Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 21
Apenas férias


Notas iniciais do capítulo

Espero não ter demorado tanto, mas tinha ouras fics para escrever e acabei atrasando esta.



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Foi uma prova de resistência eu conseguir permanecer na casa durante mais alguns minutos, ouvindo Hayley e meu pai conversarem. Minha mente mais vagava para outros lugares do que ficava ali. Como eu queria xingar Voldemort naquele momento, mas até isso ele poderia descobrir. Sempre usava Oclumência, mas não chegava aos pés do nível de meu pai e Draco.

- Aira! Aira? – olhei para frente, com a visão turva. Consertei minha postura no sofá e os observei.

Não fazia a mínima idéia do que eles falavam.

- Ainda dói? – perguntou-me Snape. Ele nunca fez esse tipo de pergunta.

- Eu posso agüentar. Não chega perto de um Crucio.

Hayley aproximou-se de mim e colocou sua mãe em minha testa.

- Ela está ardendo em febre, Snape.

Meu pai se levantou, mas antes que pudesse me ajudar a levantar, Hayley disse:

- Seria melhor ela ficar aqui enquanto doente.

Eu não tinha força de vontade para me expressar. Nem me importava em ficar em uma casa desconhecida, minha febre e do no braço sugavam minha racionalidade.

***

Acordei em um quarto amplo e arejado. Senti perfume de rosas no ar. Com certeza não era meu quarto no hotel. Sentei-me na cama. Melhor dizendo, tentei, mas ainda sentia meu corpo mole. Continuei embaixo da coberta e observei até onde conseguia.

Num canto estava meu pai, sentado em uma poltrona e dormindo. Raras às vezes em que o via dormindo. Ele deveria ter passado a noite acordado, esperando que eu melhorasse.

- Não é de seu feitio dormir – disse e virei-me para o outro lado. Ele merecia um descanço.

Meu sonho era uma mistura de meus pesadelos passados. Via-me mais velha torturando as pessoas, mas não sentia mais medo daquela nova “eu”. Senti muito medo antes, mas acabei tornando-me em parte o que temia. Foi algo necessário para sobreviver entre os bruxos.

Não conseguia mais dormir. Sentia como se estivesse sendo cozida. Percebi, logo depois de acordar, que eram as cobertas que causavam essa sensação. Joguei algumas delas no chão e reparei a poltrona vazia. Olhei pelo quarto todo e vi Snape próximo à janela, me observando.

- Está tudo vem? – Na verdade deveria ser ele a fazer essa pergunta. - Parece que passou a noite em claro.

Ele sentou-se na lateral da cama e olhou-me. Sentei-me e fiquei o observando. Snape não parecia tão normal como sempre foi; faltava algo nele. Observei atentamente para descobrir o que ele tinha, mas nem tive oportunidade, pois ele logo começou seu interrogatório de depois de doenças.

- Sente-se o quão bem?

Ajeitei-me na cama e afastei meu cabelo para trás. Eu precisava de um banho. Suei muito durante o dia e precisava me limpar.

- Melhor do que ontem – olhei para meu braço esquerdo e nem sinal da Marca Negra ou ardência dela. Não me sentia quente, mas os cobertores ainda me atraiam significativamente. – Você não ficou só esperando que eu me curasse, não é?

Ele virou o rosto para a porta e depois se voltou a mim.

- Hayley cuidou de você. Como uma medibruxa deve fazer.

Se eu tivesse tomando algo, engasgaria. Hayley uma medibruxa? Nunca imaginaria isso. Imaginava ela exercendo uma profissão trouxa e não bruxa. Eu sabia que ela e Ketlen são bruxas, mas como Paul Mikles se postava diante disso? Não se ouvia muito de bruxos em meio ao mundo dos famosos.

- Ela sabe que é minha mãe?

- Ainda não. Não pude contar com você nessas condições.

Não via motivo dele não contar, mas não especularia contra a decisão dele. Coloquei minhas pernas pra fora e senti o ar matinal em meu corpo. A única coisa de ficar doente era que depois você se sente como se fosse mais feliz e viva. Levantei e procurei meus coturnos, que estavam perto de uma cômoda com espelho. Aproveitei e me olhei nele. Não aparentava ter estado doente horas atrás.

Espreguice-me e andei até a poltrona, onde sentei para colocar meus coturnos. Nunca gostei tanto de um sapato como ele. Era versátil para o que eu quisesse fazer. Um dos motivos que me consideravam mais homem do que mulher nesse último ano. Larguei aquilo de querer impressionar os garotos e sigo como sempre fui: uma garota rockeira e que faz seu próprio estilo.

Ouvi a porta ranger e virei minha atenção pra ela automaticamente. Era Hayley, que vinha com uma bandeja de café da manhã. Quando ela me viu acordada e fora da cama, deixou a bandeja no criado mudo.

- Parece bem melhor que ontem – ela colocou as mãos na cintura e olhou para meu pai. A expressão dela era repreendedora. – Você não aprende mesmo – ela bufou e desfez a pose. – E nem adianta me fazer era cara de que chupou limão. Eu cuidei dela pra você.

