Curada Para Ferir escrita por thedreamer


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Olá garotas mais lindjas! Estavam ansiosas? Nada né... Bem, está aí o capítulo 16, espero que gostem, estou meio receosa se vocês vão gostar do rumo que tomei, mas... Espero que gostem.



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16 Não durma sem dizer ‘eu te amo’, afinal, você nunca sabe se irá acordar amanhã.

 - Hoje faremos uma caminhada bem longa, até o topo de um morro, de onde teremos uma bela vista, que com certeza valerá a pena a subida! – Coço a sobrancelha desanimada para essa subida, enquanto o instrutor, Sérgio, indica para que o sigamos. Dou exatos três passos quando sou surpreendida por Belinda.

 - Droga, droga, droga, DROGA! – Ela exclama em disparada.

 - O que foi agora? – Pergunto mais cansada ainda desse estresse repentino dela.

 - Olha lá! – Ela aponta para trás e me viro, procurando o indicado e vejo Bernardo com o braço passado pela cintura de Giselle. Engulo seco. – O Bernardo me paga. Idiota! Argh, que raiva!

 - Calma Belinda, porque todo esse estresse?

 - Porque? – Ela pára e coloca a mão na cintura. Percebe o olhar de algumas pessoas e diminui o tom. – Porque ele ta se aproximando da pilantra, o Bernardo não pode ficar com ela. – Balanço a cabeça negativamente.

 - Belinda você não a conhece direito. Vocês podem ser ótimas cunhad...

 - Nem termina Melina! – Suspiro e me concentro em meus pés, um passo após o outro, enquanto escuto alguns suspiros, bufadas e reclamações de Belinda sobre a mesma coisa.

 Vinte passos e um gole de água. Mantenho-me assim por mais de trinta minutos. Minhas panturrilhas já estão doloridas e o suor corre por meu rosto e por minhas costas, Belinda se silenciou, percebendo que não daria para caminhar e falar tendo só uma garrafa de água.

 - Acho que já andamos uns três quilômetros. – Ela diz sem fôlego e eu concordo com um aceno.

 - Na verdade andamos um e meio senhorita. – Diz Sérgio. Não consigo evitar minha boca de se entre abrir.

 - Um? – Belinda quase berra, indignada. – Meu Deus, e esse lugar não chega não?

 - Mais um pouquinho querida. – Continuamos a caminhada e volta e meia Belinda olha para trás, e crispa os lábios toda vez. – Bom, chegamos pessoal, agora subam com cuidado... – Ela dá a mão de apoio a algumas garotas, como Callie, Belinda e eu. Giselle tem a incrível ajuda de Bernardo e sorrisos brotam em seu rosto assim como desaparecem totalmente no de Belinda.

 Ignoro a imagem deles três e me concentro na paisagem a minha frente. Sérgio tinha razão: Vale muita a pena. Daqui podemos ver a mata a nossa volta e algumas casa de uma pequena cidade. Ao longe vemos algumas araras azuis que saem e voltam a todo o momento. A mata é bem diversificada, e Sérgio dá uma aula falando sobre isso, mas ao consigo ouvir uma palavra sequer.

 - Melina? – Tapo os olhos do sol com a mão sob a testa e olho para cima, encontrando o olhar de Bernardo.

 - Oi? – Respondo e volto a minha posição anterior: Olhando para Sérgio e fingindo entender o que ele fala.

 - Eu queria conversar com você, posso? – Demoro alguns instantes para perceber o que ele acabou de falar. O olho novamente com a sobrancelha franzida.

 - Pode... – Digo ainda estranhando.

 - Bom, então vem aqui. – Ele pede e olho para onde ele indica. Levanto-me batendo a mão no short para tirar a poeira e sigo-o. Nos sentamos um pouco distante dos outros encostados em uma árvore de tronco bem largo.

  Fico quieta olhando para a frente e esperando ele começar a falar. Ele fica muito tempo calado, e já estou a ponto de questionar quando ele começa.

 - Você sabe porque a Belinda fez aquilo com a Giselle? – Aperto bem os olhos, pensando em como tava demorando ter o nome dela vagando perto de mim.

 - Não. Não sei, desculpa. – Tento levantar, mas ele me segura pelo braço.

 - Hei, calma, ainda não terminei, e você disse que eu poderia falar. – Suspiro e recosto-me na árvore novamente. Vejo Belinda me ver lá da frente e sorrir abertamente. – Posso continuar, ou você quer voltar para lá? – Olho para ele e se torna impossível negar algo aqueles olhos.

 - Pode continuar. – Volto meu olhar a Sérgio, que não tem nenhum poder de persuasão.

