Eliza No País Das Maravilhas escrita por Avril_Gomez_108


Capítulo 29
Sou amaldiçoada por uma vidente com olhos de lua


Notas iniciais do capítulo

Oiiiii!Deve ter um monte de erros, desculpem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/164910/chapter/29

POV Ane

Aquele SPA era o que minha mãe chamaria de “muito xiquitoso”. O piso era de vidro e podia-se ver água com peixes nadando logo abaixo de nossos pés. As paredes, não eram bem paredes, e sim cortinas! Eram um conjunto de tendas, com pano de seda branco feito neve, e detalhes de rosas bordadas em ouro.  Dava para ver luzes brilhando por trás do topo de pano da tenda, mas era uma luz mais suave que a do saguão e com uma coloração azulada que dava sono! Por todo o lado passavam mulheres de roupão e pantufas, e massagistas com uniforme verde claro e o símbolo de paz e amor (ai, eu amo esse símbolo, é tão fofo!). O lugar era muito grande, se não houvesse funcionários logo ao lado da entrada eu não saberia aonde ir.

Andei com Lia até os funcionários e percebi que eles eram as primeiras pessoas em Tenuitate com cabelos normais. Havia uma mulher ruiva com olhos azuis e sardas enfeitando o belo rosto de expressão calma e, ao lado dela, um homem moreno do olho preto que me lembrou do Nico.

-Bem Vindas ao SPA Tenuitate! Estamos muito felizes com sua vinda e queremos recebê-las da melhor maneira possível!- disse a garota, em seu crachá estava escrito Melanie.

-Neste SPA vocês terão o relaxamento e prazer de deuses, podem seguir a programação que quiserem destes folhetos- disse o homem com crachá escrito Jorth, entregando folhetos típicos desses lugares chiques.

Nós pegamos os folhetos. Eles eram bem decorados explicativos. Tinha um mapa do SPA e cada cômodo havia um numero, então ao lado explicava a sala de cada numero e onde ela se encontrava.

-Muito obrigada, vamos decidir onde queremos ir, tchau!- falei, enquanto Lia apenas saiu andando.

Corri para alcançar ela e puxei seu braço com força para Lia prestar atenção em mim, eu odeio quando não prestam atenção em mim! EU SOU UMA PESSOA MUITO SENTIMENTAL!

-Porque você não diz tchau nem oi para as pessoas? Um dia vai ter que aprender á ser gentil- falei.

-Eu não preciso ser gentil se eles não vão fazer nada pra mim, nem eles se eu não vou fazer nada á eles- retrucou.

-Você acha que para ser gentil você tem que esperar algo de alguém?- perguntei- Lia, não é nada disso! Você é gentil, as pessoas serão gentis e te farão favores se você precisar, mas elas vão se oferecer porque gostam de você e não por chantagem ou qualquer outro dos seus métodos diabólicos!

-Eu aprendi de outro jeito e você sabe!- disse ela- Mesmo se eu tentar, não sei se consigo. Agora temos que ir!

É eu sabia por que ela havia aprendido de outro jeito. Lia foi criada até os quatro anos se mudando de casa toda hora, sem fazer muitos amigos e com uma mãe ausente á procura de emprego. Quando Sara á teve, o pai sumiu no mundo, e ela não tinha muita estabilidade financeira para sustentar a filha. Toda a vez que ela arranjava uma casa aparecia um monstro e elas eram obrigadas á se mudar de novo, não dando tempo de Lia ter uma infância normal. Ela aprendeu a não confiar e sempre esperar algo de alguém porque nunca lhe dariam de mão beijada. Ela nunca contou isso para ninguém á não ser para mim.

Eu entendia que essa era a causa de seu gênio forte, sua personalidade diferente, seu jeito de ser forte até quando não se é necessário. Mas aprender á ser gentil nunca é tarde e faz bem, talvez até melhore sua relação com Nico! Um dia, eu conseguiria ver ela mais caridosa, nem que seja a última coisa que eu faça (o que eu acho ser bem possível dependendo de Lia). De alguma forma eu sentia que ela pensava que eu era a única em que podia confiar e isso me deixava feliz.

A infância dela foi muito diferente da minha. Meu pai se chamava Matt Morfs, ele tinha 28 anos, cabelo meio cor de bronze, barba rala e sedutora e olhos verdes. É um ator famoso na Inglaterra, que atoa em novelas, filmes, seriados e comerciais. Mas ao contrario do que se podia pensar, ele passava muito tempo comigo. Perdeu muitos papéis importantes para eu conseguir ter um pai presente, pois ele sentia na alma a falta que minha mãe fazia em mim. Eu também sempre tive a companhia dos empregados, eles gostavam de mim e meu pai, nós os tratávamos como da família. Principalmente a cozinheira Perkins, ela era uma senhora negra com um sorriso encantador. Quando meu pai estava fora, Perkins cuidava de mim como se eu fosse sua filha. Tudo nela me acalmava e me deixava feliz, se eu olhasse no fundo de seus olhos me sentia reconfortada, se a abrasasse ficaria em paz, se ela sorrisse consequentemente eu sorria. Mas um dia Perkins morreu, quando eu tinha seis anos.

