Capítulo 33

Pov Paige

Eu sinceramente não consigo entender porque ninguém me entende. Há poucos minutos eu e a Thalia andávamos por entre os cômodos da casa de Stormie, e toda vez que eu tentava dizer alguma coisa, a caçadora me repreendia dizendo ser melhor que eu ficasse quieta.  Isso estava ficando chato. Como eu posso andar por uma belezura de mansão dessas e não poder sequer exclamar minha admiração pelo mundo mitológico?

Durante nosso trajeto, passamos por inúmeras pinturas, que mais pareciam fotos de verdade tiradas de ângulos inimagináveis, que retratavam em sua maioria cenas de batalhas extraordinárias travadas pelos heróis gregos. Eu os olhava aleatoriamente, com Thalia andando a meu lado, quando ela para abruptamente diante de uma tela em especial. Fiquei me perguntado o porque de tanto interesse por aquela foto em tamanho gigante, contudo, algo me dizia que eu não entenderia fácil os motivos dela. É,  mas minhas unhas não vão cair se eu perguntar... (N/a: Ela não consegue controlar sua curiosidade....kkkk)

Cutuquei de leve seu ombro.

-Amn, Thalia, O que você vê de tão interessante aí?

Ela não respondeu. Parecia absorta em lembranças que circundavam completamente o seu passado, e nesse momento vi tristeza transbordar de seus olhos azuis, que perderam o brilho repentinamente. Thalia parecia fora de órbita e eu não quis atrapalhar o seu momento. Não estranhem, eu sei respeitar o momento do outros e não ser inconveniente. (n/a: A Paige quer que acreditemos nisso?)

Escorei na parede contrária à do quadro que a filha de Zeus observava e escorreguei lentamente até encostar no chão. Abracei as pernas e fiquei brincando com meus dedos até que a garota acordou do seu passado e se dirigiu a mim.

- Está fazendo o que aí no chão? – ela disse com a voz embargada.

- Esperando você recompor seus pedaços. – eu respondi olhando profundamente em seus olhos. Ela parece ter ficado surpresa com o que eu disse.

- Do que você está falando Paige? – Thalia tentou se fazer de desentendida, mas não conseguiu. Vou ter que avisar pra ela que como mentirosa, ela é uma ótima Caçadora.

- Faísca, eu não sei se você sabe, mas de vez em quando eu tenho uns surtos de inteligência. Eu sei que você não está bem. O que viu nessa foto pra que ficasse tão desconcertada?

Ela suspirou em desistência. Rolou os olhos e passou as duas mãos por eles, como se faz ao acordar. Fez um gesto com a mão para que eu me levantasse, o que fiz imediatamente, e logo depois, aproximou-se mais do quadro.

- Olhe bem garota: você não reconhece ninguém nesse quadro?

- Ah, esse garoto que está ajoelhado parece um pouco com o Percy, mas não é ele, esse da foto é um pouco mais novo. – eu disse um pouco em dúvida.

- Essa foto é de um ano atrás Paige, e o garoto é sim o seu irmão, assim como a menina loira logo atrás é Annabeth, o moreno estirado do outro lado da sala é Ethan Nakamura, e o loiro deitado aos pés de Percy é Luke, morto. Foi o fim da guerra contra Cronos. – ela completou com lágrimas escorrendo pelos olhos.

Eu demorei um pouco para processar tantas informações. Luke era o traidor e estava morto, mas mesmo assim Percy e Annabeth pareciam inconsoláveis na foto, não mais do que Thalia estava agora. Olhei para ela suplicando por uma explicação. A caçadora pousou uma das mãos sobre a imagem do garoto morto.

- Ele morreu inutilmente. Digo, ele estava errado, não precisava ter sido assim. Luke mantinha um ódio pelos deuses – especialmente por seu pai, Hermes – enclausurado dentro de si, e na primeira oportunidade que teve, traiu a confiança de todos que estavam ao seu lado. O pior de tudo é que minha morte foi como pólvora para o ódio dele, porque em sua visão, os deuses não fizeram nada para impedir que eu morresse. Nós éramos muito, muito amigos e transformar-me em pinheiro foi uma ofensa tremenda para Luke, e agora que ele morreu e eu me sinto culpada. Talvez eu tenha sido o estopim de sua ira, e ele não está mais aqui.

Assim que ela acabou de falar, eu tentei deixar que o silêncio a reconfortasse, mas como sempre, minha boca não me obedeceu.

- E por isso você se tornou Caçadora. Você gostava dele, na verdade, acho que ainda gosta. Quando retornou a vida, esperava reencontrar um Luke que existia anos antes, mas parece que ele não estava mais lá, e isso te decepcionou. Então, quando teve oportunidade, jurou à Ártemis ser casta e repudiar garotos por toda a eternidade, mas no fundo, você sempre teve esperança de que ele se redimisse.

Sem me olhar Thalia completou.

