Aco 1 Eu Já Tinha Me Acostumado Com Ódio escrita por Lady Dreaming


Capítulo 9
Caramba, eu não mereço!


Notas iniciais do capítulo

Tudo bem, eu sei que vocês devem estar esperando que eu diga que eu fui sequestrada, e por isso que eu não postei, mas nao foi isso o que aconteceu (feliz ou infelizmente :S) Gente, é o seguinte, mil, milhões, HILHÕES de desculpas. Cara, eu não tenho nem jeito de voltar aqui depois de tantos meses. A verdade é que eu tenho um monte de justificativas para não ter postado, mas não tenho desculpas, e eu sei que, se eu tivesse me esforçado mais, esse capítulo teria saído antes. Essa N/A vai ser bem curtinha mesmo, porque eu to morrendo de vergonha aqui, mas sério, aconteceu tanta coisa... Automutilação, computador estragado, fui 'expulsa' de casa, fui na psiquiatra... Gente, coisa demais. Mas mesmo assim, mil desculpas, eu tentei fazer um capítulo maior para tentar compensar, e me desculpa se vocês esperaram tanto pra esse capitulozinho, mas assim, eu também não podia fazer um capítulo gigante, senão ia ficar cansativo. Ah, e como vocês sabem, o tempo vai passando, e as pessoas vão mudando, e vocês vão perceber que meu jeito de escrever mudou pra caramba - claro, ainda tem a minha cara, mas não é a mesma coisa - e, já que eu demorei tanto para postar, a mudança foi muito repentina, então me desculpem se não der para agradar todo mundo. Realmente espero que gostem, e obrigada a todas por terem esperado e aguardado :D Bom capítulo (:



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 -Como assim trancada? – perguntei desesperada correndo atrapalhada em direção à porta.

 -Se você quiser, eu te ensino o significado da palavra trouxa ‘trancada’. – comentou ele com cinismo. Eu girava desesperadamente a maçaneta como se a porta fosse abrir.

 -Malfoy, respeito! Você está na minha casa! – encostei minhas costas na porta e, lentamente fui escorregando para baixo, derrotada – Não acredito! Que mania idiota essa da minha mãe de trancar o quarto dela antes de ir embora com medo que roubem a casa! – resmunguei – M-mas tudo bem... Eu acho que sobrevivo. – engatinhei até onde os salgadinhos estavam, peguei um e depois voltei a encostar na porta, encostando o pacote contra meu peito – Eu tenho salgadinhos... Salgadinhos de sobra. E... Tem água. Água da torneira. Água da torneira é boa.

 -Hermione, pára com isso. Você trouxe suco. Para que beber na pia? – Malfoy se agachou na minha frente. Malfoy?! O que ele fazia no quarto dos meus pais?!

 -AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – ah, é! A anta estava hospedada na casa dos meus pais. E por quê? Porque eu sou uma pessoa no estado terminal da meiguice (?) e isso quer dizer que eu sou uma pessoa muito boa. E o que pessoas nesse estado fazem? Elas salvam loiros extremamente lindos da dolorosa morte merecida.  Mas o que eu devia ter feito? Devia ter matado ele rapidamente, para não deixá-lo sofrer. Avada Kedavra e pronto. Mas, apesar de ele ter me torturado todos esses anos eu não podia matá-lo. Por que a belezinha aqui não matava esse canalha? Porque a gente já tinha se beijado e... Bem, eu não costumo matar as pessoas que eu já beijei... Até porque o número não era muito maior que dois – Sua anta!

 -O que?! – perguntou ele inocente.

 -De onde você veio?!

 -Naturalmente da barriga da minha mãe. – respondeu ele sem humor nenhum.

 -Não foi isso que eu... Ah, esqueça! – levantei-me e fui em direção à cama, me sentando nela – Olha, nós vamos ter que sobreviver até amanhã... Juntos... No mesmo quarto. – murmurei mais para mim do que para ele, tentando me conformar – Oh, meu Merlin! – virei meu olhar para Malfoy – Espero que não se importe em dormir no chão.

 Malfoy, que nem estava prestando muita atenção no que eu falava, virou a cabeça para mim, lentamente, com o cenho franzido.

 -Como? – perguntou num tom um tanto arrogante, do tipo ‘eu sou bom demais para essa conversa’.

 -Você.Dormir.No.Chão. – ele me encarou, mais perplexo ainda.

 -Granger, eu sou a visita! – ele se aproximou de mim, balançando as mãos, freneticamente.

 -E eu sou a dona da casa! – revirei os olhos – Não sei se observou bem, mas só tem uma cama aqui!

 -Não sei se observou bem... – começou ele, imitando fracamente a minha voz – Mas essa cama é de casal.

 Eu estava vendo aonde ele queria chegar... Não que eu fosse de negar uma boa noite de sono com um menino bonito e com... Bem, bom corpo, mas ele era um Malfoy! Eu tinha que me lembrar de não esquecer isso mais vezes...

 -Eu não vou dormir contigo!

 -É, isso também não está na minha lista de desejos... – Ele se aproximou mais, se sentando na cama, e agora alisava meu braço. Era preciso um pouco de esforço para não demonstrar nada ao sentir os arrepios... Resistência, Hermione. Resistência... – Sabe, dividir a mesma cama com uma san... Com uma nascida trouxa. Mas eu acho que podemos... – Sua boca estava no meu pescoço, e tudo era mais gostoso ainda, já que, a cada respirada, cada fala, era equivalente a um arrepio – Mudar algumas coisas... – Empurrou meu corpo levemente, me obrigando a deitar, e agora beijava meu pescoço... RESISTÊNCIA, HERMIONE! – Só por uma noite.

 Meu amor próprio tinha que falar bem mais alto que minha vontade de sentir prazer naquele momento.

 Aliás, ele era um Malfoy.

 -Então eu estou vendo... – murmurei com esforço, já que não podia emitir... Barulhos constrangedores – Que você não queria dormir na mesma cama que eu, mas está abrindo uma exceção para esta noite...

 -Exato... – murmurou enquanto roçava sua boca em meu pescoço. Era agora, eu tinha que mostrar resistência agora, ou tudo estava acabado.

 -Então você come uma fruta diferente da que eu achava. – falei sapecamente. Ele parou os movimentos por um instante e um sorriso vitorioso brotou em meus lábios.

 Oh, não! Ele estava voltando a se mexer... EU TINHA QUE MOSTRAR RESISTÊNCIA!

 -Se você quiser... – ele levantou a cabeça, ficando com o rosto a apenas três centímetros de distância do meu – Eu te mostro o quão homem eu sou...

 Era aquilo...

 Ele estava se aproximando...

 Tentei afastá-lo com minhas mãos, com dificuldade e sem êxito, já que ele empurrara meus dois punhos para cada lado da cama. A posição com certeza era constrangedora... Ele em cima de mim, com cada perna de um lado do meu corpo, e meus punhos presos por suas mãos, tudo isso numa distância absurdamente pequena. Nossas respirações se misturavam, sendo que a minha era ofegante e falha, e a dele era confiante, ritmada... Sua boca se entreabria várias vezes, mas se fechava, sem fazer nenhum movimento a mais, enquanto a minha se mantinha entreaberta o tempo todo, como uma idiota.

 Eu me sentia tão entregue de vez em quando.

 Malfoy olhou fundo nos meus olhos e eu, num ato absurdamente clichê, pensei que fosse me perder neles. Por quê? Simples, eu me perdia nos tons, na mensagem que eles me passavam. Não conseguia decifrar o que eles queriam dizer.

 Ele se aproximava cada vez mais, seus lábios cada vez mais próximos dos meus. Isso me fez lembrar a primeira vez que nos beijamos: um simples selinho. Subitamente me lembrei de quem ele era e o que ele fazia. Como persuadia as meninas e depois ficava alheio a elas. Como era filho de um comensal, futuro seguidor de Voldemort.

 -Malfoy... – suspirei hesitante, ainda não recuperada pelo o que quase iria acontecer – Sempre querendo provar as coisas para todo mundo... Como se me importasse se você é gay ou não. – empurrei-o sem delicadeza nenhuma e me sentei. A cara dele de desentendido e nervoso era impagável – Sou alheia a você. Vai ficar na minha casa, dormir na mesma cama que eu? Estou tentando não ver problema nisso, mas não passa disso apenas: um favor.

 Ele pareceu pensar no que eu havia falando por uns instantes, tentando entender tudo. Pensei que me deixaria em paz... Como fora ingênua! Malfoy se aproximou e começou a me puxar lentamente, sem tirar os olhos de mim.

 Espera, ele estava... Estava brincando comigo? Ora, Malfoy, quer brincar? Eu sei brincar também! Ele com certeza ficará arrependido de ter brincado comigo... Eu sou alguém que ninguém gostaria de ter como adversário. Eu até já tinha um plano bolado.

 Dessa vez ele não teve que me puxar tanto, já que eu já o empurrava para frente, obrigando-o a se deitar. Calma, Hermione. Você tem que deixar a vergonha de lado e ser menos você, agora, pensei. Eu precisava seduzi-lo, por isso comecei a roçar meu nariz em seu pescoço, causando arrepios nele. Oh, meu Merlin! Eu estava causando arrepios no Malfoy. No MALFOY! Ele com certeza estava confuso e perplexo com minha atitude, mas depois se recompôs, e deu um sorriso safado, certamente satisfeito por ter ganhado. Rá, ele é quem pensa!

 Mordi levemente meu lábio inferior antes de fazer qualquer coisa. Engoli a vergonha e me posicionei por cima dele, ele acariciava sensualmente minha cintura. Tremi com o toque, e temi o fato de que ele podia ter percebido, mas acho que não. Tentei ser mais ousada, e ajoelhei na cama, posicionando cada perna de cada lado de sua barriga, e abaixei cada vez mais, apenas aumentando o contato entre nossas intimidades. Pude sentir seu membro rígido... Rígido e grande. Ruborizei com o contato, mas prossegui com meu plano. Lentamente levantei sua camiseta, deixando a mostra uma barriga definida. Mordi mais uma vez meu lábio inferior, mas dessa vez eu o mordi para não sorrir safadamente. A vista era realmente linda... Santo quadribol!

 Comecei a depositar vários beijos em sua barriga, subindo cada vez mais. Levantei sua camiseta mais ou pouco para poder deixar o peito desnudo, então depositei mais alguns beijos lá. Um pouco antes de chegar ao pescoço, desci novamente, mas agora fui mais atrevida e desci mais. Comecei os beijos no caminho da felicidade, bem perto do cós da calça. Levei meu quadril para frente, como se quisesse mais contato ainda, e pude perceber que seu membro parecia querer sair agora. Sair da calça para ser tomados pela minha boca em algum sexo oral, ou talvez para ser levado pela minha mão em movimentos de vai e vem. Ruborizei com o pensamento, mas não parei de viajar, e pensei que o membro dele podia ansiar por uma penetração... Foco, Hermione! Fiquei feliz ao pensar que estava conseguindo. Que estava seduzindo Malfoy. Dei uma leve rebolada, apenas para deixá-lo mais animado.

