Diário de um Semideus 3 - A Última Filha escrita por H Lounie


Capítulo 22
Nada é verdade e tudo é permissível


Notas iniciais do capítulo

AYOOOOOOOOOOO FELLAS! Estamos quase no fim, yeah. Mas aí eu tive uma ideia bem bacana a partir do capitulo que mandei para Catnip e Mione Jones, bem, falamos sobre isso mais tarde.



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Daphne


Chegou o dia. Despedi-me de Nick rapidamente, cheia de medo, cheia de duvidas, pois talvez eu não acordasse mais. Neo havia passado as últimas horas vagando pelos sonhos, tentando encontrar o “caminho” para a mente de Gaia onde iríamos implantar o sonho. Não disse uma palavra a ninguém sobre a minha determinação, nem sobre Nick e Apolo, era melhor assim, por enquanto. Acredito que eles não confiariam em mim se soubessem e a missão estaria arruinada ali mesmo, eu queria ao menos tentar.

- Encontrem o livro e salvem a deusa – Disse a Nicholas Foltz, abraçando-o rapidamente.

- Pode deixar – Respondeu-me com um meio sorriso, não conseguindo esconder a preocupação.

Neo e Heros despediam-se em um canto. Os dois haviam ficado realmente próximos nos últimos dias, com toda essa história de “construir” o sonho. Peter e Alls seguiam abraçados, aqueles dois se amavam, isso era evidente, mesmo que não estivessem juntos, não tecnicamente. Era exatamente por isso que eu queria ir contra o propósito a que fui criada. Não há nada de errado aqui, não há nada que precise ser mudado, todos estão felizes assim e não parece que nenhum deles, não nesse acampamento ao menos, precisa de gigantes governando o mundo. Eu não iria deixar Gaia despertar.

 Chegada a hora, deitamo-nos nas cadeiras de descanso, enquanto Nick aplicava sedativos em nossos braços.

- Cuide-se bem Daph, estarei te esperando bem aqui – Falou sorrindo, afagando meus cabelos.

Seu rosto ainda estava levemente inchado, com alguns hematomas, mas ele não parecia estar sentindo dor, apenas havia aquele medo misturado a preocupação.

- Certo futuro médico, eu vou me cuidar. Se seu pai aparecer, chute o traseiro dele por mim, certo?

- Certo – Ele riu, dando-me um beijo rápido – Todos prontos? Vocês vão apagar completamente em poucos segundos.

- Cuidem-se semideuses – Falou Quíron – E que os deuses estejam com vocês. Inclusive o deus presente, certo senhor D?

- Ah, blá blá blá, Dorotéia, Leo e Perry só vão dormir centauro – Falou o deus do vinho, bebendo sua diet coke e trocando os nomes como sempre.

Só dormir, claro, pensei amarga. Quando o sonífero começou a fazer efeito, deixei-me levar pelo sono, tendo como ultima imagem os olhos que eu amava tanto. Pense bem no que vai fazer Daphne, ameaçou Cronos, antes que eu caísse de vez na inconsciência.

 Quando “despertei”, já estávamos no primeiro sonho.

Parecia uma cidade deserta, uma grande cidade deserta. Prédios altos, pontos e lugares que pareciam não pertencer realmente àquela cidade, construções antigas e grandiosas. Porém a cidade somente parecia deserta. Pelas janelas podíamos ver pessoas movendo-se, como que vivas, não peças em um sonho, mas eram apenas defesas da mente de Gaia, defesas que caso percebam nossa presença, poderão nos atacar.

- Um pouco diferente do Layout de Heros, não acham? – Peter falou, olhando para o lugar desconfiado.

- Sim, imaginei que isso fosse acontecer. É uma mente extremamente poderosa, a de Gaia, e ela não está totalmente adormecida, certo? Mas mesmo assim, não está totalmente diferente. Ainda podemos seguir o plano.

Passado certo tempo, o inevitável aconteceu, as defesas da mente de Gaia nos perceberam. Por onde íamos éramos seguidos por elas, pessoas normais, como mortais que andavam pelo cenário criado por Heros e editado por Neo, exceto que eles estavam desconfiados, sabiam que haviam invasores. Tentávamos agir o mais naturalmente possível para passar por eles e achar a sala. A sala onde poderíamos dormir e ser levados ao próximo sonho.

- Há algo errado Neo – Peter falou, desviando de uma mulher que queria, aparentemente, bater nele sem ser percebida – alguma coisa mudou a direção da sala. E eles estão nos percebendo.

