Megan andava de um lado pro outro na sede da organização, suas mãos nas costas, uma arma postada em uma delas. A morena estava aturdida, parecia que seu humor nas ultimas horas não saia disso e ela não suportava aquilo. Aquela sensação de fraqueza, de calor, de ódio que a consumia.

Tudo por causa daquela noite no The Night. Foi à pior festa de Sean, na opinião de sua irmã, mas não por causa do clima no lugar, o qual estava ótimo. E sim pelo deslize de certa garota que a morena pensou poder chamar de amiga. Como ela estava errada.

Afinal, a loira não passava apenas de seu trabalho. Era apenas por isso que Ryan, Sean e Megan haviam entrado na vida de Leah, pelas ordens inquestionáveis de Lucius.

O problema, o grande problema. É que Megan via quando ela e sua família começavam a se importar com a loira. Ela tinha plena consciência disso, e por um simples momento, ela deixou. Ela esqueceu seu trabalho, e começou a se importar.

Do que adiantou eu me importar? Eu pegar leve com ela? Apenas para ela mentir na minha cara e beijar meu namorado? Acabar com a festa do meu irmão? Megan pensou.

Seu irmão... Ele tinha levado Leah para casa na noite passada. E ele estava sentindo algo pela garota, Megan sabia disso, ela podia sentir a afeição mínima que seu irmão tinha pela loira. O que para ele, já era um grande e terrível avanço.

Megan sabia que ele nunca admitiria e que ele lutaria até o ultimo momento por aquele sentimento, mesmo sendo real e cada vez ficando maior. A morena sentia pena por seu irmão, afinal. Ele já tinha sofrido demais por amor e ela não queria vê-lo machucado mais. Por isso ela jurou a si mesma, lutar para mudar a cabeça de seu irmão até o ultimo minuto. Mesmo sabendo que ele a odiaria por isso, era o melhor para ele.

Era estranho o quanto Megan se sentia responsável por Sean, mesmo ele sendo um ano mais velho que ela. A morena sentia que precisava fazê-lo se sentir melhor, precisava devolver a ele um pouco dos cuidados e da segurança que ele sempre transmitira a ela em sua infância, quando sua mãe não esteve mais entre eles.

A porta de ferro se fechou com um ruído alto, e Megan parou, de costas para a intrusa ali. A morena apertou o cano da arma, mas a loira não recuou.

- Vai me contar o motivo de estar zangada comigo? – Leah perguntou.

- Não, eu prefiro te torturar, enquanto você não lembra do que aconteceu. Assim eu posso fazer o que quiser, enquanto você não começa a pedir desculpas. – Megan disse.

- Tudo bem, como você quiser. – a loira disse, sentando-se na desconfortável cadeira de madeira, no centro da sala suja.

Megan a prendeu com grossas faixas de couro, firmes e fortes, a loira não podendo mais se mexer. Então a morena saiu da sala, e deixou que Scott entrasse, já que ele era o especialista naquele treino.

A morena se encostou na parede de pedra úmida, ouvindo com louvor os gritos de Leah, enquanto ela enfrentava seus maiores medos e enquanto ela sofria uma das técnicas que varias outras organizações usavam para arrancar informações.

Logo Megan ouviu passos na escada, e se surpreendeu ao ver seu irmão. Ele odiava descer até o porão.

- O que faz aqui? – perguntou a garota.

- Vim ver como você esta. – o garoto respondeu.

- Veio ver a mim, ou a traidora lá dentro? – a morena perguntou, desconfiada.

- Por favor, Megan, já me basta o Ryan me irritando sobre esse assunto, você também não. – Sean disse, se encostando na parede ao lado da irmã, cansado de tudo aquilo.

- Ta, desculpa. Eu esqueci o quanto você é teimoso nesse assunto em particular. Mas como sempre eu fui proibida de falar sobre isso. – Megan disse, revirando os olhos.

Sean não disse nada a irmã, ele não gostava de discutir com ela.

- O que você vai fazer com Ryan? – o moreno perguntou. Megan riu.

- Ah, ta ai o motivo de você descer. Ryan te mandou, não é?

- Olha, eu vim aqui por vários motivos, todos eles por causa de você. Porque eu estava tentando ser um bom irmão, e te fazer companhia, agora se você vai ficar com essa atitude eu subo e começo a fazer meus planos pra essa noite com Ryan. A escolha é sua. – Sean disse.

Megan considerou as palavras do irmão e suspirou.

- Ta bem, foi mal. Mas você entende meu ponto, não é Sean? Quer dizer, eu tenho motivos de estar brava com essa garota idiota e com o Ryan que não passa de mais um galinha. – Megan disse, irritada.

- Não sei quanto a essa ai. – disse Sean, indicando a sala e os gritos dolorosos de Leah com a cabeça. – Mas, Ryan gosta de você, muito. E ele não te trairia com qualquer uma.

