Já estava escurecendo, naquela tarde de inverno. O céu ganhara uma cor azul alaranjada, por conta dos raios do sol, que já estavam quase desaparecendo por trás da linha do horizonte.

O garoto, de cabelos ruivos quase castanhos se encontrava sozinho em casa. Era magro, razoavelmente alto, não possuindo mais de 1,80m. Suas feições, aparentemente inocentes, e apesar dos olhos puxados, encontravam-se em seu interior duas enormes pupilas castanhas escuras, quase pretas, e muito brilhantes, o que lhe deixava com uma aparência de filhote de gato.

A água do chuveiro deslizava sobre seu corpo, e o menino levava a cabeça para trás conforme fechava os olhos, encharcando os cabelos sedosos e macios. Sentia-se confortável, cercado pelo vapor quente que enchia o banheiro e embaçava os espelhos e vidros. A água quente batia levemente em sua nuca, e ricocheteava nos claros azulejos que compunham as paredes.

Passados aproximadamente quinze minutos, o garoto desligou o chuveiro. Espreguiçou-se de leve, com os braços voltados ao teto, e agarrou uma toalha largada sobre um gancho prateado preso à parede. Secou-se brevemente, e balançou os cabelos, igualzinho a um cachorro, encharcando as paredes, o chão e o espelho.

Passou a toalha pela cintura e amarrou-a firmemente antes de sair do banheiro e sentir aquela incômoda corrente de ar frio avançar contra seu corpo ainda úmido.

A toalha arrastava-se pelo chão, e... bem, podemos dizer que o menino não era a pessoa mais cuidadosa do mundo. Pelo contrário, era bastante desastrado.

Passeava distraidamente pelo corredor que desembocava no quarto dos cinco meninos quando, sem aviso, pisou em uma das pontas da toalha e escorregou, batendo com um baque surdo no piso de madeira.

Confuso, como se tudo tivesse ocorrido rápido demais para conseguir raciocinar, o menino massageava o joelho dolorido.

Ouviu então, alguém destrancando a porta de entrada, e em seguida um rangido.
Os outros quatro meninos entraram no aposento, carregados de sacolas. O mais alto, de cabelos castanhos e compridos batendo quase no ombro, usava óculos grandes e redondos. Segurava duas sacolas em uma das mãos, e algo que parecia com um pepino na outra.

– Oh não, Sandeul! Eu não queria ver isso, feche essas pernas. –exclamou outro, após fechar os olhos com força. Este possuía cabelos castanhos, bastante lisos, porém completamente desarrumados, provavelmente por culpa do vento que deveria estar lá fora. Vestia um grosso casaco de algodão.

– Porque está tão vermelho, Jin? - Disse o outro de óculos, às suas costas, depositando as sacolas no chão, rindo-se.

– Ora, cale a boca, CNU. –resmungou.

Sandeul se levantou rapidamente, visivelmente aborrecido. Massageava agora um dos cotovelos.

Os quatro seguiram para a cozinha, e o mais novo acenou sorrindo para Sandeul quando passou.

– Olá, Gongchan! – retribuiu o sorriso, antes de seguir para o quarto.

Largou a toalha molhada sobre uma das camas e se trocou rapidamente, apoiando-se no beliche para não despencar de novo. Enquanto vestia uma quantidade, talvez, exagerada de casacos, podia ouvir as risadas escandalosas de CNU, e um “Larga esse pepino!” de um irritado Jinyoung.

Seguiu em direção à cozinha, para se juntar aos outros, e encontrou CNU sentado juntamente a um menino de cabelos escuros, cobertos quase que por completo por um boné branco. Sorria, deixando seus dentes grandes e ligeiramente tortos à mostra. Cortava com cuidado alguns vegetais, enquanto o amigo executava brincadeiras bobas e danças esquisitas, seguidas de risos por parte de Gongchan, o maknae. Estava de pé, ao lado de Jinyoung, mexendo em alguma coisa ao fogo.

– Oi, Sandeul! Estamos preparando kimchi, venha ajudar aqui. –Sorriu, bondosamente, Baro, o menino de boné. O ruivo se sentou entre os dois, e pouco tempo depois já entrara nas brincadeiras do mais alto. Os dois dançavam animadamente sobre os bancos e cantavam em voz alta.

Baro, sentado a ponta, sorria, e vez ou outra acompanhava os trechos da música com Sandeul e CNU, porém, ainda insistindo na tentativa de cortar os vegetais. Tentativa visivelmente fracassada, pois os pulos de Sandeul, colado ao braço do amigo, fazia suas mãos vibrarem, e cortarem pedaços irregulares de cenoura. Percebendo que não ia conseguir nada além de cubos defeituosos de legumes, entrou também na brincadeira.

– Parece que vamos preparar o jantar sozinhos hoje, Gongchan. – disse Jinyoung, abrindo seu sorriso perfeito e agora, bem humorado, para o maknae.

– De novo... – Sorriu o menino, com os olhos baixos, fixos no fogão.