Um grupo avançava em nossa direção. Eram adolescentes, em ternos e capas pretas, aparentemente armados com armas de fogo, espadas e adagas, uma visão um tanto intimidante.

- Droga! Eles têm armas – Neo praguejou, aparentemente procurando uma rota segura de fuga.

- Se eles atirarem em nós, iremos simplesmente acordar, certo? – Perguntei.

- Não. O sonífero não vai permitir, entretanto, se formos atingidos pelas adagas e espadas, com certeza sentiremos dor, como se estivéssemos acordados - Neo avisou - Temos que encontrar a sala. Vamos andando normalmente até aquela ponte, nos misturamos com aquelas pessoas, então corremos em direção ao sul, onde deveriam estar as entradas do velho museu que Heros projetou.

Fizemos exatamente o que ela falou, só que não havia entrada de museu alguma. Porém Peter conseguiu encontrar a sala, do lado oposto onde havia sido originalmente projetada.

- Sabem que estamos aqui, não é? – Peter quase gritou, lançando as mãos à cabeça – Eles sabem, não sabem Neo?

A filha de Morfeus continuou calada. Apenas observava a cena e as pessoas.

- Temos que chegar até a sala.

- Tem... guardas? – Falei insegura, notando mais figuras de preto – Eles não parecem pessoas normais dos sonhos, eles estão... estão...

 - Fazendo o mesmo que nós, é o que eu estou tentando dizer Daphne – Peter proferiu desanimado – Ela sabe que estamos aqui e estas pessoas estão dormindo em algum lugar, foram colocadas aqui do mesmo modo que nós e estão aqui para defendê-la.

- Temos que chegar até a sala – Neo repetiu, olhando para trás – Espere! Essa ponte, eu conheço essa ponte!

- Sim, essa é a ponte Di Amore e Psiquê. É uma ponte famosa na Itália – Peter falou.

- Droga! Droga! Disse a Heros que ele deveria criar tudo, não pode haver nada que eu conheço, ou ela conhecerá também.

- Do que está falando Neo? – Perguntei assustada.

Antes que ela pudesse responder, no meio da confusão de pessoas na ponte, uma mulher surgiu. Usava um vestido de veludo vermelho, sapatos de salto e luvas negras nas mãos.

- Nara – Chamou a mulher – Hora de ir para casa, é hora de sairmos daqui meu bem. Chega de sonhos.

Ele estendeu uma arma de fogo, e disparou na direção de Neo, errando-a por pouco.

- Corram, depressa! Temos que chegar a sala! – Neo gritou, esquivando-se de novos disparos.

Aquilo atraiu a atenção de quase todas as pessoas na ponte, inclusive a daqueles vestidos de preto. Apesar de estarmos pertos, corremos pelo que pareceu horas, a ponto do cenário começar a escurecer e tremeluzir, como se o sonho estivesse de desfazendo, como quando a pessoa está prestes a acordar.

- Como isso é possível? – Peter perguntou, sem fôlego, parando junto à porta – Parece que estamos correndo horas, não deveríamos ter levado nem dois minutos!

- O tempo é relativo aqui, lembra? – Falei, respirando com dificuldade enquanto Neo tentava abrir a enorme porta, marcado com um ômega de metal.

- Neo, depressa, eles estão chegando...

 Peter mal pôde terminar de falar, depois tudo aconteceu muito rápido, todas aquelas pessoas, os jovens de preto, armas, a mulher de veludo vermelho, Peter gritando para entrarmos enquanto ele ficava para trás e lutava com uma espada tomada de um dos garotos de capa, tentando levá-los para longe da sala, enquanto Neo e eu entravamos. Uma vez dentro da sala, a cena fora dela pareceu se desenrolar muito lentamente, cada movimento parecia estar levando horas para acontecer. Batemos a porta sem hesitar muito, selando-a do resto do sonho.

Foi difícil deixá-lo, mas foi um pacto que fizemos, apenas entre nós, ninguém mais sabia. Tínhamos nos comprometidos a dar nossa vida pela causa, se fosse necessário. Trancadas e seguras na sala projetada por Heros, tentamos nos acalmar.

- Ele vai ficar bem – Falei sem muita convicção.

- Sim – Neo parecia igualmente sem expectativas boas.

- Oh, devo dizer que estou orgulhoso, pequena? – Perguntou um homem no canto da sala.

Ele vestia um sobre tudo preto e parecia estar dormindo. Seu rosto era uma visão perturbadora, ficava mudando todo tempo, como se ele não possuísse uma aparência fixa.

