Aira Snape - A Comensal escrita por Ma Argilero


Capítulo 19
Somente uma troca


Notas iniciais do capítulo

Desculpem leitores queridos, mas estou cheia de problemas e quero resolvê-los o mais rápido possível. Postei esse capítulo que já estava pronto.
Espero que seja do agrado de vocês.



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Meu pai não me conteve quando saí do gabinete do diretor. Em rumo ao salão comunal da Sonserina. Ao entrar, vi Geovanna sentada no sofá, brincando com um cordão de ouro envolto ao seu pescoço.

Avancei, disposta a arrancar tudo dela.

– Demorou muito para vir falar comigo.

– Que espécie de joguinho é esse, Cheege?

Ela não sorriu como normalmente fazia. Por um momento a imaginei inocente como antes. Retirei esse pensamento e a olhei. Ela não era inofensiva e muito menos minha amiga.

– Não brinco mais, Aira. Igual a você – ela cruzou as pernas. – E diferente de você, eu investiguei o passado da pessoa que mais odeio. Os podres dela são assustadores.

Geovanna não diria isso a não ser se a odiasse. Tentei relembrar como ela agia perto da mãe. Sempre retraída e que cumpria com tudo. Mas eu não tinha certeza se era de Laura que ela estava falando.

– Você por outro lado, tentou esquecer de alguém que deveria ter estado sempre ao seu lado. A culpada disso é minha mãe e a sua avó.

Eu conhecia a Judith e sabia que ela não era flor-que-se-cheire, mas o que ela poderia fazer além de inventar mentiras?

– Até parece que conhece minha família!

Geovanna levantou-se e puxou seu cordão de ouro pra fora, que revelava um Tempus Passados igual ao meu – Eu ainda carregava o meu no pescoço junto de um outro colar – Ela acaricou o medalhão e o abriu.

– Conheço o que tenho registrado na memória – ela mostrou uma foto e vi. – Ela é linda não é? – Vi uma garota loira igual ela, olhos azuis realmente muito linda. Ela voltou a olhar a foto. – Minha irmã de sangue.

Aquela não era a Giulia. Como poderia ser a irmã de sangue dela?

– O motivo de minha mãe me maltratar foi porque não sou filha dela, mas sim de sua prima, Elizabeth Baptist. E minha irmã, um ano mais nova que eu.

Fiz as contas mentalmente. Então ela teria quatorze anos, já que Geovanna tem quinze.

– Idade errada, Aira. Tenho dezesseis. A mesma que a sua.

– Mas como entrou em Hogwarts um ano depois?

Ela fechou o medalão e o guardou.

– Por que ninguém soube de meu nascimento. Sou uma bastarda e fui deixada de lado por ser inútil, mas depois minha irmã nasceu e fomos cada uma para um canto.

Estava tudo tão confuso. Geovanna não era filha legítima de Laura Cheege e tinha uma irmã, que foi separada dela. E ela conhece todo seu passado perfeitamente. Comecei a admirar o modo que ela superou melhor que eu a descoberta de meu passado.

– Mas por que diz que é uma bastarda?

Ela olhou-me.

– Os Cheege e Currié são loiros. Ninguém suspeitaria. Elizabeth Currié, agora Baptist, apaixonou-se pelo irmão e teve uma filha com ele em segredo. A família a martirizou e a escomungou, mas minha irmã a salvou, pois era filha de um bruxo muito poderoso. Esse homem era irmão de Leonard Baptist, ao qual ela casou-se recentemente – ela piscou, sem se importar em contar-me tudo àquilo. – Ela pediu ajuda a Laura Cheege, pois não podia cuidar de mim, pois tinha nojo do que fizera no passado. Ela tinha nojo de mim.

– Então Laura te adotou...

Geovanna apenas concordou com a cabeça.

– Elizabeth se desfez de sua segunda filha também, mas a entregando a uma moça que perdera sua filha e saberia amar a criança melhor que ela. Essa moça, Aira – Geovanna olhou para mim –, era Hayley Mikles, sua mãe. Ela criou Ketlen como se fosse sua filha legítima.

– Mas por quê...?

Eu não conseguia entender os motivos. Por que uma mãe se desfazeria de suas filhas. Mesmo que o passado dela fosse negro, ela teria de amá-las.

– O que Judith tem tudo a ver com isso? Ela é somente uma mulher amargurada e que não queria a filha com um bruxo...

– Exato e ao mesmo tempo não.

Minha cabeça parecia que explodiria a qualquer momento.Comprimi meu crânio e vi tudo o que Geovanna disse a minha frente.

