Pôr Do Sol escrita por Ana Flávia Furtado


Capítulo 3
À Primeira Vista


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!



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Eram três horas da madrugada, quando finalmente parei de chorar, não que eu quisesse parar, mas ouvir meu pai desligar a televisão e subir a escada me fez parar, se ele ouvisse que eu choro a noite, ficaria preocupado e infeliz e o que eu mais odeio é deixar as pessoas preocupadas e infelizes por minha causa, por mais que eu odeie ou tenha convivido pouco com esta pessoa.

Minha maior preocupação sempre foi com o bem das pessoas, não importa o quanto eu esteja mal, se eu ver uma lágrima escorrer do rosto de alguém, mesmo que eu não a conheça, eu vou tentar ajudar da melhor maneira possível. Essa era um característica minha que eu não aguentava, era legal ajudar as pessoas, mas esta minha característica sempre me fazia quebrar a cara e o coração. Para falar a verdade sempre fui uma criança solitária, não que eu não tivesse amigos, na verdade eu tinha e muitos, mas eu gostava de viver sozinha, era mais divertido, não tinha que compartilhar meus segredos com ninguém, era um pouco deprimente as vezes, mas me fazia pensar e pensar me deixava sozinha. Gostava de ficar sentada ao pé da escada de mármore do parquinho vendo as outras crianças correrem, gritarem e brincarem, sendo felizes do jeito delas, mas eu era feliz, feliz do meu jeito, porém feliz.

Depois de pensar um pouco nisso não consegui mais voltar a dormir, me levantei e desci pé ante pé para a cozinha, tomei um café da manhã pouco caprichado, subi para o banheiro. Me ohei no espelho e vi meu rosto por baixo de meus longos cabelos loiros e ondulados, meus olhos negros era a única coisa com cor sob meu rosto pálido, porém percebi que meus olhos ainda estavam um pouquinho inchados e vermelhos de tanto chorar.

Resolvi pentear meu cabelo e esperar meu pai acordar, mas acabei me esquecendo de que hoje era sábado e ele não trabalhava, por isso ele não iria acordar tão cedo. Ao invés de eu ser alguém normal e assistir televisão eu fui me sentar na poltrona de frente para a janela, abri as cortinas e um fraco raio de luz tomou conta do meu quarto, me sentei na poltrona e observei o amanhecer. Este era bem mais bonito visto daqui, lá em casa era vazio, rodeado por nuvens de chuva e poluição, mas este não, era cheio de vida, logo seus raios alaranjados tomaram conta do meu quarto e mesmo parecendo uma manhã fria este sol esquentava, pouco, mas esquentava e era uma sensação boa, realmente boa.

O carteiro passou lá pelas oito horas da manhã, fui correndo pegar o jornal para ver os empregos diponíveis, queria trabalhar um pouco, não começaria a faculdade aqui, trabalharia um pouco e voltaria para casa, farei faculdade, comprarei uma casa e seguirei meu caminho.

Abri bem na página dos empregos, já que o resto não importava, pois não estava nem aí para o que acontece nesse finzinho de mundo, quando abri e vi realmente a folha do jornal, percebi quantos empregos estavam disponíveis, mas meus olhos recaíram imediatamente sobre o seguinte anúncio:

Serviços de Babá e Outros Empregos Simples

Começamos a pagar acima de seiscentos reais

por criança.

Contratamos pessoas somente acima de 17 anos

Obs.: O valor estipulado é por criança, pago a cada

mês, de acordo com as norma exigidas dos pais ou

responsáveis.

Venha nos procurar! Estamos no Centro da Cidade 

no número 13.

Isso era perfeito, eu adorava crianças, tinha mais de dezessete anos e este pagava bem, mas no anúncio não dizia a partir de que dia começava as entrevistas para os empregos e que horas do dia, mas achei que a hora seria pelo menos depois das dez, então decidi mentalmente que seria melhor ir hoje para fazer a entrevista, caso eu não conseguisse o emprego teria que procurar outro. Mas e se eles não abrissem nem aos sábados e domingos? Bom, neste caso, eu iria na segunda bem cedo para conseguir o emprego, não podia perder esse emprego, se não seriam horas procurando um outro emprego.

Ouvi um barulho no andar de cima, meu pai acordou e estava descendo.

- Bom dia, Mik! - Ele parecia muito feliz, como se não tivesse acontecido nada ontem a noite, bem realmente não aconteceu, mas eu temia que ele achasse outra coisa.

- Bom dia, pai. - Forcei mais um sorriso e ele retribui, mas pude perceber que o dele era sincero, diferente do meu.

- O que é isso? - ele perguntor curioso olhando para o jornal.

- Estou procurando um emprego e olha - disse apontando para o anúncio de babá - já tenho uma ideia do que quero.

- Quer ser babá?

- Sim, mas só temporariamente.

- Não quer trabalhar no hospital comigo? - Eu havia me esquecido de mencionar que meu pai é um médico e dos bons, apesar de eu não querer a mesma carreira.

