Capítulo 31.

“A ADVERSIDADE DESPERTA EM NÓS CAPACIDADES QUE, EM CIRCUNSTÂNCIAS FAVORÁVEIS, TERIAM FICADO ADORMECIDAS.” - Horácio

PDV Isabella Swan Cullen

O dia da apresentação de balé da Nessie chegou mais rápido do que imaginei. Desde a confusão na casa dos meus sogros, eu não havia visto Jasper e nem falado com ele. Edward apenas ligou pra avisar o dia e horário da apresentação, mas não perguntou nada.

Agora, já na escola e vestida com sua roupa de balé, Nessie pipocava no chão inquieta e com olhos esperançosos e grandes procurando por rostos conhecidos em meio à multidão.

- Filha, fica quietinha senão não consigo pintar seus olhos. – pedi pela quarta vez.

- Tô nevosa, mãe.

Fez um beicinho lindo. Não resisti. Beijei sua bochecha gorduchinha e a abracei com um sorriso imenso nos lábios. Essa garotinha era meu presente mais valioso e amado.

- Não fica nervosa. – falei calma – Você treinou a apresentação com a professora e suas colegas e treinou comigo em casa, já sabe tudo direitinho. Vai estar linda lá no palco.

- E se ninguém apalecer pa me vê dançá?

- Como assim ‘ninguém’? Seu pai e eu somos o quê? – fingi irritação.

- Ai, mãe. – revirou os olhos e suspirou fundo, depois tocou meu rosto docemente – Você e o papai já estão aqui. Eu tô falando os outos. A vovó e o vovô ainda não chegalam. E nem o Gui, o tio, a tia e o outo tio.

- Eles já devem estar chegando. Lembra que seu pai foi atender uma ligação lá fora? Talvez tenha sido um deles ligando pedindo onde vamos estar sentados pra ver você dançar.

- É. – suas mãozinhas se remexeram e ela olhou para os lados antes de me encarar outra vez – Mamãe?

- O que, filha?

- Será que o tio Jasper vai vê eu dançá? Selá que ele vem?

- Claro que sim. Seu pai avisou o horário pra ele e ele confirmou que viria; deve estar chegando daqui a pouco também.

- E minha tia Alice?

Era essa a pergunta que eu não queria ouvir. Simplesmente porque eu não sabia o que responder. Como dizer para uma criança de quatro anos que a tia não suporta olhá-la porque a mãe dela dormiu com o ex-namorado da tia? Era demais pra ela escutar. Respirei fundo antes de tentar justificar as atitudes de Alice.

- Eu não sei se ela virá, filha. Sua tia não gosta muito da mamãe e prefere ficar longe. – fiz um beicinho semelhante ao que ela fez antes – Sinto muito por isso. Sei que você gostaria que ela viesse, mas acho que ela não vai aparecer.

- Tudo bem.

Era óbvio que não estava tudo bem. Nessie adorava nossa família e queria todos por perto, compartilhando seu esforço no balé, suas pequenas realizações... Era incrível como ela era amorosa, carinhosa e compassiva. Minha filha era um anjinho, um ser amado e cheio de boas qualidades. Queria que isso nunca mudasse!

- Tio!

Ela gritou e se afastou correndo de mim. Olhei na direção em que ela correu e vi Jasper sorrindo para ela. Ele se ajoelhou esperando que ela se atirasse em seus braços. Quando ela o fez, ele a abraçou em resposta e beijou sua bochecha. Ficaram alguns segundos abraçados, com os rostos próximos um do outro, até que Jasper a pegou no colo e se levantou vindo em minha direção.

- Oi, Jasper. – eu disse.

- Oi, Bella. – me beijou no rosto – Como está?

- Bem. Tentando maquiar uma borboletinha que não fica quieta um minuto.

- Ah, mas minha sobrinha borboleta vai ficar bem quieta agora. Precisa estar lindíssima para dançar daqui a pouco.

