Bleeding escrita por caiquedelbuono


Capítulo 5
Armadilha.




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Logan acordou na terça-feira com uma pequena dor de cabeça. A noite anterior não havia sido nada agradável e ele havia voltado para o dormitório com o sangue fervendo. Teve que se controlar muito para não ir até o quarto de Brian e se vingar de tudo que ele havia feito. Logan estava com raiva, queria que ele sentisse o peso da mão dele sobre o seu pescoço, do mesmo modo que Brian havia feito com ele.

As imagens do seu quarto ainda não estavam muito nítidas e ele esfregou os olhos com o dorso da mão. Ainda estava sonolento e seus pensamentos se transportaram para Sophia. Alguma coisa mudara na noite anterior. Logan pôde perceber o quanto ela ficara aflita quando Brian estava com seus braços nojentos sobre o seu pescoço. Ele se sentiu aquecido quando Sophia deslizou a mão dela sobre a dele. Ele olhou no fundo dos olhos dela e viu que ela não era estranha e que não era o tipo de pessoa que ele pensava que ela era. Sophia realmente se preocupava com ele e mesmo ele tendo sido tão duro com ela, ela não desistira...

— Alô! Planeta Terra chamando Logan! — ele pôde ouvir a voz de Mark entrando nos seus ouvidos — Já faz uns cinco minutos que você acordou e está sentado aí na cama com essa cara de bobo.

Logan olhou para o lado e viu que Mark já estava completamente vestido e pronto para ir tomar o café da manhã antes do segundo dia de aula. Já ele, ainda estava desgrenhado, vestindo pijamas, sentado na cama como se o tempo tivesse parado e pensando em uma pessoa em especial.

— Já estou atrasado? — perguntou Logan, colocando os pés descalços para fora da cama e se espreguiçando completamente.

A pergunta de Logan foi respondida rapidamente com o som quase ensurdecedor do sinal ecoando por todos os cantos do colégio.

— Puxa vida! — ele levantou correndo da cama e foi em direção ao banheiro — Tenho que correr!

Com o canto do olho, Logan notou que Mark estava se divertindo. Ele fez um sinal com a mão para Logan que poderia indicar “ande logo com isso” e saiu do quarto.

Logan já estava acostumado a se atrasar. Esse era um hábito corriqueiro em sua vida e todo mundo sabia da sua falta de pontualidade. Ainda mais com as coisas que andavam povoando a sua mente. Era quase um convite para o seu atraso.

Ele ficou pronto rapidamente e já estava caminhando pelos corredores de pedras em direção a cantina. Ele ainda não conhecia muito bem todos os cantos de Shavely, mas se perder era um risco que ele não corria.

Aparentemente, todos os alunos estavam lá dentro. Logan viu que havia uma pequena fila na bancada com as comidas disponíveis para o café da manhã. Ele pegou uma bandeja e foi até lá.

Ele não precisou aguçar muito o faro para escolher as comidas. Ele não tinha tanta fome de manhã e um pão recheado com queijo e manteiga seria suficiente para que ele tivesse energia suficiente até a hora do almoço.

Logan ainda não tinha visto Sophia. Ele segurou a bandeja com as duas mãos e estreitou os olhos à procura dela. Não foi tão difícil encontrar uma figura loira e alva em meio à multidão de pessoas que conversavam praticamente como se estivessem a quilômetros de distância. Sophia estava sentada em uma mesa ao centro da cantina, acompanha de Tommy, Helena e Mark.

— Pensamos que ia dormir a manhã inteira. — disse Sophia, quando Logan pousou sua bandeja na mesa ao lado dela e sentou-se.

— Eu costumo me atrasar às vezes. — ele disse timidamente — Sabe como é, demoro a levantar da cama.

Sophia deu uma leve risadinha.

