Ryan e Sean subiam as escadas para a sala de estar do prédio, apressados. Era começo da noite ainda, por volta das 7 horas e o The Night só abriria mais tarde. Eles ouviam os gritos abafados de Megan e isso não era uma boa coisa. Os dois abriram as portas e Megan olhou para seu irmão com uma suplica plantada em seu rosto.

- Diga para Sean ir no meu lugar! – a morena gritou.

 Leah também estava na sala, sentada no sofá vermelho, com os olhos nas mãos postadas em cima de suas pernas.

- Seu irmão não vai ter o mesmo resultado que você nessa missão. – Lucius disse.

- O que esta acontecendo? – perguntou Sean.

- Papai quer que eu vá a Paris, cuidar de um seqüestrador, em um cassino da cidade. Ele quer que eu leve Leah comigo, porque na cabeça dele nós podemos seduzir um psicopata! – a morena gritou a plenos pulmões.

Os dois garotos congelaram não acreditando no que o chefe deles queria que suas duas garotas fizessem. Megan andava de um lado para o outro, irritada

- Sua irmã acha que eu estou ficando louco, Sean. – Lucius disse, quando o filho e seu amigo caminharam pela sala.

- E o senhor esta! – Megan voltou a gritar. – Ela não esta pronta, Leah acabou de começar as torturas e só teve um dia de treino com Sean. Ela mal sabe segurar uma arma e nem treinou com facas. Ela não sabe lutar ou se defender. Ela vai ser morta, e eu vou ser arrastada ou culpada junto dela quando isso acontecer! Leah não esta pronta para uma missão de campo desse calibre!

- Não é você que decide isso, Megan. – Lucius voltou a dizer. – Leah vai para essa missão, e você vai ensiná-la, querendo ou não.

O telefone de Lucius tocou e ele pediu licença a todos, dizendo que teria que ir, já que tinha uma reunião. Megan continuou andando de um lado ao outro, tão nervosa como no dia anterior. Leah não havia dito uma palavra para a morena desde que descobrira o que tinha feito, e Megan achava aquilo uma traição.

- Megan... – Ryan começou sem saber o que dizer.

- Não! Eu não acredito que ela vai comigo, eu vou levar o dobro de tempo nessa missão! O dobro! E vai ser uma grande perda de tempo! – a morena disse, saindo pela porta da sala e descendo as escadas.

Leah também se levantou, mas ao contrario da morena, a loira foi para seu próprio quarto. Sean e Ryan respiraram fundo, cada um segundo uma das garotas.

**********

Ele bateu na porta, ouvindo seus passos dentro do quarto. A voz dela pediu para quem quer que fosse entrasse e ele não recusou o convite.

A loira arrumava suas coisas para a missão que ela mesma não queria ir, mas que percebeu não ter outra escolha senão abaixar a cabeça e obedecer.

- Veio aqui para me dizer que sua irmã esta certa ou para dizer o quanto eu sou estúpida por não ter dito nada? – a garota perguntou brava.

- Nenhum dos dois. – o moreno respondeu.

Leah o encarou com os olhos semicerrados, desconfiando de Sean mais do que nunca naquele momento.

- Minha irmã esta errada, acho que você deveria ir nessa missão. Vai te ajudar a ver como funcionamos e onde você esta mais fraca para que melhoremos seu treino. – Sean disse se aproximando mais da garota.

Ela por sua vez, congelou no lugar em que estava, observando os movimentos dele. Seus corpos se colaram rapidamente, o peito dela subindo e descendo descompassadamente, com as batidas aceleradas de seu coração.

- Não ligue para o que minha irmã, diz a você. Eu te treinei lembra? Sei que você vai se dar bem, apesar de ainda não estar totalmente pronta. – o moreno murmurou, baixo apenas para que a garota pudesse ouvir.

- Como sabe que eu não farei uma idiotice no meio da missão, como sabe que eu voltarei inteira? – ela perguntou.

- Porque você tem um dom natural que eu nunca vi antes. Ser uma assassina esta em seu sangue, você vai saber o que fazer quando chegar a hora. – ele respondeu.

A garota acabou por aceitar as palavras e o corpo do garoto perto demais dela, ela até aproveitou cada segundo que aquela proximidade existia, já que sabia que não seria eterna. Isso é claro se não fosse apenas um leve e inebriante sonho. Se fosse o caso do ultimo ser verdade, ela esperava com todas as forças jamais acordar.

Ela podia mentir para as pessoas e dizer que não sentia nada por ele. Podia dizer que seus olhos não eram como a misteriosa e profunda escuridão da noite tão belos e secretos. Podia dizer que sua beleza não era exótica, e que sua voz não era totalmente sexy e que não a acalmavam. Mas seria tudo uma pura mentira. Leah tinha se apaixonado pelo ultimo garoto com quem ela pensara estar, e depois do que tinha acontecido em seu passado em Nova York, ela se perguntava se aproximar do garoto era mesmo uma boa ideia.