Snape estava bravo. Ele ouviu de muitos que não conseguiria cuidar de uma garota como eu, que vivia colocando os pés pelas mãos. Mas ouvir isso da pessoa que um dia ele amou, era dolorido. Eu sabia que doía nele, pois ele ainda minha mãe.

- Obrigado por tudo, Hayley.

- Obrigada – agradeci e me levantei.

A bandeja estava atraente com tanta diversidade de comida. Resolvi pegar um bolinho e forrar meu estômago. Ao sentir o cheiro de tanta coisa gostosa, senti meu estômago reclamar por alimento. Não era fã de uva passa, mas ainda se dava para comer o bolinho.

- Hmm... Como você sabe da Laura?

Olhei para ela e engoli o resto do bolinho e depois de ter a certeza de não ter migalhas em meu rosto, contei o que sabia, desde minha amizade com os filhos dela e o presente momento da descoberta que Geovanna me proporcionou.

-... Geovanna disse tudo o que eu precisava saber. Ela decidiu me contar depois de tanto tempo... Mas não me interessa o que Laura tenha feito para lhe ajudar. Ela nunca foi e nunca será uma boa pessoa.

- Laura nem sempre foi confiável – concordou Hayley para meu espanto – Depois que nossos filhos estavam crescidos, percebi que ela estava apenas comigo para me fazer ficar longe de Londres. Nunca entendi os motivos dela, mas me afastei e decidi deixar meu passado para trás...

- Passado esse que dói não só em você, mas em diversas outras pessoas.

Hayley aproximou-se de mim e segurou uma mecha de meu cabelo verde.

- Ninguém em Londres precisa de mim. Aqui em Beverly Hills tenho tudo que preciso.

Afastei a mão dela e olhei-a nos olhos.

- O que você mais queria era sua filha, àquela que está morta. Então tudo bem, estou morta para muitas pessoas de qualquer forma – virei-me e andei até a porta.

- O que você quis dizer com isso?

Olhei de relance pra ela.

- Conte a ela Snape. Você nunca precisou de mim para fazer qualquer coisa.

Antes que eu percebesse já estava na rua, andando no meio-fio e pensando em Londres. Meus amigos estavam lá, minha vida toda. Hayley deixou de encarar a vida para fugir dela. Se ela tivesse continuado em Londres, talvez eu tivesse uma família de verdade.

Sentei-me no meio-fio e fiquei vendo o trânsito. Não era igual Londres, com àquelas construções de pedras e exuberantes. Ali era tudo feito para suportar catástrofes naturais e não possuía a beleza de coisas antigas. Com certeza não me acostumaria a viver em meio àquela novidade.

 - Aira? – olhei para meu lado direito e vi alguém contra o sol. Ergui minha mãe e pus diante meus olhos para conseguir vê-lo. – É você?

Vi de quem se tratava. Ele sorriu vendo que era eu e sentou-se ao meu lado. Não deveria ser surpresa Gian estar ali. Talvez estivesse visitando sua namorada.

- O que faz aqui? Não apenas sentada no chão.

- Visitando Hayley Mikles.

O olhar de Gian prendeu-se em mim.

- Você conhece a mãe da Ketlen, minha namorada?

- Mas do que você imagina.

- Eu estava indo pra lá, mas vi você aqui e tive que confirmar se era você mesma.

Sorri e olhei para a rua.

- Sou a única garota que vive mudando a cor do cabelo como se fosse algo natural.

- Gian?

Eu e Gian olhamos para a nossa frente e vimos uma Ketlen prestes a chorar. Eu sabia o que ela estava pensando e sentindo ao nos ver juntos. Eu havia sentido ciúmes, raiva e ódio quando passei pelo mesmo.

- Ketlen... – Gian levantou-se e aproximou-se dela.

Ela apenas esquivou-se e virou as costas pra ele. Eu sabia o que ela faria logo em seguida. Não podia deixá-la imaginar coisas e se ferir por algo que não aconteceu.

- Eu vou atrás dela... – disse Gian.

- Eu vou atrás dela. Você só vai piorar as coisas.

Não foi difícil segui-la. Pessoas machucadas não tem um bom senso de direção e velocidade. Alcancei-a em pouco tempo, parada ao lado de um portão e cabisbaixa.

- Antes que venha falar que roubei seu namorado. Gian não é nada pra mim.

Ela olhou-me com raiva.

- Você acha que acreditarei no que fala? Eu vi vocês dois...

Bufei. Não teria alternativa.

- Não. Você não viu o que realmente estava acontecendo. Gian foi um amigo anos atrás. Hoje ele só queria saber o que eu estava fazendo aqui em Beverly Hills.

Ela virou o rosto. Mas como era teimosa...

- Não me force a contar o motivo de não te estapear agora e colocar dentro da sua cabeça a verdade!