Megan não disse nada, olhando para os degraus de pedra com um olhar confuso.

- Vá falar com ele. – Sean aconselhou, batendo seu ombro no da irmã. – Eu fico de olho no seu serviço.

A morena sorriu, concordando e subindo correndo as escadas até os quartos onde ela sabia que poderia encontrar o ruivo.

Ela bateu na porta cinza dele e entrou, ele estava com fones no ouvido e a morena podia jurar que ouvia o rock pesado que ele escutava de longe. Ryan jogava uma bolinha vermelha para o teto, a pegando novamente quando ela voltava, parecendo absorto em seus pensamentos.

Demorou alguns segundos para que o ruivo percebesse a presença da morena em seu quarto. Megan fechou a porta atrás de si, e o olhou sem uma emoção se quer pairando em seu rosto.

Ryan respirou fundo, prevendo a briga que aconteceria. O ruivo se sentou, tirando os fones e deixando sua brincadeirinha de lado. Megan deu alguns passos em sua direção, mas parou não tendo coragem de quebrar toda a distância entre os dois.

- Se você soubesse, o quanto eu estou lutando para não puxar minha arma nesse momento e dar um tiro em sua cabeça e depois acabar com aquela garota... – a morena disse, tentando não gritar, apesar de sua voz estar coberta de ódio e mágoa. – Se você soubesse, o quanto eu quis matar você naquele momento, e se não fosse por Sean eu realmente teria feito, mesmo que eu me arrependesse até o fim de minha vida... Eu teria feito... Afinal você conhece minha história e a de meu irmão, você sabe como nós sofremos e eu sei que sua vida também não foi fácil. Mas no quesito amor, eu e meu irmão temos o pior histórico. Sabe quanto eu demorei para ficar com você! E você simplesmente faz uma coisa daquelas! Eu não entendo o quanto você foi fraco! O quanto você se deixou levar pelo papo furado daquela garota! – nesse momento a garota já estava em lágrimas, gritando a plenos pulmões e se deixando levar pelo momento.

Ryan se levantou, se aproximando dela e a abraçando. Megan se deixou chorar por alguns momentos entre aqueles braços que lhe traziam tanta segurança. No entanto, se lembrou da raiva que sentia e o afastou.  

- Não! Eu não vou simplesmente aceitar você assim tão fácil! Você quebrou minha confiança, Ryan! Magoou-me e muito ontem à noite! E você simplesmente não se importa! – a morena gritou.

- Quebrei sua confiança?! – o ruivo perguntou, com a voz alta e incrédula. – Você ao menos sabe o que aconteceu, Megan?! Ao menos sabe o quanto Leah bebeu na noite anterior?! Ou será que o seu ciúme e sua raiva te cegaram?

- Vai defender ela agora?! Ryan o que deu em você?!

- Não, Megan! O que deu em você?! – Ryan gritou, fazendo a morena o ouvir. – Você esta colocando a culpa em mim, andando por ai com raiva de todos! Mas você se lembra de quando nós éramos os novatos?! Quando éramos nós que tínhamos que aturar as dores no corpo e toda a insegurança! Eu não dancei com ela na noite passada Megan, eu também não bebi com ela na noite passada. Eu estava de cabeça quente ontem à noite, e eu teria ido embora! Se ela não tivesse me puxado para a pista e se ela não tivesse me beijado. Mas não porque ela queria, e sim porque ela não tinha controle do que estava fazendo!

O ruivo virou de costas para uma Megan confusa e procurou em sua gaveta por alguma coisa. Ele se virou, com um olhar mortal, e passou pela morena, colocando um DVD em sua mão.

- Você precisa de provas para acreditar em mim, eu presumo. – Ryan disse. Ele saiu do quarto, batendo a porta com força ao sair.

Megan não sabia o que pensar daquilo, com o DVD em suas mãos. Era como se Ryan a tivesse testando e naquele momento ela se sentia uma idiota por não ter acreditado nele, por ter gritado com ele por uma coisa tão boba.

O ruivo tinha razão, a culpa não tinha sido sua e de alguma maneira Megan sabia que não tinha sido de Leah também. Ela mesma já tinha magoado pessoas demais e feito besteiras demais por causa da bebida.

Os dois estavam de cabeça quente, na verdade, todos eles estavam. Era isso que o trabalho fazia com eles, matar não era tão fácil como eles imaginavam.

*********

Ryan desceu os degraus do porão e pegou Sean pelo braço. Puxando o amigo surpreso pela escadaria e saindo do prédio.

- Ryan, o que aconteceu? – Sean perguntou confuso, ao chegar em seu carro.

- Plano 14. – Ryan disse simplesmente.

Sean riu, imitando os movimentos do amigo, quando entraram cada um em seu carro. Os dois saíram com pressa do prédio, aquele era o dia de folga dos dois e não havia nada que os prendesse na sede. Não havia nada nem ninguém que os prendesse aquela cidade, naquela tarde.