 Eu não era eu naquele momento. Essa era a única certeza que eu tinha. Só que tudo era parte de um plano, e Malfoy era o único bobo daquela história.

 Fui subindo os beijos até chegar ao seu queixo, mas me afastei. Fiquei com o rosto bem próximo do dele, e abaixei até chegar ao seu ouvido.

 -Você devia saber... – fiz a voz mais sensual que pude e dei uma leve mordida em seu ouvido – E, da próxima vez – voltei meu rosto para a frente do seu, e vi que sua vontade era me beijar – Não tente brigar comigo – rocei minha boca na dele, mas depois saí da cama rapidamente, me dirigindo ao banheiro.

 -Hermione, o que você está fazendo? Merd*! – rosnou ele da cama.

 -Indo tomar banho, e não bata uma enquanto eu estiver ocupada. – peguei uma calcinha e um sutiã no meu malão, e continuei indo em direção ao banheiro.

 Tranquei o banheiro e ri sapecamente ao ouvir Malfoy dando um soco no travesseiro, e dando um grito raivoso. Ele devia saber que não podia brincar comigo. Talvez eu tivesse pegado pesado, mas ele devia saber como é que as coisas funcionavam, e como era ser o brinquedo. Geralmente eu não me gabava, mas agora eu tinha que admitir... Eu tinha mandado muito bem. Talvez fosse o tempo de convivência com o Malfoy, mas eu andava mais safada do que antes, e tinha adorado sentir sua intimidade com a minha. Adorei saber que era eu a causadora de toda aquela excitação.

 Depois desses pensamentos, não pensei em mais nada durante o banho. Eu pensava demais, e decidi que, pelo menos por vinte minutos, eu daria um descanso para minha mente. Durante dezesseis anos, tudo o que eu fiz, o tempo todo, foi pensar, e eu queria dar uma pausa agora. Quando meu banho acabou, me senti aliviada, mais leve.

 Fechei a torneira lentamente, e saí do conforto da banheira, me enrolando na toalha. Já que não queria entrar no banheiro de novo, escovei meus dentes, e penteei meu cabelo, para depois secá-lo. Sentia falta disso em Hogwarts. Sentia falta de toda essa segurança, de toda essa lerdeza que eu podia ter. Eu sabia que na cidade a vida era corrida, mas em Hogwarts era muito mais. Os banhos eram rápidos, minha arrumação tinha que ser mais rápida ainda, já que eu não tinha tempo para descansar. O tempo todo, minha mente era ocupada por milhares de pensamentos, alguns sobre como seria ter uma vida normal, fora da guerra. Como era se preocupar em viver, e não em sobreviver. Imagino às vezes, como seria minha vida com Rony e Harry, em Londres. Sem magia, sem nada. Se eu teria um futuro com ele, se eu seria facilmente feliz. Se nós faríamos coisas bobas, como fazer guerra de papel, ou qualquer outra coisa, contanto que estivesse com ele. Imagino se seria mais fácil, e imagino se Malfoy poderia se meter. De uns dias para cá, imagino como seria minha vida com Malfoy, se ele não fosse quem era. Imagino sua risada às vezes, e o modo que ela era bonita quando era verdadeira. Mesmo quando era sarcástica. Imagino como seria mais difícil sorrir daqui uns tempos, e como rir seria mais ainda. Em como eu estava sendo boba, pensando com quem eu devia ficar, ao invés de quem eu devia proteger. E como sou mais boba ainda, por ficar em dúvida entre o perfeito e o mau. Em como pode ter uma hipótese de eu gostar de Malfoy, e então me lembro de que ele está no meu quarto e que a noite pode ser nossa. Mas não quero que seja. Não quero, porque sou orgulhosa demais, e eu sei disso, mas continuo querendo e não querendo o Malfoy. Porque ele só me fez mal, e continua fazendo. E penso se Malfoy poderia melhorar, se ele poderia fazer algo por mim. Penso se poderia dar uma chance a ele, se ele quisesse uma chance. Mas é óbvio que ele não quer. Ele não iria querer uma chance para estragar sua vida e, pensando bem, eu não sei mais se daria essa chance.

 Decidi que pararia de pensar em Malfoy e eu. Na verdade, nem sei por que estava pensando nisso, já que eu e Malfoy nunca tivemos nada. Aquilo que tivemos, foi menor que nada, tentei me convencer. Pode acontecer com qualquer um, não é nada demais, não tenho que criar grandes expectativas nem nada.  Eu só tinha que continuar com a minha vida, parar de pensar em garotos, e me focar me sobreviver a tudo aquilo. Às vezes eu acho que me esqueço de que sou sangue-ruim, e que sou caçada junto com Harry. Me esqueço de como a vida é injusta, e de como as pessoas podem ser injustas e cruéis, e como Merlin era nada mais, nada menos, que um sádico. Como éramos todos peças de alguma força superior, e de como eu morreria no final. Talvez morresse na guerra, talvez morresse agora, ou talvez só morresse daqui a sessenta anos. Mas meu medo era morrer sozinha. Era ser orgulhosa. Tão orgulhosa, que nunca ficaria com ninguém. Mas só de pensar em largar meu orgulho, já me vejo como fraca. Amaldiçoei o orgulho por me fazer afastar as pessoas. Queria ter uma personalidade normal, não bipolar e menos orgulhosa, e talvez ter uma vida normal. Mas então lembro que, se eu não fosse assim, minha vida não seria assim. Ela era um caos, eu sei, mas eu a queria do jeito que ela era. Eu mudaria muitas coisas, claro, mas eu tinha Harry, Rony, Gina, e eu não os teria se eu fosse de outro jeito. Talvez até o Malfoy entrasse nessa lista. Minha vontade era, então, mudar agora. Ter o orgulho de uma pessoa normal, mas não conseguia. Em vários casos, eu via o perdoar como uma humilhação, e não sei se meu modo de ver mudaria.

 Todos aqueles pensamentos de ‘quem sou eu’, ‘quem eu quero ser’, ‘com quem eu vou ficar’ começaram a me irritar, e decidi que pensaria nisso mais tarde. Eu não faria nada agora, não sabia se faria algo no futuro, então não adiantava eu me estressar nesse instante. Só queria me trocar e relaxar. Por essa noite, eu não queria me preocupar. Não que Malfoy fosse sinônimo de segurança, mas eu estava com ele, e nós estávamos onde a guerra não podia tocar. Eu não tinha que me preocupar em proteger ninguém, só a mim mesma. Talvez nem a mim mesma.

 Coloquei minha calcinha, e logo depois fechei o fecho do meu sutiã. Quando me virei para pegar meu pijama em cima da pia, vi que ele não estava lá, porque eu conseguia ser burra suficiente para esquecê-lo. Me amarrei bem na toalha, e me certifiquei de que o nó que eu tinha feito estava bem preso, para não ter risco da toalha cair.

 Abri a porta do banheiro, e senti todo o vapor saindo, e batendo nas minhas costas. Percebi que Malfoy não estava na cama, e nem pude dar dois passos, que já senti meu corpo sendo virado, e minhas costas batendo na parede. Estava encurralada por Malfoy, que tinha aparecido de repente, e rápido demais para ser percebido por mim. Suas duas mãos estavam encostadas na parede, cada uma de um lado do meu corpo. Ele me encarava de um jeito que nunca tinha me encarado antes. Na verdade, eu nunca tinha sido encarada assim por alguém. Com tanto... Desejo. Fiquei feliz por ser desejada por alguém, mesmo sendo o Malfoy.

 -Malfoy, se você quiser fazer o favor de sair da minha frente e me deixar trocar de roupa, eu agradeceria muito – eu sou Hermione Granger, e eu realmente sou ingênua o suficiente para acreditar que Malfoy ia me obedecer, e sou idiota o suficiente para insistir – Malfoy, sai.

 -Por que, hein? Você não parecia me querer longe de você, quando a gente tava na cama – sussurrou, se aproximando perigosamente.

 -E, mais uma vez, você consegue fazer papel de idiota! – virei meu rosto para o lado – eu estava brincando com você, para ver se você aprendia que não adianta ficar tentando me fazer de boba, me deixar confusa, ou tentar me provocar.

 -Então eu te deixei confusa, Hermione? – só então eu percebi que eu tinha falado merda. Será que quando eu não penso eu saio falando verdades, sem querer, ou será que eu falo mentiras?

 -Não... Que merda, Malfoy, não. Não me deixou confusa. Agora quer me deixar em paz?

 -Hm... Não, não estou muito interessado. – Aonde é que eu faço um mandado em que proíba o Malfoy de ficar tão perto de mim? Hein, alguém pode me explicar? Porque eu sinto que eu não posso ficar tão perto dele, sem meu cérebro dar uma travada.

 -E por que não? – quando levantei meus dois braços para poder bater nele, ele os segurou, e segurou minhas duas mãos contra a parede. “Sim. Hermione Granger está fodid*”. Foram esses pensamentos que eu tive quando vi ele se aproximar cada vez mais de mim.

 -Porque eu quero você...

 Não.

 Não.

 NÃO!

 Alguém me diga que Draco Malfoy NÃO se aproximou tanto assim de mim, e alguém me diga que ele NÃO me beijou. Alguém me diga que eu NÃO o deixei fazer isso. Sim, seria bem agradável se alguém falasse isso para mim agora.

 Tudo bem, Malfoy me beijou e está na hora de eu encarar isso.

 Está na hora de eu encarar também, que Merlin não é misericordioso. Não comigo. Com Malfoy ele era. A verdade era que Merlin me odiava. Sim, odiava. Talvez não gostasse do meu cabelo, ou talvez fosse a minha repugnância por nozes, mas ele me odiava, e gostava de provar isso todo dia. Eu o odiava por isso também, então estávamos quites. Mas Merlin era um revoltado com a vida. Ele tinha herpes. Merlin, você tem HERPES no seu PÊNIS, que eu sei! HERPES NO PÊNIS! HERPEEEEEEEEEEEEES! MERLIN TEM HERPEEEEEEEEEEEEES!!! E DÁ UMA PULADA NA CERCA ATÉ A CASA DO MALFOY ÀS VEZES, ENTÃO ESSE TAMBÉM TEM HERPES AGORA! OS DOIS TEM HERPES! HERPEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEES!

 Tudo bem, era malvado da minha parte rir de alguém – ainda mais se tratando de Merlin – só porque tem herpes no pênis, coitado.

 COITADO NADA, VAMOS FAZER UMA REVOLUÇÃO CONTRA ELE, E DIVULGAR QUE ELE TEM HERPES NAQUELE LUGAR! E ESPALHAR CARTAZES CONTANDO QUE MALFOY TEM TAMBÉM! E QUE ELES TÊM UM CASO!

 É, viajei um pouco... Mas Merlin continua tendo herpes, e tem ódio de mim porque eu não tenho herpes no meu pênis... SIM, MINHA PRÓTESE PENIANA! SERÁ QUE VOCÊ TEM ALGUM PROBLEMA COM ISSO, MERLIN?