Já bastava certos inúteis ao meu lado. Não precisava de uma irmã cabeça oca.

- E o que você estava fazendo lá? Achei que estivesse na casa.

- Eu estava, mas minha mãe me pediu pra te chamar. Mas eu preferia nem ter vindo de procurar.

- Poupe-me de seu sofrimento – ela olhou-me surpresa pelo modo que falei. – Cara, você nem motivos pra chorar. Não foi você que sofreu uma traição dupla de sua melhor amiga com seu namorado, bem em frente de toda a escola. Não foi você que namorava uma pessoa e descobriu que ele te trocaria por outra. E NÃO FOI VOCÊ QUE LUTOU E AINDA LUTA PRA ESQUECER ALGUÉM QUE DEVERIA ODIAR!

Ketlen ficou paralisada. Não me importava se havia pegado pesado em gritar, mas ela merecia ter noção do que era dor realmente.

- Você foi traída pela sua amiga e namorado?

Coloquei a mão na cintura e olhei para o céu, que estava fechando. Sinal de chuva em breve.

- Eu achava que podia confiar nos dois, mas me enganei – olhei pra ela. – Então pare de sofrer por algo inexistente.

- Desculpa.

Ketlen enxugou as lágrimas e veio até mim.

- Você apareceu aqui e não te conheço. Pensei que você dois pudessem...

- Gian pode ser chato, mas ele nunca vai te trair. Quando ele quer algo, ele faz, mas também mantêm aquilo que tem.

- Parece que você o conhece a um bom tempo...

Eu realmente o conhecia, mas não totalmente como queria. Ainda lembrava com clareza os momentos doidos que passei com ele. Foram divertidos, alguns.

- Em meu quarto ano. Dois anos atrás, quando acontecia o Torneio Tribuxo em Hogwarts.

- Hogwarts? – ela perguntou surpresa. – Você estuda em Hogwarts?

Como uma pessoa pode mudar de surpresa para pidona em tão pouco tempo? Ela parecia entusiasmada para descobrir se eu estudava realmente em Hogwarts.

- Sim. Desde que soube que era uma bruxa. Bem, e Snape é professor de lá e comanda a casa Sonserina, da qual faço parte.

- Casas... Já ouvi Gian falar delas, mas nunca entendi bem o que era.

Não queria adentrar no assunto escola, apenas expliquei superficialmente o que eram as casas.

Voltei com Ketlen para a casa dela e mal entrei na casa vi Hayley correndo para me abraçar. Não tive tempo de fugir e fui esmagada contra os braços dela. Só havia uma explicação praquilo.

- Tá. Já sabe, né?

Hayley me soltou e vi lágrimas em seus olhos.

- Aquela mulher... Ela terá o prazer de me ver com raiva...

- Pode poupar forças. Laura Cheege é influente em Londres.

Fazia pouco mais de dois dias que estava em Beverly Hills e eu sofrera um atentado a minha sanidade pelo Voldemort, febre, uma quase briga por namorado – que se diga de passagem, ele não me interessa – e uma mãe que estava querendo compensar os dezessete anos que ficou longe de mim.

Este último não me importava tanto. Até gostei do paparico dela e o almoço especialmente feito por ela. Quem não estava gostando eram os homens presentes. Meu pai, que só aceitou o convite do almoço para me acompanhar, mas odiava refeições em família feliz; Paul, que se sentia excluído pela esposa e filha e Gian, que queria conversar com Ketlen, mas ela com Hayley ficavam me fazendo perguntas. Já estava vendo a hora dos homens se ausentarem da mesa.

No final do dia, quando voltamos pro hotel, jurei nunca mais aceitar todos os convites dela. Estava um caco depois de tantas perguntas maternas. Hayley queria saber praticamente tudo de mim e isso era chato demais.

Despenquei na cama e só acordei no dia seguinte no horário de almoço.

Os dias seguintes foram somente visitas no final da tarde na casa de Hayley. Ketlen ficava mais com seu namorado e Paul trancava-se em seu escritório, enquanto meu pai sumia pela cidade, me deixando com uma mãe determinada.

Eu estava vivendo um filme de terror, que antes adoraria contracenar. Hayley decidiu perguntar quais foram meus namorados, ficantes e coisas do gênero. Tinha tanta coisa que era obrigada a omitir. Nunca que contaria que havia tido algo com um professor que tinha idade pra ser meu pai entre outras coisas.

Já estava sentindo falta de Hogwarts, quando percebi que as férias estavam acabando. Ainda bem. Não agüentava mais ficar longe daquelas paredes de pedras, sem esse clima meio quente e os tanto de pessoas pra lá e pra cá. Voltamos um dia antes das férias acabarem, direto para os aposentos de meu pai.

Na bagagem tinha tanto presente, que pensava em fazer um bazar e arrecadar alguns sicles, nuques e galeões extras do que Hayley havia me dado.


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Notas finais do capítulo

Se alguém se interessar, tenho uma fic original: https://www.fanfiction.com.br/historia/215911/5_Dias
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