Com as palavras dele, Nessie sorriu completamente feliz e concordou num aceno. Nessie adorava Jasper. Eu achava isso surpreendente já que era o tio com quem ela menos tinha contato. Mas adorava vê-la com ele. E nesses últimos tempos, Nessie sempre trazia um sorriso ao rosto de Jasper, o que era ótimo em vista das circunstâncias.

- Filha, fecha o olho. – pedi.

- Tá.

Enquanto Jasper a segurava, pude terminar de maquiá-la e outra vez arrumei seu coque no cabelo. Ele ficava elogiando ela toda, falava do cabelo com brilho espalhado pelos fios, a saia verde que usava, as sapatilhas combinando...

- Você viu o Edward lá fora?

- Sim. Ele pediu pra te avisar que já vai entrar. Está esperando o Carlisle estacionar o carro.

- O Emmett veio com eles?

- Não sei, acho que não. – Jasper riu baixinho – Emmett sempre se atrasa pra essas coisas, Rose vai matar ele quando o Gui começar a ter jogos de futebol e ele chegar atrasado.

- Vai mesmo. – concordei com ele, depois mudei de assunto – E você veio sozinho?

- Sim. Saí de casa.

- Quando?

- Naquele dia que aconteceu aquela loucura toda na casa do Carlisle. – deu de ombros e olhou para Nessie, roubando um beijo dela – Depois a gente conversa melhor.

Claro que ele não falaria na frente da Nessie. Mas ele teria que contar o que aconteceu, Jasper era um homem maravilhoso para ser deixado sozinho e não ter muitos amigos com quem contar.

- Chegamos! – Esme anunciou.

Nessie soltou um gritinho animado, se mexeu para Jasper soltá-la e correu para pular no colo da avó. Esme a acolheu com extremo amor, como sempre faz com ela. Os outros estavam chegando também, Carlisle vinha logo atrás e elogiou minha garotinha, fazendo-a sorrir ainda mais contente.

- Olha se essa bailarina não é a mais linda dessa escola! – disse orgulhoso – Oi, gatinha.

- Oi, vovô. – abraçou ele e o beijou no rosto.

- Você está linda, querida.

- Obligada.

- Está pronta para dançar muito?

- Sim. – bateu palmas animada com a ideia – Mamãe dançou comigo em casa, já sei tudinho.

- Você andou dançando, Bella? – Esme pediu sorridente.

- Ai, nem me fala. – revirei os olhos e ri – Tive que dançar com ela pra ajudar a gravar a coreografia. Edward chegava em casa e estávamos dando piruetas na sala.

- Deve ter sido bem divertido. – Rose disse.

- Ah, se foi. – Edward chegou dizendo e me abraçou, encarou Nessie com carinho e depois olhou em meus olhos – As duas bailarinas mais lindas que já vi na vida.

- Bobo. – acusei ficando envergonhada pelo seu comentário.

- Só falei a verdade. – deu de ombros e olhou para Nessie – Pronta, filha?

- Sim, papai.

- Vamos levar você lá atrás pra ficar com a sua turma e vamos sentar logo.

Ele tomou a frente em conduzir o pessoal até os seus assentos já reservados e depois nós dois levamos Nessie para a professora. Nos despedimos e desejamos boa sorte pra ela... Era ótimo saber que ela estava fazendo algo que gostava tanto, Nessie era linda vestida de bailarina.

Nos acomodamos ao lado dos familiares. Jasper ficou sentado ao meu lado e num instinto carinhoso, toquei seu braço, sorri e beijei seu rosto. Sei que muito do que ele enfrentou ultimamente tem ligação direta com o meu passado, mas nós dois estávamos decididos a deixar isso no passado e nos aceitar como somos. Alice o perdeu, mas eu não permitiria que a família Cullen o perdesse. Jasper era bom demais para se deixar afastar de toda a família.

A apresentação começou e a turma de Nessie apareceu no palco, todas graciosamente arrumadas com seu maiô preto e as saias de tutu coloridas. Nessie acenou para nós e sorriu, mandou um beijo e se concentrou na coreografia. Bati muitas fotos para registrar o momento, não poderia deixar passar essa oportunidade. Errou pouquíssimos passos da coreografia, mas não se deixou abalar e não perdeu o tempo da dança.

