Wish You Were Here escrita por missybw


Capítulo 2
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

boa leitura!



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WISH YOU WERE HERE.

            Nunca pensei como eu me sairia se fosse pai. Na verdade, nunca pensei em mim como pai. Claro, quando mais jovem eu me imaginava correndo atrás de uma criança, mas não sabia que essa imaginação podia se tornar realidade tão cedo. Estou nos meus dezoito anos, morando em New Heaven, Connecticut, cursando a faculdade de Yale. Quem diria que Edward Cullen iria ser pai aos dezoito anos de idade? Com toda a vida pela frente, com toda a faculdade pela frente. Mas era incrível como o espírito paterno tomou conta de mim rapidamente.

            Quando ela me deu a noticia que estava grávida a primeira coisa que eu fiz foi sorrir. A segunda, foi perguntar quando ela tinha descoberto aquilo. A terceira, foi pedir para que ela me mandasse o exame por correio, e a quarta, deitar na cama e pensar no quanto minha vida mudaria a partir daquele dia.

            No dia seguinte que eu recebi a noticia, eu acabei passando na frente de uma loja de roupas de bebe, e não foi por gosto. Não consegui esconder meu sorriso e não me segurei, acabei entrando na loja. Eu não sabia se iria ser uma menina ou um menino, e não era tão burro para saber que ainda demoraria alguns meses para descobrir o sexo do meu filho ou filha. Eu comprei o sapatinho verde, sem ter noção do quanto aquilo me deixou feliz. Um pequeno gesto e eu já estava imaginando como ficaria no bebe.

            Alguns dias depois do telefonema que eu recebi dizendo que seria pai, o exame de gravidez chegou pelo correio. Eu não li nada do que falava ali, e fui direto ao resultado que era o mais importante. Positivo. Uma palavra que muda a vida de várias pessoas tão drasticamente. Eu tenho o exame guardado até hoje, no mesmo lugar em que eu tenho as outras coisas guardadas.

            Uma caixa grande, forrada com vários recortes de diversas imagens e textos, é a coisa mais preciosa que eu tenho hoje. E lá, não tem nenhum dinheiro ou algo do tipo. Lá tem todas as coisas que ela já me enviou do nosso filho. Inclusive, o exame de gravidez está lá.

Então,

Então você acha que consegue distinguir

O paraíso do inferno

            Hoje, minha filha tem oito meses e algumas semanas. Ele está prestes a nascer, e eu estou indo para Boston para acompanhar o nascimento. Sim, era uma menina e quem decidiu o nome foi a mãe. Eu sabia que ela escolheria Beatriz. Quando nós namorávamos, ela sempre comentava que quando tivesse uma filha, ela se chamaria Beatriz. Ela nunca me explicou exatamente o motivo de colocar esse nome, mas eu admito que sempre achei um nome bonito, e não tinha outra idéia para nomes. Sempre fui um cara muito atrapalhado, que até para escolher nomes de cachorro eu tinha que pedir ajuda para as outras pessoas. Por isso, deixei o nome da minha filha nas mãos de Isabella.

            Desembarquei em Boston e como eu esperava, ela não veio me ver no aeroporto. Tudo bem, nós não tínhamos combinado isso e ela não perguntou. E eu sabia que estava bem complicada as coisas da gravidez, e por uma lado fiquei feliz dela não vir me ver, assim, ela não faria muito esforço. Chamei um taxi e fui disse o endereço do hotel que eu havia reservado por internet. Não era o hotel mais luxuoso e nem o mais bonito de Cambridge, mas era apenas por alguns dias, pois logo eu teria que voltar para New Heaven. Peguei as chaves do meu quarto, e guardei algumas roupas no armário que ali havia. Era um quarto com uma cama de casal, um frigobar, uma mesa, uma televisão e ar condicionado. Nada mais que eu precisasse. Deixei alguns livros encima da mesa para dar uma estudada, junto com os cadernos que eu havia trazido.

            Peguei meu violão, e dedilhei algumas notas. Peguei o velho caderno de capa verde, e abri nas composições que eu já tinha concluído. Toquei duas, e fui interrompido por meu celular tocando. Olhei no visor, e era ela. Logo, fiquei nervoso. Eu sempre ficava assim quando ela ligava, ou quando nós nos falávamos por web cam e microfone, ou por e-mail. Era incrível o poder que ela tinha sobre mim. E era incrível como eu gostava das sensações que ela causava.