 - A Giselle ficou magoada com tudo o que ela disse, chorou bastante. – Em seus braços. Segurei as palavras na ponta da língua e comecei a não gostar da Giselle, assim como Belinda. – Eu juro que não entendi. A Belinda sempre foi educada com qualquer pessoa que fosse, aí do nada ela agride a garota daquele jeito. – Apoio o rosto na mão e o cotovelo na perna. – O que você acha?

 - Do que?

 - Da Giselle? – Olho para ele com um ponto de interrogação na testa. – Sobre ela, o que você acha? – Dou de ombros.

 - Não a conheço direito, nos conhecemos ontem. – Ele acena positivamente. – Mas pelo que conheci achei ela simpática e... – Respiro fundo. – Bonita.

 - Bom, foi o que achei. – Ele sorri e olha para frente. Sigo eu olhar e vejo ela. – Mas acho que eu a conheci um pouco mais que você... Ela também é inteligente.

   - Porque você me perguntou isso? – Me viro para ele, que me encara por alguns instantes antes de responder.

 - É que queria sua opinião.

 - Sobre? As qualidades dela? Porque? – Aceno, desentendida.

 - Ela parece estar a fim de mim. – Fico ruborizada e desvio o olhar. – E é uma boa pessoa, sabe? – Concordo.

 - É, eu também acho. Então, é muito simples: Dá uma chance para ela! – Levanto e limpo a poeira do meu short novamente.

 - Espera Melina. – Ele se levanta fica na minha frente. – Você acha que devo dar uma chance a ela?

 - Acho! Ela é bonita, simpática, inteligente e gosta de você. – Dou de ombros e o desvio voltando para o lado de Belinda.

 - O que ele queria? – Ela pergunta assim que me sento.

 - Quer mesmo saber? – Ela faz que sim. – Ele me perguntou porque você reagiu daquela maneira e o que eu achava da Giselle.

 - Como é que é? E o que você respondeu?

 - Que eu não sabia e que achava ela uma garota simpática, bonita...

 - Ah meu Deus! – Ela passa a mão na testa. – Melina você... – Ergo as sobrancelhas esperando. – Ah, quer saber, esquece, cansei. – Volto a dar de ombros e me concentro de vez em Sérgio, a tempo de entender suas últimas palavras.

 - Agora vamos voltar para o almoço, depois teremos algumas atividades dentro do camping mesmo. Vamos lá pessoal! – Levanto desanimada pela caminhada que está por vir.

 Chegamos na hora exata do almoço, 12:30, portanto já seguimos para o refeitório todos famintos. Lavei minhas mãos e preparei meu prato. Olhei discretamente para a mesa onde Bernardo havia me levado mais cedo e fiquei feliz por ele não estar lá com a Giselle, indiquei para Belinda com um aceno e me sentei.

 Mastigo tranqüilamente apesar do turbilhão de informações que pulsa em meu cérebro. Ignoro os olhares que Belinda me envia ora ou outra. Depois de comer só a metade, beber um copo de suco em dois segundos e comer uma pêra, resolvo caminhar até um lugar mais calmo, para poder pensar sozinha por um tempo. Vou pela extremidade direita, depois do dormitório feminino, observo quantas flores tem espalhadas por aqui, e então os vejo. Escondo-me atrás de uma pequena roseira entrelaçada em uma árvore que desconheço. Fixo meu olhar no garoto mais legal que já conheci, na garota mais simpática, depois de Belinda, que conheci, e em como eles se beijam por longos segundos.

 Não sei explicar o porque, mas meus olhos estão marejados, meu coração acelerado e minha garganta fechada. Depois de ficar imóvel consigo sair dali e evitar que eles me vejam. Fico feliz por estar ao lado do dormitório, entro e deito em minha cama, abraçando o travesseiro com toda a força que tenho e chorando demasiadamente. Eu não deveria estar chorando, porque eu estou chorando? O Bernardo é só meu amigo, e nunca deu sinal do contrário. Assim como eu também sou apenas a amiga dele, idiotice a minha de ficar chorando, tenho que ficar feliz por ele estar gostando de alguém que gosta dele.

 Seco minhas lágrimas e respiro fundo, tempo suficiente para meus olhos desavermelharem.  Levanto-me para sair dali quando Belinda entra.

 - Nossa, procurei você por toda parte. Coloca seu biquíni que vamos jogar pólo-aquático. – Arregalo os olhos o máximo possível.

 - Biquíni? – Torço o beiço. A porta se abre e Giselle entra com um sorriso de orelha a orelha.