 Não tenho um pênis, mas seria legal ter um por um dia, só para saber como funcionava. É, aquele beijo não estava me fazendo bem.

 Quando tentei soltar minhas mãos, ele mesmo as soltou, mas não para me deixar ir, e sim para colocar suas próprias em minha cintura, e me conduzir para minha cama, onde me empurrou delicadamente, para poder beijar meu pescoço livremente. Minha vontade era gemer ‘seu sua’, mas não era dele. Não mesmo. E, claro, eu não queria ser.

 Mas era difícil porque, sendo ele ou não, eu ainda estava recebendo beijos no pescoço, beijos que estavam me deixando louca. E, totalmente contra a minha vontade, soltei um gemido, pois ele não conseguiu ser reprimido, e Malfoy viu isso como um sinal para continuar e se aprofundar mais ainda, pois deu uma mordida leve no meu ombro antes de descer os beijos para meu colo desnudo. Eu queria parar, mas não conseguia, e quando tentei murmurar seu nome para chamar sua atenção, ele me calou com um beijo. Um beijo que trazia seu gosto, um gosto que eu nunca encontraria em nenhum lugar, e que tinha me feito falta. Só agora eu tinha percebido como seu beijo fazia falta, e como ele era bom. Mesmo sendo dele, era bom sentir de novo. E quis me entregar. Dessa vez, eu quis. Deixei que passasse a mão pelo meu corpo, e coloquei minha mão debaixo de sua camiseta para explorar o local.

“Quantas vezes você deixou ele te beijar, hein, Hermione? Pelo o que eu saiba... Nenhuma.”

As palavras de Malfoy me invadiram de súbito, e me fizeram pensar mais do que eu gostaria, e tirar minha mão de dentro de sua camiseta. Era... Verdade. Suas palavras, dessa vez, representavam a verdade. Será mesmo que eu não deixava Harry me beijar só por que não queria ferir seus sentimentos? Ou será que tinha algo a mais nisso?Não! Eu... Eu gostava do Harry. Gosto do Harry. Gosto.

 E ele gostava de mim também. Estava disposto a fazer as coisas para ficar comigo também. Harry fazia alguma coisa, enquanto eu negava seus beijos, e deixava ele se aproximar. Terrível. Eu era terrível. Negava seus beijos, enquanto aceitava os do Malfoy. Eu era terrível.

“Porque, você sabe... Ele pareceu bem disposto a ficar com você, mas eu acho que ele mudaria os conceitos dele ao saber que você é tão difícil com ele, mas se entrega tão fácil para outros.”

 Merda! Malfoy estava certo, e era isso o que eu pensava enquanto ele descia os beijos novamente, quase chegando na barra da toalha. Por que eu negava tanto o Harry? Será que minha mente criava uma vingança contra ele, por não ter percebido meus sentimentos por ele? Não tinha sido sua culpa, mas isso era provável, já que eu era orgulhosa demais. Mas por que eu não conseguia ser tão orgulhosa com Malfoy? Não devia é olhar para sua cara. Devia treinar a Lula Gigante para infernizar ele. Mas não, eu continuava deixando ele me beijar.

“Porque sou eu quem te impede de amar o Potter, não é?!”

  Não sei se foi sua mão fria em minha coxa, ou o pensamento, mas algo me fez acordar totalmente. Era ele sim. Mesmo com pouca história, ele conseguia estragar toda a história que eu tinha com Harry. E isso me dava... Raiva. Ódio, e queimava meu sangue. Queimava tanto, que chegava a doer. A verdade doía. Não queria que continuasse assim. Se eu não andava sendo uma pessoa boa, queria ser uma a partir de agora. Se antes minha vontade era de fazer errado, agora eu queria fazer tudo certo novamente. Pelo Harry. Por mim... não, pelo Harry, tentei me convencer. Talvez fosse só por mim, e talvez eu fosse egoísta assim, mesmo. Queria ser uma pessoa boa, claro que eu queria que Harry ficasse bem, mas queria que a verdade fosse suportável. Não queria peso na consciência, e essa foi a primeira coisa que veio em minha mente quando pensei em ser boa, e então percebi que eu não só era uma pessoa má, como também era uma pessoa horrível. Mais do que eu pensava. Mas eu queria que isso parasse. Isso terá que parar. Agora.

 -Malfoy... – mas ele não me ouviu, e continuou me beijando, quase chegando ao meio dos meus seios, e só então eu percebi o que eu estava fazendo – MALFOY!

 O coitado caiu no chão quando eu o empurrei. Ah, coitado nada! Ele mereceu isso. Merece isso e pior. Merece ser comido por uma grande bosta gigante. Sim, uma bosta não só grande, e não só gigante, como uma bosta grande E gigante. Daquelas de filmes, que saem correndo atrás de você. Ou rolando, não sei. Até onde eu sei, bostas não têm pernas.

 -O que você fez?!

 -O que eu estava fazendo? – perguntou, enquanto passava a mão na cabeça, como se procurasse algum ferimento. Meu Merlin, algumas pessoas precisam ser menos purpurinas. Sério. Até Harry é muito purpurina às vezes. Eu digo, muito. Tem uma época que eu pensei que ele estivesse passando pela menopausa, e uma vez eu me escondi dele, achando que ele fosse me chamar para fazer as unhas na manicure, mas isso não aconteceu. Talvez sejam só algumas fases, se bem que sonserinos conseguem ser muito mais purpurinados. Até Rony! Tem vezes que Rony consegue ser mais purpurina que Pansy Parkinson, ouso pensar, mas não falo isso pra ele com medo que ele afogue as mágoas em meus sapos de chocolate – Você me empurrou!

 -Você me beijou! Seu verme! Animal cuspido!

 -Sério, Hermione? Eu estava aqui, mas eu não tinha percebido isso.

 -Para de ser babaca! – bufei, enquanto observava ele sentando na cama, mas numa distância razoável – Eu quero saber por que você me beijou. Ou você acha que pode me beijar... Beijar qualquer uma sem motivo? Não, não é assim que a banda toca – Sim, eu uso gírias antigas mesmo, moro? Ou vai encarar, mermão? Esse aquário é muito pequeno pra nós duas, recalcada, e a gente vai ter que resolver tudo no bang bang, então pode tirando suas barbas de molho, Gertrudes. Sou um broto, e daqui a pouco vou sair com um pão, então chore as pitangas agora, e não adianta ficar borocoxô. Sou supimpa pra dedéu, xuxu. Pombas! Você ‘tá uma chata de galocha hoje, mas mesmo assim vou botar pra quebrar. Sou a sensação, a musa do verão. Me divirto à beça com meu carango, to serelepe com minha roupa transada. Até mais ver, a discoteca ‘tá um estouro!

 -Eu odeio dizer a verdade...

 -Oh, mas é mesmo? Poxa, sabe que eu passo um tempo com você, mas não tinha percebido isso até agora?! Se você não tivesse falado, acho que teria ficado perdida aqui. – ele me encarou sem humor antes de continuar, ignorando totalmente meu comentário.

 -Você estava me provocando, Hermione. Você sabe disso. – Acabei dando um sorrisinho travesso. Tinha dado certo – E depois ainda apareceu de toalha! Merda, Hermione, você queria que eu fizesse o que? Tricô?! – céus, ele apontou para um novelo de lã, e um pensamento horrível veio em minha mente: minha mãe tinha voltado a fazer tricô. Não que eu queria ser uma filha má, daquelas que não gostam que as mães façam coisas que a deixem felizes, é só que minha mãe era péssima em tricô. Eu digo, péssima mesmo! Imagine o terror em moletons de lã. Era exatamente isso. E eu ficaria totalmente no meu canto, se ela não me obrigasse a usá-los. Ela teve essa ideia depois que eu cheguei com um moletom dos Weasley em casa, e ela adorou a ideia. Mas não foi uma boa ideia. De jeito nenhum. Talvez você, que está lendo, esteja me achando a pior filha do mundo e, tudo bem! Pode pensar assim! Mas use um moletom feito pela minha mãe. Você pode ser confundido com um grande pedaço de cocô, redondo, e com pelos. Sim, pelos, porque aquela maldita menina de cinco anos não sabia pensar antes de falar, e apontou para mim e não se preocupou em gritar “cocô gigante, redondo com pelos!”. É, foi um almoço meio traumático. Eu e minha mãe iríamos conversar, com certeza. – Eu sou homem!

 -Tenho minhas dúvidas às vezes... – murmurei – Mas você mereceu! Te provoquei por querer, e não acredito que deu certo. Pensei que fosse mais forte que isso, talvez você aprenda agora a não tentar me provocar, me confundir, nem vir com gracinhas pra cima de mim.

 -Você não pode me culpar. Já se olhou no espelho? - ele bagunçou o cabelo, num gesto ansioso – Talvez seu cabelo atrapalhe sua visão fatalmente, porque não presta atenção no jeito que os meninos te olham. Mas eles olham. – senti uma ponta de mágoa em sua voz, mas não estava na hora para rir, não estava na hora de provocações. Eu queria ouvir o que ele tinha para dizer – Te olham, comentam sobre você. Eu sei, eu escuto eles comentando. Eles falam coisas que... Enfim. Eles falam. – me senti desejada naquele momento. Não podia me gabar com nada, mas já era um começo – E, eu admito, você melhorou muito desde que você entrou . Muito mesmo. E... – ouvia tudo atentamente, mas de repente ele parou, e abriu um sorriso perigoso. Aquele sorriso que, quando vejo, tenho vontade de meter uma muqueta na cara, para ver se desaparece – Espera aí, você disse que ficou confusa? Eu te confundi, então? – desmanchei meu olhar e fechei a cara. Maldito menino escroto.

 -Não. Mas que droga, não me confundiu merda nenhuma, e pode tirar esse olhar escroto da sua cara, que você não ganhou nenhum prêmio nem nada, otário. Sem mais beijos. Aqui e em qualquer outro lugar.

 -Hermione, você é uma menina tão bonita para falar tantas palavras feias numa frase só. – aquilo estava me irritando, e alguém sairia machucado daqui a pouco.

 -E já comentei como meu nome fica tão feio saindo da sua boca? Sério, ele fica horrível, parece gorfo. – mesmo falando desse jeito assassino, eu estava me divertindo com aquela conversa. Era divertido provocar alguém e ser provocada de volta, e não receber uma risada e um “Hermione, você é muito engraçada” porque eu sei que eu não sou. Não queria falsidade e, mesmo esse garoto na minha frente sendo o rei da falsidade, em provocações ele falava sério. Não mentia, e eu gostava disso. Pelo menos disso eu gostava.

 -Hermione, me impressiono com tanta classe que você esbanja. – frisou no meu nome, com o intuito de me provocar mais – De verdade, não sei como você consegue ser assim, sabe, sua mulher parece ser uma mulher de classe. – dei de ombros.

