POV Emily

 Acordei com a luz do sol batendo em minha cara. Ao meu lado Nico ainda dormia. Sabe, é muito difícil meio-sangues conseguirem dormir tranquilamente em uma missão, então deixei Nico dormindo.

 Troquei-me e desci para ver se tinha alguma coisa para nós tomarmos de café da manhã. Aquilo era um hotel, devia ter alguma coisa.

 Acabei pegando duas maças, uma para mim e outra para o Nico. Quando eu estava voltando para o quarto vi Beck sentado em uma das cadeiras que tinha na recepção.

 Ele parecia confuso e pensativo. Coitado, não deve estar entendendo nada. Beck é meio Bad Boy, sabe? Tem os cabelos bagunçados e castanhos, seus olhos são castanhos também. Ele é maior que eu e deve ser alguns meses mais velho. Sua roupa estava toda rasgada e suja, ele deve estar com a mesa roupa há algum tempo. Ele segurava um boné nas mãos. Desde que eu o vi pela primeira vez ele não desgruda desse boné.

 Fui até ele e sentei ao seu lado.

-Oi Beck - eu disse.

-Oi – ele disse sorrindo.

-O que está fazendo?

-Pensando. – ele disse.

-Em que?

-Em tudo.

Ficamos um tempo em silencio. Eu queria saber sobre a sua vida, o que aconteceu com ele, mas eu imaginei que não devia ser coisas muito boas. Por trás daquele Bad Boy devia ter um garoto com medo e triste com tudo o que aconteceu.

-Está ansioso para voltar ao acampamento? – eu perguntei.

Ele fez uma careta.

-Sim – ele admitiu e eu sorri.

-Por que você não troca essa roupa? – eu disse.

Ele olhou para a própria roupa.

-Está tão ruim assim? – ele perguntou.

Concordei com a cabeça.

-Há quanto tempo você está com essa roupa? – eu perguntei.

-Uma semana. Eu perdi todas as minhas roupas e eu fui obrigado a roubar essa daqui. – ele disse.

-Por que você não pede emprestado uma roupa para o Nico? – eu disse.

-Do Di Angelo? Não obrigada.

Eu achei estranho ele dizer isso. Eu sei que o Nico só usa preto, mas é melhor que ficar com uma roupa suja e rasgada. E ele nem conhece o Nico direito.

-Tudo bem então – eu disse me levantando.

-Emily – ele se levantou – Volta aqui.

-Desculpa, eu preciso dar essa maça para o Nico.

-Você só fala dele! – Beck disse um pouco alto, o que me assustou.

-Como assim?

-O que você vê nele? Ele é um garoto gótico, filho de Hades, não tem sentimentos, é emo...

-Não te interessa! – eu o interrompi.

Beck se acalmou.

-Desculpa – ele disse. – não devia ter dito isso.

-Concordo! – eu disse brava.

-É que eu nunca fiquei ou namorei ninguém. Nenhuma garota já se interessou por mim e eu queria saber o que o Di Angelo tem que eu não tenho.

Senti muita pena e dó dele e por instinto eu o abracei.

-Desculpa – eu disse.

Nós nos separamos e eu fiquei encarando ele. Como um garoto tão bonito nunca teve uma namorada ou coisa do tipo? Eu sei que tenho namorado, mas tenho que admitir que ele é muito bonito.

-Nico tem sorte de ter você. – ele disse – Você é o tipo de garota que eu sempre quis ter para mim. Eu não te conheço direito, mas quero conhecer. Também não conheço o Nico, mas quero saber o que ele tem que eu não tenho. Como que ele conseguiu uma garota tão gosto... Bonita como você.

 Depois dessa indireta e senti minhas bochechas corarem involuntariamente. Ele ia me chamar de gostosa! Que safado! Beck abriu um sorriso safado, me olhando de cima para baixo, tirando totalmente meu pensamento de que ele era um garoto tímido, simples e fofo.

 Eu não estava mais com dó dele. Idiota.

 Recuei um pouco dele com nojo. Como eu fui tão idiota de achar que ele era legal?

-Bom dia – ouvi a voz de Nico. Olhei para o lado e vi-o com uma cara estranha. Cacetada!

POV Nico

 Acordei e vi que Emily não estava ao meu lado, ela já devia ter acordado. Levantei e me troquei. Quando sai do quarto vi Melissa esperando o elevador.

-Bom dia – eu disse.

-Bom dia Nico! – ela disse com o seu jeitinho de filha de Afrodite.