 - Oba! Adoro piscina! – Belinda revira os olhos e finge vomitar, sem que ela veja.

 - Vamos logo nos trocar que as garotas já devem estar chegando, vamos! – Belinda me puxa pelo braço até seu armário. Ela pega um biquíni vermelho, uma canga, seu óculo e sua toalha. Ela me puxa até o meu e me faz escolher um biquíni.

 - Não sei se quero jogar Belinda...

 - Ah nem vem com suas neuras. Ta com vergonha do seu corpo de novo Melina? – Abaixo a cabeça ruborizada. – Fala sério, você pesa quanto?

 - Quarenta e dois. – Digo timidamente.

 - Olha aí! Percebe-se que você pesa só isso. Do que você tem vergonha? É tão magra quanto as top models. Ah! Poupe-me Melina. Olha, esse aqui vai ficar ótimo. – Ela pega um biquíni azul marinho com bolinhas amarelas. – Agora vamos nos trocar. – Seguimos para o banheiro onde coloco visto o meu short por cima.

 Olho-me no espelho enquanto Belinda termina de se trocar e avalio meus pulsos. Por sorte os corte que fiz não foram grandes, pequenas linhas, que agora nem se notam direito, a não ser que esteja muito próximo. Ela abre a porta e fico admirada com sua beleza mais uma vez. Ela fica bem de vermelho, destaca em sua pela branca.

 - Agora precisamos passar protetor porque branquelas desse jeito vamos virar camarões. – Ela passa por todo o corpo, me entrega para eu passar e passamos uma nas costas da outra. – Pronto! Vamos arrebentar.

 Assim que abrimos a porta do banheiro várias garotas entraram fazendo vários comentários, sorrindo e exibindo qual biquíni deveria usar. Eu ainda não tinha ido até a piscina, tem o tamanho de uma olímpica, tem trampolim e neste momento dois gols.

 - Todos aqui? – Pergunta Sérgio e há murmúrios concordando. – Muito bom. Então pessoal, faremos uma competição até o vigésimo quinto dia de acampamento. Vocês foram divididos em grupos de cinco pessoas com uma cor indicativa, e teremos provas diárias que somarão pontos até o último dia, a equipe campeã ganhará um prêmio surpresa. A primeira prova é o pólo-aquático e as equipes são as seguintes: Equipe vermelha - Bruno, Marcela, Camila, Júlio e Daniel; Azul – Caio, Vinícius, Jeniffer, Alice e Marília; Amarela – Callie, Bernardo, Melina, Giselle e Belinda; Verde – George, Murilo, Sílvio, Isaac e Vitória; Preta – Karina, Rosalie, Márcio, Geovana e Jonatas; Branca – Felipe, César, Natália, Paula e Tiago.

 - Não acredito! Callie e Giselle? Fala sério! – Reclama Belinda enquanto eu fico em estado de choque. Concordo totalmente com ela, não teria equipe pior.

 - Então, o primeiro jogo será equipe amarela contra branca. Venham aqui as equipes indicadas. – Caminhamos até onde ele indica, uma grande mesa com grandes caixas nas cores citadas há pouco. – Equipe amarela? – Nos aproximamos e ele entrega toucas de banho da cor respectiva, o mesmo com a equipe branca. – Equipe branca? – Ele chama e entrega. – Depois do jogo venham até aqui para pegarem as camisetas. Agora tirem ímpar ou par. – Bernardo escolhe ímpar contra o par de Tiago, que perde. – Bom, então vocês começam no lado...?

 - Esquerdo. – Escolhe Bernardo.

 - Certo, então, podem entrar na água. – Ele aponta para a piscina.

 - É sério isso? – Todos se viram para Callie que segura a touca como se tivesse nojo, enquanto todos nós já estávamos com ela na cabeça.

 - Depende do que a senhorita fala. – Responde Sérgio cruzando os braços sob o peitoral definido.

 - Sobre essa equipe ridícula em que me colocou! Vamos ter que ficar competindo junto até o ‘vigésimo quinto dia’ de acampamento? Fala sério! – Pela primeira vez concordo com Callie, mas fico calada, como sempre.

 - Bom, foi feito um sorteio, não escolhemos nome por nome, então, a resposta é sim, vão competir juntos até lá. – Ela revira os olhos.

 - E ainda sou obrigada a usar amarelo. – Ela coloca a touca e dessa vez quem revira os olhos é Belinda.