– Judith Thompson odeia bruxos, pois ela é uma abortada. O que é muita irônico, pois ela se casou com um bruxo – Geovanna mostrou um sorriso de canto. – Parece que ela raptou a filha da irmã, Jennifer, e a criou como se fosse sua. Além da inveja, ela queria o poder da irmã...

– Espera, Geovanna – ela olhou-me por não chamá-la de Cheege. – Quer dizer que minha mãe é uma bruxa?

Ela aproximou-se de mim e pegou meu Tempus Passados na mão direita.

– Puro sangue – ela completou. – Somente as famílias mais antigas tem esse medalhão. Ele é passado de geração a geração. Eu tenho o meu, pois foi meu pai que me deu antes de se aventurar no mundo – ela retirou o dela e comparou ao meu. Ficar tão próxima a ela era estranho. – Você tem o seu, pois pertenceu a Hayley até antes dela morrer. O motivo dele parar em seu pescoço eu desconheço, mas ele sempre lhe pertenceu.

Retirei a mão dela e olhei dentro do medalhão. Não havia nada. Era um vazio...

Olhei para Geovanna.

– Por que me conta tudo isso?

Ela ajustou seu Tempus Passados. Eu sabia que ela pretendia visitar alguma data.

– Por que preciso de você pra chegar a Ketlen e você precisa de mim pra chegar a Hayley... Dezenove de outubro de mil novecentos e seis, Beverly Hills...

Senti meu corpo deixar o chão. Segundos depois pisei em uma calçada movimentada. As pessoas desviavam da gente. Nunca havia percebido que eles podiam nos ver.

Vi uma mulher e uma garota andando pelas ruas, com sacolas em mãos. Pelo dia em que elas estavam ali a garota deveria estar em aula. As duas sorriam. Qual a possibilidade da garota saber que é adotada?

Geovanna ficou ao meu lado.

– Ela é perfeita em tudo. É como se fosse uma Hermione Granger, versão Estados Unidos – ela falando daquele jeito, é como se fosse inveja, mas não era isso, era mais admiração. – As duas escolas que existem nesse país não possuem casas. São separadas em masculino e feminino. Ela faz parte da Lefoise, uma escola bruxa para garotas.

Minha dor de cabeça voltou. As duas vislumbravam a vitrine, mas algo fez com que Ketlen se distraísse. Ela olhava em direção a mim e a Geovanna. Olhei para trás e Gian se aproximando. Ele parou em frente a ela. A garota pulou sobre ele e lhe abraçou.

– Por isso ele deixou de se interessar por mim. Ela era melhor em tudo, com certeza era melhor que eu.

– Meu irmão não a amava antes, Aira – arrepiei-me por perceber que ela sempre dizia meu nome, e que só havia notado ali. –, mas as circustâncias o fizeram se aproximar.

Hayley deixou-os sozinhos. Ketlen olhou ao rosto dele e passou de leve sua mão.

– Bem vindo, Gian.

Ele sorriu e segurou o rosto dela e a beijou de leve. Eles estavam muito apaixonados.

Comecei a me sentir mal. Geovanna tocou em uma ferida minha. Ela pegou o medalhão de volta e eu vi tudo virando fumaça.

– Ela é minha mãe e Ketlen é sua irmã, mas por que precisa de minha ajuda se tem o Gian?

Ela guardou o medalhão dentro da camisa e olhou-me indignada.

– Não sabe?

– Não estaria perguntando se soubesse! – queria rebater mais, mas minha cabeça estourava. Não sabia o motivo da dor.

Sentei-me. Não me sentia bem. Precisaria de terapia com meu pai depois disso. Não que ele fosse bom em ouvir ou dar conselhos, mas se eu compartilhasse tudo que soube, ficaria mais aliviada.

– Ketlen não busca o passado dela, pois já conhece. Ela não quer encontrá-lo, mas Hayley quer seu passado de volta. Você pode trazê-lo de volta. Basta apenas trocar algo comigo.

Eu sabia que tinha caroço nesse angú. Preparei-me mentalmente para o que ela me pediria.

– Apenas quero ser visível de novo. Deixar de ser a sombra de alguém e viver por vontade própria.

Confusão estava estampada em minha face. Pensei nos motivos daquele pedido de troca. Eu teria a minha família se a tornasse mais visível...? Sem entender basicamente como ela poderia querer isso se já era conhecida, mas aceitei a proposta.

– Tudo bem. Mas pra início de tudo, tem de deixar de se esconder. E não me culpe, mas te puxarei para certos lugares.