Ele olhou para aquele sorriso radiante que se destacava na boca dela e começou a se lembrar do toque da sua mão. Será possível que Logan iria ficar pensando em Sophia o dia inteiro? O que estava acontecendo com a sua convicção de que ainda era muito cedo para rolar qualquer tipo de amizade? E agora ele estava ali, pensando em como a mão dela era macia e o sorriso que resplandecia na sua boca era brilhante e encantador.

Não! Ele tinha que parar com isso. Sophia apenas se preocupava com Logan. Como um amigo. Não tinha nada que ficar pensando em como sua mão era macia ou seu sorriso era bonito. Não existia nada disso.

Logan respirou fundo e voltou sua atenção para os garotos que estavam sentados a mesa junto com ele e já haviam iniciado uma conversa.

— Alguém sabe qual vai ser o tema da festa de sábado? — perguntou Helena.

Logan não se lembrava de que haveria essa festa. Talvez fosse uma boa oportunidade para ele aproveitar e esquecer todos os problemas que atormentavam sua mente.

— Depois você fica dizendo que sou eu quem só pensa nessa festa. — disse Sophia, abrindo o seu último potinho de salada de frutas.

Helena olhou para ela indignada.

— Pare de implicar comigo. Foi só uma pergunta.

— E se você me permite responder, — disse Tommy — eu ouvi alguma coisa pelos corredores de que Janeth pretende fazer algo relacionado ao Halloween.

— Halloween? — perguntou Helena — Mas só será Halloween daqui a alguns meses. Às vezes eu realmente acho que a Janeth é louca.

Logan se animou ainda mais com aquela festa ao ouvir que seria temática. Halloween era uma coisa divertida, que proporcionava um cenário aterrorizante, fantasias ainda mais assustadoras e sem falar que eles poderiam fazer a brincadeira de “gostosuras ou travessuras”, mesmo não estando nos Estados Unidos. Logan sempre pensava no quanto seria divertido sair às ruas com um saco na mão pedindo doces.

— Provavelmente, — continuou Tommy — Janeth irá nos chamar quando estivermos mais próximos da festa para nos contar as novidades.

— Vocês falam tanto dessa festa que eu estou começando a ficar curioso. — comentou Mark.

— É como se fosse uma tradição! Ela é realizada todo mês.

Logan desviou seu olhar dos colegas e o transportou para as outras mesas. Ele procurou por entre todas as pessoas e não viu Brian em nenhum canto. Isso o induziu a pensar que ele estaria aprontando alguma coisa. Era obrigação de todos os alunos estarem na cantina antes do início das aulas. Por que Brian não estaria na cantina senão pensando num modo de perturbar ainda mais a vida de Logan?

— Alguém viu Brian? — ele perguntou, de repente.

Logan percebeu que Sophia se estremeceu, enquanto os outros se mantiveram em um silêncio absoluto.

— Eu... eu não sei. — a voz de Sophia estava fraca — Eu ainda não o vi hoje.

Tommy mordeu o lábio.

— Ele saiu cedo do quarto. — disse ele, que tinha a infelicidade de dividir o dormitório com Brian — Disse que tinha um assunto importante para resolver.

Logan levou a mão ao queixo e seu cérebro tentou imaginar o que poderia estar acontecendo.

— Por que estão tão preocupados com Brian? — perguntou Helena.

Eles provavelmente não sabiam do que havia acontecido na biblioteca. Logan não contara para ninguém, nem mesmo para Mark. Não era uma coisa que precisava ser dividida com eles.

Logan e Sophia se entreolharam quando Helena pigarreou, esperando ansiosamente pela resposta.

Não ia ter jeito. Logan teria que responder e contar toda a verdade a eles, mas a sua boca se fechou instantaneamente quando barulhos de salto alto ecoaram em seus ouvidos e ele desviou o olhar para a porta.

Janeth estava entrando na cantina a passos largos, com um olhar furioso. Ela passou por entre todas as mesas e parou exatamente ao lado de Logan.