 Entramos na piscina que graças a Deus não está tão gelada quanto eu esperava, e para ajudar ainda mais o sol está bem quente. Se tiver algo em que consigo ser boa é em certos esportes, e natação é um deles, assim como handebol, o que me faz jogar pólo-aquático muito bem. Nosso time começa perdendo de três a zero graças a Giselle que entregou a bola essas três vezes. Consigo fazer dois gols ainda no primeiro tempo. No segundo Karina fez mais um, ficando quatro a dois para eles, porém Belinda faz um, Bernardo outro, e por incrível que pareça, Callie também, terminando cinco a quatro para nós.

 Foi divertido, longe do desastre que eu imaginava. Nado até a beirada da piscina onde me inclino para sair, e quase sou atropelada por Belinda.

 - Reunião de equipe, aqui, agora! – Fala Belinda em alto e bom som, ganhando um olhar furioso de Callie. – Primeiramente, parabéns para nós! Jogamos muito bem, já começamos com uma vitória. – Ambos sorriem, e então Belinda fecha a cara e se vira para Giselle, que está sendo segurada pela cintura por Bernardo. – Quer dizer, nem todos jogaram tão bem, você quase entregou o jogo Giselle! – Ela cora e abaixa a cabeça.

 - Belinda de novo não! Foi o primeiro jogo dela e...

 - Foi o primeiro de todos Bernardo, não vem querer defendê-la. – Callie desembaraça o longo cabelo ruivo com os dedos, quando se intromete.

 - Eu concordo! Ela praticamente fez os três gols deles. Ajudou ambas às vezes. – Belinda faz uma cara de ‘eu disse’ e cruza os braços sob os seios.

 - Será que pode se dedicar mais da próxima vez? Bom, porque já que temos que participar, seria bom não ficar em última colocação.

 - Desculpa Belinda. – Ela diz baixo, mas dando muito bem para ouvir.

 - Não! Agora vamos pegar as camisetas e assistir aos outros jogos. – Ela vai em frente quando Callie a segura pelo braço, fazendo com que todos viremos.

 - Espera aí! Alguém aqui decidiu que você é líder ou algo do tipo? – Ela se vira para cada um de nós, que ficamos em silêncio. – Imaginei que não.

 - E alguém aqui me ouviu dizendo que sou a líder? – Pergunta Belinda já tirando a mão de Callie de seu braço, e continuando seu caminho.

 Passo por Bernardo, Giselle e Callie evitando olhá-los e sigo Belinda até a grande caixa amarela, Emily aguarda ao lado dela.

 - Cada uma tem a numeração certa. Deixa-me ver... Quem aqui usa ‘P’? – Fico vermelha ao levantar a mão e me aproximar dela. – Claro Melina. – Ela me entrega e volto para a piscina, a fim de assistir os próximos jogos.

 Agora as equipes são: azul e preta, que está ganhando de dois a zero. As pessoas vibram a cada passe, mas não consigo ver a maioria. Depois de muito tempo me esticando para tentar ver, desisto e fico na dúvida se devo procurar outro lugar ou não assistir o resto dos jogos.

 - Mel? – Fecho os olhos e mordo o lábio, optando por fingir não ter ouvido já que havia uma boa chance disso acontecer. Mas ele faz o favor de me cutucar, e então me viro.

 - Oi, Bernardo.

 - Formamos uma ótima equipe, não acha? – Dou de ombros. – Poxa, que animação a sua. – Ele ironiza e não dou a mínima. - Lembra o que conversamos sobre a Giselle hoje? – Aceno e ele continua. – Bom, eu tomei uma decisão. – Coço levemente a sobrancelha me preparando pelo que está por vir.

 - Eu sei. – Ele ergue as sobrancelhas e penso se deveria falar isso.

 - Sabe? – Ele franze o cenho.

 - Sei, vi vocês dois hoje. – Tento enxergar a piscina, mas é uma missão quase impossível.

 - Acho que nos vê todos os dias, não?

 - Beijando? Acho que não. – Ele abre a boca em um perfeito ‘o’.

 - Como você...?

 - Ah, que importa? – Balanço a cabeça negativamente. – E então, estão namorando? – Pergunto sem olhá-lo.

 - Não, não. – Para minhas tentativas de visão e olho para ele. – É que... Ainda estamos só ficando sabe?

 - Ah. – Ele me encara por bastante tempo deixando-me ruborizada.

 - Você fica tão bem de amarelo. – Fico mais ruborizada, se possível.

 - Ainda bem né? Já que agora vamos ter de usar essa cor quase todo o tempo. – Ele sorri e mexe no cabelo. – Acho que vou tomar um banho. Tchau. – Ele acena enquanto caminho para o dormitório, torcendo para não dar de cara com Giselle.

