Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 38
Ménege à Trois


Notas iniciais do capítulo

O nome do capítulo não se refere a sexo a três e sim vida a três.
Capítulo novo. Esse já estava pronto. São 41 capítulos mais epílogo, o que significa que daqui 3 capítulos acaba a fic.
Faz tanto tempo que a escrevo...



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Fred e Jorge brigaram para ver quem iria dirigir primeiro. No pedra, papel e tesoura, Fred ganhou com o papel. Jorge ficou irritado, mas se jogou no banco traseiro do conversível.

– Eu sempre perco...

Não disse nada. Apenas me sentei no banco do passageiro e retirei os mapas. Eu os tinha desde criança. Meus pais adoravam viajar pelo país e os tinham. Deixaram comigo, quando se mudaram para os Estados Unidos. Agora era útil outra vez. Desdobrei e vi onde estávamos. Não era Londres. Na primeira vez em que fui ali, achei que era, mas Judith havia se mudado. Estávamos em Sheffield e precisávamos chegar à rodovia que ligava Londres a Warcester. Havia mais cidades naquela rodovia e eu não fazia a mínima idéia de onde começar.

Fred arrancou o conversível e deixamos rastro de fumaça. Em pouco tempo estávamos na rodovia e Jorge roncava no banco de trás. Aproveitei e arranquei aquele bigode da cara dele. Ele gritou, xingando.

– Pelo amor de Deus, isso dói – ele não tinha pelo ali, mas arranquei os futuros também. Ele afagou o local vermelho e tomou o bigode de minha mão.

– Isso é praticamente parte de mim – ele voltou a colocá-lo. – Se me arrancar o bigode novamente... – Jorge ajeitou-se no assento e eu olhei para frente. Era um acidente.

– O que vamos fazer?

– Nada. É só um desvio. Não pedirão documentos.

Era o que eu esperava. Jorge estava escovando o bigode, enquanto isso. Na próxima parada em alguma conveniência, comprarei um espelho para ele. Jorge estava apegado demais ao seu bigode falso. Até Fred estava estranhando.

– Por que mexe tanto nessa coisa em cima da sua boca? – ele diminuiu a velocidade e seguiu o caminho que os policiais fizeram.

– Pareço mais velho. Bigodes são atraentes, não?

– Nunca – falei. – Deixe um cavanhaque crescer, mas esse bigode é horrível.

Jorge virou para o outro lado e ficou vendo a vista. Ele ia me ignorar.

– Não liga para ele. É uma síndrome de rejeição.

– Sindrome de rejeição?

E Fred contou-me que Jorge estava passando maus bocados com Angelina. Ela estava distante e ele se desvalorizado. Ela também não enviava noticias. Jorge estava perto de ficar louco.

– Eu estou escutando.

– Sabemos – eu disse. – Já pensou que ela não manda mensagens porque tem medo de alguém interceder nas corujas? Se você contou para ela que foi para Hogwarts, não queria correr esse risco.

Ele olhou-me desconfiado. Minha teoria não fazia muito sentido. Mas nada fazia sentido nessa vida. Decidi ficar quieta e estudar o mapa. Estávamos chegando perto de uma cidade pequena. Fred parou o conversível no acostamento e desceu do carro.

– Pensei que seria mais interessante – ele apontou para frente. – Vocês vêem o mesmo que eu?

Levantei-me dentro do carro e pulei a porta. Corri para o lado dele e não acreditava no que estava vendo.

– Aquilo é...?

– Por que estamos parados? – Jorge apareceu por trás de nós. – Oh, acampamento.

Não era um acampamento comum. Eram milhares de pessoas. Eu sentia que havia pelo menos uma parcela mínima de bruxos ali, mas a maioria era trouxas. Os refugiados estavam em uma campina, enquanto a cidade estava próxima.

– Não foi somente um acidente na rodovia – era mais que isso. A Marca Negra queimava no céu. A cidade fora destruída. – Eles começaram.

Deveria ter ocorrido há algum tempo para eu não ter suspeitado de nada. Minha marca queimava, mas eu não dava importância. Ignorava e continuava em casa. Mas ali, uma cidade foi queimada, não uma ou duas casas, mas a cidade toda.

Voltei para o carro e saltei para o banco do motorista. Dei a partida e Fred e Jorge pulou para dentro.

