Diário de um Semideus 3 - A Última Filha escrita por H Lounie


Capítulo 11
A morte resolve contar uma história


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem, eu vou voltar e terminar, por dois pedidos especiais rs
Novos persongens entrando agora, como uma junção de O homem que queria ser rei (projeto de fic) e The Last daughter. É como uma adição especial a história, e como o inicio de uma nova trama.



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A morte

Depois de tudo que vi e fiz e por adorar ser do contra, prefiro não relacionar as informações que passarei a vocês ao acaso, mas sim ao destino. Como muitos dizem por aí, o mundo é absurdamente pequeno e coincidências atropelam-se durante o dia, mas ainda assim prefiro acreditar em destino, pois esse mesmo mundo pequeno dá voltas e faz com que existam histórias que pareçam ser feitas sob medidas para certas pessoas. O roteiro da história desta criança ainda é desconhecido (mas preste atenção, pois eu não farei repetições ao longo deste). Vou tentar colori-lo com velhos lápis e tintas quase acabadas que ainda possuo. Eu sei que ele está de mãos atadas devido à estrada que escolheu seguir, tão longa quanto sua esperança. Diziam que ele era filho dos lugares mais distantes, feito de uma mistura de sonhos esquecidos, desgraças e falta de perspectivas. Apenas um erro. (E deuses erram?)

Primeiro, as apresentações. Quem sou eu? A morte. Sem mais.

Então, contar-lhes-ei a história de uma quase vida (Uma fracassada tentativa de viver). Apenas porque ela, a vida, estava sempre ocupada demais para dar atenção a Nicholas Foltz. Comparo sua história com uma partida de xadrez, na qual as peças têm vida própria e têm muito a perder a cada perigosa jogada. Havia uma princesa de contos de fadas, um homem com coração de pedra, uma rainha intocável e um garoto sem grandes ambições, todos presos em um tabuleiro.   

A primeira impressão que tive de Nick foi de alguém extremamente cansativo e previsível e limitado demais. Exatamente o tipo de pessoa que não dá certo no mundo. A primeira impressão passou e então voltou. Passou e voltou outra vez. Ele era uma contradição ambulante. Ele não era como os heróis dos livros de história. Não provocava revoluções, não ditava regras nem e mudava o mundo. Tampouco era como os garotos dos contos de fadas, faltava-lhe a ingenuidade, parecia faltar também um final feliz depois de tudo. Certamente não era um príncipe de livros, ele apenas fazia parte do mundo real e na anarquia indiferente da realidade cada ser precisa lutar por seu espaço, sem se importar muito com a forma de como as coisas devem ser e acontecer, ou esperar por condecorações e finais felizes. Sua vida me pareceu trágica e cômica, seus dias tendiam à rotina, acordava sempre na mesma hora, fazia as mesmas coisas, parecia preso em um longo e interminável dia cinzento e frio. E havia mais: ele era ignorado em todo lugar, algo realmente pior do que ser confrontado ou simplesmente desprezado. Andava por aí presos nos diálogos curtos das cidades grandes.

Haviam se passado seis, talvez sete meses desde o incidente e Nick começava a perceber que um único mortal pode ser mais forte que um deus primordial, se quiser. Sobre o incidente: As luzes do lugar se apagaram como mágica (Nick então soube por que os monstros gostam do escuro). O homem agarrou os cabelos da garoto tão jovem, inocente demais para compreender o que se passava. O desespero roubava-lhe a força e sua voz era tênue como um suspiro quando ele tentava implorar por ajuda. O monstro apenas ria. Levantou-se em um salto, sempre com aqueles movimentos furtivos (Uma pantera negra em uma estranha dança, Nick era sempre assim). Massageou a cabeça, o monstro levara alguns fios de cabelo com ele. O silêncio prevaleceu e foi esmagador. Houve risos baixos. Onde mamãe estava?

Xeque! – Era uma partida de xadrez tão emocionante.

Foi pego finalmente, mas ainda havia a porta entre aberta e a oportunidade de fugir. E fugir para o mundo, tão imenso e traiçoeiro quanto um mar com chuva. Mamãe cantarolava em algum lugar, mas ele apenas tapou os ouvidos, pronto para correr. De alguma forma a canção de ninar de mamãe era a refeição dos monstros que o perseguiam.

Xeque! – Tão emocionante.