— Logan, poderia me acompanhar, por favor? — a voz dela estava quase grave e ele não poderia imaginar o porquê dela transparecer estar tão irritada.

Ele olhou para os amigos sentados à mesa e Sophia fez um sinal positivo com a mão, encorajando-o a se levantar e ir ver o que Janeth queria.

— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou.

— Apenas limite-se a me seguir.

Janeth começou a caminhar e Logan a seguiu. Ele arriscou um último olhar para Sophia, que estava olhando para ele, ainda encorajando-o.

Logan e Janeth percorreram quase o internato inteiro até chegarem a uma porta que estava entreaberta. Logan ainda nunca havia estado por aqueles arredores do colégio; era um dos lugares o qual Sophia não havia lhe mostrado. Pelo pouco que ele conseguia enxergar através do vão da porta, Logan pode constatar que a sala de Janeth era bem espaçosa.

Janeth abriu inteiramente a porta e fez um sinal para que Logan entrasse. Havia uma mesa feita de uma madeira extremamente vermelha, com um computador sobre ela, uma caixa repleta de papéis e documentos e alguns objetos de uso manual espalhados como se tivessem sido largados ali. As paredes também eram de tijolos avermelhados e havia alguns quadros esquisitos pregados. Um sofá estava encostado debaixo da janela ao fundo da sala e havia algumas plantas enfeitando a parte esquerda do ambiente.

Logan não havia percebido imediatamente, mas seu queixo caiu quando viu que Brian estava sentado em uma das cadeiras diante à mesa.

— Sente-se, Logan. — disse Janeth, sentando na sua cadeira giratória.

Ele assentiu, engoliu em seco e sentou ao lado de Brian.

Quando Logan estreitou os olhos e viu claramente o rosto de Brian, ele não pôde acreditar. Havia um estranho hematoma ao lado do seu olho esquerdo, como se ele tivesse levado um soco. Logan queria descobrir quem havia tido a honra de dar um soco na cara de Brian.

— O espancador enfim chegou. — disse Brian, mas Janeth fez um som com a boca que o fez se calar imediatamente.

— Muito bem, Logan. — ela começou a dizer — Deve estar se perguntando o porquê de eu o ter trazido até aqui. — ele fez que sim com a cabeça — Brian veio aqui logo de manhã, antes do café da manhã, e me contou tudo o que você fez. Vocês tiveram uma discussão ontem enquanto estavam fazendo o trabalho de biologia sugerido pela professora e você deu um soco no olho dele, não foi isso?

Logan não podia acreditar que a sem-vergonhice de Brian poderia chegar até tal ponto.

— Eu não fiz nada disso. — Logan defendeu-se — Ele está mentindo!

— Agressão é inadmissível aqui em Shavely, Logan, e diante disso, você está terminantemente de castigo.

Brian estava sorrindo e Logan teve vontade de realmente socar a cara dele. Como ele podia ser tão baixo a ponto de inventar uma mentira dessas apenas para prejudicá-lo?

— Diretora, não foi nada disso que aconteceu. Brian tentou me enforcar ontem na biblioteca. A senhora precisa acreditar em mim, por favor.

— Não ligue para o que ele diz. — disse Brian calmamente — Ele está completamente fora de si.

Janeth não falou imediatamente. Ela esperou algum tempo, parecia estar refletindo.

— Brian é meu aluno desde que ele tinha quatro anos de idade. Ele não teria motivos e nem coragem de mentir para mim. Sinto muito que as evidências apontem para você, Logan.

— Isso não é justo!

— Não venha falar em justiça. — disse Brian — Olhe o que você fez no meu olho. Acha que isso é justo?

Logan cerrou os punhos e precisou respirar fundo para não pegar o grampeador que estava sob o seu campo de visão e arremessar na cabeça de Brian.