 -Sempre curti ser a ovelha negra da família. É bem divertido, se você for ver. Nos jantares de família, enquanto todos comem com garfo e faca, eu como com a mão e lambo o prato depois. Às vezes eu fico com preguiça e como a comida direto do prato, entende? É o maior barato. – falei sem humor e ele ficou me encarando, depois incrementei – Nada que você deva entender, já que na sua casa os mordomos dão lagosta na sua boca, com garfinhos de ouro.

 Ficamos no encarando, o que foi estranho.

 E ele começou a rir, de repente. Primeiro, fiquei séria, mas não aguentei, e ri junto. Lá estava eu, rindo com Malfoy, no quarto dos meus pais, e a situação ficou bem mais estranha, porque eu estava de toalha, e ele pareceu perceber isso.

 -Você tem um senso de humor meio estranho, sabia? – comentou, se apoiando na cama com apenas um braço, deixando a cabeça pender para o lado direito – Você não acha melhor colocar um pijama?

 -Por quê? Minha sensualidade te incomoda? – perguntei de brincadeira, puxando um pouco minha toalha. Ele riu.

 -Na verdade sim – admitiu, e fiquei séria depois disso, soltando minha toalha – Mas está frio e você vai ficar doente, e eu não quero acordar com ninguém tossindo na minha cara.

 -Não se preocupe, Malfoy – suspirei, andando até meu malão e pegando um pijama qualquer – Não estou nem um pouco a fim de acordar e já olhar sua cara, então eu durmo virada para janela.

 -Oh, quer dormir de conchinha? – alfinetou.

 -Vai à merda, Malfoy. – murmurei, antes de fechar a porta do banheiro e me trocar, podendo ouvir sua risada vindo de dentro do quarto.

 Mas que merda tinha acontecido no quarto? Porr*, to falando muito palavrão. Que c*, falei ‘porr*’. Ah! Fod*-se essa merda. A questão é que Malfoy e eu estávamos conversando. Normalmente. Digo, com a alfinetação de sempre, mas ninguém tentava ferir alguém de verdade. Bom, pelo menos ele não, já que a minha vontade era tirar aquele sorriso escroto do seu rosto.

 Deixei a toalha cair no chão e me examinei no espelho. Eu não era tão feia assim. Conseguia até me sentir... Bonita. Odiava admitir, mas, graças ao Malfoy, meus dentes tinham melhorado depois do quarto ano. Apesar de meus olhos não terem nenhuma cor especial, eram grandes, destacando-se no meu rosto. Meus cachos não eram mais armados, e sim, ajeitados. Eu não era mais magricela, agora já tinha curvas, e meus seios, apesar de não serem tão fartos, tinham um tamanho bom. Talvez ele não estivesse mentindo. Talvez os meninos olhassem para mim, não do modo exagerado que ele falou, mas talvez olhassem, e me senti bem. Me senti desejada, me senti mais mulher. Bem.

 Depois de me vestir, sai do banheiro, me deparando com um Malfoy deitado preguiçosamente, ocupando maior parte da cama.

 -Acho melhor você tomar banho. – murmurei carinhosamente. Para quê carinho? Merlin, me explique! Não, não me explique, não. Não quero falar com um deus que tenha herpes no pênis, que nojo! Malfoy me encarou e ficou assim por um tempo. Não gostei disso, não gostei de ser analisada. Agora tinha medo, e sentia como se ele estivesse lendo minha mente de novo.

 -Tudo bem... – murmurou, e parecia que mantinha um certo controle para não me beijar novamente – Acho que é uma boa ideia.

 Acompanhei seus passos até o banheiro, e depois continuei olhando que nem uma tonta para a porta, sem saber o que fazer, então apenas me deitei na cama. Tombei minha cabeça para o lado, e vi uma fotografia minha. Lembro até que foi tirada um dia antes do meu primeiro dia em Hogwarts, e eu já estava com uniforme. Lembro minha felicidade e excitação, e o modo como eu sorria, o orgulho dos meus pais. O jeito que eu pensei que o mundo bruxo fosse fácil, mas trabalhoso.  Agora eu sabia que o mundo bruxo era difícil e trabalhoso. Cheio de guerras, e eu fazia parte delas, e tinha que me proteger, pois era um ótimo alvo.

 A nostalgia me invadiu, e as lágrimas começaram a escorrer. Queria entrar naquele quadro, nem que por alguns instantes, e roubar o sorriso daquela menina, fazê-lo novamente meu. Queria roubar suas preocupações, prioridades, seus medos – todos tão bobos – e tê-los para mim, porque era bem mais fácil antes. Queria voltar para o segundo ano, e ter uma paixão platônica pelo meu professor de DCAT. Queria tudo fácil como era antes, e queria calar a minha boca de antigamente, e ter sido uma menina mais legal e menos reclamona. Tudo bem, minha vida não era tão lixo atualmente, tirando o fato de ser caçada junto com Harry e Rony por pessoas cruéis. 

 Minha vida é boa, pensei. Como disse antes, eu tinha ótimos amigos, e tinha alguém incrivelmente bipolar para deixar minha vida legal. Rá, ‘legal’! Ri com esse pensamento, e comecei a repetir a palavra ‘legal’ várias vezes na minha cabeça, com várias vozes diferentes.

 -Legal... – acabei falando, dessa vez com a voz da Murta Que Geme – Legal. – Hagrid – Legal – Minerva – Legal – Dumbledore – Legal – Harry – Legal – Gina – Legal – minha mãe – Legal – meu pai – Legal – voltei pra Murta Que Geme, porque imitar ela é muito legal, e de repente comecei a rir, repetindo a palavra ‘legal’ várias vezes.

 -Hermione, o que você está fazendo exatamente? – perguntou Malfoy, provavelmente estranhando meu comportamento. Blé pra você, Malfoy, eu faço o que eu quiser, e se eu quiser ficar falando ‘legal, legal, legal’, eu falo. Me deitei de lado para encará-lo, mas mal pude encontrá-lo no meio de toda aquele vapor que saía do banheiro.

 -Céus, quanto tempo você ficou aí? – perguntei, e quase gaguejei quando o vapor foi embora, me dando a visão de um Malfoy bonitinho... TA, UM MALFOY GOSTOSO, VÃO ME PRENDER POR CAUSA DISSO? ENTÃO ME PRENDE, PODE ME PRENDER, QUERO VER SE VOCÊ NÃO IA ACHAR ELE GOSTOSO TAMBÉM SE O VISSE SAINDO DE TOALHA, TODO GOSTOSO, E VOCÊS SOZINHOS EM CASA, TRANCADOS NUM QUARTO!

 Tá, eu me empolguei um pouco, mas ele estava gostoso demais, com seu típico cabelo bagunçado caindo pela testa, vários fios platinados definiam uma masculinidade do seu rosto, e eu queria aquele menino agora.

 NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! NÃO QUERIA! EU TINHA QUE PARAR DE PENSAR MERDAS LOGO, ANTES QUE EU COMECE A FALAR ELAS... SERIA O TERROR! TERRORRRRRRRRRRRRRR! TERROR, TERROR, TERROR DA MADRUGADA, SENHORA BANANINHA VAI PEGAR UMA COCADA!

 Ta, parei. Olhar pra ele não estava fazendo bem para minha sanidade. Não mesmo.

 -Granger, seria muito interessante se você prestasse atenção no que eu falasse... – sua voz ecoou no meu ouvido, e só então percebi que tinha ficado em alfa (N/A: Pra quem não sabe, alfa é o nome não-oficial dado ao momento em que você fica meio que viajando, sabe? Olhando pra algum ponto, viajando e tudo mais... Bem comum, todo mundo fica em alfa às vezes haha Foi minha amiga que me falou do tal do alfa, mas não faço ideia de quem tenha inventado) – Mas tudo bem, eu deixo você me olhar enquanto troco de roupa... – o macaco falante colocou a mão no nó da toalha, e começou a soltá-lo! SOLTAR! SERÁ QUE ELE TINHA ALGUM PROBLEMA MENTAL?

 -MALFOY, NÃO! SEGURA ISSO, MOLEQUE! – virei minha cabeça para o outro lado e joguei um travesseiro em cima dele, tentando evitar a cena que iria acontecer. Mas, ao invés de ouvir o som da toalha caindo, ouvi sua risada – Besta – murmurei, dando uma olhada pelo canto do meu olho, podendo vê-lo ainda com a toalha vestida, então comecei a rir. Isso, rir, e me senti completamente idiota por isso, mas não liguei, ser idiota meio que já estava fazendo parte do meu cotidiano – Sua besta, animal de teta! – grunhi, ainda entre risos – Vai logo trocar de roupa, eu estou com sono e quero me deitar junto de você... – Hermione, você falou MERDA e ele entendeu errado, é bom você consertar isso agora – Quantas vezes eu vou ter que te falar a frase ‘tire esse sorrisinho escroto do rosto’? Sério, tire esse sorrisinho escroto do rosto, você entendeu o que eu quis dizer... – corei com seu sorrisinho perigoso, e quis dar um soco na cara dele. Assim, aqueles socos de filme, em que sai sangue até pelos olhos, e faz um barulho assim ó... POW! Sim, POW, seria um sucesso se eu pudesse dar um soco nele – Você está hospedado na minha casa, e eu não posso dormir antes de você, seria... Deselegante. Então vai logo, coloca seu pijama e vem pra cama – Olá, merdometro, será que alguém pode regular a quantidade de merdas que saem da minha boca? Não? Tudo bem, pelo menos eu tentei, né -  Merda! Coloca seu pijama e vem dormir – e só então ele saiu rindo, abaixando até seu malão para pegar suas roupas.

 Entrei debaixo dos cobertores, me sentindo incrivelmente segura lá. Virei para o lado contrário do resto do quarto, olhando para a janela. Estava muito escuro lá fora, e não conseguia não ser invadida pelo medo de comensais aparecerem. E destruírem tudo. Tudo. Eu vivia com medo agora, como se temesse o aparecimento de alguém ruim o tempo todo. Era terrível. Mas então senti o peso de Malfoy abaixando o colchão, e não me senti mais tão sozinha. Fingi não ter percebido, mas então sua voz se fez presente, rouca e áspera, me desejando boa-noite, mas esperei para responder, só para ver se ele falava mais alguma coisa, mas ele não o fez.

 -Boa noite... – murmurei, me encolhendo no meu canto, querendo ficar longe e perto dele.  Quando nossos pés se tocaram, imaginei se ele também tinha ficado constrangido, o que era uma bobeira, uma vez que ele quase beijou meus peitos há alguns minutos atrás – Ei, você está com frio? Quer algum cobertor a mais? – ele soltou uma risada nasal, depois vi que tinha se movimentado na cama, virando de frente para mim, provavelmente.

 -Não preciso de nada, obrigado.

 -Tudo bem, boa noite então – sorri, me achando uma idiota por ter repetido isso.