Nós descemos até o saguão. Eu estava com muita fome. Emily devia ter ido pegar algo para nós comermos.

No meio do saguão eu vi Emily e Beck conversando. Ele parecia estar desabafando com ela. Um tempo depois Emily corou e o olhou com ódio. Beck olhou de cima para baixo o corpo de Emily e deu um sorriso safado. Emily recuou com nojo do Beck, o que me deixou feliz.

 -Bom dia - eu disse quando chegamos mais perto.

Emily me olhou com medo e Beck com uma cara horrível, como se eu tivesse atrapalhado alguma coisa. Que pena que eu atrapalhei!

-Bom dia Nico – Emily disse vindo até meu lado.

Olhei para Beck com meu olhar de Hades e eu comecei a lembrar dele. Eu já tinha visto ele em algum lugar só não me lembro onde. Teria sido do acampamento? Não, eu nunca tinha ouvido falar nele. Teria sido de um sonho? Algo me dizia que sim, mas por mais que eu tentasse lembrar eu não conseguia.

-Peguei uma maça para você – Emily disse como se não tivesse acontecido nada.

-Obrigada. – eu disse pegando a maça. – Nós já vamos?

-Sim – Melissa disse, e só agora eu percebi que ele tinha visto tudo – As passagem de trem não foram compradas e o trem sai daqui duas horas.

-Tudo bem – Emily disse – Vamos pegar nossas coisas e ir até a estação.

-Eu e a Emily vamos pegando as malas enquanto vocês compram as passagens, ok? – eu disse.

Emily me olhou com medo, mas concordou. Por que ela estava com medo de mim? Por causa do que eu vi? Vamos ver...

POV Agatha

  Eu acho que nunca acordei tão feliz na minha vida. Eu estava surtando tanto, mas evitei gritar feito idiota. Me levantei devagar para não acordar Jake e fui tomar um banho. Ainda estava bem cedo, tipo… era umas sete horas. Coloquei uma calça jeans clara, uma blusa preta fechada e tênis. Arrumei meu cabelo e saí do banheiro. E aí encontrei Jake em um estado não muito bom. Estava bem agitado e suando. Eu não resisti e foi acordá-lo.

  - Jake. – Eu o chamei. – Jake, ei, acorda. – Eu o sacudi e ele abriu os olhos rapidamente e se sentou sobressaltado. – Tudo Bem?

  - Acho… Que sim. – Ele sacudiu a cabeça e apertou os olhos.

  - Não, você não acha. Com o que sonhou? – Eu cheguei perto dele.

  - Minha mãe. – Respondeu com voz triste.

  Isso era um assunto muito delicado.

  - Como assim?

  - Eu a vi morrer, Agatha. De novo. – Ele não olhava para nenhum ponto especifico.  – Voltar aqui não me fez bem.

  - Eu…

  - Sente muito? Todos sentem. – Ele disse rápido.

  Ele se recostou na cabeceira da cama.

  - Foi um monstro? – Perguntei receosa.

  - Não. Nós… Morávamos aqui mesmo, em Bradford. Estávamos indo jantar quando dois caras nos pararam e pediram para entregarmos as coisas… Só que nós começamos a ouvir o som de uma sirene, e eles me seguraram para fazer com que minha mãe se apressasse. Ela começou a ficar apavorada e os policiais estavam cada vez mais perto e os bandidos mais apressados. Foi coisa de dez segundos e depois disso eu só ouvi um barulho. Eles pegaram a bolsa dela e saíram correndo. Um deles até atirou em mim, mas pegou de raspão… Depois eu me dei conta de que minha mãe estava sangrando… Eu me ajoelhei ao lado dela enquanto ela morria. Foi rápido, em menos de três minutos ela estava morta.

  Eu fiquei em total silencio. Fiquei sentida por ele estar se lembrando de tudo isso.

  - Ahn… Jake… A policia os pegou?

  - Não. Mas chega disso. Eu não vou ficar melan… O que mesmo?

  - Melancólico? – Chutei.

  - Isso! – Ele deu um sorriso. Fiquei até mais aliviada. – Vamos tomar café, eu to com fome. – Ele me deu um selinho e se levantou.

  - Claro que você esta com fome. Esta sempre com fome. – Resmunguei.

  - Ninguem precisa saber disso. – Falou fechando a porta do banheiro.

  - Ta bem.

  Acabei de arrumar algumas coisas na minha bolsa e fui até a recepção pra ver se eu conseguia descobrir alguma coisa.