– O que pensa que está fazendo?

– Se uma cidade foi queimada, quem garante que as próximas também não foram? Precisamos chegar a Warcester o mais rápido possível. Acelerei fundo e disparei contra o asfalto. Primeira vez que dirigia algo. Os rapazes se seguraram, enquanto eu ia a toda velocidade.

Por todas as vilas e cidades pequenas que passávamos, estavam queimadas e com a Marca Negra no céu. A noite caiu sobre nós e tivemos de parar no esqueleto de um posto de gasolina. Ele fora destruído por completo, mas suas ruínas nos trariam proteção.

Tínhamos o problema de precisarmos de gasolina. Fred e Jorge foram procurar, mas era impossível com o posto destroçado, mas eles não desistiram até encontrarem um reservatório com um pouco de combustível. Conseguiram de alguma forma tirá-lo e encher o tanque. Eu estava estudando o mapa e assinalando uma cruz vermelha sobre as cidades e vilas em que passamos.

Não podia ser obra de Voldemort. Ele não faria algo como efeito dominó. Ele escolheria estrategicamente seus ataques. Era mais alguém que estava fazendo aquilo, mas quem? Lestrange era doida, mas era fiel ao seu Lord e não se oporia a ele. Os outros eram igualmente leais. Mas sempre havia aqueles que faziam por prazer.

Fred retirou uns cobertores de dentro de sua bolsa.

– Pena que Rony levou nossa barraca – ele colocou dois cobertores no chão e pediu para eu me aconhegar a eles. – Seria melhor termos aquela barraca.

O irmão mais novo dos gêmeos estava com Harry Potter e Hermione Granger em algum lugar caçando. Eu também caçava, mas nossas caças eram diferentes.

Deitei no cobertor e Fred abraçou-me. Jorge decidiu que queria ver aqueles mapas, por isso os emprestei. Estava cansada de olhá-los. Adormeci nos braços de meu amado e sonhei comigo pequena.

Eu era menina, não passava dos meus oito anos. Estava na escola, sentada em um balanço sem mover-me. Uma garota chegara e começou a rir de mim. Procurei ignorá-la, mas ela continuava ali. A garota afastou-se e quando fiquei aliviada dela partir, voltou e jogou meu lanche no chão, espalhando meu sanduíche.

– Se sente fome, deveria comer – ela e suas companheiras riram. – Mas acho que não precisa, já que é gorda.

Ajoelhei-me e recolhi a sujeira e joguei no cesto de lixo. Era normal elas jogarem meu lanche no chão ou o roubarem, por isso eu guardava metade dele atrás de uma caixa. Eles sempre estavam ali quando eu os procurava. Engoli o pedaço do sanduíche e chorei.

A imagem mudara para o dia em que minha mãe me vestiu como menina. Usava um vestido e laço vermelho no cabelo. As garotas riram de mim, chamando-me de estranha e gorda. Aguardei o sinal no banheiro, chorando.

No intervalo, não apenas decidiram roubar meu lanhce, como também me agredir. A mais alta bateu em meu rosto e riu.

– Você não merece isso – ela arrancou a fita de meu cabelo, deixando-os cair em cascata negra por minhas costas. – Essa fita é bonita demais para você – ela me empurrou no chão e cai, sujando meu vestido. Engoli as lágrimas enquanto as via irem embora. A garota alta atou seu cabelo com minha fita. Minha fita vermelha. Minha fita.

Eu a observava sempre e lá estava ela se exibindo com minha fita. Não contei a verdade para minha mãe. Disse que tinha perdido a fita e ela me prometera outra, mas eu queria aquela, a que a garota alta roubara de mim.

No final ela abandonou a fita no lixo, rasgada e descolorida. Peguei-a e chorei. Eu nunca fizera mau nenhum para elas e judiaram de mim. Não voltei para casa. Fui direto para o parque no qual às vezes os professores nos levavam. Havi um lago ali, do qual gostava.

Andei até ele e o adentrei, molhando meus sapatos e roupas. Fui adando até não conseguir mais andar. A corrente não me deixava voltar e comecei a me debater pelo instinto de sobrevivência para não me afogar. Gritei, mas água entrou em meus pulmões. Estava no fundo da água, quando a escuridão me tomou.