 Ela não está no quarto para minha felicidade. Pego outro short, meu soutien e sigo para o banheiro que está vazio. Não levo nem quinze minutos, para variar, visto tudo, inclusive a blusa do acampamento que tem ‘Camping Heels’ escrito bem grande em letra preta com algumas formas em desenho que não consegui decifrar. Calço minha havaiana, penteio meu cabelo, que deixo solto, e volto para a piscina onde está nos minutos finais do último jogo entre a equipe vermelha e a verde.

  - Desculpe! – Digo ao esbarrar com Giselle, na saída do dormitório. – Estava distraída. – Sorrio de lado e dou um passo, mas ela me segura.

 - Posso conversar com você Melina? – Sim ou não? Travo uma batalha interna até o meu lado generoso gritar mais alto.

 - Claro. – Digo voltando para o quarto, acompanhada por ela.

 Sento em minha cama enquanto ela segue até seu armário, pega uma presilha e faz um rabo-de-cavalo que fica bem pequeno, muito diferente do meu, volta e senta-se ao meu lado.

 - Você não vai acreditar no que aconteceu hoje! – Ela diz com um sorriso de orelha a orelha. ‘Ah, pode crer, eu acredito’!

 - O que? – Finjo não saber, ela parece estar tão empolgada.

 - Eu e Bernardo, Bernardo e eu... Rolou! – Enceno surpresa e ela dá pulinhos animados. – Quase nem acreditei, estávamos conversando e aí silenciamos, olhei no fundo daqueles olhos cor-de-mel, ele retribuiu e então me beijou. Ele. Me. Beijou. Ainda não consigo acreditar, o amor da minha vida, meu primeiro beijo... Bem, digamos, apaixonado. Ah! – Ela grita me assustando.

 - Que bom Giselle, fico muito feliz por você! – Digo com sinceridade. Ela sorri ainda mais e me abraça bem forte, tirando-me o fôlego e deixando-me arrasada.

 Como pude ter raiva dela por gostar de Bernardo? É uma garota tão doce, conversa comigo, o que muitas não fazem, e agora está se confidenciando comigo. Tenho que parar de ser tão ridícula cm essa história toda. Eles se gostam, e eu gosto dos dois, quero vê-los bem, e se estão bem juntos... Que seja!

 - Você é um anjo Melina, sério! Escuta, você acha que ele vai me pedir em namoro? Ah, não... – Ela gargalha, se recompõe e continua. – É que, estou tão emocionada com tudo isso, mas é muito cedo né? Bem, para os garotos com certeza, porque por mim já estaria com uma aliança no dedo. – Ergo as sobrancelhas sorrindo, ela se junta a mim. Depois de minutos sorrindo voltamos ao normal.

 - Ele deve sim te pedir em namoro, mas ainda acho que está cedo. – Faço que sim com a cabeça.

 - Ai! Estou tãããão feliz! – Sorrio novamente.

 - Tenho que me encontrar com Belinda agora, nos vemos depois. – Ela se enrijece com a pronúncia do nome, mas depois relaxa e concorda em nos vermos depois.

 Procuro Belinda por minutos que se estendem por horas e desisto, ficando sentada em um banco perto da piscina, ao lado de um jardim e de um campo de futebol, onde alguns garotos estão jogando. Pela primeira vez reparo nos garotos do acampamento, e percebo que praticamente todos são bonitos, cada um com uma beleza diferente, isso prende minha atenção ao jogo deles, e me faz perder a hora. Olho no relógio são oito horas, o jantar será servido agora, ou em poucos minutos, levanto-me e sigo para o refeitório.

 Dou uma olhada 360º e encontro Belinda sozinha em uma mesa distante, tomando um gole de suco. Coloco macarronada em meu prato, um copo de suco de pêra e sigo para sua mesa. Coloco a bandeja em cima da mesa e me sento, enquanto ela se concentra em cortar um pedaço de bife. Mastigo silenciosamente, sem puxar nenhum tipo de assunto, como ela sempre é falante, e agora está calada, talvez seja um sinal de que não está a fim de papo.

 - Você ta sabendo? – Ela disse de repente me assustando.

 - Sabendo de que? – Ergui uma das sobrancelhas enquanto cortava uma almôndega.

 - Do Bernardo e sua lambisgóia. – Ergui minha cabeça no mesmo instante. Era incrível como ela sempre me surpreendia.

 - Ah, sim. – Ela fez que sim, e continuou seu jantar, deixando a mesa em um monótono silêncio novamente.

 Terminei meu jantar e continuei sentada esperando caso Belinda resolvesse conversar, o que aconteceu minutos depois.