O monstro encobriu a saída, mas não foi rápido o suficiente. A batida descompassada, outrora despercebida do coração que agora ameaçava explodir do peito, era tudo que se ouvia. Os olhos apertaram-se, querendo ver mais longe. Parecia ter alcançado um bom fim, até que mãos firmes seguraram seus ombros pequenos e frágeis. O presente do estranho da rua springs brilhou em suas mãos (aquele presente tão estranho quando o homem mudava de forma), seus olhos agora irradiavam uma coragem doentia, foi quando a primeira impressão passou.

Xeque mate! – Disse o peão inesperado.

E então ele correu, deixando-me um trabalho a fazer ali. Aquela foi a primeira vez que vi Nicholas Foltz. E certamente não esquecerei aquela expressão confusa e amedrontava que tomava seu rosto. Observei o menino correr atrás de seu destino, sumindo no cruzamento da Carpenter com a Springs, a boa brisa o acompanhando, a mesma brisa que a havia levado até o monstro tempos atrás. Deixou o monstro que chamou de pai morrer sozinho. E o monstro estava preocupado agora, ele fez muito mal, mas preocupou-se com o menino no fim. (Pensei em dizer algo como “Ei, apenas o deixe se espatifar e arrematar sua desgraça. A atenção só o encoraja”) Mas segui em silêncio. Mamãe ainda cantarolava, tão indiferente e distante, demoraria mais algumas horas para descobrir qualquer coisa.

E o incidente insistia em voltar à mente de Nick como se houvesse acontecido há poucas horas atrás. Como se mamãe ainda estivesse ali cantarolando sem fazer nada para ajudá-lo, deixando-o a mercê do monstro. E depois de tudo, a vida de Nicholas havia se tornado ainda mais miserável, mesmo que isso antes parecesse impossível. Sobre Nicholas: dez anos mal vividos, uma apartamento minúsculo em Jackson Heights, no Queens, do qual havia acabado de fugir, um pai de mente perturbada e uma mãe completamente instável (Sem muitas histórias para contar ainda) Ao menos Nicholas sabia ler e escrever, muito embora não fizesse nem isso com perfeição. Era como se alguém em algum lugar estivesse pregando uma peça no pobre garoto.

Bem no fundo eu sabia que Nick desejava em vão que mamãe entrasse no Honda Civic velho com pintura desbotada e fosse atrás dele. Mesmo seis meses depois. Gostaria de ir até ele e dizer para parar de ser estúpido, mas não dava. Se você olhasse para o pequeno garoto que se agarrava a cada minúscula esperança, que se prendia a qualquer coisa que lhe oferecesse a mínima segurança, também não conseguiria lhe dar essa dose de realidade. A rua havia o deixado amedrontado, impulsivo e com certeza fez um belo estrago em sua aparência. Ele parecia faminto, extremamente cansado, frágil e até apagado, de certa maneira. Tinha apenas o que conseguia achar, que naquele momento se resumia em um casaco preto com o logo do Hotel Prince, o jeans roubado da lavanderia do mesmo hotel e um boné do Los Angeles Lakers, achado próximo a um fliperama. A pouca comida dependia de sua esperteza, e às vezes Nick se surpreendia com sua própria sorte. Ou lábia. Ou persuasão. Há três meses estava no banheiro de uma lanchonete, olhando no espelho e pensando algo como “No que me tornei?”. Ele olhava para aquele espelho e via tudo que não gostava e aquilo parecia impossível. Espelhos não mentem, mamãe havia dito uma vez. Algo dentro de Nick gritava ferozmente para animagem errada que o espelho mostrava. E ninguém a ouvia, ele parecia estar gritando a sete palmos de distância, bem lá no fundo. Seguia incompreendido e só, à margem, observando a vida passar, em silêncio. Era como se estivesse em outra dimensão, em outro plano, um lugar tão longe e esquecido que era impossível alguém enxergá-lo.

E nessas idas e vindas ele acabou sendo levado a um orfanato. Roman Catholic Orphan Asylum, missionárias da caridade que o obrigavam a rezar para um deus que ele pensava não existir. Não disse uma palavra sobre quem era e nem de onde veio. Se sua foto não estava nos jornais e cartazes de “procura-se” era porque mamãe não se importava, então ele também não iria se importar. Chamavam-no de Gabriel ali. O pequeno Gabe, veio nos trazer uma mensagem, como o anjo Gabriel, diziam, mesmo que Nick não falasse nada. Diziam que ele era especial. Talvez por ser um maldito hiperativo disléxico, não um anjo mensageiro.

Quatro meses. Foi o tempo que ficou ali. Todos, sem exceção, respeitavam o toque de recolher, às vinte e uma horas e nem um minuto a mais. Foi desrespeitando essa regra que encontrei Nick uma segunda vez, mas cedo do que eu esperava.


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