Foi linda. Meu bebê estava crescendo... Minha pequena sementinha, feita num momento de amor e entrega total, agora vestindo uma saia de tutu, dançando graciosa e sorridente. Era maravilhoso poder trazer à vida alguém tão brilhante, uma pessoinha graciosa e facilmente apaixonante como ela.

Tocada pelo momento, peguei na mão de Edward e apertei um pouquinho. Ele sorria quando me olhou, rapidamente seu sorriso esvaneceu.

- Por que está chorando, amor? – pediu num sussurro preocupado.

- Nada. – meus lábios estremeceram.

- Como nada? Você está chorando!

- Só fiquei pensando em como a gente fez uma criança tão perfeita como Renesmee. – dei de ombros e fui abraçada por Edward – Ela é maravilhosa.

- Sim, ela é. – sorriu, beijou meu rosto – E é nossa filha, nosso bebê. Ou nossa pequena bailarina, já está grande para chamar de bebê.

- É. – ri em meio ao choro.

Ele me manteve acolhida em seus braços durante o restante da apresentação. Aplaudimos de pé; Edward derramou algumas lágrimas e eu estava em pedaços. Mas foi bom chorar, eram lágrimas de alegria, minha filha merecia isso.

Saímos de lá e levamos Nessie comer pizza. Todos a elogiaram e se divertiram muito. Jasper sorriu tanto que ficaria com dor nos músculos da face. Sorriu como há muito eu não o via sorrir. Fiquei feliz por tê-lo conosco, era bom ele se divertir senão iria enlouquecer.

A noite terminou com todos se despedindo nos carros e indo para suas casas. Fomos para casa e Nessie dizia em voz alta tudo o que aconteceu nos bastidores da apresentação, encantada com esse mundo novo que se colocava diante dela.

Já em casa, dei banho em Nessie e a coloquei na cama, dormiu em poucos segundos. Edward me esperava no quarto para tomarmos um banho demorado juntos. Claro que fui. Não poderia negar nada que ele me pedisse.

PDV Narrador

Em algum lugar da cidade, o homem olhava o envelope amarelo que lhe foi entregue. Fotos de uma família bonita e feliz. Fotos de uma menina pequena com um sorriso amável. Sabia o que tinha que fazer. Já havia sido instruído do que era para ser feito e já havia recebido metade do pagamento, faltava agir.

Confirmou se tudo estava pronto. Cabelo arrumado, roupa adequada, arma presa na cintura, balas extras, algemas... Jato preparado e abastecido... Documentos falsos... Local reservado... Tudo estava pronto. Era hora de fazer o que tinha que fazer.

Pegou o telefone do bolso da calça e discou o número da cliente que lhe entregara as fotos. Tocou quatro vezes antes de ela atender a chamada.

- E então? – ela pediu – Tudo pronto?

- Sim.

- Vai ser hoje?

- Sim, liguei para avisar que estou saindo de casa agora. Seu pedido será atendido ainda hoje.

- Certo. Ótimo. – ela disse excitada.

- Vou sair ainda hoje daqui e estarei cuidando de tudo lá fora.

- Nos falamos pelo telefone. Quando tiver a confirmação do seu trabalho, faço o depósito do restante do valor.

- Claro. – ele sorriu – Ligo assim que o jato pousar. Tchau.

Saindo de seu apartamento, ele foi com seu carro em direção à faculdade onde começaria a colocar seu plano em ação. Primeiro a mãe, depois a filha...

A bela mulher de cabelos marrons saiu da faculdade e se despediu dos colegas que a acompanhavam, eles seguiram outra direção, ela ia em direção à calçada para chamar um táxi. Esperou até que os colegas dela estivessem longe para não levantar suspeitas. Desceu do carro e caminhou lentamente até ela.

- Isabella Cullen? – ele pediu ao aproximar-se.