— Você sabe que eu não fiz nada disso. Você tentou me enforcar! — ele olhou para Janeth e tentou novamente uma conciliação — Sophia estava comigo, diretora, ela pode provar que eu não dei soco nenhum em Brian.

— Chega, Logan. — disse Janeth indiferente — Eu já tomei minha decisão. Você estará de castigo durante a semana toda por ter sido tão agressivo. Para começar, você deverá me encontrar aqui depois do período de aula para me ajudar a fazer uma faxina na minha sala.

Logan levou as duas mãos à cabeça e esfregou fortemente o seu rosto. Ele já podia sentir a raiva fazendo o seu cérebro borbulhar e ele estava prestes a ter um dos seus ataques de ira.

Ele tentou respirar fundo e controlar seus batimentos cardíacos, mas percebeu rapidamente que não conseguiria se controlar. Seus olhos já estavam chamuscando e ele se levantou rapidamente da cadeira e derrubou ao chão tudo o que estava ao seu alcance na mesa.

— Isso não vai ficar assim! — Logan berrou.

Ele queria bater em Brian, queria que sofresse o mesmo que ele estava sofrendo, queria que ele sentisse a dor de ser acusado injustamente, mas Logan sabia que não valeria a pena fazer isso ali e agora. Janeth estava vendo tudo e ele só se complicaria mais.

Ele não esperou para ver a reação da diretora, que observava ao ataque de fúria de Logan, atônita. Ela provavelmente sabia que ele sofria com isso, mas ela não poderia fazer nada para impedir. E também não poderia puni-lo por isso.

Logan saiu correndo da sala e foi em direção ao seu dormitório. Não queria ver Sophia, não queria ver Mark. Apenas queria se jogar sobre a sua cama e ficar lá até que todo aquele ódio descomunal se esvaísse do seu cérebro. Ele sabia que tinha aula agora, mas quem se importava com isso?

Logan subiu as escadas o mais rápido que pôde, com passos que talvez pudessem ser ouvidos por todo o internato. Sua respiração já estava ofegante e o suor escorria pelo seu corpo. Ele odiava quando aquilo acontecia. Não gostava de ter esses ataques de ira, mas era uma coisa que ele não controlava.

Quando ele entrou no quarto, percebeu que havia uma mala preta no chão. Ele passou o dorso da mão molhada na boca e foi em direção a ela. Retirou-a do chão e colocou sobre a sua cama. Havia um pedaço de papel amarrado a ela, e Logan o retirou e começou a lê-lo no pensamento:


Querido Logan, estou com saudades. Vasculhei o seu quarto no pequeno período que ficou aqui em casa e achei um monte de coisas as quais você não levou para o internato. Isso inclui roupas, livros, mangás e até mesmo aquele seu Playstation portátil que você não largava de jeito nenhum. Achei que você fosse precisar de tudo isso algum dia e então, juntei tudo, coloquei nessa mala e a levei até Shavely. Espero que você fique bem.

Beijos, tia Mary.


Seus olhos piscaram repetidas vezes depois que ele terminou de ler e de repente, sua raiva passara. Ele tinha as mais variadas razões para não gostar de Mary, mas ele jamais iria imaginar que ela se lembraria de levar as coisas que ele havia esquecido. Na verdade, ele não havia esquecido. Ele havia arrumado a sua mala (que era uma mochila) com uma má-vontade incrível e por isso, havia deixado tantas coisas para trás.

Logan abriu a mala que Mary trouxera e seus olhos se encantaram quando viu todas as coisas que ele gostava. Como ele poderia ter deixado o videogame na casa de Mary? Todos os seus mangás japoneses, os quais ele não perdia uma edição sequer. Os seus livros de ficção científica preferidos. Era tudo que ele precisava para se sentir ainda mais em casa.

Logan já não estava mais irado e um sentimento de compaixão o preencheu, o que fez com que ele dobrasse levemente o cartão da tia e o colocasse ao lado da foto dos seus pais.


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