Como era de se esperar, Baro havia sumido. Passara-se a semana inteira, e ele nem sequer dera sinal de vida. Todos os dias eu me prendia em frente à TV, esperando pelos malditos programas musicais, apenas para vê-lo, nem que fosse só mais uma vez.

A dor em meu peito não podia ser negada, meu coração doía, as lagrimas em meus olhos ficavam mais pesadas com o passar dos dias. Por mais que eu o quisesse longe, eu não podia aceitar isso. Baro sempre fora meu melhor amigo, muitas vezes ate meu único amigo. Sempre esteve presente, mesmo que somente na minha cabeça, mas...

Este novo Baro, este, possivelmente, real, Baro... Ele me fez sentir a vida real, ele me fez sentir completa, e no segundo seguinte sumiu. Então... Então isso é estar apaixonada? Como eu queria minha mãe aqui comigo, eu precisava de alguém...

E parecia que minhas preces tinham sido ouvidas, sendo interrompidas por batidas leves na porta. Respirei fundo, passando as mãos sobre as bochechas limpando as lagrimas que há pouco tempo atrás caiam. Levantei-me do sofá e corri ate a porta, com passos largos, abrindo-a de imediato, com o melhor sorriso que pude estampar em meus lábios.

-Quem é... JULIA!!! – Não consegui me segurar, pulando em seu colo. Fazia tanto tempo que eu não via minha amiga, sem nenhum sinal, nenhuma mensagem. – Achei que tivesse me esquecido! – falei manhosa, soltando seu pescoço finalmente.

-Sua dramática! Entra! – ela ria, dando as ordens como se fosse à dona da casa. Não dava para negar que Julia realmente já era de casa.

Assim que entrei em casa, seguindo a outra, fechei a porta atrás de mim. Julia olhou para a TV, e logo correu os olhos para mim.

-TV? Você? – Ela falava palavras soltas, então olhou para a cozinha. – Cadê sua mãe?

-Viajando! – dei de ombros, indo ate o sofá da sala e me atirando sobre este, sendo seguida pela mesma. – Volta daqui 03 dias! – bufei. Mesmo que ter a casa só para si por duas semanas fosse o sonho de consumo de qualquer adolescente, não era o meu. Ficar sozinha era um tanto quanto depressivo.

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Julia havia passado à tarde lá em casa, como antigamente, antes de se mudar para a casa do pai. Eu achava que estava na hora dela saber a verdade, assim como eu descobri tudo há poucas semanas... Toda a verdade sobre Baro...

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-EU DISSE QUE NUNCA TINHA NINGUEM LÁ! – Ela de repente berrou, pondo-se de pé em frente ao sofá, apontando para meu rosto.

-Não era minha culpa! – Dei de ombros fazendo uma careta, enquanto observa-a sentando-se. – Culpe... Er... Não sei exatamente a quem culpar... – Sorri sem graça, fazendo-a rir junto.

-Mas então quer dizer que você conheceu... Esse tal Baro... De verdade?! – Ela me olhou meio curiosa.

-É... – dei de ombro, voltando minha atenção a TV na minha frente.

-E... – Ela começara a me cutucar para que eu continuasse. Se eu bem conhecia Julia, ela me incomodaria pro resto da minha vida, ate eu terminar este assunto. Mas algo em mim não se sentia pronta para falar para ela que Baro se tornara um membro desses grupos que tanto passam na TV.

-E eu não quero falar sobre isso...

-AH VOCÊ VAI FALAR SIM!!! – Ela tirou o controle da minha mão, desligando a TV.

-Me devolve! – disse desesperada. O programa de musica já ia começar, mas eu não queria falar, só que minha língua fora mais rápida que meus pensamentos. – Daqui a pouco o programa começa e eu quero ver o Baro! – arregalei os olhos, ponto minhas mãos em frente a minha boca.

-Hã? – Julia demorou a entender, então olhou para a TV desligada e para mim, com os olhos arregalados e uma expressão fascinada no rosto. – BARO É UM FAMOSO?

Senti minhas bochechas corarem, os cabelos da minha nuca se arrepiarem, e meu coração parar por alguns segundos. Encolhi-me o máximo que consegui, querendo fazer minha cabeça sumir entre meus ombros, se possível meu corpo inteiro sumir dali.

-Sim e não. – disse baixo.

-Como assim?

-Ele acabou de debutar... Então ta ficando famoso...

-Aaahh... Mas então quer dizer, que a pessoa que seu subconsciente gerou, é um garoto famoso? – Ela começava a se perder em pensamentos, religando a TV. – Você ta ciente que nunca mais vai vê-lo de novo, né? – Ela disse com um sorriso fraco no rosto, sem mostrar os dentes, com as sobrancelhas erguidas, como se dissesse “sinto muito” de um jeito engraçado.

-Obrigada por me lembrar da coisa que eu menos quero me lembrar...

-Disponha! – ainda teve a cara de pau de sorrir debochadamente, me fazendo tocar uma almofada em seu rosto. – Mas me responda uma coisa... – ela hesitou, então a olhei incentivando que continuasse a falar. –... Você disse que ele seria sua... Qual palavra você usou mesmo?

-Alma gêmea? – disse sem o mínimo de animo possível em minha voz, fazendo-a segurar o riso.

-Exatamente... Então este Baro seria sua alma gêmea, certo?

-Mais ou menos isso... A onde você quer chegar?

-Você gosta dele? – um sorriso inocente surgiu no rosto de Julia. Aquele sorriso que ela sempre dava quando eu falava de algum menino que eu achasse bonito. Ela adorava ouvir minhas historias, mesmo que sem sucesso, de amor.

-Hm... É... Uh... Mm... Aah... – Eu fiquei sem fala, as palavras sumiram da minha língua e pensamentos. Eu não tinha parado para pensar nisso ainda. – SEI LÁ! – soltei um grito muito agudo, fazendo não só ela, como eu também, fazer caretas de dor.

-Eita... Resolveu virar homem e trocar de voz? – ela riu, me fazendo fazer uma careta em resposta. – Mas não muda de assunto!

-Quem mudou foi você...

-De qualquer jeito...

-O que?

-Não começa... Me responde! – ela começou a ficar nervosa. Eu adorava enrolá-la nas palavras quando não queria responder algo.

-Responder o que?

-Você gosta dele, né? – Dessa vez ela foi direto a pergunta. Assustei-me por alguns segundos. Não soube como reagir.

Meus olhos se prenderam eu seu rosto, enquanto piscavam freneticamente. Meu corpo se enrijeceu, e eu senti as forças das minhas pernas e braços sumirem. A única coisa que podia sentir em mim, ainda, era as palavras querendo ser jogadas para fora dos meus lábios. “Sim”.

Na verdade eu não sabia a resposta, nunca tinha pensando nisso, passei tanto tempo vendo Baro como um irmão...

-Talvez. – disse desviando o olhar para a TV, onde o programa de musica acabara de começar.

-AH QUE LINDO! DEPOIS QUERO SABER TUDO QUE ACONTECEU...

-QUIETA! – interrompi-a, tentando ouvir o que os apresentadores falavam.

-... Enquanto estive fora... – ela terminou a frase mais pra si do que pra mim, fazendo um pequeno sorriso surgir no canto dos meus lábios. – Mas você vai me mostrar quem ele é?

-Se você ficar quieta!