Andando lentamente pelas ruas, eu apenas aumentava o que antes era um atraso de trinta minutos. Isso, é claro, antes de eu sair de casa. Agora deveria estar em torno de quarenta e cinco minutos.
Uma semana atrás, eu nunca chegaria na escola com nem mesmo um segundo de atraso. Mas especialmente hoje, eu não era capaz de me importar com isso.
Diversos rostos desconhecidos eram vistos por mim em toda a parte. Eu os observava, imaginando como deveria ser a vida de cada uma daquelas pessoas que eu jamais veria novamente. Imaginava o que faziam da vida, se tinham filhos, se eram casados ou se amavam alguém que não podia corresponder esses sentimentos. Qual era a chance de algum deles ser completamente feliz, afinal? Nunca havia parado para pensar na felicidade ou no significado dela. Todos os dias, eu apenas via o tempo passar e continuava respirando por simplesmente respirar. Nunca pensei em uma razão para nada do que eu fazia. Apenas cumpria tudo aquilo que a sociedade julgava correto. E por sociedade, incluo meus pais.
Mas isso não importava.
Não importava porque eu estava bem ali, diante do grande portão da escola, sem nenhuma motivação para entrar lá. Sem um pingo de vontade de repetir a agonizante rotina escolar. Mas se eu parar para pensar, a minha rotina havia mudado antes que eu pudesse me dar conta. Durante todos os anos em que estudei nesse mesmo lugar, as pessoas nem mesmo se davam ao trabalho de saber o meu nome. E agora, eu conhecia pessoas. Eu até tinha sido convidada para uma festa. Uma festa!

Constatei que seria melhor não pensar na parte em que eu enchi a cara e na parte em que Sasuke socou o Sasuro... Sasari... Sarori... Enfim! Nada disso fazia sentido agora. E o que menos fazia sentido era o motivo de tudo isso estar passando pela minha cabeça agora. Isso tudo era culpa dele. Era culpa de Sasuke.
Sasuke...
Desde o dia em que eu o conheci, a minha vida inteira se transformou em algo que eu nunca pude imaginar. Algo completamente diferente do que eu estava acostumada. Não pude dizer se isso era uma coisa boa ou ruim. Eu só...
- Sakura-chan! - A voz me fez estremecer de susto. - Não vai entrar? - O homem grisalho perguntou-me com um sorriso despreocupado no rosto.
- S-sim, Jiraiya-sama. Desculpe, estou atrasada. - Eu estava definitivamente sem jeito. Especialmente porque ele não parava de encarar os seios da loira que atravessava a rua.
- Tsunade! - Ele me ignorou completamente, cumprimentando a tal loira. - É muito bom te ver. - A risada dele era presunçosa.
- Cale a boca. - Geniosa como sempre, a sensei olhou para mim com o cenho franzido. - O que está fazendo aqui? A aula já começou há uma hora!
- M-mas a senhora também só chegou agora... - Murmurei, vendo ela corar um pouco.
- Só um pouquinho! Acho que bebi sake demais na noite passada. - A loira deu uma risadinha sem graça e logo voltou com sua expressão carrancuda. - De qualquer forma, apresse-se! O segundo tempo de aula vai começar logo, logo! - Apenas assenti.

Meu rosto queimava com o olhar que as pessoas no corredor tumultuado dirigiam para mim. Desde o momento em que coloquei os pés na escola hoje, esses olhares eram frequentes. Especialmente agora, enquanto eu me dirigia ao pátio com o lanche que havia comprado em minhas mãos. Costumava agradecer muito quando o sinal do recreio soava, mas hoje, eu preferia ter ficado na sala de aula com apenas os alunos de minha turma me olhando daquela maneira. Não a escola inteira.
Me sentei em um banco vazio que encontrei no pátio. Era um lugar amplo e aberto, onde se era possível observar o céu claro e o sol brilhante. Haviam bancos espalhados pelo local, além de canteiros com flores. O pátio era considerado práticamente um jardim. Era relaxante ficar ali. Mas era impossível relaxar com quinhentos pares de olhos me encarando.
Era impossível para mim, entender o que estava acontecendo. Ninguém nunca havia me olhado antes e agora as pessoas não conseguiam tirar os olhos de mim. Isso me incomodava de uma maneira inesplicável. Cada vez mais, eu sentia como se o ar à minha volta, desaparecesse. Sentia que o ambiente estava se tornando abafado e não pude controlar os respingos de suor que caiam sobre a blusa do uniforme. Mais do que tudo, eu desejava sair daquele lugar imediatamente e ir para um lugar onde eu pudesse ficar sozinha. Me levantei, prestes à sair em busca desse lugar, quando uma mão em meu ombro me impediu. Girei meu corpo na direção daquela mão, dando de cara com uma loira sorridente.

