A Tocadora de Almas escrita por dastysama


Capítulo 12
Capítulo 12 - Troca de papéis


Notas iniciais do capítulo

Depois de um ano sem postar Tocadora de Almas, aqui estou. Tenho que agradecer o feito de hoje aos reviews e recomendações que recebi. Simplesmente encarei o fato de que não poderia deixar essa história sem fim, ainda mais quando já está quase terminando. Espero que gostem do capítulo e dos outros que em breve postarei



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Hellena acabou tendo um ou dois hematomas, por que a montanha-russa era bem violenta, só que ela nem sentiu a pancada, se preocupou mais em segurar sua boina com a peruca para que não voasse, gritou tanto e deixou sua voz acompanhar a dos outros que também gritavam tanto quanto ela.

Mas ela estava sorrindo, de verdade. Rindo ao perceber a expressão de medo dos outros, rindo ao perceber que sentia viva de novo, rindo como não ria a tempo. Pela primeira vez, ela era capaz de sentir que tudo poderia melhorar, que tudo que acontecera durante esses meses foram apenas pesadelos que sumiriam quando ela acordasse. E ela se sentia tão acordada.  Quando o carrinho finalmente parou, ela sentiu seu coração batendo freneticamente. Com certeza ela iria se sentir terrível no dia seguinte, mas quem se importava?

– Esse foi o melhor brinquedo de todos! – exclamou Sarah quando saiu do carrinho pulando – Temos que ir de novo e de novo!

– Uma vez está ótimo – Margret retrucou – Ou quer ficar de cama o dia inteiro amanhã?

– Nós temos que ir novamente – Hellena disse também exaltada – Foi incrível!

– Tem certeza que não está passando mal? Só de subir as escadas do hospital você já se sente fraca.

– Estou bem, Margret, não se preocupe – Hellena retorquiu sorrindo – Se eu ficar reclamando das minhas dores, iremos perder muito tempo. E tempo é o que eu menos tenho.

Era difícil de acreditar, mas quem estava os guiando para os brinquedos era Hellena. Até Sarah havia a deixado escolher qual gostaria de ir, não importando o quão perigoso eles eram, a alegria havia amortecido a dor. Bill se sentia tremendamente satisfeito, ele tinha conseguido uma missão que parecera impossível, e lá estava a prova viva de que tudo poderia mudar. Ele tinha descongelado o coração dela, era como se ele fosse um Tocador de Almas agora, ele podia mudar as pessoas também.

– Como se sente? – Bill perguntou de seu cavalo castanho, no carrossel. Sarah estava gritando “Ao ataque!” no cavalo da frente, enquanto Margret insistia que ela iria cair.

– Estou bem, já cansei de dizer isso o dia inteiro – Hellena disse, enquanto segurava seu cavalo branco fortemente, com medo de cair. Mesmo fazendo anos que não ia a um carrossel, a altura dos cavalos não havia diminuído muito, na verdade, parecia ter aumentado.

– Não estou falando disso, estou falando por dentro, o que você sente?

– Eu não sei... – ela disse pensativa, era difícil descrever, ainda mais quando não sentia isso há muito tempo – Acho que é felicidade. Uma calma anormal, como se eu estivesse viva de verdade.

– Você está viva, nunca morreu.

– Não totalmente, você pode morrer muitas vezes ao longo da vida mesmo que não seja de verdade.

– E pode reviver muitas vezes também. Estou revivendo novamente esses dias, às vezes é bom “morrer”, talvez seja uma ótima forma de recomeçar. Morrer definitivamente não é algo que vai acontecer com você.

– Tudo bem, chegue dessa lorota – ela disse bufando – Já cansei de ouvir isso.

– Hellena você não vai morrer, Hellena você não vai morrer, Hellena você não vai morrer – Bill começou a cantarolar insistentemente – Você não vai morrer.

Antes que ela virasse seu rosto, ele percebera que havia um sorriso nele. Se Bill conseguisse fazê-la acreditar, seria a maior vitória de todas! Era estranho que durante todo esse tempo ele esteve mais preocupado com a vida de certa duas pessoinhas do que com a sua própria. Talvez ele ficasse tanto tempo voltado para si mesmo, que não percebera que havia pessoas ao seu redor precisando de muito mais ajuda.

– Deixa eu te ajudar a descer – Bill disse, estendendo sua mão para que Hellena pudesse descer do cavalo.