            - Alô. – atendi, apoiando meu braço no violão.

            - Edward? – a voz doce e encantadora de sempre falou do outro lado da linha.

            - Oi Bella.

- Você já chegou em Boston? Pelas minhas contas, ou você já chegou ou você está chegando.

            - Acabei de me organizar no quarto do hotel. – respondi. – Como você está? E Beatriz?

            - Estamos bem. Mas ela anda mais agitada do que nunca. Acho que isso é normal antes dela nascer.

            - Sim – sorri – deve ser por causa disso.

            - Você precisa de alguma coisa? – indagou.

            - Não, obrigada. Não precisa se preocupar comigo.

            A linha ficou em silencio por alguns minutos, e nenhum de nós ousava interromper o silencio. Apenas havia o barulho das nossas respirações na linha, e não era um silencio incomodo – apesar de ser meio estranho. Quando nós namorávamos, as vezes ficávamos em silencio por alguns minutos e nunca nos incomodávamos com isso. Era como se nós continuássemos conversando, mesmo sem nenhuma palavra sendo dita por nós dois. Era muito fácil o nosso entendimento naquela época, e não parecia ter mudado agora.

            Uma voz um pouco conhecida por mim foi ouvida na linha. Era o companheiro dela. Eu sorri infeliz. Era para eu estar naquele lugar, e não ele. Nós nos despedimos rapidamente, e eu dei um sorriso feliz ao olhar para a caixa que eu havia trazido junto comigo. A voz do companheiro dela já havia aparecido em alguns vídeos que ela havia me enviado. E ele parecia gostar mesmo dela, por aceitar um filho que não era dele.

            Suspirei pesadamente e desliguei a TV que estava no mudo. Peguei a caixa e abri, sorrindo ao olhar as milhares de coisas que haviam ali. Peguei uma foto. Era de Isabella em um vestido florido, sentada em um banco branco, em algum parque dessa cidade. Ela olhava para frente, e suas mãos estavam na barriga grande, de oito meses. Essa foto era uma das ultimas que ela havia enviado para mim. Deixei a foto do lado essa foto, encima da cama, e me virei para pegar outra que havia dentro da caixa. Essa era mais antiga, e ao olhar atrás da foto, eu vi que era de três meses atrás. Bella estava com cinco meses, e ela estava com um biquíni, e um short, sentada em uma cadeira de descanso em frente a uma piscina. Seus cabelos morenos estavam soltos, e um óculos de sol escuro em seus olhos, mas mesmo assim, seu sorriso infantil iluminava seu rosto, e a barriga parecia deixar a foto mais bela ainda. Deixei a foto de lado, e peguei um cd que havia dentro da caixa e coloquei no notebook. Desliguei a TV e aumentei um pouco o som para ouvir os sons do vídeo.

            Bella estava sentada em um banco, em algum parque que estava bastante movimentado. Ela vestia uma calça jeans, um all star e uma blusa de mangas compridas marrom. Seus cabelos estavam soltos e sua cabeça estava apoiada em seu braço, que estava apoiado no banco. Sua barriga estava crescida e ela parecia estar perdida em pensamentos. Eu suspirei. Quem deveria estar filmando ela era eu. A câmera se aproximou dela e Bella percebeu que estava sendo filmada e sorriu serenamente para a câmera. O foco da câmera foi para a barriga dela coberta pela blusa, e uma mão delicada e fina acariciava a mesma. Eu podia reconhecer os dedos pequenos e magros de Bella acariciando sua barriga. Acariciando a nossa filha.  

            Essa é a situação mais difícil que eu já enfrentei em toda a minha vida. Nunca passei fome e nunca me faltou dinheiro. Nunca me envolvi com drogas ou bebidas. Sempre fui fiel as minhas namoradas e nunca fui muito mulherengo, apesar de ser bonito.