- Ino. - Forcei um sorriso. - Olá.
- Oi, Sakura! - A animação dela era notável. Principalmente depois que ela pegou em meu braço e se sentou ao meu lado novamente no banco. - Sobre aquilo que aconteceu com o Sasuke-kun... Acho que você deveria desistir dele. - Ela ainda estaa sorrindo. Acho que ela não havia percebido isso.
- Como assim?
- Meninos violentos nunca são bons namorados. Você devia procurar outra pessoa. - Engasguei.
- O-o que você quer d-dizer com na-namorado?! E-eu não tenho nad-da com o Sasuke! - Apressei-me em explicar.
- Ótimo. - Ela sorriu satisfeita. - Não tenha. Como sua amiga, devo dizer que vocês não combinam nem um pouco.
- Você acha? - Minha voz saiu mais fraca do que eu esperava.
- Claro que acho. E não sou só eu. Todo o mundo também acha. Bom, você já entendeu. Fique longe do Sasuke para o seu próprio bem. - O sorriso ainda estava no mesmo lugar, intacto.
Não respondi. Me limitei a ficar parada, observando-a sair depois de acenar para mim. É claro que Sasuke e eu não combinavamos. Afinal, ele combinava com Karin. A namorada dele. Eu não podia fazer nada a respeito disso e também não queria fazer alguma coisa. Não tinha motivo algum para isso.

Sasuke's POV
Aquela manhã era algo completamente entediante. As horas pareciam não passar. Eu não via a hora de ir para casa e finalmente me livrar daquele inferno que as pessoas normalmente chamavam de "escola".
Encostei o ombro na parede do corredor, bocejando. Revirei os olhos automaticamente ao ver aquela loirinha irritante vir em minha direção. Eu tinha que admitir, ela era linda e tinha uns peitões, mas não compensava ficar ouvindo todas aquelas coisas sem sentido que saíam da boca dela. Me perguntava como podiam sair tantas palavras de uma boca tão pequena.
- Sasuke-kun! Eu não te vi hoje o dia todo. Cuidado, eu posso acabar pensando que você está fugindo de mim. - Ino deu uma pequena risada.
- Eu estou.
- Claro que sim! - Sua risada se estendeu. - Você é tão engraçado. Sabia que eu adoro homens engraçados? - Seu típico sorriso malicioso apareceu, enquanto ela se aproximava cada vez mais de mim e eu recuava. - Devo dizer, quando você partiu para cima do Sasori-san, eu fiquei bem assustada. Mas quando parei para pensar melhor, o que você fez foi realmente másculo e sedutor. - A loira aproximava seu rosto novamente. Pisquei algumas vezes.
- Já terminou?
- Sasuke-kun, não se faça de difícil! - Sua risada era tão alta que preenchia todo o ambiente.
Me virei de costas e saí, deixando a garota parada no mesmo local, confusa. Tive a impressão de que ela estava esperando que eu voltasse. Pobrezinha.

Não havia um único lugar em toda a escola em que eu pudesse ir sem que alguém me perturbasse. Parecia que quanto mais eu fugia da loirinha e de suas amigas, mais elas insistiam em vir atrás de mim. Felizmente, por algum tipo de milagre, depois daquela briga na festa de Ino, algumas pessoas decidiram que era melhor manter distância de mim. Aquela briga... Toda vez que eu pensava sobre esse assunto, eu não conseguia identificar uma razão para eu ter me metido naquilo. Quando dei por mim, já estava esmurrando o ruivo com toda a minha força.
A risada irritante de Ino ecoou atrás de mim novamente. Revirei os olhos. Eu não estava com a mínima paciência essa manhã.
Entrei na primeira sala de aula que vi e fiquei agradecido por ela só ter percebido que eu havia desaparecido, quando já estava bem longe de mim. Soltei um longo suspiro e me virei para sentar-me em um canto até o recreio acabar. Foi nesse momento em que encontrei um emaranhado de cabelos rosados que pertenciam à uma garota de pele leitosa. Sua cabeça estava apoiada na mesa, então ela não devia ter notado a minha presença.
Reconhecia perfeitamente aqueles fios de cabelo. Sabia de cor o nome da dona deles. Sakura Haruno. Um sorriso presunçoso foi inevitável. Fui em direção à garota e me sentei na mesa ao seu lado. Aproximei-me dela, posicionando minha boca consideravelmente perto de seu ouvido.
- Sakura-chan. - Sussurrei.