 -Boa noite – suspirou, mas dessa vez não respondi. Aquilo estava ficando meio que babaca demais, e eu estava com sono, mas por algum motivo bem gostoso e loiro, eu não conseguia. Tudo bem, vamos analisar.

 Eu estava sozinha em casa com o Malfoy. Ele era extremamente gostoso e lindo. Tinha a pegada do caralh*. Estava na mesma cama que eu. Será que o merdometro de alguém já apitou aí?

 -Hermione? – sussurrou.

 -Malfoy.

 -A gente não vai conseguir dormir, não é? – Quis responder um ‘óbvio que vou dormir, otário, ta achando o que, hein? Ta se sentindo bacana, gostosa, e um mulherão, é? Manéééé, eu sou maneiríssima e consigo dormir, rá!’, mas só respondi um ‘não’ meio ridículo. Sério, sabe quando você vai rir e falar ao mesmo tempo, e o que era pra sair como uma fala de uma pessoa normal, acaba saindo um “nãÃO hehe”? Então, foi exatamente isso. Constrangedor. Terrível. Bom, nada a declarar nessa entrevista, autógrafos só no final. – Então, você quer conversar? – ri debochada.

 -Estou tão animada para fazer isso! – ironizei – Não creio que meu sonho de ter uma conversa com você está se realizando!

 -Para de ser chata, Granger, você não está conseguindo dormir, eu também não. Eu estou tentando oferecer alguma coisa legal para nós fazermos... – Me virei para encará-lo, mas ele estava perto demais, o que me fez corar. Eu não sei o quanto ele sabia sobre leis, mas usar camiseta NÃO era proibido, sabe? Talvez ele se esquecesse disso ao ficar seminu na minha casa. Minha casa. Ele estava na minha casa. Eu estava corando por causa do Malfoy, que estava na mesma cama que eu. Seminu. Perto demais. Céus, aonde eu tinha me metido? – Mas, se você não quiser, eu tenho na minha mente outros jeitos de passar o tempo... – murmurou malicioso, se aproximando de mim. O que eu tinha que falar para minha mente para me lembrar de que ele era o Malfoy?! Será que eu precisaria correr pelada com uma plaquinha escrita ‘sou babaca, me dê cinco reais’? Ta, não fez sentido, mas NÃO É pra fazer sentido, já que o Malfoy na minha cama não está fazendo sentido nenhum. Tudo bem, câmeras, suas sacaninhas, saiam daí e tirem o Malfoy daqui, antes que a gente faça alguma besteira.

 -Não me canso dessa frase... – filosofei, e depois o encarei, séria – Tire esse olhar escroto do rosto, Malfoy... Boa noite – me virei novamente para olhar o céu, mas, depois de um tempo, meu corpo foi sacudido por Malfoy.

 -Tudo bem, Granger, eu posso tentar ser agradável... – resmungou – Senão você dorme e eu fico aqui, sem fazer nada! – voltei para minha posição anterior, e tentei encarar fundo nos seus olhos, mas sem realmente enxerga-los – Então, me diga, como vai o Potter? – crispei os lábios e tentei respirar fundo para não fazer nada ilegal. Aliás, não seria nada legal se minha mãe abrisse a porta e visse meu ‘suposto namorado’ torturado, se bem que a ideia anda me agradando muito.

 -É isso que você chama de ser agradável? Jura mesmo? Se for pra seguir esses níveis, então, por favor, me fale da Nojenta Parkinson e de sua grandiosa habilidade de imitar um desentupidor de pia. Ou de privada, não sei, geralmente da sua boca só sai merda.

 -Vai cagar, Granger – grunhiu, fechando a cara, mas pude ver ele corando. MEU MERLIN, MALFOY CORANDO? ISSO, DEFINITIVAMENTE, NÃO É NORMAL!

 -Como você consegue beijar ela? – provoquei – A cena não te enoja, não?

 -Na verdade, nem presto atenção nisso, já que fico ocupado demais passando a mão pelo corpo dela, coisa que ela tem, sabe? – Trinquei os dentes. Maldito, desgraçado.

 -Jura?! – fingi animação – Então quer dizer que ela já está pronta para ser prostituta, é isso? Você é clientinho dela... Hmm, deve ser por conta da casa! – exclamei – Vocês estão em algum tipo de relacionamento casual?

 -O nome é sexo casual, Hermione. – ignorei o fato de ele ter falado meu nome. Estava um pouco confusa, na verdade.

 -Mas vocês não... – ele fez um olhar desentendido, mas a confusa lá era eu. De repente, uma imagem tremendamente nojenta me invadiu, e quis cuspir cuspe radioativo no rosto dele, não, melhor! No pacote dele, talvez seu amiguinho conseguisse ficar na dele por um tempo depois disso – Quer dizer que vocês já...? Céus! – reprimi uma careta, pensando seriamente em cuspir radioativamente nele, não que eu tivesse esse poder, mas seria bem interessante – Nem saiu das fraldas direito, e já procura um lugar pra enfiar o... – o vi dando uma pequena risada maliciosa, mas ao mesmo tempo, divertida, como se meu constrangimento fosse alguma tipo de stand-up. Realmente, hein, eu era hilária. Hunf, otário – Esquece!

 -Ah, Hermione – lá estava. Meu nome mais uma vez, sendo usado por ele – Fala sério, o que você acha que nós fazemos quando estamos juntos e sozinhos? Conversamos sobre a imensidão desse mundo,e os medos que nos afligem? – imitou a voz da Trelawney, e eu riria se não tivesse me sentido ofendida por essa perspectiva dele, como se, se sentar e conversar, fosse uma coisa infantilmente inútil.

 -Eu não sabia que vocês ficavam sozinhos às vezes – desafiei, empinando o nariz – Ou você acha que a vida alheia, principalmente a sua, é tão interessante para mim que eu decidi contratar alguém para espioná-la? Sinceramente, a sua vida... – engoli em seco antes de continuar – Sexual, er, não é o foco da minha vida.

 -Não, os livros são – tirou um fio de cima do seu olho, um fio que teimava ficar lá o tempo todo e, depois que o fio voltou para seu lugar, ele deu um grunhido frustrado.  Achei graça.

 -Eles são mais interessantes. E aposto que, o sexo nos livros é muito mais excitante do que o sexo entre você e a Patrkinson, mas, quer saber? – falei, antes de ele responder qualquer coisa – Vamos falar de outra coisa, porque essa conversa e as cenas na minha cabeça não estão me agradando.

 Então ficamos parados lado a lado, rígidos, quietos, ouvindo a respiração do outro. Mas eu queria conversar, eu queria saber sobre ele e a vida dele. Eu costumava odiar Malfoy, mas o odiava pelo o que ele fazia, e não por quem ele era. Depois que você analisa alguém duas vezes – no meu caso seria só analisar bem, porque eu nunca tinha tirado um tempo da minha tarde para fazer uma análise do Malfoy –, você percebe que não sabe nada dela. Eu digo, nada mesmo. Tirando algumas coisas, ele era um completo estranho para mim.

 -Malfoy? – espero que ele esteja acordado, espero que ele esteja acordado. Espero que ele esteja acordado.

 -Granger – soltei uma risada nasal e então me virei para ele, tentando não corar com a proximidade dessa vez.

 -Para de graça, é sério... Eu sou ruim de puxar assunto, mas... – ele soltou um ‘percebe-se’, e bufei – Cala a boca, Malfoy. E fala alguma coisa sobre você...

 -Poxa, seu nível pra puxar assunto é melhor do que eu esperava, sabia? – ironizou, e eu dei um leve chute na sua perna – Ta bom, ta bom... O que você quer saber?

 -Hm... – filosofei. Vamos, pergunte alguma coisa bem descontraída. Seja descontraída. Pergunte se ele gosta de animais, ou talvez seu prato favorito. Pergunte se ele é loiro mesmo e depois faça alguma piadinha sem graça em relação a isso. Pergunte se ele gosta de música... Não, ridículo demais. Mesmo os mais estranhos gostam de música, então só pergunte que tipo de música ele gosta. Seja espontânea e não fale da escola. Tudo bem, lá vai... – Você está com medo da guerra? – POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOONTO PRA HERMIONE! PERGUNTE ALGO DESCOTRAÍDO, CLARO, NADA MAIS DECONTRAÍDO QUE A GUERRA! SOU ÓTIMA PARA ASSUNTOS, ÓTIMA!

 -Medo... – ele repetiu, sem parecer abalado pela pergunta – Que nem o medo que você sente? 

  -O medo que eu sinto? – tentei parecer corajosa, mas parecia impossível com ele me olhando daquele jeito tão... Protetor. E eu acabo me sentindo indefesa – E como seria esse medo, hein?

 -Fala sério, Hermione, não que eu seja perito na sua pessoa, mas eu sei como você era antes. Eu presto atenção, sabe? – não core. Não core. Merda, corei – Antes você era... – não completou, e ainda acabou deixando essa frase no ar – Mas agora você... Tem medo o tempo todo, não tem? – olhei para baixo, tentando não encarar a verdade – Você odeia ficar sozinha, até porque acha que alguém vai atacar e, apesar de você achar que vai salvar o mundo, você sabe que talvez não seja capaz, e morre de medo de morrer sozinha. E sem ninguém saber, principalmente. – ele pensou mais um pouco – E... Também fica com uma dúvida, sem saber se as pessoas estão vivas ou não. E tem medo de destruírem tudo. – ao ver minha expressão, ele riu. Otário. Revirei os olhos.

 -Sai da minha mente. Agora. – ele fez cara de ofendido.

 -Juro, eu não entrei dessa vez. É sério! Eu nem sei se isso é permitido fora dos limites de Hogwarts! – Putz, é verdade – Eu não sou um completo idiota, sabia? – quis rir muito nessa hora, mas me limitei em apertar os lábios – Tem umas coisas que dá pra perceber, e eu percebi um pouco só de ver você se encolhendo no cobertor.

 -Tudo bem, senhor sabe tudo... – o encarei novamente – Talvez você tenha acertado algumas coisas... Mas me diga, qual o seu tipo de medo com a guerra?

 -Não sei... – ele olhou para o teto, e depois me encarou – Acho que é aquele medo de... Talvez só tenha medo de perder minha família. Nem isso, talvez só a minha mãe – o encarei desentendida. Como assim, ele era o Malfoy, era um sonserino! Não podia ser isso! – É que... – ele começou, compreendendo meu olhar – Eu tenho meus amigos, mas gostar de pessoas não é bem o meu forte. – Ah, mas é mesmo?! Mas não falei nada, e apenas o deixei falando – Talvez eu não sinta falta das coisas.

 -Quer dizer que, se tudo ficar destruído, não faz diferença pra você? – perguntei, indignada –  Se seus amigos morrerem, se o mundo acabar, se mesmo a Parkinson morrer! Se... Se eu morrer não vai fazer diferença nenhuma pra você... – murmurei, me arrependendo de ter falado, e torcendo pra ele não ter ouvido.

 -Eu ouvi o que você falou, mas eu sou legal por essa noite, então vou ficar quieto... – ele riu, e eu ri junto.