Ela hesitou por um momento, mas acabou cedendo, afinal não havia como recusar a gentileza dele. Hellena pegou a mão de Bill e passou o braço em volta de seu ombro para conseguir firmeza, então logo seus pés tocaram o chão, mas mesmo assim não conseguiu se afastar dele. Uma espécie de déjà vu tomou sua mente, lembranças que ela gostaria de esquecer.

– O que aconteceu? – Bill perguntou ao ver o rosto dela se tornando pálido de repente – Quer parar um pouco? Podemos comer algo.

– Pode ser – ela disse se afastando dele e indo até Margret que também havia percebido o súbito abatimento dela.

– Não está se sentindo bem Hellena? – Sarah perguntou com medo de que tivessem que ir embora – Você pode aguentar mais um pouco?

– Estou bem, não precisam se preocupar. Não aconteceu nada demais – ela disse secamente, se encaminhando para uma das mesas da praça de alimentação – Margret, escolha algo para mim, pode ser o que você quiser.

Hellena ficou em uma das mesas, esperando, enquanto os outros iam até o restaurante mais próximo pedir algo para comer. Margret pediu cuidadosamente o prato mais saudável tanto para Hellena quanto para Sarah, as duas precisavam seguir com sua dieta. Bill também optou pelo mesmo prato, na verdade ele preferiria hambúrgueres, mas ele deixaria as duas passando vontade caso optasse por algo mais apetitoso.

Durante a refeição, Hellena permaneceu quieta o tempo todo, respondia apenas em monossílabos. Parecia estar perdida em si mesma, em alguma época que trazia tantas memórias boas quanto ruins. Ninguém perguntou mais o que estava acontecendo com ela, sabiam que não responderia.

– Vou ao banheiro – Hellena disse se levantando da mesa quando terminara de comer sua refeição.

– Vou junto com você – Margret interveio já se levantando.

– Não, eu posso ir sozinha, ainda tenho pernas – Hellena disse secamente, dando as costas a eles e se encaminhando para o banheiro.

– Será que ela ficará bem? – Sarah perguntou atônita – Ela não me parece estar tão feliz quanto antes.

– Dê um pouco de tempo a ela, talvez ela só precise ficar um pouco só – Bill respondeu, tentando acalmá-las, mas também sentindo um aperto no coração.

Hellena entrou no banheiro que estava abarrotado de garotas, seu olhar passou por todas elas, as medindo de cima a baixo. Elas tinham cascatas de cabelos das cores mais variadas, eram loiras, ruivas e morenas. Mesmo muitas delas tendo a mesma idade dela, seus corpos parecia muito mais desenvolvidos, fazendo Hellena parecer uma garota de doze anos mirrada.

Quando se olhou no espelho, percebeu que se destacava no meio delas e até algumas olhavam com certo interesse para ela, não do modo que realmente gostaria. Pálida, de olheiras, magra, mais parecendo um cadáver ambulante do que uma pessoa viva. Mas não era isso que a machucava realmente, hoje não era sua aparência que importava e sim quem ela perdera.

Ela entrou em um dos boxes, trancou a porta e ficou encostada naquela superfície fria enquanto sentia as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Não havia força nela nem para parar as lágrimas quanto mais às memórias que se seguiram.

 

– Hellena, para onde você vai agora? – perguntou a voz que ela se recordava muito bem.

– Acompanhe-me – ela disse pegando a mão dele, tão quente quanto a sua. Naquela época suas mãos eram realmente cálidas, e não frias como eram atualmente – Quero ir ao carrossel, passei minha infância toda indo a eles, só por que cresci, não quer dizer que vou parar, não é mesmo?

Então ele riu, iluminando tudo como sempre fazia com ela. Joseph nunca a recriminaria por querer ir ao carrossel, não quando ele dissera que estaria ao dela para sempre. Hellena sempre viveu uma vida cheia de holofotes, por onde passava, as pessoas paravam para olhá-la e admirá-la e ela nunca dera a mínima. Não no instante que conhecera Joseph, parecia que em meio a uma multidão ela poderia reconhecê-lo.

Os dois foram até o carrossel, mas em vez de escolherem cada um, um cavalo para si, eles optaram por uma pequena carruagem onde caberiam os dois. A música que tocava enquanto o brinquedo girava se tratava de Tchaikovsky, Grand pás de deux, uma das músicas que Hellena sempre tocara em seu piano.

Tudo parecia na mais perfeita harmonia, sua cabeça encostava-se no ombro de Joseph, enquanto seu olhar se prendia nos desenhos que estavam no teto do carrossel. Eram anjos espalhados pelas nuvens, brincando entre si, tocando harpas e flautas. Era como ver o Paraíso acima de sua cabeça. Quem dera que ele não desmoronasse nos próximos meses.