            Eu e Bella nos amávamos. Muitas pessoas diziam que era palpável a ar de amor que nos rodava. Nós tínhamos um entendimento maravilhoso, e algumas vezes até acontecia algumas discussões. Nós tínhamos vários objetivos iguais, e nos nossos pensamentos, nenhum dos dois queríamos ser pais tão cedo. Mas aconteceu. Na nossa ultima noite juntos depois da formatura do terceiro ano, nós fizemos amor, e nenhum de nós se lembrou da camisinha. E aquele dia foi o ultimo dia que eu a vi. Eu fui para Yale e ela para Harvard, e foi por isso que terminamos o nosso namoro. Nós dois sabíamos que não iríamos conseguir ter um relacionamento à distancia.

            Depois que eu descobri que iria ser pai e fui contar aos meus pais, nós brigamos feio. Esme e Carlisle ficaram indignados com a forma de como não nos protegemos e como fomos tão irresponsáveis. Eles falaram que esperavam que eu assumisse o filho, e tivesse o trabalho de um pai. Que fosse presente na vida do meu filho, e que fosse um bom pai. Mas eles não iriam me ajudar. Eles falaram que a irresponsabilidade foi minha, e que eu que deveria arcar com as conseqüências. Então, desde aquele dia, eu comecei a procurar emprego, e tentar sempre manter contato com Isabella.

Fizeram você trocar

Seus heróis por fantasmas?

Cinzas quentes por árvores?

Ar quente por uma brisa fria?

Conforto frio por mudança?

            Tirei aquele cd, e guardei dentro da caixa. Desliguei meu notebook, e deitei na cama, e apoiei minhas mãos atrás da minha cabeça.

            Eu poderia estar com Bella agora. Eu estava em Boston, em um quarto de hotel, enquanto podia estar com a mãe da minha filha. Enquanto eu poderia estar com a minha filha. Que espécie de homem eu era? Por que eu ainda não tinha ido direto na casa dela ver minha filha, e ver ela? Por que diabos eu ainda continuava nesse quarto de hotel e não me levantava para ligar para ela novamente, e pedir seu endereço? A resposta veio rápida na minha cabeça; eu era um covarde. Eu tinha medo. Eu era apenas um jovem de dezoito anos que não tinha ninguém ao seu lado. Não tinha namorada, nem irmão, e meus pais estavam brigados comigo porque eu havia engravidado minha ex-namorada na nossa ultima noite juntos. E eu não estava pronto para reencontrar Isabella. Eu tinha noção do que ela podia fazer comigo, e tinha medo do que eu poderia fazer. Eu tinha medo de errar novamente, e desabar na frente dela ao ver tamanha falta que ela me fez, e ao me emocionar ao ver seu barrigão. Ao ver minha filha. Tinha medo de decepcioná-la e acabar brigando com seu companheiro. Porque eu a amava, e sentia ciúmes de qualquer homem que a tocasse. Ela ainda era a mulher que dominava meu coração com todas as forças. E agora tinha a nossa filha, que estava com ela, no topo da minha lista de prioridades e amores.

            Eu não saí mais do hotel e fiz o que eu fazia nos dias que eu não tinha nada para fazer em New Heaven. Dormi. E não tive nenhum sonho. Quando eu dormia, eu conseguia esquecer que eu era um homem sozinho e covarde.

~

            O barulho chato do meu celular me acordou. Ainda sonolento atendi o celular sem ver de quem era o número. Era uma voz rouca e de um homem que estava meio hesitante. Eu reconheci aquela voz. Era o companheiro de Isabella. Tentei ao máximo falar normalmente com ele, e ele falou muito rápido comigo. Eu só tive uma reação depois do que ele falou; sorrir. A outra reação foi me levantar correndo, lavar o rosto e escovar os dentes, e chamar um taxi para ir ao hospital que ele havia me informado no telefonema.

            Bella havia entrado em trabalho de parto, e havia ido para o quarto, onde estava havia vinte minutos, e nenhum medico havia dado noticia para Michael – o companheiro de Bella. Eu não tinha palavras para descrever como eu me senti ao pisar no saguão do hospital e encontrar o cara que namorava a mulher que eu amava, e convivia com ela e minha filha.

            Cumprimentei Michael educadamente e perguntei se ele já tinha alguma noticia das duas. Ele disse que nenhum médico havia vindo para dar noticias, e tudo o que eu fiz foi assentir e cruzar uma mão na outra, me sentando na cadeira azul que ali havia. Eu sentia várias coisas, e muitas delas eu nunca havia sentido com tanto vigor.