 -Isso, faz bem em fazer isso... Mas é sério, agora eu fiquei curiosa – ele me encarou – você não sente falta de nada? Nada?  - ele não disse nada, então olhei para o teto e revirei os olhos – Vou te dar um hipogrifo, talvez você sinta falta dele – mas que merda eu acabei de falar? Malfoy me encarou balançando a cabeça, tentando entender o que eu tinha acabado de falar.

 -Hipogri... – e riu. Me virei para ele – Você é engraçada, Hermione. De verdade.

 -Sim, posso ver na sua risada como eu sou hilária. Um espetáculo. De verdade – o imitei, tentando descontrair o clima – Falando sério agora, que tal nós fazermos tipo uma brincadeira? Sabe, de responder... – ele me olhou com descrença – Nem vem com esse olharzinho, vai ser legal! – me empolguei e acabei chegando perto demais dele, mas então vi que ele tinha percebido, e tentei me refrear um pouco – Já que a gente não consegue puxar assunto, então eu falo alguma coisa sobre mim e você fala alguma coisa sobre você. Mas tem que ser alguma coisa legal e relevante, algo que não seja óbvio. Por exemplo, não me venha falar que você caga, porque eu já sei disso.

 -Hermione, de onde você tira tanta classe? Palmas para você.

 -Obrigada, aprendi com os melhores, agora fala alguma coisa sobre você.

 -Ei, por que é que eu tenho que começar?! – colocou a mão no peito, fazendo aquele olhar de ‘sou bom demais para essa merda’.

 -Porque eu já falei sobre o negócio da guerra, você não falou nada que eu já não soubesse... Ah, a não ser a parte em que você diz que não sente falta de nada. Vai, começa.

 -Bom... Eu sentiria falta de você – o encarei descrente. Aham, ele sentiria a minha falta. Com certeza.

 -Ok, pode passar pra próxima mentira... É sério, Malfoy, é pra falar alguma coisa importante sobre você.

 -Isso não é importante? Fala sério, Hermione, eu não sentiria falta de quase ninguém, e você está na lista dessas poucas pessoas. Isso não é importante?

 -Tudo bem, eu vou fingir que eu acredito. Bom, eu não gosto de dizer ‘tchau’ pras pessoas, sabe? Parece tão... Eterno, não sei. Eu prefiro dizer ‘até mais’, ou ‘até logo’. Assim eu não tenho essa sensação de perda. – Poxa, cara, acabei de abrir meu coração, alguém entregue meu Oscar.

 -Hm... Mas e se o seu ‘até mais’ for depois que você e a pessoa morrerem, e então se encontraram – eu já ia responder algo. Claro, eu tinha um argumento. Mas a questão é que eu não tinha um argumento. Saco!

 -Merda, você terminou até com o meu jeito de me despedir das pessoas... – comentei, mal-humorada.

 -É, bem, me desculpe por isso... – ele suspirou, parecendo sincero – Será que eu posso fazer uma pergunta?

 -Se eu falar ‘não’, não vai mudar nada, então vai, pergunta.

 -Você me da uma chance? – senti meu coração pular uma batida, e então tudo pareceu estranho demais. Saco, sou orgulhosa demais. Saco, estamos sozinhos aqui, mas a noite não pode ser nossa. Não agora, nem nunca.

 -Malfoy, por que eu te daria uma chance? – respirei fundo, não conseguindo encará-lo – Devia ter pensado nisso antes de ter me tratado mal...

 -Mas eu te fiz tanto mal?! – exclamou, se remexendo na cama – Eu não posso ter te feito tanto mal assim, eu não sou um monstro também, Hermione, eu sei o que eu não fiz.

 Por um lado, ele não tinha me feito tanto mal... Ou tinha? Não sei, parecia que eu sempre me esquecia de tudo o que ele tinha feito, parecia que, de uns tempos para cá, nada parecia tão grande assim. Tudo bem, ele foi um babaca antes, mas quem é que já não foi? Mas por que é que eu estava tentando encontrar justificativas para isso? O Malfoy é um Malfoy, e não importa se ele consegue ser bom em algum momento, porque, no final, o Malfoy é mal. Ele machuca os outros, ele não sabe amar. Ele me machucou. E talvez Rony e Harry tenham me machucado bastante no começo e agora nós éramos melhores amigos, mas nada tem a ver com nada. O que ele tinha feito era bem pior. Antes nós éramos crianças, mas Malfoy continuava com as maldades até agora, com as más escolhas. Alguém me explique o porquê de eu estar cogitando qualquer coisa. Eu não devia cogitar nada, Malfoy não era uma opção.

 -Sim, você fez... – senti mês olhos marejarem ao me lembrar de tudo o que ele já me fez, mas então eles ficaram secos de novo, vazios, e tentei não demonstrar emoção nenhuma – Fez muito mal. Podemos mudar de assunto agora?

 -Não. – ele disse, decidido – Olha aqui, Hermione, eu quero saber de uma coisa, você me odeia?

 -Mas é claro que eu ode... – respondi sem nem pensar, mas ele me puxou para mais perto dele, e nossas respirações começaram a se misturar, e me senti levemente desnorteada.

 -Odeia? Então me diz o que eu faço aqui, deitado na cama, na sua casa, do seu lado – vacilei, e soltei um gemido frustrado ao olhar dentro de seus olhos, e acompanhei seu sorriso vitorioso – Você não me odeia, você sabe disso. Fica comigo, Hermione, esquece isso, esquece tudo o que eu já te fiz. Fica comigo.

 -Malfoy, não... Não vou esquecer, eu nunca vou esquecer. E, mesmo que eu esquecesse o que você fez, eu nunca vou esquecer quem você é. Porque está aí o tempo todo, não tem como eu esquecer. E eu também não quero. Faz parte de quem eu sou, odiar quem você é – menti. Tinha que ficar falando para mim mesma que o odiava, para ver se isso mudava alguma coisa no meu ponto de vista. Para ver se conseguia ser possível eu distorcer cada coisinha que ele fazia, para algo enorme, imperdoável.

 -Você não me odeia, mas até quando você vai continuar falando isso? – lembrei que estávamos muito perto, mas não quis me afastar. Estava quente ao seu lado, quinze centímetros para trás já era frio demais, já acabava a segurança.

 -Até quando você vai ficar falando para eu parar com isso? Por que eu precisaria parar?! A gente já não viveu sempre assim? Até onde eu lembro, estávamos bem antes de tudo isso. Por que você teve que fazer a merda de mudar tudo?!

 -Porque eu te quero, Hermione, que saco! Eu quero você, será que é difícil de entender?

 -É, é muito difícil sim, porque você não tem motivos pra me querer. Absolutamente nada! O que eu fiz pra você querer, hein? Me diz. Eu não fiz nada, não tem por que você me querer.

 -Merda, Hermione, você me faz querer você. Não gosto de ficar perto de você, porque minha vontade é ter mais contato com você. É que... Eu quero você. O tempo todo. E eu não sei se é porque você não me quer de volta, ou porque você é tão... Proibida. Não sei, mas eu quero você. É totalmente errado, e isso não podia ter acontecido, mas aconteceu. E não é... – ele bagunçou os cabelos, encabulado – tão recente assim. Só que não é uma coisa que acaba também, parece que, não importa com qual garota eu me ocupe, no final sempre volta a ser algo sobre você. É sempre você no final.

 Mais uma vez ficamos estáticos, mas dessa vez nos encarando, como se tentássemos decidir o que faríamos. Eu queria beijá-lo, mas não podia me entregar dessa forma, e então o orgulho falou mais alto, mais uma vez. E fiquei parada. Não me mexi. Ele se aproximou, e não me afastei. Será que eu podia ser considerada culpada se ele me beijasse? Será que eu podia ser considerada culpada por querer sua boca novamente? Sua língua na minha. Quente. Nos unindo mais uma vez, no que parecia impossível. Ele era Draco Malfoy, vamos nos lembrar disso. Ele é o sinônimo de errado, eu era tudo o que devia ser certo. Não podia me desapontar dessa vez. E, não importa a imagem que ele passasse, ele continuava a ser quem era, e não ia mudar. Não tinha por que eu me iludir. Não dessa vez.

 -Eu te odeio, sabia? – suspirei, encarando-o, tentando enxergar se tinha alguma alma por trás de seus olhos – Não desse jeito, mas... Eu odeio o que você faz. Odeio. É doentio o que você faz. Mas, de alguma forma, eu não consigo odiar você. Odiar quem você é, sabe? Apesar de que seria bem mais fácil pra mim. Mas não dá. Eu... Não consigo.

 Ele aproximou seu rosto do meu, numa distância em que eu não sabia mais qual respiração era a minha. Era errado. Era detestável. Era mau. Era contra o meu orgulho. Mas, quando nossos lábios se tocaram, eu só podia pensar como tudo aquilo era maravilhoso. Se eu me sentisse bem, talvez pudesse até ser certo. Mas ele era o Malfoy, não tinha como dar certo. Era errado. Errado. E eu estava caindo naquela de novo. Fod*-se. Era uma noite só, eu podia errar à vontade. Depois eu me preocupava em acertar, e talvez até compensar tudo. E talvez tudo voltasse a ser mais certo do que era antes. Mas me acomodei nele, deixei que ele passasse a mão pelas minhas costas, deixei que ele enlaçasse a perna na minha, deixei que prosseguisse com o beijo. Que aprofundasse mais. Como eu disse, eu seria errada por aquela noite, só por aquela. Talvez se transformasse em algo certo no futuro.

 Com ele dessa forma, tão diferente do usual, era fácil esquecer quem ele realmente era, e assim, mais fácil continuar com tudo aquilo. É fácil ser errada. É bom.

 Será que alguém pode me lembrar de quem ele é? Tudo o que ele fez? Ou será que alguém pode me lembrar, acima disso tudo, que o que ele fez, é totalmente errado? Porque parece que, nesse momento, eu analiso tudo, mas nada parece tão errado assim. Tudo parece justificável, ou perdoável. Nada parece motivo para eu não me entregar a ele nessa noite.

 Quando eu percebi, ele já estava em cima de mim, e o beijo não tinha o sentido doce que tinha antes. De tanto pensar, eu acabei colocando toda a minha raiva nele, e tudo tinha um sentido violento. Eu bagunçava seu cabelo, e mordiscava inúmeras vezes sua boca, querendo feri-lo, mas só conseguindo fazê-lo gemer de prazer, enquanto ele apalpava minha coxa, e me beijava com agressividade. O ar fez falta, e eu tentei não me importar, mas isso só durou por cinco segundos, e então tivemos que nos separar. Queria voltar. Queria sua boca de novo e de novo, mas tentei ser sensata. Pelo menos um pouco.

 -Seu merda... – grunhi, ofegante, tentando parecer brava.

 -Que elegante da sua parte, Hermione... – ele estava ofegante, igual a mim. Tentei ignorar o volume que roçava na minha intimidade, mas estava levemente estranho. Aquela situação era estranha demais. Tirei Malfoy de cima de mim, e o empurrei para o lado.