 - Sabe, não consigo entender o porque do Bernardo estar namorando a Giselle. – Não consegui evitar um pequeno sorriso. Era a primeira vez que ela a chamava pelo nome.

 - E eu não consigo entender o porque de você implicar tanto com ela. Ela gosta dele Belinda, o que significa que com ela ele estará bem.

 - Não! Ele não vai estar bem com ela, porque ele não gosta dela. – Franzi o cenho, bastante desentendida. Como assim ele não gosta dela?

 - Só sei que não pode ficar com raiva dele por causa dela. Foi uma escolha dele, e você como irmã...

 - Ah me poupe Melina! – Ela se levantou e saiu, deixando-me sozinha com a boca escancarada.

 Eu não tenho culpa se ela resolveu ter um tipo mortal de ódio pela coitada da Giselle. E ela não deveria descontar isso em mim, e sim na Giselle, ou no Bernardo, eu não tenho nada haver com essa história bagunçada. Suspiro. É melhor ir me deitar. Sigo para o dormitório, e não vejo Belinda lá, vou até o banheiro escovar os dentes e dou de cara com Callie, estava para dar meia volta, e usar o banheiro depois, mas ela me segurou.

 - Hei, espera Meester. – Revirou os olhos e me viro para ela, cruzando os braços.

 - O que você quer Callie? – Como já estou falando com ela mesmo, pego minha escova e começo minha higiene.

 - Nada demais, não quero nada com você, jamais baby. – Ignoro e ela continua. – Pelo visto você voltou a falar com sua amiguinha e estão firmes e fortes não é mesmo? E, pelo que já fiquei sabendo, ano que vem ela será a nossa mais nova colega de classe. Tsc tsc. – Ela balança a cabeça negativamente. – Aquela escola deveria selecionar os alunos um por um, assim seria bem freqüentada. Sabe, quando comecei a estudar lá, no jardim, se lembra? – Enxáguo minha boca lembrando muito bem de quando a conheci, e como ela inferniza minha vida desde os meus três anos. – Pois é, naquela época acredito que ainda havia dignidade naquela escola, daí fomos crescendo e passei, a saber, que há bolsistas entre nós, pessoas que nem ao menos tem dinheiro para estudar lá, e de repente, uma da elite, passa a ser também bolsista.

 - Aonde quer chegar Callie? – Coloco a mão na cintura cansada desse discurso nostálgico.

 - Você sabe muito bem. Na parte em que você já deveria ter sido expulsa daquela escola. O que você ainda faz lá Melina? É humilhada praticamente todos os dias, não tem amigos, até mesmo os professores, que te tinham como um xodó te deixaram de lado. – Engulo seco, tentando desfazer o nó que está se formando em minha garganta mais uma vez.

 - Me deixa em paz. – É o máximo que consigo dizer vendo o sorriso que se estampa em seu rosto logo em seguida, enquanto vou para a cama quase chorando.

 Deito e me cubro dos pés a cabeça, tentando me proteger de todo o mal que está lá fora. Era assim que eu costumava fazer quando acreditava ter um monstro dentro do armário ou debaixo da cama, e sempre resolvia, mas agora não está dando muito resultado. Meu peito ainda dói, assim como minha garganta, e meus olhos ardem com as lágrimas quentes que rolam abaixo. Mais uma noite embaixo de lágrimas. Mais uma noite em que sou atingida por palavras alheias; mas uma noite em que não sou forte o suficiente para enfrentar Callie.

 Acordo às sete horas como de costume, tomo um banho, visto uma calça jeans, o uniforme e calço meu all star surrado. Penteio o cabelo e coloca a ‘xuxinha’ no bolso para amarrá-lo quando estiver seco. Saio silenciosamente do quarto e me sento à mesa mais próxima do jardim. Descanso minha cabeça na minha mão direita que é apoiada pelo cotovelo na mesa. Fico admirando as hortênsias, rosas e margaridas que estão à minha frente. Por incrível que pareça consegui esvaziar a minha mente por um tempo, esquecendo todos os meus problemas, e então como um choque tudo voltou, fazendo-me suspirar e me levantar indo em direção ao café que já aguardava todos os campistas.

 - Melina Ávila Meester! – Viro espantada o ouvir a pronúncia de meu nome completo, o que é bem incomum, e dou de cara com Emily, que tem uma expressão séria e brava.

 - Bom dia, Emily. – Falo sem saber o que dizer, e o porque de ela estar daquele jeito. – Aconteceu alguma coisa?

 - Ah aconteceu! Parece que alguém por aqui prometeu ligar pros pais assim que estivesse pronta. – Mordo o lábio lembrando de tudo repentinamente.