            Eu estava ansioso para ver a minha filha pela primeira vez. Estava ansioso para reencontrar Isabella. Estava com medo. Medo de ter acontecido alguma coisa com as duas durante o parto. Estava feliz por finalmente ver a minha princesa. As minhas princesas. Estava descontrolando e pulando por dentro. Mas por fora, eu parecia apreensivo e pensativo. Não podia demonstrar minhas emoções, e eu havia aprendido isso a bastante tempo. Eu consigo controlar as minhas emoções e não sei como consegui fazer isso.

            Eu não falei com Michael durante todo o tempo. Ele parecia nervoso, pois apertava suas mãos a cada minuto e passava a mão em seu rosto. Ele estava inquieto. E o tempo passou. Já havia quinze minutos que eu estava ali e nenhum médico veio informar qual o estado das duas. Uma hora, Michael perguntou para uma das atendentes, e ela disse que só o médico poderia dar as noticias concretas.

            - Responsáveis por Isabella Swan. – uma voz grossa soou. Eu e Michael nos levantamos ao mesmo tempo para falar com um homem alto, moreno, que usava óculos e tinha a barba por fazer. Ele estava vestido todo de branco, e era provavelmente o enfermeiro.

            - Somos nós. – Michael falou.

            - Certo. – ele assentiu. – Sou o enfermeiro chefe da área da maternidade, por isso, não posso dar informações da mãe, mas posso dizer que a bebê está completamente saudável. Nasceu com quarenta e nova centímetros e pesa três quilos e quinhentas gramas. Está na maternidade e pode receber visitas, mas apenas através do vidro.

            - Michael. – eu me virei para o companheiro de Isabella. – Por favor, me deixe vê-la primeiro. Você não tem noção do quanto isso é importante para mim. Eu passei todos esses nove meses longe da barriga onde minha filha estava, não pude nem se quer sentir um chute que ela deu. Eu não quero brigar, nem nada, então, eu peço que me deixe vê-la primeiro. Sei que deu todo o apoio a Isabella todo esse tempo, mas...

Você trocou

Um papel de coadjuvante na guerra

Por um papel principal numa cela?

            - Você pode ir. – Michael disse sorrindo minimamente. – Você é o pai. Você deve ir.

            - Obrigado. – Eu falei, e antes que ele fizesse alguma coisa, eu estava o abraçando e lhe dando três tapas nas costas.

            - Vamos, senhor...? – o enfermeiro chamou.

            - Edward.

            - Vamos Edward. – e quando nós íamos nos virando pra entrar pelo imenso corredor do hospital, o enfermeiro virou para Michael. – Acredito que daqui uns dez minutos o Sr. Thompson irá vir aqui para informar como está a paciente. Não precisa ficar preocupado, ao que tudo indica, a senhorita Swan está em perfeito estado.

            A minha ficha ainda não havia caído. Ainda não parecia real que minha filha, a minha princesa, a minha Beatriz, que eu esperei tanto para ver, estava finalmente nascendo. Eu não consegui acreditar que ela estava aqui e agora. Comigo. Pronta para ser carregada no colo, e pronta para vestir todas as roupinhas que eu já havia comprado para ela. Estava pronta para tirar fotos e fazer coco nas horas erradas. A cada passo que eu dava eu sentia que minha ficha só iria cair quando eu finalmente a visse.

Eu me encontrava ansioso de uma forma que nunca estive antes.

Uma plaquinha escrito “maternidade” com uma flecha para frente estava pendurada no teto do corredor por onde passávamos, e eu comecei a sentir dores na minha bochecha de tanto sorrir. Eu não me lembrava de ter sido tão feliz em apenas alguns minutos. E quando nós nos deparamos com um imenso vidro na frente de um sala, e com vários bebês e duas outras enfermeiras ali dentro meus olhos logo procuraram pela minha filha. E não foi difícil de achá-la.

Ela era a primeira da fila da parede, e estava apenas com um fralda. Se mexia a todo momento, e seus olhos estavam abertos. Um biquinho fofo estava em seus lábios vermelhos, e ela tinha um cabelo claro, assim como o meu. Seus olhos eram verdes, assim como os meus. Sua pele era branquinha, como eu e Bella. Seu nariz era delicado como o de Bella, e sua boca era em formato de coração, assim como a mãe. Eu me virei e abracei o enfermeiro, o pegando de surpresa.