 -Será que dá para você ficar longe? – ele se afastou um pouco, com um olhar divertido. Ajeitei meu cabelo – Obrigada. E, Malfoy, que tal se você parasse de falar meu nome?

 -Hermione, que tal se você parasse de não falar meu nome? – indagou, com um ar divertido – Não é nenhum crime, e eu até que me sinto bem ouvindo você falar meu nome...

 -Já tenho que te chamar de Draco na frente da minha mãe, eu acho que eu mereço um descanso. E olha aqui, falando em descanso, eu acho que vou dormir... Esse dia foi uma eternidade... E nem acredito que ele acabou – completei para mim mesma – Bom, boa noite, tá? Se precisar de qualquer, por favor, não me chama.

 -Hermione, sempre muito hospitaleira... – senti seu corpo se mexendo na cama, provavelmente se virando para o lado contrário do meu. Quer dizer, eu espero que ele esteja virando pro lado contrário, não é como se eu quisesse dormir de conchinha com ele. Caramba! – Boa noite.

 Eu não sei quanto a ele, mas eu não estava com sono de jeito nenhum. Não queria dormir, queria ficar acordada, conversando, xingando-o, mas acredito que, se eu o fizesse, eu faria merda. Muita merda, e eu não queria aumentar minha coleção.

 Quando acordei, senti uma mão na minha cintura. Merda, eu estava num quarto desconhecido, na cama com um desconhecido... A bebida nunca fazia bem para mim, a ressaca sempre era forte. Hehe, mentira, sou hilária. Acordei no quarto dos meus pais, com a mão de... De quem mesmo? Ah, sim, claro, eu tenho que perder essa mania de me esquecer de como sou sortuda, já que estou na cama com quem? Quem mesmo? Será que Merlin pode me ajudar? Aaaah, mas que graça, estou na cama com Draco Malfoy, ótimo! A noite passada foi um lixo, palmas para mim por ter feito o que eu fiz ontem. Adivinha o que? Só merda, exato. Porque eu, Hermione Granger, sou uma máquina de merdas, faço uma merda depois da outra. Não tem pausa.

 Lentamente rolei para o lado, e acabei caindo no chão. Maravilha! Malfoy gemeu alguma coisa, mas pareceu não acordar, para a minha sorte. Fui engatinhando até o banheiro, onde tive uma visão privilegiada de meu lindo cabelinho pela manhã. Mas talvez isso seja um sinal de que eu posso usar meu cabelo pras forças do bem, e asfixiar o Malfoy com ele. Ai, que orgulho dessa juba! Escovei os dentes – não aguento ficar cinco minutos com aquele bafo matinal – e fiz minha higiene pessoal, dando um jeito na cara amassada, no cabelo armado e em todo aquele caco que eu estava. Eu não podia dizer que estava bonita, mas melhor do que antes, eu estava.

 Saindo do banheiro, encontrei Malfoy acordado, mas ainda deitado na cama, com um olhar sonolento de menino de cinco anos. Espero que ele não fale. Sério, a voz dele já é maravilhosa, e a voz dos meninos tende a ficar mil vezes mais sexy quando eles estão com sono, então, Merlin, POR FAVOR, deixe esse menino com a boca calada.

 -Vamos, Malfoy, acorda! Esse dia tá cheio de expectativas, cheio de coisas para fazer... Por exemplo, você pode ir da cama para o banheiro, e depois voltar para a cama. Nada mais instrutivo que isso – comentei com graça – Tudo bem, se você quiser ficar deitado, não tem problema, contando que você não fique roncando, ou reclamando de como a vida é cruel e tudo o mais – ele relaxou na cama e chutou o cobertor, me dando a visão de sua barriga, er... Levemente definida. Tá, muito definida, mas era incrível em como, nele, ficava bonito. Fazia sentido, não era nada forçado. Merrrrrrrrrrrrda, eu tenho que parar de citar as qualidades, eu tenho que colocar defeitos nele. Que nem essa testa enorme que ele tem. Sério, dá pra amolar um facão naquilo. E essa cor do cabelo dele? Fala sério, que cor é essa? Acho que é aquela cor que fazia sucesso no cabelo das velhinhas dos anos sei lá o que, aquela cor nojenta e indefinida, de quem quer se sentir jovem de novo. E tem mais, esse pé dele. Tsc tsc tsc, tá tudo errado. Não sei qual é o exato problema do pé dele, mas eu não gosto de olhar. A culpa é minha se eu NÃO gosto de pés? Mas QUEM É QUE GOSTA? Pé é feio, parece alguma coisa... Não sei, alguma coisa feia. E eu simplesmente estou odiando ter uma visão tão deliberada do pé dele. Será que ele não tem vergonha não? Céus! Mas antes eu olhar pro pé dele, do que pra barriga, que, a propósito, é encantadoramente boni... MERDA! –Quer saber, faz tudo isso depois de colocar uma camiseta. Aí então você pode reclamar da vida e essas merdas aí – ele ergueu uma sobrancelha, com ar superior e divertido.

 -Hm... Na verdade, está bem confortável sem camiseta, sabe? Minha barriga anda precisando respirar, ela fica meio guardada lá em Hogwarts...

 -Então eu estou vendo que a Parkinson não tem muito acesso a essa área? – ele riu – Acho que sua barriga vai respirar muito bem depois de alguns tapas... Uns três, talvez?

 -Você podia conversar comigo normalmente sem pentelhar tanto. – eu ri, desgostosa – É sério, será que toda vez você precisa dar uma resposta? Por que é que você sempre quer ter a palavra final?

 -Porque eu sou assim, não gosta de mim? Entra na fila! – ele me olhou sem entender, e eu acabei rindo sem parar – Orkut! Você não conhece o Orkut?! Céus, era lá que tinha aquelas merdas desse tipo... “Gosta de mim? Tenta uma chance. Não gosta? Entra na fila!” Cara, o orkut será eterno... – lembrei, com aquela sensação de nostalgia. Malfoy achou melhor nem comentar nada, e só foi até o banheiro para se arrumar, e quando passou por mim, deixou aquele aroma de homem. Aquele aroma tão bom e inebriante. Saco! O que é que eu to pensando?!

 Chequei minhas malas para ver se encontrava algum relógio, mas não encontrava nenhum.  Fucei um pouco na mala de Malfot também, mas não tinha nada lá. Só o cheiro das coisas de... Não! Eu preciso me distrair com alguma coisa! Distrações! Eu preciso de distrações! E com ‘distrações’, eu não me refiro ao Malfoy saindo do banheiro, ainda sem camiseta.

 -Er, eu estava vendo se você tinha algum relógio... – murmurei encabulada, e eu não sei o que deu em mim, mas eu decidi completar meu veredito com algo como ‘eu não estava tentando encontrar suas cuecas!’

 ...

 POR QUE, MERLIN? O QUE É QUE EU FIZ PRA VOCÊ, CARA? DÁ PRA, PELO MENOS, DISPONIBILIZAR ALGUM BURACO PRA EU ENFIAR MINHA CABEÇA? MAS TALVEZ VOCÊ ESTEJA OCUPADO DEMAIS, RINDO DE MIM, ENQUANTO ESSA SUA BARRIGA GORDA FICA LEVANTANDO E ABAIXANDO, FAZENDO ESSAS SUAS TETAS GORDAS E FLÁCIDAS SALTAREM.

 Bom... Talvez eu precise respirar um pouco. Se bem que é difícil realizar o simples ato de respirar, enquanto Malfoy não para de rir da minha desgraça.

 -Malfoy, chega, ta bom? – andei de um lado para o outro, finalmente encontrando um relógio, que para minha felicidade, marcava duas horas da tarde... Caramba! Eu tinha dormido muito! Bom, melhor para mim, assim meus pais já chegam e é menos tempo para eu ficar com essa peste aqui – Não tem mais graça. E, para nossa felicidade, meus pais já estão chegando!

 -Ah, é? Mas isso é... Ótimo, não é? – mas ele não pareceu animado. Ele pareceu abatido, e até mesmo, chateado. E parecia me culpar silenciosamente, como se eu tivesse responsabilidade sobre alguma coisa que acontecia de errado neste momento – Então, como a gente vai fazer?

 -Bom, você pode se esconder no banheiro, e então eu saio, distraio eles até lá embaixo, e então você pode ir até o quarto de visitas – ele apenas assentiu com a cabeça, o que – MERDA – me deixou preocupada. Saco. – Malfoy, tem certeza de que está tudo bem?

 -Aham, é, quer dizer... Tanto faz, né? Olha, acho que seus pais chegaram... – ele foi até a janela, e eu dei um salto de felicidade ao perceber que eram eles, mesmo.

 -Aaaaah, vai logo para o banheiro, leva sua mala, tenta trocar de roupa... Ah, e quando eu falar ‘cara, que fome’, quer dizer que você pode ir para o quarto, tudo bem? – fui empurrando Malfoy enquanto falava, e aproveitei para explicar como chegar ao quarto de hospedes – Cara, que liberdade!

 Ele entrou no banheiro, e eu tive que esperar uns cinco minutos até eles chegarem. CINCO! Assim, minha casa não é nenhuma caixa de papelão, mas também não é nenhuma mansão, para ter toda essa demora. Mas tudo bem, nesse tempo eu pude trocar de roupa e ficar impecável para meus papitos. Mano, que feliz.

 Quando abriram a porta, fui me apressando para fora, dei as minhas desculpas para minha mãe... “Sim, ele dormiu no quarto de hóspedes, não aprontamos nada, relaxa, mãe”.

 -Ei, mãe, pai, vamos lá embaixo? Que tal vocês me falarem sobre a peça? E a tia Joan, como vai? Aposto que tagarela como sempre, não é? – fui empurrando meus pais para baixo – Cara, QUE FOME!

 -Filha, tenho certeza de que ela não está mais tagarela que você, não é? – minha mãe riu. Sim, aquela risada de mãe, aquela risadinha lá, toda marotinha e tudo mais – Mas e o Draco, ele não vai descer? Quero saber mais sobre ele...

 -Sim, ele já vai descer, mamãe querida do meu pobre coração batente de sangue... Mas então, me falem sobre a peça!

 Sentamos os três à mesa, e minha mãe não parava de falar. Meu pai ficou inquieto, provavelmente procurando o botão que fizesse minha mãe calar a boca. Depois de um tempo, Malfoy desceu, o que fez minha mãe dar uns mil saltos na cadeira, de felicidade, mas, pelo menos, ela ficou quieta. Bom, parcialmente quieta.

 -Draco, senta aqui agora, meu bem... – Meu bem? Meu bem? Será que eu entendi direito? Meu, acho que ela falou ‘meu bem’, mesmo. Céus! Pelo menos, Malfoy manteve seu ar galante, sempre educado, o que garante uns... Sei lá, acho que mil pontos na escala de adoração paterna.  Não que isso seja bom, claro – Quero saber tudo sobre você. Só para começar, como foi sua noite?

