Após muito reclamar e ainda reclamando eu fui para o meu quarto vestir algo um pouco mais adequado, mas nada me parecia bom o suficiente. Minha vida estava assim, nada bom o suficiente. Por que logo ele?

No final eu vesti uma babylook e uma calça jeans. Calcei minha sapatilha e fiz um rabo de cavalo. Olhei pela ultima vez ainda insatisfeita para o espelho e desci. Josh via televisão e estava comendo alguns biscoitos que minha tia fizera noite passada. Fui até ele e me sentei ao seu lado. Ele me olhou e segurou um riso voltando seu olhar para a TV.

- Posso saber o que é engraçado? – perguntei irritada.

- Você. – ele deu de ombros. – Você tem tentado esse tempo todo mostrar que amadureceu que é uma nova pessoa. – nossos olhos se encontraram. – Pois eu acho que você continua a mesma pessoa, com os mesmos medos. – Eu iria contestá-lo, ele não deixou. – Você continua a mesma garota ingênua e continua amando a mesma pessoa. – suspirei. – Maria, quando você vai entender que você só se transforma quando admite as suas fraquezas?

Pensei por alguns instantes.

- Não entendi. – olhei-o confusa.

- Você colocou uma máscara e enganou a si mesma. Mas máscaras acabam caindo uma hora. – seus olhos eram ternos. – Maria, você não percebe que não está vivendo? Você está apenas existindo. Viver assim não tem graça, viver de verdade é aceitar os medos e lutar contra eles, amar e não ficar escondendo, viver e não ter medo de como as pessoas te interpretarão.

- Você está dizendo tudo isso por causa dele, não é?

- Não. – ele respirou. – É por sua causa. Eu não quero minha melhor amiga vivendo em um mundo cheio de máscaras e ilusões!

A campainha tocou, Josh fez sinal para eu atender e voltou-se para a TV. Respirei fundo, ainda pensando nas palavras de Josh, de certa forma ele me fez refletir. Quer dizer que eu continuo a mesma?

Abri a porta quando a campainha tocou pela segunda vez. Nossos olhares se encontraram e ficamos nos encarando por alguns segundos.

- Oi. – Mattew foi o primeiro a sair do transe. Balancei a cabeça e voltei ao mundo real.

- O... Oi. – tentei sorrir e acabei fazendo com que ele desse um riso contido. Havia me esquecido de como ele ficava bonito quando sorria.

- Maria? – Ele disse meu nome e arqueou a sobrancelhas. Desviei o meu olhar para meus pais.

- E aí, Matt? – Josh chegou e cumprimentou Mattew. Agradeci-o pelo pensamento. – Maria, acorda garota! – ele riu. – Vocês tem um trabalho pra fazer, não é? – olhei para ele. – Eu já estou indo. Me chama lá em casa quando voltar. – E dizendo isso ele saiu, mas parou e se virou no meio do caminho entre minha casa e a dele. – E Mattew, cuida bem da minha melhor amiga. – Os dois riram. Havia alguma coisa que os dois compartilhavam sobre a nossa situação e eu não fazia a mínima idéia do que era.

Mattew voltou seu olhar a mim.

- E então? Já está pronta? – perguntou enquanto me analisava.

Respirei e pensei no que Josh havia dito. Tá na hora de mostrar que eu mudei de verdade!

- Estou. Eu só vou pegar minha bolsa. – disse firme sem olhar nos olhos dele.

- Eu vou te esperar no carro então, já que a senhorita não me convidou para entrar. – Ele sorriu irônico e eu corei.

Eu nem havia lembrado que nós estávamos na porta este tempo todo. Dei de ombros, ele não era mais bem vindo mesmo!

Virei-me e fui ao meu quarto, peguei uma bolsa e coloquei o material de pesquisa dentro dela. Dei uma última olhadela no espelho e desci. Fechei a porta e fui até o carro de Mattew, que ouvia a mesma música do nosso primeiro encontro, Thinking of you, The Maine. Esta música me fez lembrar do tempo em que eu o conheci, de como tudo parecia perfeito quando nós começamos a namorar. Ah, como as coisas mudam! Olhei para a janela e comecei a cantarolar.