 - Ah Emily...

 - Ah? Vai telefonar para eles agorinha, anda, deixa esse café de lado, senão esquece de novo, depois você come. Vai telefonar agora! – Faço que sim com a cabeça e a sigo, contente apesar de tudo por poder falar com a mamãe, ou com o papai.

 Entramos em uma sala espaçosa, com dois grandes sofás, e uma parte que parece ser um escritório, com computador e, um telefone sem fio, que ela me entrega dizendo que vai me deixar sozinha para ficar mais à vontade. Disco o número que já sei de cor, que é atendido depois de tocar por muito tempo.

 - Alô? – Meus olhos enchem d’água assim que ouço a voz da mamãe, recupero a voz, quando ela diz alô pela segunda vez.

 - Sou eu mamãe. – Digo ignorando as lágrimas que insistem em sair. Desde quando sou tão chorona?

 - Ai meu Deus, Melzinha é você mesmo? Que saudade, como você está?

 - É sobre isso que quero falar. Aconteceu algo aqui, e já era para eu ter ligado, mas acabei me esquecendo. Eu desmaiei sem motivo algum, e fiquei desacordada por um bom tempo, mas já estou ótima. – Quase gritei, assim que ouvi a reação dela, que parecia estar chocada.

 - Como assim desmaiou sem motivo?

 - Eu me senti tonta, tudo foi ficando escuro e... Apaguei! – Dou de ombros.

- Ai Melina, e você liga só agora? Você deveria voltar para casa, ir ao médico... – Balancei a cabeça negativamente, já esperando por essa reação.

 - Escuta mamãe. Aqui no acampamento tem médicos de plantão, esqueceu? Já fui examinada, e estou ótima, já passou, e aqui está muito divertido, a propósito.

 - Você está gostando? Que bom minha filha, era o que eu mais queria, ver você feliz. – Sorrio em meios as lágrimas que de repente começaram a descer.

 - Como está tudo aí? – Pergunto tentando não ficar com uma voz chorosa.

 - Estamos todos bem. Sua irmã não desgruda do Fernando mais, seu pai está trabalhando como um condenado, e eu passo o dia todo na frente da tv ou do fogão. Mas, ainda assim estamos todos bem. Mas hoje, como é sábado vamos fazer uma pequena viagem até Pelotas, mais para passear mesmo.

 - Mamãe, tenho que desligar. – Digo vendo a aparição de Emily. – Manda um beijo para todos, e diga que estou com muita saudade. Dê um grande abraço neles por mim. Eu te amo.

 - Também te amo, minha pequerrucha. – Sorrio e desligo um pouco relutante.

 - Saudades? – Pergunta Emily guardando o telefone, concordo com um aceno enquanto ela apóia a mão em meu ombro e me guia para fora da sala. – Se você pensar por outro lado, nem falta tanto assim para voltarmos. – Concordo mais uma vez, imaginando como será nosso natal com essa vida nova.

 Caminhamos até o local onde todos nos reunimos, para mais um aviso, cada um tinha que ficar perto de sua equipe, para ouvir as instruções.

 - Bom dia galerinha! – Gritou Sérgio, que ouviu vários gritos em resposta. – Hoje a prova não tem nada de especial, ou difícil, muito pelo contrário. A prova do dia é futebol! – Houve gritos por todos os lados de garotos que pareciam sedentos por isto. – Vocês gostam né? Bom, então essas são as primeiras equipes: Verde vs. Branca. Podem se posicionar no campo, que o jogo já vai começar. As outras equipes, por favor, mantenham-se juntos.

 Obedeci e continuei perto de Belinda e todo o resto da turma. Estava me sentindo desconfortável com o silêncio dela, mas preferi não dizer nada. O primeiro jogo foi de graça. A equipe branca ganhou de 2x0. O segundo jogo foi equipe azul vs. Preta, que foi um jogo apertado, que acabou empatado de 3x3. Entramos em campo bem confiantes, começamos ganhando de 1x0, mas a equipe vermelha acabou vencendo de virado, por 2x1.

 - Jogamos bem garotas, jogamos bem. – Disse Bernardo tentando acalmar Callie, Belinda e Giselle que discutiam há minutos por termos perdido, mas não contra outra equipe, e sim contra nós mesmos. Não entendi o porque, mas volta e meia ele me enviava olhares, que ignorei.

 - Melina, precisamos falar com você. – Levantei com as pernas ainda bambas, estranhando ser chamada por Sério, ainda mais com a expressão séria incomum que ele tinha em seu rosto.

