- CEBOLINHA, VOLTA AQUI! – eu a ouvi gritar de longe, enquanto eu corria. Aquilo tudo me deu um pouco de nostalgia, porque ela esqueceu que eu não gosto mais de ser chamado de Cebolinha.

Não que eu fosse tímido ou algo do gênero. Mas eu não sabia mais o que fazer!

Ok, eu admito, eu sou tímido. Sou tão tímido que só tive coragem de beijá-la duas vezes, sendo que ela me beijou na maioria delas.

Sabe quando você tem um sentimento, mas não consegue simplesmente chegar à pessoa e falar isso? É, descobri que isso se chama timidez. E eu tenho de sobra.

Então se você me perguntar algum dia se eu já consegui esconder uma verdade por vários anos, eu não poderia dizer não, sendo que é o que eu estou fazendo nesse exato momento: escondendo uma verdade que pode mudar a minha vida e a de outra pessoa.

Essa pessoa é a que está correndo atrás de mim pelo mesmo motivo de sempre, pelo menos enquanto éramos crianças: eu roubei o coelhinho dela.

Quer saber por quê? Ontem eu tive o meu último plano infalível: começar o que eu nunca consegui terminar. Porque tudo começou com aquele coelho, e vai acabar com ele.

- QUAL É CEBOLINHA! ISSO É INFANTILDIDADE! – ela continuou gritando, enquanto eu virava na esquina de um beco. Aquele era o plano perfeito e totalmente infalível.

Se eu ainda fosse criança, eu iria pensar "Estou encurralado, ela vai pegar o coelhinho e depois me bater".

O bom era que aquele lugar perfeito para não só me encurralar, mas também encurralá-la.

Quando ela virou na mesma esquina que eu virei, ela parou de correr e deu um riso.

- Ok Cebola, o que você quer? Faz tempos que você não rouba o Sansão.

Porém, eu não respondi. Não tinha porque respondê-la, ela ia saber em breve.

- Mônica... Sabe quando você quer contar algo para alguém – algo importante – mas parece que as palavras não saem?

Eu vi as suas bochechas corarem.

- Sei... Um pouco... Por quê?

Eu cheguei perto dela e me ajoelhei, levantando o Sansão.

Mônica sorriu, porque já imaginou o que eu fosse falar. E aquele sorriso era... Lindo.

- Mônica, você quer o seu Sansão de volta?

Então o sorriso desapareceu, o que me deixou um pouco triste. Ela estava magoada?

- C-Claro... – a voz dela deu uma pequena vacilada. Ela ia chorar?

Então quando ela estava pegando o Sansão, suas mãos roçaram nas minhas, e eu me levantei. Aquele era o momento.

Eu prendi as suas mãos nas minhas e em volta do Sansão.

- Não, você só vai tê-lo de volta com uma condição.

Seus dedos apertaram mais os meus, como se ela estivesse surpresa.

- E qual seria essa condição?

Era aquele o momento, eu tinha que fazer aquilo antes que a minha coragem desaparecesse.

- Não me impedir de beijá-la.

A última coisa que eu vi antes de me inclinar foi o sorriso bobo no rosto dela.

Bobo e apaixonado. O que me fez sorrir também.

Sabe o que mais marcou naquela cena? A Mônica de um lado, eu do outro e o Sansão no meio, nos unindo. O que ele sempre fez e sempre fará.