Eu estava feliz. Eu estava radiante e não encontrava maneiras de demonstrar o que eu sentia e o quanto eu estava maravilhado por um ser tão pequeno ter entrado em minha vida. Beatriz era um anjo e era minha filha. Ela era fruto do meu amor com Isabella. Ela era parte de nós dois. Ela acabara de se tornar a minha vida.

- Obrigado. – eu agradeci verdadeiramente ao enfermeiro. – Obrigado por tudo.

- Não há o que agradecer, senhor Cullen. Estou apenas fazendo meu trabalho.

Eu não notei se o enfermeiro havia saído do meu lado, ou se ainda continuava ali. Eu estava hipnotizado por aquela pequena pessoa que estava na sala em frente ao corredor onde eu estava parado, praticamente babando através do vidro. Eu acompanhava cada mínimo movimento que a minha filha fazia. Ela era tão linda, tão encantadora... era o resultado do meu amor com Bella. E Beatriz não podia ser mais perfeita.

“Olá filha.” – Sussurrei, fungando e sentindo algumas lágrimas caírem dos meus olhos.

~

Não sei por quanto tempo eu fiquei admirando Beatriz. Não tive interesse de sair de lá um minuto se quer depois que eu a conheci. Não tinha coragem, nem vontade. Eu me pegava horas sorrindo que nem bobo, hora chorando, hora lamentando por ter perdido todo esse tempo longe dela, hora agradecendo a Deus pelo anjo que ele havia me mandado. Aliás, havia mandado para mim e para Isabella.

- Senhor – outro enfermeiro chegou perto de mim. – Nós iremos levar a bebê até a senhorita Swan, pois ela precisa amamentar. O senhor nos acompanha?

- Claro. – respondi. – E-eu posso pegá-la?

- Sim, mas muito cuidado porque ela está muito sensível. Ela vai ficar assim por alguns minutos, pois ainda está tentando assimilar tudo o que está acontecendo ao redor dela. O corpo de um bebê é sensível à qualquer toque, por isso, peço que senhor seja muito delicado ao pegá-la no colo.

Eu assenti e logo as tardes e noites que eu fiquei treinando com bonecas vieram a minha mente. Eu não podia negar que estava um pouco ansioso e um pouco nervoso para pegá-la no colo. Tinha medo de derrubá-la e tinha medo de feri-la. Mas, assim que o enfermeiro a tirou da cama e a passou para os meus braços, esse medo evaporou e uma paz adentrou meu corpo quase imediatamente.

Beatriz não era nem um pouco pesada para mim. Era além de leve. Seu corpinho pequeno se aconchegou no meu peito, e não demorou muito para ela fechar seus olhos e dormir. Eu pude deixar mais algumas lágrimas deslizarem pelo meu rosto, e funguei. Eu era pai. Eu estava com a minha filha em meus braços pela primeira vez.

Eu não sabia em que mundo eu me encontrava. Eu apenas senti que estava entrando no quarto em que Isabella estava quando o enfermeiro que estava comigo abriu a porta e anunciou que a filha dela estava chegando para ser amamentada. Eu ainda carregava Beatriz em meus braços e não havia parado de admirá-la por um segundo que fosse. E ao assimilar que eu estava no mesmo lugar que Isabella, eu fiquei tenso, mas não consegui desviar o meu olhar da minha filha para olhar para Isabella. O médico anunciou que eu teria que entregar o bebe a Isabella. Não teria mais como fugir de encontrar seus olhos. Todos falavam a minha volta, mas eu não escutava nada. No momento, eu só me importava com duas pessoas: Isabella e Beatriz.

- Oi Edward.

Eu finalmente levantei meu rosto para olhar a mulher que eu amava. Ela estava com seus cabelos espalhados pelo travesseiro branco da cama de hospital, e vestia uma camisola branca. Estava com soro em sua mão direita, e um cobertor a cobria até a cintura. Seus lábios estavam um pouco esbranquiçados e sorriso imenso dançava em seus lábios – Talvez por me ver. Talvez por ver Beatriz. Ou os dois. – Seus olhos continuavam do mesmo jeito e intensos do jeito que era quando nós namorávamos. Ela estava linda. E ficaria maravilhosa se não estivesse deitada em uma cama de hospital.