-O tempo passa e eu continuo pensando em você. – virei-me para Mattew curiosa. – O que? – ele me olhou com um sorriso maroto nos lábios.

- O que você disse? – perguntei me questionando se eu havia ouvido direito.

- Que o tempo passa e eu continuo pensando em você. – ele disse como se fosse o óbvio, depois apontou para o aparelho de com. – É a música.

Senti uma pontada de tristeza por não ser verdade o que ele falou, mas deixei passar. Eu era uma nova pessoa.

- E então? Como anda o seu amadurecimento? – ele perguntou como se estivesse lendo meus pensamentos. O olhei confusa. – Brunna me contou desta sua fase.

-Ah! – Eu mato aquela fofoqueira!

Mattew não falou mais nada sobre isso, acho que ele percebeu que eu não iria nem queria falar nada. Chegamos na escola e fomos até uma mesa que ficava no pátio.

- E então? Como faremos o trabalho?

- O que?- perguntei.

- Você queria fazer o trabalho sozinha então eu pensei que já soubesse como o faria. – disse dando de ombros.

- Eu não pensei nisso ainda. – respondi corando.

- Bom, então nós podemos começar formulando algumas perguntas e depois nos dividindo. Um faz a pesquisa com os funcionários, o outro com os alunos e depois nós juntamos tudo e fazemos a redação. – eu assenti concordando e Mattew sorriu largamente.

- Já tem alguma pergunta em mente? – perguntei enquanto retirava meu material.

- Pensei que você pudesse se encarregar desta parte. –revirei os olhos e bufei. Eu devia ter feito o trabalho sozinha. – Calma! – Mattew disse rindo. – Eu já pensei em algumas.

E assim nós passamos a tarde inteira, a minha sorte foi que boa parte dela eu não tive que ficar perto dele. Quando terminamos de reunir as perguntas e respostas, discutimos um pouco sobre como faríamos a redação e acabamos deixando para fazê-la no dia seguinte.

- Então é isso, amanhã a gente termina. – concluí, me levantando da mesa.

Mattew também se levantou e passou na minha frente indo até o seu carro. Eu desviei e fui em direção a rua.

- Aonde você pensa que vai? – ele perguntou impaciente.

- Para a minha casa. – eu disse revirando os olhos.

- Então não precisa ir a pé. É o mesmo destino que o meu. – ele sorriu de canto com certa irritação.

- Pode ir para sua casa Mattew, eu sei o caminho da minha. – respondi e caminhei mais rápido.

- Deixa de ser teimosa garota! – ele falou alto quase descontrolado. Fingi que não ouvi. – Você está sendo ridícula. – ele acusou. Dei de ombros.

Mattew parou de gritar, achei que ele tinha entrado no carro, mas me enganei. Mattew, alguns segundo depois, me alcançou e me pegou no colo.

- O que você está fazendo. – disse tentando sair do colo dele.

- Te levando para casa.

- Eu não quero ir com você! – disse por fim. Mattew me colocou de pé e me olhou sério com tristeza no olhar. Eu daria muita coisa para saber o que ele estava pensando.

- Tanto faz. – ele deu de ombros segundos depois. – Eu não perguntei se você queria ir comigo. – disse e me pegou no colo novamente.

Bufei.

- Tudo bem, eu vou com você. – ele deu de ombros. – Agora me solta. – ele sorriu de leve e me colocou no chão. – Garoto irritante! – resmunguei indo na frente dele.

- Você não me chamava de irritante quando estava na cama comigo.

Parei e olhei perplexa para ele. Como ele ousa fazer um comentário deste tipo, no meio do estacionamento e ainda alto? Ele, agora, sorria largamente e cheio de malícia.

- Vai dizer que eu estou errado? – Ele começou a ir ao meu encontro.

Eu estava ficando furiosa com aquela conversa.Como eu pude namorar um ser tão repugnante igual a ele?

- Idiota! – eu o xinguei.

- Não era o que você achava quando eu... – o interrompi.

Como eu pude amar um ser tão mesquinho?

- Para com isso! – disse em tom autoritário.

- É claro que eu vou parar. – sorri aliviada. – Vou fazer coisa muito melhor. – Ele disse e me beijou de forma inesperada.

De repente eu soube como eu pude namorar com ele.