Acordei cuspindo água. Havia alguém tapando o sol. Ele tinha cabelo e olhos negros. Olhava-me preocupado e quando expeli toda a água, pareceu aliviado.

– Nunca mais faça isso, menina! Não tente acabar com sua vida.

Ele levantou-se e apontou uma varinha para mim.

– Irei encobrir essa memória. Ela estará ai, mas só voltará depois de anos.

O homem falou algo em outra língua e saiu um brilho de sua varinha que me atingiu e voltei a dormir.

•••

Acordei e Fred ainda estava me abraçando. Não podia ser só um sonho. Aquele era meu pai e ele me dissera uma vez que eu tentei me matar afogada. Sentei-me e me abracei. Estava fria aquela noite. Jorge dormiu com os mapas sobre si. Cada um estava ali por um motivo. Eu ainda tinha planos de chegar à rodovia. Era a pista em que minha mãe se acidentou que me interessava. E depois iria para o hospital onde ela dera a luz a mim.

Fred se remexeu. Não conseguiria nada acordada. Voltei a me aconchegar ao lado dele. Não voltei a sonhar. O restante de minha noite foi limpa.

•••

Comi algumas torradas e tomei muita água. Meu apetite estava bom naquela manhã, diferente do dia anterior.

– Vamos continuar seguindo pela rodovia até Warcester?

– Vamos.

Eles continuariam me seguindo onde quer que eu fosse. Como estava mais quente, optei por um short, mas meus coturnos continuavam ali. Jorge parara de alisar o bigode para ficar mudando de cor. Agora era azul; segundos atrás estava rosa. Ele não tinha muita diversão, o bigode era seu entretenimento. Eu dei um espelho para ele. Achou estranho o presente mais aceitou e ficava fazendo caretas enquanto mudava a cor do bigode.

Fred entregou as chaves a Jorge, que ficou feliz em dirigir. Sentei atrás com Fred e o abracei. O meu sonho ainda me intrigava. Eu sempre fui muito instável. Cortei-me durante algum tempo até parar, mas a ânsia por ver meu sangue escorrer ainda existia, pequena, porém se encontrava dentro de mim. Durante anos foi minha forma de alivio e escape da dor.

Dormi boa parte do caminho e quando acordei enborquei uma garrafa de água e acabei com o restante das torradas. Fred dizia para eu ir com calma se não passaria mal, mas eu estava faminta. No final, pedi para Jorge parar o carro no acostamento e sai correndo para o mato e vomitei tudo que comi. Quando voltei Fred estava com a expressão “Não falei?” Apenas o ignorei e fiquei vendo a paisagem.

Não demoraria muito mais para chegarmos a Warcester. Ao anoitecer as luzes da cidade irromperam na escuridão noturna. Fiquei aliviada de que a cidade estava inteira. Paramos em um motel e pedimos um quarto. A mulher olhou-nos assustada e desconfiada. Ela estava pensando que eu faria ménege à trois com Fred e Jorge? Ménege à trois para mim eram só três pessoas morando em um mesmo lugar, nada mais.

O quarto tinha uma cama suficiente para nós três. Fui a primeira a retirar a sujeira que eu tinha. O conversível trazia muita poeira e meu cabelo platinado já estava marrom. Quando sai do banho, os gêmeos estavam jogando baralho. Pelo que eu saiba baralho era um jogo trouxa.

Depois que eles estavam limpos e perfumados – Jorge se impestiou com um perfume barato que tinha no banheiro. Quase vomitei meu jantar sobre ele. Obriguei-o a se lavar novamente e não voltar antes que aquela catinga estive fora da pele dele. Pelo menos ele voltou cheirando a sabonete – iniciamos uma partida de poker. Não começou bem para Fred. Ele estava sem camisa e a única coisa que podia tirar era sua calça.

Mas ele fez seu showzinho pra mim enquanto se despia. Fiquei tentada a ajudar, mas sabe-se lá onde isso iria parar? Jorge ria até que o jogo virou contra ele e teve de retirar a blusa. Por enquanto eu estava vencendo. Para minha sorte eu estava com bastante roupa. Tinha uma blusa, colete, casaco, short e meias.