– Não me importo. Serei adulta em breve.

Geovanna fazia aniversário no final do ano...

– Você já adulta, então...

– A vista dos outros ainda sou de menor.

– Você precisa pular uma série.

Ela recolheu uma almofada e a entregou a mim.

– Tudo que estudo, aprendi com Mateus. Nem precisaria estar aqui. Posso cursar o último ano e passar sem problemas.

Lembrei-me de um tempo em que ela tinha dificuldades nas aulas de Poções.

– Mas em Poções você sempre se confundia.

– Concordo, mas era por que não conseguia me concentrar – ela olhou-me. – Lembra-se no Baile do Torneio Tribuxo em que eu não me diverti? – concordei com a cabeça. – A pessoa que não me queria sempre foi e sempre será Severo Snape.

Se eu não tivesse sentada, poderia cair. Meu pai? Mas por que ele? Ele era ranzinza, chato e não se importava com os outros. Como ela poderia gostar dele?

– Ele nunca ficaria com uma aluna. Não uma que tem a idade da filha dele!

Ela sorriu de leve.

– Snape nunca me olharia como mulher, pois ele ainda ama sua mãe, Aira – ela olhou para o lado, vislumbando algo. – Tentei seduzi-lo e beijá-lo, mas ele sempre me repiliu. Desisto de amá-lo... – ela olhou pra mim. – Não seja como eu.

– Não amo ninguém.

Ela passou por mim. Sabia que não acreditaria no que disse. Eu amava uma pessoa, mas ela era passado.

Passei boa parte da noite conversando com meu pai a respeito do que Geovanna me disse – Minha dor de cabeça havia sumido – Ele ficou ressentido, mas não queria que eu soubesse disso, por isso ficou sério. Durante o resto de minha terapia, ele manteve-se calmo. Eu queria que ele dissesse coisas para me animar, mas fui surpreendida de outra forma. Ele decidiu para onde viajaríamos. Não acreditei quando ouvi. Ir à Beverly Hills estava fora de questão pra mim. Eu tinha medo de encontrá-la.

De manhã, entrei no quarto onde Geovanna dormia e a puxei da cama. Ela gritou, acordando as outras garotas, que começaram a rir.

– Pra que tudo isso? – ela bocejou e se espreguiçou. – É de manhã.

– Exato. Hora da faxina física.

A puxei direto pro banheiro. Quando entramos, a empurrei pra debaixo do chuveiro e enquanto ela tomava banho, comecei a separar algumas peças de roupas pra ela. Ela queria ser visível? Ela seria mais que visível.

E tomando nota: Aproveitei e comecei a me arrumar. Não usava maquiagem a séculos. Parecia um ogro.

Geovanna saiu do banho e assustou-se ao me ver ou eram somente as roupas que deixei pendurada.

Entreguei a ela o uniforme e depois ajustei, já no corpo dela.

– Não vai ficar muito curto?

– Quer dizer: Não vai ficar muito Aira? – deixei em um tamanho em que ninguém reclamaria. – Não.

Depois a obriguei a usar meias 7/8 e maquiagem suave. Ela estava com medo de parecer uma boneca, então – pelo menos nisso – peguei leve. Ela não reclamou do resultado e olhava-se no espelho.

– Acho que meias 7/8 me deixam mais bonita, mas precisava ser uma rosa e outra azul?

– Estou criando um estilo pra você, agradeça pelo menos!

Peguei minhas coisas e fui saindo, mas Geovanna me chamou.

– Só meu visual não adiantará em nada.

– Me encontre no Salão principal. Ainda é cedo, pode ir se acostumando com seu novo visual.

Entrei em meu dormitório e resolvi me faxinar também. Comecei por meu cabelo desbotado. Nem sei qual cor ele se parecia. Peguei a anilina e apliquei toda. Era azul. Não me importava com isso. Já usei verde, e constatei que o azul era melhor.

Vesti meu antigo uniforme do quarto ano. Ajeitei algumas vezes, pois ele havia ficado pequeno. Depois fui ao banheiro retirar a anilina e secar meu cabelo. Quando me olhei no espelho, me senti melhor e viva. Quem diria que eu faria isso por causa de uma pessoa que odiei!?

Voltei a vestir meu uniforme. Coloquei minhas pretas 7/8, meu coturno – Eu tive que reconstruí-lo, pois meu pai não quis me presentear com outro –, meus brincos e meus colares. A maquiagem que eu sempre fazia e boca bermelha dessa vez.

Se era pra ser visível, que fosse em dose dupla.