- Pai – Neo saudou, sem muita animação, ainda muito assustada. Por Peter, provavelmente. 

- Neo, ótimo trabalho. Apenas tome cuidado, você viu, ela estará atrás de você.

- Poderia ter dito isso antes.

O homem sorriu em seu sono, acariciando o cabelo da filha com uma das mãos.

- Confio em você. Apenas siga em frente – E desapareceu.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, nenhuma de nós parecia saber exatamente o que dizer.

- Ok, não sei porque meu pai apareceu – Neo suspirou – Não foi de muita ajuda.

- Acredite, antes o seu do que o meu – Falei meio sem pensar, me arrependendo no mesmo instante.

- Você foi determinada?

- Sim – Suspirei derrotada e contei a história resumida a ela.

Ao fim, fez-se silêncio outra vez.

- Isto é... Isto é...

- Horrível? – Tentei completar o raciocínio de Neo.

- Não, quer dizer, sim, é, mas também é interessante. Você está indo contra seu pai, contra o que foi criada para fazer. Daphne, você está arriscando tanto.

- Diga-me uma novidade. Pode me responder uma coisa? – Perguntei insegura.

- Você pode perguntar.

- Quem era?

Vi a cor sumir do rosto da garota e sua expressão se enrijecer. 

- Minha mãe.

- Mas ela não está...?

- Morta? Sim, ela está, mas acha que não. Acha que está sonhando ainda, ela acha... Ela é apenas um fantasma, que vive assombrando meus sonhos, meus e em qualquer um que eu esteja, que eu conheça o cenário. Por isso pedi ajuda para construir esse sonho, eu queria, de certa forma, não conhecê-lo, não usar pontes, casas e prédios que eu conhecesse, isso dificultaria que ela viesse, mas bem, Heros falhou comigo.

- Não diga assim Neo, Heros fez o melhor que pode, ele não tinha como imaginar que...

- O que? Que minha morta me persegue? Que ela tenta me matar nos sonhos? Eu não contei isso a vocês porque realmente pensei que conseguiria mantê-la longe dessa vez, eu falhei até nisso. Eu nunca deveria ter saído do meu mundo, eu nunca deveria ter acordado!

Lágrimas escorriam dos olhos de Neo e quando ela bateu a mão na parede vazia, uma porta se formou. Mas que depressa, ela abriu a porta e entrou, deixando-me na sala. Sem muitas alternativas eu a segui.    

- Neo! Nós temos que continuar... nossa.

Eu estava no lugar mais incrível que jamais vi, vendo Neo caminhar na vertical, subindo por uma parede. Percebi que a porta por onde havíamos entrado, estava colocada, em pé, no meio do nada, sustentada por nada.

- Vá, continue você se quiser. Volte e pegue Peter, se ele ainda estiver vivo – Gritou a garota, do alto de um prédio de mais ou menos cinco andares e de arquitetura impressionante.

- Neo, por favor, eu preciso de você.

Tentei fazer o mesmo que ela – andar na vertical subindo pelo prédio – e pasma, vi que conseguia.

- Não se assuste, você pode tudo aqui. Eu criei isso, eu e minha mãe. Ela logo aparecerá aqui e vai tentar me matar outra vez.

- Então vamos embora, antes que ela chegue – Falei, sentando-me ao seu lado.

A visão de cima do pequeno prédio era impressionante. Havia uma praia deserta e cinzenta a uns poucos quilômetros, ruas vazias e muitos prédios, todos feitos com tamanho bom gosto e genialidade, que nenhum era igual ao outro.

- Esse lugar é impressionante Neo.

- Levou anos para construí-lo. Ela era uma arquiteta. Ficamos tanto que mamãe enlouqueceu.

- Eu sinto muito.

- Não sinta. Eu não sinto mais.

- Isso não é verdade, se não sentisse ela não estaria aqui. Precisa confrontá-la Neo, cedo ou tarde terá de fazer isso. Mas por hora, que tal por Gaia para dormir e salvar o mundo?

Só obtive um sorriso como resposta. Descemos verticalmente, da mesma forma que subimos, entramos pela porta suspensa no nada e voltamos à pequena sala.

- Você é uma boa pessoa, filha de Cronos – Neo falou, deitando-se na cadeira de descanso, pronta para dormir e ir para o próximo sonho.

Fiz o mesmo e com rapidez estávamos dormindo. Surgimos no sonho seguinte, esse, não uma cidade grande, com prédios e estruturas de arquitetura impressionante, apenas casas brancas com cercas vivas. Silenciosa, pacifica e de certo modo, mais assustadora que a última. 


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