- E ele se redimiu, e mesmo assim, isso não foi o suficiente para que ele continuasse vivo. Cronos se apossou de seu corpo, e o titã só seria derrotado se o próprio Luke fizesse isso por todos, e fez. Mesmo com todos os erros, ele foi um heroi.

- E é isso que você precisa lembrar. No fim, ele se arrependeu, é o que vale. – eu dei um sorriso de confiança a ela. Thalia piscou algumas vezes para voltar a si, e depois de enxugar as lágrimas, abriu um sorriso.

- Eu não devia ter te contado isso. Agora você vai espalhar para todos que eu sou uma tola sentimental.

- Que isso... vou guardar essa informação para um momento mais oportuno.

-Golfinho, você me surpreendeu agora. Não conhecia esse seu lado vingativo!

- Há muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe priminha... – eu disse voltando a brincar com os dedos.

- Tenho até medo de descobrir.

Revirei os olhos e lhe dei um leve empurrão. A Caçadora me olhou com seus olhos elétricos faiscando novamente. Ótimo, ela voltou ao normal!

- Ok Thalia, agora que o momento nostalgia acabou, vamos continuar o tour? Ainda tem um lugar que preciso ir...

- Onde?

- Oras, no quarto da Stormie! Sempre quis saber como é o quarto de uma deusa...

- Santo Zeus que menina enxerida! Ela não te deu autorização pra entrar aí! – Credo,  eu pensei que essa garota não tinha medo de nada, e veja só, tem medo de entrar num simples quarto...

- Nunca precisei de autorização pra nada queridinha! – eu respondi abrindo a porta. A primeira imagem que vi fez-me arregalar os olhos e falar fino.

-Olha Thalia! Que lindo! – eu disse batendo palmas de excitação. Em minha frente, havia um aquário imenso do tamanho de uma parede com espécies inúmera de peixes  e vários outros seres aquárticos. Eu fiquei maravilhada com tudo o que vi, e mal escutei Thalia dizendo que voltaria para junto dos outros. Depois de um minuto apenas observando, comecei a ouvir burburinhos:

- Essa garota é filha de Poseidon? – um ser disse.

- Parece que sim, olha os olhos dela, são iguais ao do chefe! – um outro, com a voz melosa, respondeu.

- Ela é muito bonita. – outros murmuraram.

Cansada de apenas observar meus “parentes” falarem sobre mim, eu me manifestei:

- Oooooi galerinha!

Escutei comentários do tipo: “Olha, ela consegue nos entender!”, e respostas como essa:”Claro, ela é filha do deus dos mares...”

Eu comecei a rir, e todos os seres marinhos olharam confusos pra mim.

- Desculpa gente, mas é que vocês são muito fofinhos. – eu fiz gestos com as mãos que eles devem ter achado engraçado, porque todos riram também.

- Então princesa, o que te traz ao palácio da deusa das tempestades?

Princesa... nossa, estou me sentindo muito importante.

- Uma missão. Falando nisso, já devem estar sentindo a minha falta... Foi um prazer conhece-los. E à propósito, meu nome é Paige!

- Pena que não pode ficar mais Paige... – um deles disse.

- É uma pena mesmo. Preciso ir galera! Tchau!- eu me despedi.

Os animais aquáticos acenaram do jeito que puderam para mim, formando uma infinidade de bolhas na água do imenso aquário. Foi realmente muito legal conhece-los, mas agora, querendo ou não, eu precisava voltar à realidade.

...

- Quem aqui sentiu minha falta? – eu cheguei perguntando sorridente. Thalia bufou, mantendo sua pose de durona com seu frequente ar de “Quero que você morra!”, olhar esse que eu já não acredito mais.

- Do que estavam falando mesmo? – eu tentei me inteirar do assunto.

- Que precisamos de um plano “B” pra sair do Monte Parnaso com o livro em segurança Paige. – Julie respondeu paciensosamente.

- E do que se trata esse tal plano “B”? – eu perguntei.

- Stormie está fazendo mistério. – Grover murmurou e logo depois um som estrondoso veio de dentro de seu estômago. Percy franziu o cenho olhando em sua direção.

- Você ainda está com fome, mesmo depois de ter detonado os enfeites da mesa da deusa? – meu irmão disse quase indignado.

- Ora Percy, eu gasto muita energia. – e logo se virou para Stormie – desculpa incomodar, mas a que horas sai o jantar?

Annabeth ficou vermelha de vergonha e Grover acentuou sua pergunta com um clássico olhar faminto. (n/a: conseguem imaginar isso? É como se fosse uma cara de piedade...) A deusa das tempestades e dos segredos deu um risinho esquisito e respondeu:

- Podemos comer agora. Depois conto o plano a vocês e o colocamos em prática. O que acham?

Todos assentiram em concordância, inclusive eu, que apesar de estar curiosa pra saber o que ela estava planejando, sentia minhas lombrigas se retorcerem de fome. O plano ainda podia esperar mais um pouco, e pelo jeito que anda a coisa, as tais criaturas que incitam minha fome não.