O corpo pequeno de Sakura estremeceu e ela levantou a cabeça rápidamente, me encarando com surpresa evidente em seus olhos claros. Ela piscou incontáveis vezes, sem tirar os olhos de mim. Por fim, ela franziu o cenho.
- O que está fazendo aqui? Você, evidentemente, não é da turma B. - Ergueu uma sobrancelha.
- É claro que não. Eu sou da turma A. Afinal, eu sou inteligente demais para ficar nessa turma. - Um sorriso sarcástico tomou conta do meu rosto.
Em nossa escola, Konohagakure, as turmas eram dividias entre turma A, turma B e turma C. Na turma A, ficavam os alunos mais inteligentes que possuiam as melhores notas. Como eu. Na turma B, os alunos rasoáveis que se mantinham na média da escola. Como Sakura. E na turma C, os alunos que constantemente tiravam notas baixas. Como Naruto, Kiba e seus outros amigos idiotas que encontravam prazer em tornar minha vida escolar cada vez mais insuportável.
- Admiro sua modéstia. - Ironizou, revirando os olhos. - Mas você ainda não me disse o motivo de estar aqui.
- Sua amiguinha Ino estava me enchendo o saco, então eu precisei de um lugar seguro para me esconder até o final do recreio. - Ela parecia confusa, mas preferi ignorar isso. - Agora é a sua vez de dizer o motivo de estar aqui.
- Bem... - Sakura bufou. - Eu só não estou afim de ficar perto dos outros hoje.
- Devo considerar isso como uma expulsão? - Brinquei.
- Não! - Seu grito apressado me surpreendeu, mas um sorriso involuntário se formou em meu rosto quando seu rosto ficou avermelhado. - Quer dizer... Você pode ficar, se quiser. Não me importo. Faça o que quiser! - Ela tentava parecer brava. Isso apenas tornou meu sorriso mais largo ainda.

O sinal soou, tirando minha atenção de Sakura. Por alguns segundos, considerei a pequena hipótese de eu estar triste com isso. Não passava de uma impressão, é claro. Afinal de contas, tudo o que eu mais queria era que o recreio acabasse e depois as duas últimas aulas também. Sim, era exatamente isso.
- Vou para minha sala agora. - Declarei, me levantando da cadeira. - Te vejo por aí.
Enfiei minhas mãos dentro dos bolsos de minha calça jeans e deixei o local, sentindo o olhar de Sakura acompanhando meus movimentos.
Não prestei a mínima atenção nas aulas seguintes. Na verdade, elas passaram como um borrão. No instante em que o relógio marcou o horário de saída, eu corri até a porta, saindo o mais depressa possível. Agora, eu poderia finalmente ir para casa, descansar e...
- Sasuke, maldito! - O grito irritante me fez virar em direção ao loiro baixinho. - O que pensa que está fazendo?! Você não vai fugir hoje! - Ele se aproximava de mim com um olhar desafiador.
- O que você quer, Naruto? - Perguntei, irritado.
- Como assim "o que eu quero"?! - Naruto estava completamente indignado. - Nós vamos acertar as contas hoje!
- Contas? - Meus olhos se reviraram automaticamente. - Não tenho tempo para você hoje.
- Ah, ah! Não me diga que você vai em um encontro com aquela garota de cabelo rosa? - Seu tom de voz era malicioso.
- Garota de cabelo ros... Me poupe, Naruto! Eu tenho namorada, sabia?
- Não precisa ficar se gabando também. - A voz dele se tornou agressiva novamente. Naruto era quase bipolar.

- Que seja. Estou indo para casa. - Dei as costas e comecei a caminhar até o portão da escola.
- Espera! Sasuke! Não fuja! - Ouvi os passos dele e deduzi que ele estava correndo atrás de mim. Maravilha.
- Você não vai parar de me encher o saco, não é?! - Reclamei, parando de andar quando ele me alcançou.
- Não mesmo. No rosto de Naruto, mais um de seus sorrisos confiantes se formou. Retribuí-o com uma risada abafada e continuei meu caminho com o garoto barulhento ao meu lado. Atravessei o portão e congelei, parando imediatamente. Olhos e cabelos tão negros quanto os meus estavam bem diante de mim, acenando gentilmente em minha direção.
Ele estava ali. Encostado na parede com uma mão no bolso do casaco preto. Do outro lado da rua, ninguém além dele. A única pessoa que eu esperava nunca mais encontrar.
Meu irmão. Itachi Uchiha.