quanto é difícil não ter família.. A última coisa que desejo a Raito é uma dor como a minha..Um vazio como o meu.. A última coisa que desejo é que ele seja expulso de casa por estar comigo..

Por isso o deixei..

Deixei-o...por que o amo..e por amá-lo, deixo-o livre para que possa tentar ser feliz...Sem mim.

Nunca pensei que..doesse tanto deixar quem me fez completo e feliz...Esse mês que fomos namorados..Foi o melhor mês da minha vida.. Será que com ele foi assim também?

Aos poucos as luzes do Japão somem do meu campo de visão.. Adeus Japão..Adeus Misa..Adeus...Raito..

Enquanto as luzes se tornam apenas pontos, minha mente diz que eu estou certo, meu coração diz que eu estou com medo de saber a verdade..

É preferível viver e se lembrar de uma mentira do que viver e saber a verdade.. Eu acho isso agora..Embora sempre tenha pensado o contrário e não saiba decidir qual dói menos agora.