 - Aconteceu algo? – Perguntei assim como fiz com Emily, mas agora, não sei porque, tive mais medo da resposta, sentindo uma pontada no peito de repente.

 - Tudo bem? – Perguntou ele me apoiando, antes que eu caísse.

 - Tudo. – Ele reclamou algo baixo demais para que eu ouvisse, e me guiou até a sala que estive há poucas horas. Todos a equipe do acampamento estava ali, sentada no sofá, e alguns se levantaram assim que entramos, olhei um pouco desentendida para Emily que tinha uma expressão triste. Logo depois percebi que não era só ela que tinha essa expressão.

 - O que aconteceu? – Perguntei dessa vez mais preocupada.

 - Melina, saiba que você tem que ter toda a calma neste momento, sabemos que não é algo fácil mais...

 - O que aconteceu? – Disse alterada, porque não diziam logo. Senti mais um aperto no peito, e de repente me veio algo na mente. – Mamãe? – A expressão de Emily pareceu mais dolorosa. – Aconteceu algo com ela? E com o papai, ou Marina? O que aconteceu?

 - Trágico e inesperado...

 - O QUE ACONTECEU? – Gritei.

 - Sua família sofreu um acidente de carro! – Emily disse tão rápido que levei um tempo para processar o que ela havia dito.

 - Eles estão bem? – Perguntei sentindo como se alguém estivesse picando meu coração em pedaços cada vez mais multiplicados. Emily começou a chorar e se sentou cobrindo o rosto e sussurrando ‘ Eu na posso. Não consigo.’ – ME RESPONDAM, ELES ESTÃO BEM?

 - Eles morreram Melina. – Disse Sérgio. Desvencilhei-me dele e o encarei com uma expressão chocada, não querendo acreditar.

 - Não. Não, não, não, NÃO! É mentira, eles estão bem, devem estar no hospital, me levam, preciso vê-los...

 - Você ai Melina, por isso a trouxemos aqui, suas coisas já foram colocadas na mala, e sua passagem de avião comprada, são duas horas daqui até o aeroporto, e uma e meia até Carmo, você logo vai vê-los, fique calma.

 - Em que hospital eles estão? – Perguntei querendo mais respostas, uma explicação concreta.

 - Eles não estão mais no hospital, o acidente aconteceu há duas horas, e a morte foi na hora, já foram encaminhados para...

 - QUE MORTE? – Gritei não podendo acreditar que aquilo estivesse acontecendo.

 - Sei que é difícil Melina, mas você tem de encarar os fatos, sua mãe, seu pai e sua irmã mais velha, todos eles... – As lágrimas desciam como cachoeiras.

 - Não pode ser, eu falei com a mamãe agora a pouco, ela estava bem, estava feliz... – Caí de joelhos com as mãos na cabeça que doía incessantemente.

  - A Emily vai com você, está tudo bem, vamos, se levante. – Ele me ergueu e me abraçou bem forte, me confortando por alguns segundos, mas não diminuindo nem um milímetro da minha dor.

 Depois de quase uma hora chorando, me concentrei na vontade vê-los novamente e pedi para Emily que fossemos logo. Ela concordou prontamente e seguimos de carro até o aeroporto, onde para minha grande ‘felicidade’, o avião não atrasou, e saímos logo.

 Estávamos quase pousando em Porto Alegre, minha dor aumentava a cada instante, as lágrimas escorriam quase sem emoção, eu já não demonstrava nenhuma. Meu rosto está impassível, a verdade não entra em minha cabeça, apesar do meu coração estar sentindo tanta dor. É como se eu estivesse em um pesadelo, e a qualquer instante a mamãe vai entrar em meu quarto ainda de hobe, me sacudir carinhosamente e dizer: ‘É só um pesadelo bebê, calma, tudo vai ficar bem!’ Coloco essa esperança em meu coração, e resolvo usar uma tática infalível, onde temos de lembrar das melhores características das pessoas que amamos, quando sentimos saudades. Lembro do sorriso acolhedor da mamãe, do abraço de urso do papai, e da Marina me pegando no colo, imagem que vi em um vídeo caseiro. Minha garganta fecha, as lágrimas descem mais rápidas e quentes, coloco a mão no peito tentando evitar essa dor lucilante. Ouço de relance a voz da comissária, para apertar o cinto. Já estamos pousando. Chegou a hora de descobrir a verdade, de encontrar meus pais e poder abraçá-los novamente, para que eles me digam que tudo está bem.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Tive uma ideia, e vou arriscar, tenho o próximo capítulo prontinho, e só vou postá-lo depois de dez reviews, (: Beeeeeijos ;*