- Olá. – falei, tentando controlar a minha voz.

Ela espichou seus braços e eu entreguei delicadamente Beatriz para ela. Nossa filha resmungou, mas logo parou. Notei que a minha filha piscava freneticamente olhando para Isabella, que lhe deu um beijo na testa e lhe acariciou o rostinho. O olhar de Bella se levantou e encontrou o meu, e eu pude notar que aquela era a minha família. Era a minha mulher e a minha filha. Eram as mulheres da minha vida. E infelizmente, daqui a alguns dias, eu não teria mais nenhuma perto de mim. Obvio que eu voltaria para visitar Beatriz, e também era obvio que não seria sempre que eu quisesse que eu poderia vir para Boston. E como um covarde, eu tinha medo de ser substituído.

Isabella havia colocado alguém em meu lugar. Michael estava ocupando o lugar que era meu desde o inicio da faculdade. Estava ocupando o lugar que deveria ser meu até hoje. Eu tinha medo que minha filha também me substituísse. Eu não sabia se Bella seria capaz de ir até New Heaven para me ver e levar Beatriz. A única coisa que eu tinha certeza era de que eu deveria vir para Boston para ver as duas.

Não sei por quanto tempo fiquei admirando Bella amamentando. Não sei por quanto tempo fiquei sorrindo, ou simplesmente pensando no que seria daqui a alguns dias ou meses. Eu não falei nada todo o tempo que fiquei naquele quarto. Não tinha coragem de falar nada. Havia um médico e um enfermeiro ali dentro, mais eu e Michael, que estava com um sorriso imenso no rosto. Michael não era o cara arrogante que eu pensei que fosse. Ele era um cara humilde, e todo esse tempo que estive no hospital, ele não me tratou mal como eu pensei que me trataria. Ele não estava tentando impressionar Isabella tentando forçar algum convívio rápido com Beatriz, ou tentando ser o pai dela. Mas isso não me deixou mais tranqüilo. Eu sabia que alguma hora eu teria que partir, e quem faria o papel que eu deveria fazer seria ele.

Dei um beijo na testa de Beatriz e avisei que qualquer coisa que precisassem era para ligar para mim, e que eu estava indo para o hotel.

~

Passou-se uma semana desde o nascimento de Beatriz. Bella e ela já estavam em casa, e eu as visitava todos os dias para aproveitar o máximo de tempo que eu ainda tinha em Boston. Eu procurava não conversar com Bella. Evitava isso ao máximo que eu podia. Poderia até conversar sobre qualquer assunto, menos sobre faculdade, New Heaven ou coisas do tipo. Eu simplesmente queria evitar isso ao máximo para que não ocorresse uma despedida antes da hora. Eu tinha pouco tempo em Boston, e não queria o perder com brigas.

Beatriz estava saudável e já dava seus primeiros sorrisos banguelas. Havíamos feito o teste do pezinho, e todos os exames necessários para a saúde da nossa filha. Eu a acompanhava em todos e não abria mão de estar presente em algum fato especial. E, para garantir, paguei todas as consultas e peguei todos os resultados dos exames para guardar naquela caixa.

- Edward? – ouvi a voz de Bella me chamando e olhei para ela. Vestia uma calça de moletom preta, e uma blusa branca sem nenhum detalhe. Ela já estava mais magra, e o seu corpo já estava voltando ao normal. – Podemos conversar?

Merda.

- Sim. – respondi e acariciei os cabelos de Beatriz delicadamente, através das grades do berço.

Me levantei e foi até Isabella, e a vi sorrir verdadeiramente para mim. Mas eu pude ver em seus olhos que ela estava um pouco nervosa e um pouco tensa. Ela nunca conseguiu me enganar. Seus olhos sempre demonstravam o que ela estava sentindo, e eu sempre conseguia captar suas emoções. Era uma conexão estranha, que eu não sabia se ela ainda recordava ou não. Caminhamos até a sala, e por algum motivo desconhecido por mim, Michael não estava em casa. Eu fiquei de um lado da sala, e ela de outro, sem nenhum contato. Nem visual.