Peguei minha mochila e saí correndo. Demorou mais do que eu esperava e o café da manhã já estava no meio. Eu precisava me alimentar.

Cheguei no Salão Principal, correndo como se fosse maratona. Deslizei assim que vi Geovanna, comendo algumas torradas na mesa da Sonserina. Ela olhou pra mim, tentando entender a mudança.

Vários olhares pairavam sobre mim. Sentei-me e comecei a me servir.

Quantas vezes já pintei meu cabelo? Perdi a conta, mas eu gostava de fazer isso.

Na saída, quando o sinal tocou para a primeira aula, levantei-me rapidamente e puxei Geovanna.

– Não terminei...

– Seja prática – peguei uma maçã e entreguei na mão dela. E guardei outra dento de minha bolsa. – Nada te espera.

Não sei de onde tirei isso, mas gostei. Usaria isso de agora em diante.

Todos nos viam juntas e cochichavam.

– Não é legal eles falarem de nós.

– Deixei eles falarem. Idiotas são idiotas.

Ouvi um risinho vindo dela e deixei-me sorrir também.

Avistei Draco subindo as escadas. Ele parecia morto, mas ainda persistia em algumas aulas. Defesa Contra as Artes das Trevas sempre foi uma matéria legal. Mas dessa vez seria uma caixinha de surpresas.

– Minha sala já passou, Aira.

– Eu sei.

– Então por que ainda me arrasta?

Olhei pra ela.

– Agora você é uma sextanista.

– O que...?

Continuei a arrastando.

Praticamente a empurrei dentro da sala de aula. Meu pai já estava lá, arrumando-se em sua cadeira. Ele olhou-me e depois para a Geovanna. Se ele não fosse meu pai, não teria achado a expressão dele horrível. Ele estava estudando a Geovanna por completo. Aquilo era pavoroso.

Empurrei-a para uma carteira atrás da minha e deixei sobre a mesa um pergaminho.

Ouvi o barulho do pergaminho sendo desdobrado e depois um grito de insulto:

– O quê...?

Fingi não ser comigo. Eu sabia exatamente do que se tratava.

– Aira Snape – ouvi a vociferar. Prendi um riso.

As gêmeas olharam para mim e o restante da sala.

– Sua... sua...

– Idiota e energumena? – completei a frase. Ela se calou, me olhando.

Todos observavam a cena. Eu conversei com meu pai sobre transferir a Geovanna pro sexto ano. E ele havia conseguido isso em tempo recorde.

– Você não presta!

Balancei minha mão pra ela, sem me importar.

– Fico lisonjeada em saber que sou tão importante... – levantei-me. – Oras, se não quer ficar presa à escola, saia! Já fiz o que era preciso mesmo.

– Silêncio.

Todos ficaram calados. Voltei ao meu lugar e Geovanna ao dela.

Não achei que fosse sair ilesa no fim da aula. Geovanna seguiu-me até banheiro da Murta-que-geme e sem demorar muito, foi direto ao ponto.

– A troca era eu me tornar visível e não motivo de fofoca.

Eu estava indiferente quanto a ela. Geovanna nunca pensou que ser visível era ser motivo de fofaca, ela só queria um motivo pra não demonstrar que tinha afeição por mim. Ela nunca teve e não me importava mais. Sinceramente, me sentia oca por dentro e preferia assim.

Deixei ela sozinha e fui fazer minhas obrigações diárias. Não me interessava se ela seria um sextanista ou não e nem se mudaria de quarto, eu queria me ver livre daquele lugar.

A férias de inverno já estava chegando. Faltava menos de uma semana para estarmos livres das orbigações escolares. Em hipótese alguma eu me sentiria livre. Tinha Voldemort a minha espreita. Eu não podia ignorar a existência dele fora de Hogwarts. Ele poderia fazer qualquer coisa contra mim. Eu esperava que minha férias fossem mais tranquilas, por isso aceitei de imediato a viagem a Bervely Hills, quando entrei na sala de meu pai.

Ele me olhou assustado, mas não bancou o pai super preocupado. Apenas virou-se e continuou a arrumar suas coisas. Muito desagradavelmente, fiquei vendo-o limpar cada utensílio e objetos. Não era tortura acompanhá-lo com meu olhar, mas ele manter uma atitude despreocupada, me deixava aflita e receosa. Ele tramava algo, do qual eu desconhecia e eu precisava descobrir o que era.


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Notas finais do capítulo

Se eu não aparecer com capítulos novos é porque ainda estou enfrenanto algumas coisas. Mas voltarei assim que as coisas melhorarem ^^



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