Estava confiante que deixaria um dos dois ou ambos nus, mas minhas cartas começaram a ficar horríveis e perdia jogadas. Até que me vi sem meia e todas as blusas e o casaco. Fred já não tinha mais nada. Cobria com meu casaco o que era importante. Jorge ainda tinha a cueca box de bolinha laranjada em fundo preto.

Minha peça de lingerie era o mais simples possível. Não achei que fosse necessário algo bom. Era preta, mas estava temerosa caso tivesse de tirar o short. Era transparente.

Mas o jogo acabou quando Jorge perdeu e teve de tirar sua última peça. Ele não fez na minha frente, mas a arrancou e jogou bem na minha frente e se enfiou no banheiro.

– Se você ficasse nua, teria de matar o Jorge.

Eu sorri. Não era minha intenção ficar nua. Aproximei-me de Fred e ele me afastou.

– Acho melhor mantermos distancia – ele lançou um olhar para baixo e entendi.

Não seria confiável começar a nos beijar. Não sabíamos onde podíamos parar e Jorge podia nos pegar em fragrante. Dei apenas um selinho nos lábios dele e me levantei. Era hora de descansar. Afundei na cama.

– Não consigo dormir – dizia Jorge, largado no chão e de braços abertos. – Acho que seria boa idéia uma bebida.

Ele se esticou e pegou sua mochila e retirou de lá de dentro cerveja e outras bebidas. Eu era fraca para essas coisas, mas aceitei beber com eles, pois não conseguia dormir também. Tomei uma garrafa, depois duas. Na terceira estava rindo de coisas idiotas. Na quarta foi uma ida ao banheiro e já estava agarrando Fred em cima da cama. Bebi uma quinta e decidi que Jorge merecia diversão, por isso o puxei e lhe beijei. Fred estava tão bêbado que nem se importou. Nem eu estava me importando.

Estava agarrando Jorge do modo que agarraria Fred, quando Fred me puxou, pegando-me e levou até a cama. Estávamos arrancando nossas roupas, quando Jorge caiu no chão; desmaiado. Rimos e continuamos mesmo assim. Não nos importamos com Jorge caído numa poça de cerveja e roncando.

Na manhã seguinte acordei com a maior ressaca de minha vida. Fui direto pro banheiro e tomei um banho frio de congelar o sangue. Melhorou um pouco. No quarto, Jorge continuava caído no chão e de boca aberta. Fred estava nu na cama e abraçando o travesseiro. Eu poderia sentir ciúmes da forma que ele apertava o travesseiro.

Cutuquei Jorge, que resmungou e se virou. Voltei a cutucá-lo, até que se levantou e olhou-me com olhos vermelhos e cara de sono.

– Vá tomar banho e concertar essa cara de ressaca.

Ele foi cambaleando pro banheiro e nem fechou a porta e se enfiou debaixo do chuveiro. Fred estava apertando o travesseiro com tanta força que saiam penas. Arranquei o travesseiro e o sacudi. Ele acordou e sorriu em me ver. Queria até me beijar, mas seu hálito cheirava a cerveja.

Jorge saiu do banho enrolado em toalha. Pelo menos teve a decência de fazer isso.

– Ontem à noite... – ele procurava as palavras. – Bem, nós...? – ele apontou para eu e ele.

Concordei com a cabeça. Fred estava acordando e nos escutava.

– Foram apenas beijos. Nada aconteceu.

– O que que não aconteceu?

Jorge ajudou-me a puxar Fred. Ele foi o que ficou mais bêbado, pois bebemos depois de Jorge ter desmaiado e antes de desmaiarmos também. O empurramos para o chuveiro e ligamos na água fria. Ele gritou e queria sair, mas o seguramos. Aos poucos ele foi se acostumando.

– Por que me lembro de arrancar você dos braços do Jorge?

A situação agora se complicava. Respirei fundo.

– Ficamos todos bêbados. Eu beijei Jorge, mas foi só isso. No final eu e você nos agarramos, enquanto Jorge estava desmaiado numa poça de cerveja.

– Quase tivemos um ménege.

Jorge gostava dessa palavra. Revirei os olhos.

– Acho que não beberei cerveja pelo resto de minha vida.

Recolhi minhas coisas e arrumei o quarto. Não queria que as pessoas falassem que aconteceu uma relação a três naquele quarto.

O restante do dia seria maravilhoso. Havia o remorso do que fizemos e o que poderíamos termos feito.


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