 -Foi ótima – olhou para mim com malícia, coisa que passou despercebida por minha pobre e ingênua mãe – Espero que a peça de vocês tenha sido agradável também – sorriso galante do Malfoy+ mãe de Hermione = mãe de Hermione totalmente apaixonada por Malfoy.

 Vivemos num mundo de filhos da put* assumidos.

 -Oh, a peça foi maravilhosa! Acho que vocês iriam adorar... – e lá vai minha mãe contando a história de uma coisa que ninguém quer saber. Mas eu admito, foi muito engraçado ver a cara do Malfoy, que, mesmo sem esforço, conseguia parecer extremamente interessado. De repente, sinto uma mão no meu ombro. Era meu pai.

 -Hermione, será que a gente pode ir lá fora rapidinho? – assenti, sem entender o porquê de ele estar tão sério – Licença... – Malfoy assentiu, mas minha mãe nem prestou atenção, e continuou falando.

 Meu pai e eu fomos andando até o jardim, e lá encontrei dois violões. Me deu uma nostalgia, já que eu sempre tocava com meu pai, quando era menor. Como uma criança, corri até meu antigo violão, e comecei a dedilhar, sem nem ao menos prestar atenção.

 -Então, pai, pode falar... É sobre meu namorado? – perguntei – Não se preocupe, namorados vêm e vão, não se preocupe comigo...

 -Não, não é nada disso... Eu até gostei do seu namorado novo – sério mesmo? Cruzes – Mas eu queria falar sobre seu retorno à Hogwarts.

 -Pai... – gemi, frustrada. Não queria falar sobre aquilo, na verdade, só de pensar em não ir mais para lá, algo já se apertava no meu peito, e o mundo parecia mais solitário do que costumava ser.

 -Não, filha, presta atenção. Eu e sua mãe te amamos muito, você devia entender como isso é difícil para nós. Você vai para essa guerra... Uma coisa que não tem nada a ver com você, e então você sofre um risco enorme. Nós não queremos que você vá e nunca mais volte, entende? E que morra numa guerra que não é sua!

 -Pai, essa guerra é de todos que quiserem lutá-la. – meus olhos se encheram d’água, e eu queria sair correndo dali, largar a angústia – Se existem pessoas que querem ficar parados, de fora, assistindo os outros morrendo, eles que o façam, mas eu não vou deixar quem eu amo, morrer. É isso que eu quero, e se eu morrer nessa guerra, pelo menos eu morri fazendo alguma coisa, e todos vão ter algo da qual se orgulhar. Mas eu não vou viver se ficar de fora disso, me desculpa, pai, mas eu já fui certa e boa por tempo suficiente, e eu agradeço vocês por tudo, mas eu tenho que tomar minhas próprias escolhas agora. Com ou sem suas permissões – era incrível como eu tinha arranjado forças para enfrentar meu pai. Talvez eu não devesse ter feito isso, mas era o único jeito de ele entender que já tinha passado do tempo de eu fazer o que bem entendesse. Ele me encarava pasmo, sem nenhum argumento para falar. Qual argumento superaria a honra, o amor, a vontade própria? – Pai, lembra aquela música que nós costumávamos cantar faz bastante tempo, já? – funguei, chorosa, morrendo de vergonha de meu pai – Será que nós podíamos cantar ela de novo? Por favor?

 Meu pai sorriu levemente, e se sentou ao meu lado, pegando seu próprio violão para começar a tocar as notas da nossa música. Só de ouvir as primeiras notas, eu já comecei a chorar, me lembrando do tempo da minha infância. De toda a vida que eu tinha planejado para mim, e de toda a vida que vivia agora, mas meu pai tinha começado a cantar, e então eu sabia que tudo ficaria bem.

She's gotta do what she's gotta do

(Ela tem que fazer, o que ela tem que fazer)

And I've gotta like it or not

(E eu tenho que gostar disso, ou não)

She's got dreams too big for this town

(Ela tem sonhos grandes demais para essa cidade)

And she needs to give 'em a shot

(E ela precisa dar a ele uma chance)

Whatever they are

(Onde quer que estejam)

E então era a minha vez de começar a cantar, então funguei uma última vez, e tentei me acalmar.

Looks like I'm all ready to leave

(Parece que eu tenho tudo pronto para partir)

Nothing left to pack

(Nada mais para empacotar)

There ain't no room for me in that car

(Não há espaço para mim nesse carro)

Even if she asked me to tag along

(Mesmo se ela me pedisse para ir junto)

God I gotta be strong

 (Deus, eu preciso ser forte)

Na hora do refrão, nos olhamos, e então começamos a rir, quase de um jeito melancólico, mas não importava. Ele era o meu pai, estava comigo, e, principalmente, bem.

I'm at the startin' line of the rest of my life

(Estou na largada, para o resto da minha vida)

As ready as I've ever been

 (Pronta como eu nunca estive)

Got the hunger and the stars in my eyes

 (Tenho a gana e as estrelas nos meus olhos)

The prize is mine to win

 (O prêmio que eu vou ganhar)

She's waitin' on my blessings before she hits that

open road

 (Ela está esperando minha benção antes de seguir o caminho)

Baby get ready

 (Baby, se prepare)

Get set

 (Se apronte)

Don't go(don't go)

 (Mas não vá)

Looks like things are falling in place

 (Parece que as coisas estão caindo)

Feels like they're falling apart

 (Sinto como se elas estivesem caindo aos pedaços)

Painted this big ol' smile on my face

 (Coloco esse sorriso no meu rosto)

To hide my broken heart

 (Para esconder meu coração partido)

If only she knew

 (Se apenas ela soubesse)

This is where you don't say what you want so bad to say

 (É aí que você não fala o que você quer tanto falar)

This is where I want to but I won't get in the way

(É aí onde eu quero, mas não vou entrar no caminho)

Of her and her dreams

 (Dela, e de seus sonhos)

And spreadin' her wings

 (E abrir suas asas)

 Então repetimos o refrão mais algumas vezes, igual aos velhos tempos, e eu não chorava mais. O clima era mais leve, e não carregado igual à antes. A música tinha todo um sentido novo. Na verdade, só agora ela fazia sentido, só agora ela tinha uma razão de ser.

 Paramos com tudo, a música, o violão. Tudo. Mas então acrescentei alguns trechos que não tínhamos antes. Algo como uma permissão. Ou talvez um aviso “me deixe ir, papai, sua garotinha está pronta agora, e nunca vou me esquecer de você”.

Let me go now

(Me deixe ir agora)

I'm ready

 (Eu estou pronto)

I'll be alright

 (Eu vou ficar bem)

I'll be Ok

 (Eu vou ficar ok)

Know that I'll be thinking of you

 (Saiba que eu vou pensar em você)

Each and every day

 (Cada e todo dia)

She's gotta do what she's gotta do

 (Ela tem que fazer, o que ela tem que fazer)

She's gotta do what she's gotta do

(Ela tem que fazer, o que ela tem que fazer)

 -Pai, eu vou para essa guerra. Eu só quero que você e a mamãe entendam como é importante para mim. Não é uma escolha que eu fiz sem pensar... – sorri gentilmente para ele, e recebi um beijo no topo da cabeça – E mais, Hogwarts não é só guerra – pisquei, divertida, enquanto entrávamos em casa de novo – Eu aprendo as coisas, tenho meus amigos, meu namorado maravilhoso... – acrescentei, apenas para ver meu pai ficar com ciúmes.

 -Sei, sei, e esse argumento você usou pra me convencer? – perguntou, me fazendo rir. “Pensei que você gostasse dele, pai” – Ta, eu posso até achar ele simpático e tudo mais, mas você ainda é minha filhinha.

 -Céus, pai... – revirei os olhos, me sentando à mesa novamente, me unindo ao papo de todos que estavam ali, recebendo um olhar significativo de Malfoy.

 Minha mãe preparou o almoço, e quase chorei quando experimentei sua macarronada de novo. Ta, ta, eu estava terrivelmente sensível, mas poxa! Eu tava com saudades de casa. Muitas saudades, caso você não tenha percebido. É totalmente normal.

 Depois disso, minha mãe deu a brilhante ideia de irmos passear por aí, por um bosque que eu costumava ir quando era criança. Será que mais alguém aqui concorda que minha mãe está me expulsando frequentemente de casa? Quer dizer, não expulsando, mas nunca me quer perto. Tudo bem, ela só quer que eu vá passear por aí com meu lindo namorado. Argh!

 -Hermione, no que você está pensando? – perguntou Malfoy, quando estávamos já no meio do bosque. Já não enxergava minha casa.

 -Estou pensando em você, meu amor... – debochei, com a voz manhosa, estilo Nojenta Parkinson – Não estou pensando em nada. Ei, você sabe onde estamos?

 -Quem sabe do bosque aqui, é você... Ei, uma hora eu consegui dar uma escapada da sua mãe... – lhe mandei um olhar censurado, e ele apenas ergueu as mãos em rendição – Ela não parava de falar! – ele riu, e eu acabei rindo junto – Mas enfim, eu te vi com seu pai...

 -É... Meus pais não queriam que eu fosse para a guerra – mordi o lábio – Ele estava tentando me convencer a ficar. Eu... Eu acho que ele só falou que sim para não me deixar triste, e talvez porque soubesse que eu tenho razão, mas eu não acho que ele esteja convencido – olhei para os lados, tentando encontrar algum outro assunto para a conversa, mas tudo o que eu via em minha volta, eram árvores. Árvores, árvores e mais árvores, mas eram árvores que eu não conhecia – Malfoy, eu te ensinei o que fazer, como você nos trouxe até aqui?!

 -Ué, você não me disse para ir para a direita?

 Respira. Respira. RESPIRA! Malfoy é um ser humano, e, apesar de sua burrice extrema, ele também merece viver.

 Fod*-se essa merda. Daqui a pouco eu vou acabar matando alguém.

 -Malfoy, eu disse para você NÃO nos levar para a direita! Que saco!

 -Calma, não é pra tanto, é só a gente voltar... – mas talvez só agora ele tenha percebido que NÃO tinha mais trilha, NÃO tinha mais caminho. Eu não enxergava nenhum caminho rápido para voltar para casa.

 -Malfoy, não sei se você percebeu... Mas nós estamos perdidos.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Espero que tenham gostado, sério :D Eu tentei criar um momento meigo de pai com filha, mas realmente, essas coisas de pai/filha não é meu forte, mas espero que eu tenha conseguido alguma coisa :S
E comentem, dando a opinião, falando o que gostaram, não gostaram, se querem encomendar um gostoso Felton pra vocês, se vocês... SEI LÁ! Mas gente, eu tenho 24 leitoras, mas só OITO comentários! Isso também desmotiva o autor, e acaba dando mais bloqueio mental de criatividade... Espero que tenha compensado pelo menos um pouco para vocês (: Beijos, e que isso não se repita (caaaaaaaaaaara, que vergonha de voltar aqui, e que saudades de vocês)