- Eu não sei como começar isso...

- Apenas fale. – falei.

- É estranho e... – ela mexeu suas mãos, e notei que ela passou a mão por seu cabelo. -... eu não sei. Nós ficamos um tempo tão bom juntos... foi tão bom enquanto durou e... nós nos amávamos tanto.

- Aonde quer chegar com isso?

- Quero saber como as coisas ficarão quando você ir embora. Como Beatriz ficará, e como nós ficaremos.

- Nós? – eu tive que rir. – Bella.... você está namorando com Michael, não existe mais nós. E eu amo Beatriz. E mesmo de longe, não vou parar de acompanhar o crescimento dela. Posso não me fazer um pai presente fisicamente, mas sempre vou querer saber dela e como estão as coisas que envolvem ela. A partir de agora eu sou pai, e você mãe. Nossas responsabilidades vão mudar, e muito. E qualquer ajuda que você precisar em relação a ela, não pense duas vezes antes de me ligar que eu pego o primeiro avião que tiver e venho para Boston. Em relação a Beatriz, nunca vou deixá-la como segunda opção. Ela entrou na lista de mais importante para mim. Quanto à isso, não precisa se preocupar. – nós ficamos em silencio por alguns minutos, e eu fitei seus olhos castanhos. – Você irá morar em New Heaven?

- O que? Não. Não tenho como deixar minha faculdade.

- Então vamos continuar nos comunicando virtualmente. Como sempre foi durante todo esse tempo.

            - Você não pode vir para Boston?

            - Não nesse momento.

- Porque?

- Tenho uma faculdade a terminar.

Ela assentiu e apertou suas mãos. Eu sabia que ela queria falar mais alguma coisa. Eu sentia que ela queria se aproximar. Mas eu não fiz nada a não ser ficar olhando para ela, tentando adivinhar quando ela iria vir e quais eram as coisas que ela queria me contar. Eu não era bom em me soltar e falar tudo o que estava preso em mim. Nos meus planos, eu não contaria tudo o que eu sentia no momento. Por isso, deixei que ela finalmente tomasse coragem para ela falar tudo aquilo que ela queria. Fiquei todo o tempo apenas olhando para ela, ouvindo tudo o que ela falava atentamente.

- Michael e eu não nos amamos. Nós praticamente somos como... irmãos. Eu não sei explicar. Mas... quando eu vim pra cá, eu o conheci na faculdade. Ele havia sido traído pela namorada e eu não tinha você. Então, nós começamos a ficar cada vez mais próximos. E aqui estamos.

- Então todo esse tempo você esteve com um homem que não te ama, e que você não ama?

- Sim.

            - E porque está me falando isso?

            - Porque eu sinto a sua falta.

            - Foi você mesmo que não queria um relacionamento virtual.

            - Foi você que estava lutando para que nós tivéssemos.

            - Sim. Eu lutei. Mas você não quis.

            Ela suspirou e passou a mãos por seus cabelos. Eu tive que imitar seu gesto porque eu também estava nervoso. Eu não pensei que iria ter essa conversa com ela agora. Eu não esperava que ela me quisesse de volta. Eu não esperava que eu não soubesse o que fazer.

            - Afinal, o que nós faremos? – perguntei por fim.

            - Você não tem como vir para Boston e nem eu como ir para New Heaven. Até o final das nossas faculdades nós não ficaremos na mesma cidade.

            - Então nós vamos ficar separados? Como todo esse tempo?

            Ela não respondeu e eu sabia que aquilo era um sim. Nós tínhamos a distancia entre nós. Nós tínhamos Michael entre nós. Eu não poderia deixar minha faculdade e nem ela a dela.

            - Nós não temos o que fazer a não ser esperar, Edward. Esperar você terminar a sua faculdade e esperar eu terminar a minha.

            - Certo. – suspirei tentando não demonstrar o quanto aquilo me machucava. – Eu vou ir agora. Amanhã eu venho para me despedir de Beatriz.

            Ela assentiu e eu saí dali e fui caminhando até o meu hotel.

            Nós dois éramos complicados.