- Pai eu já disse que não quero ser médica...

- Mas você só tinha sete anos! - Ele me interrompeu.

- Pai, idependente da minha idade esta é a minha decisão, não quero ser médica.

- Quer ser o que então? - Senti um leve tom de desafio em sua voz.

- Ainda não tenho certeza, mas com toda a certeza do mundo eu não vou seguir a mesma carreira que a sua.

- Você fala como se fosse uma doença sem cura. - Seu tom foi totalmente magoado.

- Pai eu não... - parei, engasgando-me com as palavras, pois ele nem sequer queria ouvir o que eu tinha para falar, saiu sem dar nenhuma satisfação. - O.K. Então estou saindo para tentar o emprego! - Gritei para que ele ouvisse que eu estava saindo, ele murmurou algo, mas não pude ouvir direito, achei que ele tivesse dito tudo bem, então simplesmente sai para a rua.

Minha casa não era muito longe do centro e não foi muito difícil encontrar o número treze, já que havia uma placa enorme indicando que era ali.

Serviços de Babá e Outros Empregos Simples

Entrei, era um local simples e limpo, as paredes eram azul-bebê e todos que trabalhavam lá usavam branco, fui até o balcão da recepcionista.

- Posso ajudá-la em alguma coisa querida? - Uma moça bonita que aparentava ter uns quinze anos a mais que eu, qualquer um perceberia que seu sorriso estava sendo forçado e que ela aparentava não gostar de trabalhar lá.

- Sim, eu gostaria onde é a entrevista para babá...

- Querida, não fazemos entrevista para babá, se você tiver mais de dezessete anos, então já está contratada! - Ela e interrompeu bruscamente e assim que terminou, sorriu mais forçado ainda. - Preencha este formulário aqui e me mostre o RG.

Peguei o formulário e comecei a preencher, quando terminei entreguei a ela juntamente com meu RG.

- Muito bem, parece que já temos uma criança.

- Mas já? - Perguntei realmente impressionada.

- Sim, querida, nós já deixamos várias crianças inscritas aqui para quando arrumarmos uma criança para esta pessoa, caso os pais já encontrem outra babá então a criança é retirada da lista de espera, agora se tivermos babás de mais e crinças de menos, então você teria que esperar até aparecer mais uma criança. - Ela disse tudo rapidamente e depois deu outro sorriso forçado.

- O que tenho que fazer pela criança?

- Aos fins de semana você só tem que buscá-la na casa dos avós ou na casa de uma amiga e durante a semana só tem levá-la e buscá-la na escola.

Fiquei surpresa que ganharia tanto para levar e buscar uma criança, mas fazer o que, não podia reclamar.

- Bom aqui está - ela pegou um papel e me entregou - o nome dela é Alícia Cathermole, os avós moram na rua de trás no número noventa e dois, entregue este formulário a eles, eles assinaram e entregaram, então você deve levá-la para casa que é na rua das cerejeiras, número dezenove. Fale para os pais ou responsáveis assinarem e você é oficialmente a babá de Alícia Cathermole.

- Obrigado - agradeci e peguei o papel.

Quando percebi já estava em frente a casa dos avós dela, bati na porta.

- Você deve ser a nova babá da Alícia, me dê o formulário, por favor. - Disse uma senhora que aparentava ter uns setenta e poucos anos, mas com saúde de uma criança de sete anos. Entreguei-lhe o formulário. - Prontinho, está assinado.

- Como sabia que eu viria? - Perguntei enquanto pegava o formulário, sei que pareci um pouco indelicada, mas tinha que saber.

- Eles ligaram me avisando, mas enfim esta é Alícia - ela colocou uma garotinha que tinha uns dez anos na minha frente, era baixinha para a idade, mas tinha o cabelo liso cor de ouro preso perfeitamente em um rabo de cavalo, seus olhos eram o mais impressionante, não tinham uma cor comum, mas eram amarelados, assim como os da avó.

- Oi! - Ela me cumprimentou com um largo sorriso no rosto e a voz melodiosa.

- Oi! Vamos? - Cumprimentei e perguntei, sem parecer impaciente.

- Obviamente. - Ela me pegou pelo pulso e foi me guiando, eu sabia perfeitamente onde era a rua das cerejeiras, mas não queria parecer indelicada então me deixei guiar pela doce menininha.

Andamos durante pelo menos meia hora, eu estava absorta em meus pensamentos, mas Alícia não parava de tagarelar, quando chegamos em sua casa, se aquilo pode-se chamar de casa, na verdade era uma mansão, todas as casas na rua das cerejeiras eram mansões.

Bati na porta somente uma vez, o que era estranho é que nem na casa da avó de Alícia nem na casa dela própria havia campainha, me perguntei como poderiam ouvir a batidas se estivessem longe, mas antes que eu pudesse me responder alguém abriu a porta e eu o vi.


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Notas finais do capítulo

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