No entanto, quando olhava para ele, ela não tinha como negar que aquela era a melhor ideia que já havia tido em sua vida.

- Espero que você esteja certo, não quero voltar machucada para cá. – ela disse. – Afinal, tenho motivos suficientes para me manter viva e saudável agora.

O moreno sorriu, se afastando dela de uma hora pra outra. A garota teve vontade de segurar seu braço e impedi-lo de ir, mesmo assim se conteve, achando que aquilo seria um movimento exasperado de sua parte.

Sean saiu do quarto, da mesma forma que havia entrado. Sem motivos e sem explicações, levando apenas uma parte do coração da garota junto com ele.

**********

Ryan chegou ao The Night cansado naquela noite, ele havia passado as ultimas horas com Megan, que tinha recusado se juntar ao namorado e ao irmão na festa daquela noite. O ruivo fez os mesmos movimentos de sempre, subindo para o segundo andar, onde tinha a intenção de começar um jogo de pôquer para se distrair.

O ruivo passou pelo bar, pegando sua bebida preferida e procurando Sean pelas mesas de pôquer. Ele queria ganhar algum dinheiro do amigo, essa noite. No entanto, não foi nas mesas de pôquer ou de jogos que Ryan encontrou Sean.

O moreno estava em uma das mesas particulares e reservadas do segundo andar, bebendo sozinho, com o olhar vago e pensativo. Aquela não era uma atitude comum para o moreno. Ryan se aproximou desconfiado, se sentando na frente do amigo, que não lhe deu atenção primeiramente.

- Então, vai me dizer por que não esta jogando? – Ryan perguntou.

- Quase beijei Leah hoje. – Sean disse, tomando um gole de sua bebida.

- Quase? – Ryan perguntou. – Por que você ficou apenas no quase?

- Eu não sei. – o moreno disse.

- Qual é, Sean? Vai ficar com joguinhos agora? – o ruivo perguntou.

- Lembrei do treinamento, ta bem? Lembrei de Jessica, da dor de perdê-la. Ou seja, lembrei de tudo o que me ensinaram a ser, e a esquecer. Não queria voltar atrás, parecia duro demais. – o moreno disse, parecendo inconformado e confuso pela primeira vez em anos. – Eu não consigo ficar longe dela, e eu odeio isso.

Sean virou a bebida inteira, de uma vez só. Tentando inutilmente tirar aquele sorriso de seu rosto.

- Quem diria Sean Black apaixonado. – Ryan disse.

- Eu juro que vou socar você se disser isso de novo. – o moreno ameaçou, fazendo o amigo rir.

- Só estou dizendo a verdade, você mesmo disse que não consegue esquecê-la. Porque ainda teima com esse assunto? – o ruivo perguntou.

- Ahn, você por acaso se esqueceu o que aconteceu com minha ultima namorada? – Sean perguntou.

- Não, eu não esqueci. Mas não quer dizer que dessa vez seja igual. Cara, a Leah sabe se cuidar, mais um motivo para saber que isso não acontecera de novo. – o ruivo disse.

- Não quero arriscar. – o moreno disse.

- Eu me arrisquei com sua irmã. – Ryan rebateu.

- Sim, mas você nunca teve que ver sua namorada morrer. – Sean rebateu, rudemente.

Ryan levantou as mãos, em sinal de desistência.

- Só estou dizendo, que talvez se arriscar com Leah, seja a melhor coisa que você faça. – o ruivo disse.

Sean revirou os olhos, respirando fundo.

- Não estou com clima pra festas hoje. – disse o moreno se levantando. – Vou embora.

- Esteja à vontade, vou jogar um pouco. – Ryan disse.

- Só não acabe com todo o dinheiro do caixa de uma só vez, esta bem? – pediu o moreno, e seu amigo riu.

- Não prometo nada.

O moreno saiu do clube, esperando alguns poucos minutos até seu carro aparecer em sua frente e o motorista lhe dar espaço na frente do volante. Ele dirigiu rápido até seu apartamento, chegando lá como se fosse uma tempestade de inverno, pronto para acabar com tudo.

O garoto se jogou em sua cama, nem se importando em tirar algo alem da camiseta e dos sapatos. Com a cabeça perdida entre os travesseiros, ele contava as batidas do relógio para o dia clarear, sem sentir o sono lhe invadindo as pálpebras.

Sean ouviu quando Ryan chegou na casa, e se recolheu em seu quarto. Mas nem isso tranquilizou seus pensamentos, não era no amigo que sua mente estava.