Ela virou para encará-lo. Estava muito bem vestida e sorria um pouquinho, tinha um rosto bonito e sereno. Franziu a testa ao não lembrar-se dele.

- O senhor me chamou?

- Sim. A senhora é Isabella Cullen, não é?

- Sou. Por quê?

- Venha comigo. – pediu estendendo a mão.

- E por que eu iria?

Seus olhos indicavam sua cautela. Ela olhava para os lados tentando achar alguém para socorrê-la. Para desespero dela e sorte dele, não havia ninguém por perto que pudesse ajudar.

- Porque sei tudo sobre você. – ele disse sério e afastou a jaqueta de couro pra que ela enxergasse a arma presa na cintura – E tenho ordens para levá-la daqui. Se resistir, terei que usar a força bruta. Sugiro que me acompanhe.

Ela ameaçou correr, mas ele a segurou pelo braço. Com o corpo colado ao dela, pressionou o revólver em sua cintura fina e a assustou.

- Vamos sair daqui em silêncio e vamos buscar sua filha na escola dela. Se não quiser ser baleada ou encontrar sua filha morta, sugiro que me acompanhe. Agora vamos entrar em meu carro, por favor.

Sua voz era fria feito gelo. Ele tinha uma satisfação interna em ser malvado. Parecia um mafioso que se alimentava da ingenuidade e fraqueza dos outros. Bella estremeceu ao entrar no carro preto com vidros escuros. Queria gritar, correr, fugir, ligar para Edward. Nada disso era possível.

Dentro do carro, ele a colocou sentada no banco de trás e algemou as mãos dela. Deu a volta e sentou-se no banco do motorista e dirigiu em direção à escola de Nessie. Fez o trajeto em silêncio, o que arrepiou os pelos da nuca de Bella. Isso não iria terminar bem.

- Chegamos. – ele anunciou em frente à escola enquanto soltava as algemas dos pulsos dela – Ouça bem, vou falar só uma vez. Tenho um homem do outro lado da rua que está preparado para atirar ao menor sinal de sua desobediência. Ninguém sabe quem ele é, o que faz aqui ou ainda que ele está com uma arma em sua mão. Não vai adiantar gritar. Você vai descer desse carro, vai buscar sua filha e vai voltar para esse carro. – ele ergueu o queixo dela e a encarou, ela viu a determinação em seus olhos – Não adianta fazer nada além do que eu mandei. Pega ela e volta pra cá. Se não fizer isso, o homem do outro lado da rua estoura os miolos da sua filha bailarina e eu estouro os seus. Está nas suas mãos como isso vai terminar.

Abriu a porta e Bella desceu cambaleando. Estava nervosa, tonta e enjoada. O pavor corria por suas veias. Queria chorar. Por que isso estava acontecendo? Não podia sequer pensar em ligar para Edward ou qualquer outra pessoa. Iria morrer se fizesse isso! Pior ainda, matariam Nessie! Ela sabia que o homem não mentira quando disse que não hesitaria em atirar. Não conhecia mafiosos e assassinos, mas viu a verdade das palavras dele refletidas em seus olhos acinzentados.

Tentando sorrir e parecer natural, andou até Nessie e a chamou para ir embora.

- Oi, mamãe. – disse sorridente.

- Oi. Como foi sua aula hoje?

Mesmo sentindo-se tonta, Bella fez questão de pegar Nessie no colo, não se afastaria dela, tentaria protegê-la com sua vida.

- Foi legal.

- Ótimo.

- O papai veio junto me buscá?

- Não, filha. Hoje vamos com um amigo da mamãe. Fique quietinha, ele não gosta muito de crianças.

Nessie não entendeu nada, mas obedeceu. Apenas disse um ‘olá’ para o homem que as esperava com a porta do carro aberta. Elas se acomodaram no banco traseiro e ele fechou a porta enquanto elas colocavam o cinto de segurança.

Depois saíram, cada vez afastando-se mais da escola, do seu apartamento, da empresa de Edward... e da cidade...