Não foi ver seus cachos atingirem o chão que lhe machucou mais. Não foi saber que ficaria trancada em um hospital a definhar. Não foi ver seu corpo se transformar em carne e osso. O que a machucou de verdade foi saber que a pessoa que dissera “para sempre ao seu lado” não aguentou o fato dela estar morrendo. Ele viera vê-la no hospital, todo dia estava lá, até as primeiras três semanas. Depois sumiu como se fosse apenas uma alucinação de sua cabeça, como se nunca tivesse existido. Então ela teve que caminhar por aquele caminho tortuoso sozinha.

 

A última vez que fora a um parque tudo estava bem, agora nada lhe restava, havia perdido muita das coisas as quais prezava tanto. Era impossível não querer a morte, ainda mais agora, quando as forças pareciam se esgotar cada vez mais. No fundo, ela sentiu que seu tempo já havia ido além da conta, logo ela cederia.

Ela ficou ali por um bom tempo, chorando em silêncio para que nenhuma das garotas do banheiro percebesse que havia algo de errado. Só queria aquele momento para ela por alguns instantes, longe daquele hospital, mesmo que fosse em um maldito banheiro público.

– Hellena? – ouvi-se uma voz do outro lado do Box. Ela podia jurar que em um momento se tratava de Joseph, mas era Bill – Se algo a incomoda, então trate de mandar esse incomodo embora, só não fique trancada nesse banheiro o resto do dia. Não quer mais aproveitar o parque de diversões?

O que ele estava fazendo no banheiro feminino afinal? Hellena pensara que se alguém fosse atrás dela, seria Margret e não Bill Kaulitz.

– Saía, Hellena, por favor, não deixe a tristeza vencê-la de novo – Bill tentou novamente, Hellena não conseguiu segurar um soluço que lhe saiu da garganta, pronto para dedurar seu real estado – Você está chorando? Por quê?

Abruptamente a porta se abriu e Hellena saiu, atirando-se nos braços de Bill, enquanto as lágrimas rolavam cada vez mais pelo seu rosto. As várias mulheres e garotas que estavam no banheiro pararam para ver aquela cena, algumas até murmuravam entre si: “Não é Bill Kaulitz?”, mas nenhuma parecia realmente estar certa, afinal o que ele estaria fazendo no banheiro feminino com aquela garota? Do mesmo jeito que certas coisas passam despercebidas, a verdade também.

Bill puxou sua manga e começou a enxugar as lágrimas dela, sem se importar com o rebuliço que estava acontecendo, nem com os sussurros que enunciavam seu nome. Tudo que ele queria é que as lágrimas dela cessassem.

– Hellena, não precisa ter medo – ele sussurrou, encarando os enormes olhos castanhos dela, vermelhos e sem vida – Eu estarei com você sempre.

– Não diga isso – ela disse sorrindo dolorosamente – Você não pode cumprir isso. Ninguém pode cumprir esse tipo de promessa, isso eu bem sei.

– Então estarei ao seu lado o quanto eu puder, mesmo que eu tenha que prolongar minha estadia no hospital. Não vou deixá-la sozinha lá – ele disse segurando as suas próprias lágrimas.

– Obrigada – ela disse encostando sua cabeça no ombro dele, sentindo mais lágrimas vindo – Acho que você vai achar idiota eu dizer isso, é deprimente, mas... talvez eu esteja me apaixonando por você.

O coração de Bill deu um sobressalto, de todas as pessoas do mundo, ele nunca pensara ouvir isso dela. Não quando ela parecia odiá-lo tanto, ou aceitar o fato de que ele apenas a incomodava bastante. Mas as pessoas têm maneiras estranhas de mostrarem seus sentimentos, os encobrindo com medo de que ao serem descobertos irão ser tachados de idiotas. Bill se afastou dela, tentando olhá-la novamente, mas quando fez isso, Hellena vacilou.

O corpo debilitado dela simplesmente caiu em seus braços, com os olhos fechados e com uma respiração quase imperceptível. Hellena cada vez mais estava afundando em um abismo sem fim, onde a última coisa que fizera fora dar os últimos resquícios de seu coração, para alguém que poderia guardá-los como ninguém guardou.

– HELLENA, ACORDE! HELLENA! Por favor, chamem a emergência! Por favor não morra, eu imploro.


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