~

Eu tinha Beatriz em meu colo e estava sentado na poltrona que havia em seu quarto. O rostinho dela estava apoiado em meu ombro e eu podia sentir a sua respiração calma. Eu estava lutando para não deixar minhas lágrimas caírem e mostrar o quando eu estava nervoso por me despedir dela e de Isabella. Como eu estava com medo de ficar longe do meu anjo e de tanta falta que eu iria sentir quando chegasse em New Heaven e não teria elas perto de mim. Eu tinha medo de ficar muito tempo sem ver Beatriz.

   Antes de tudo eu queria ser um bom pai e um pai presente. Sabia que não iria conseguir ser um pai presente, mas eu ainda poderia lutar para ser um bom pai e mostrar quão importante aquele pequeno ser era para mim. E não seria com dinheiro que eu iria demonstrar isso. Seria com a minha presença, a minha preocupação, com as minhas manias de cuidado que eu tenho sobre ela. Eu demonstraria todo o sentimento que eu tenho por minha filha.

- Você vai ficar bem, meu anjo. – eu sussurrei baixinho, acariciando suas costas. – O papai vai vir te visitar em breve. E eu vou sentir muito sua falta. Cada momento, cada segundo, eu vou sentir sua falta, meu anjo. Você e sua mãe são a minha vida. – Levantei cuidadosamente e dei um beijo em sua testa, e a deitei no berço.

Saí daquele quarto antes que eu começasse a chorar e acordasse Beatriz. Encontrei Bella sentada no sofá, olhando para a janela com um cara séria. Assim que ouviu meus passos na sala, se levantou e olhou para mim. Eu podia ler os seus olhos.

Eles pediam para eu permanecer aqui.

Mas eu não podia.

- Eu já vou indo. Ainda tenho que passar no hotel para pegar a minha mala.

- Ok. – ela sussurrou.

Ela se aproximou e envolveu minha cintura, encostando sua cabeça em meu peito. Acariciei seus cabelos macios e abracei fortemente. Ficamos alguns minutos abraçados até que nos separamos. Olhei em seus olhos e depositei um beijo casto em sua testa.

- Se cuide. Cuide de Beatriz. Qualquer coisa que precisar, entre urgentemente em contato comigo. Qualquer coisa que ocorrer de novo, me ligue. Em breve estarei de volta.

Eu acho.

- Boa viagem. – ela sussurrou.

- Não chore. – falei saindo, vendo que ela estava limpando seu rosto e fechando a porta.

~

Quando eu já estava dentro do avião, e ele já estava decolando, eu permiti que todas as lágrimas que eu guardei o tempo todo, saíssem dos meus olhos e caíssem pelo meu rosto. Eu estava indo embora.

Eu estava deixando Isabella e agora também estava deixando parte de mim. Estava deixando Beatriz. Eu sabia que eu sentiria muita falta das duas. Eu sentiria falta do cheiro das duas e do modo como elas eram quando estavam perto de mim. Eu iria sentir falta da felicidade que tomava conta de mim quando nós três ficávamos juntos. Como uma família. A minha família.

Mas eu tinha planos para voltar em breve para Boston. Eu não agüentaria ficar muito tempo longe delas duas. Não agüentaria a falta que elas iriam me fazer. Eu teria que voltar. Para o meu próprio bem eu teria que voltar em breve. Muito em breve.

Depois de uma longa viagem, eu cheguei em meu apartamento e corri para o meu quarto. Passei todas as fotos e vídeos para o meu notebook, e chorei assistindo todos aqueles vídeos que eu havia feito todo esse tempo que eu permaneci em Boston.

- Meu deus... como eu queria que vocês estivessem aqui. – sussurrei limpando minhas lágrimas.

Como eu queria, como eu queria que você estivesse aqui

Somos apenas duas almas perdidas

Nadando num aquário

Ano após ano

Correndo sobre este mesmo velho chão

O que encontramos?

Os mesmos velhos medos

Queria que você estivesse aqui.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Finalmente! hahahaha E aí, gostaram? Foi uma ideia que surgiu do nada na minha cabeça. Sempre quis fazer um Edward pai, e juntando com um draminha da Bella longe, resolvi escrever. Wish You Were Here que eu usei nessa fic, é do PINK FLOYD! Não é da Avril não. haha
Comentem hein!!!
Beijos e espero que tenham gostado. Até a próxima.