Depois que Perkins se foi, eu me senti muito sozinha, e decidi ir para a escola em vez de ter aulas em casa. No começo eu até fiz amigos, mas eles me usaram para conhecer meu pai. E quando me recusei á dar meu dinheiro e brinquedo a escola toda começou a me zoar porque eu não tinha mãe. Foi assim durante um ano, até eu conhecer Lia uma garota amedrontadora e chocólatra que me deixava abraçá-la, e que me defendeu. Depois veio Julie e Laís.

Eu nunca deixei de perguntar á meu pai em nenhum dia se quer onde minha mãe estava e ele nunca soube me responder. Mas então, conforme cresci fui percebendo e tirei minhas próprias conclusões, que ela havia morrido. Por isso minha surpresa ao ouvir Nico mencionar ela naquele dia, na escola. Foi um salva-vidas para mim e por mais que seja esperado que eu a odiasse, tudo que eu sempre quis foi uma mãe. Ao contrario de Lia que ficou com amargura do pai, mas se recuperou.

Consegui sair dos meus pensamentos sobre a infância bem na hora. Lia á estava entrando em uma sala.

-Que sala é essa?- Perguntei

-A de Gusttavo, eu acho que temos que ir com ele primeiro não é?- respondeu

Entramos na sala. Ela não tinha nada de espacial, só algumas camas de massagem. Então ouvimos passos atrás de nós, e como nenhuma sala tinha porta, assim que nos viramos vimos à criatura mais linda do universo. Gusttavo era alto, loiro, charmoso e forte, possuía olhos azuis claros e um sorriso de tirar o fôlego. Ele andou até nós com passos fortes e determinados, o que me deu vontade de sentir seus músculos, não sei por quê.

-Olá meninas! O que vai ser?- perguntou

-Nós fomos a dupla ganhadora da terceira prova- disse Lia sorrindo feito uma boba.

-Foram vocês que bateram naquelas mulheres lá fora? Caramba!- disse impressionado.

Lia e eu nos entreolhamos, nenhuma de nós queria fazer feio perto dele.

-Nós batemos nelas sim, mas elas nos ofenderam e... E... – disse Lia tentando achar uma desculpa.

-MUITO OBRIGADA!-comemorou Gusttavo

-O que?!- era a primeira coisa que eu dizia perto dele e saiu como uma hiena sendo amassada, que vergonha.

-Eu odeio aquelas mulheres! Elas ficam me xavecando e tratam todos os meus amigos mal, são três barangas desqualificadas e rabugentas- disse- Ninguém tem coragem de bater nelas porque são ricas, mas vocês... Vocês são minha heroínas!

-Hihihihi! Você também é meu herói- falei rindo

-Como?- perguntou

-Nada! Eu não falei nada!- quase gritei

-Então ta. Olhem, como vocês venceram eu vou acompanha-las em todas as partes do SPA. Vocês terão todos os tipos de massagem, banho em rosas, tratamento facial, manicure, pedicure e hidratação de cabelo- explicou Gusttavo- E podem fazer tudo isso enquanto se deliciam com a comida que desejarem. Quando acabarem receberão uma cesta com cremes e ervas naturais.

-Uau!- suspirou Lia- Parece que vai ser o dia o perfeito, eu posso pedir chocolate?

Gusttavo riu. Ele disse para desejarmos biquínis e tirarmos o roupão, então deitássemos na cama de massagem. Fizemos isso, desejei um biquíni rosa purpurinado, claro, já que é o básico da moda para filhas de Afrodite. E a Lia pediu um preto qualquer. Ouvi-o chamando alguém em Italiano, fiquei curiosa e levantei a cabeça para olhar a pessoa, acabei concluindo que Gusttavo tinha um gêmeo. Era um homem exatamente igual á ele, com exceção dos olhos verdes. Mas de resto era iguais em tudo! Só não gritei porque estou acostumada com Travis e Connor.

-Este é Guilhermo, nós dois vamos fazer massagem em vocês!-disse Gusttavo

Lia levantou a cabeça, olhou Guilhermo, o ignorou e deitou de novo. Então a filha de Poseidon resmungou:

-Alguém pode me trazer chocolate?

-Claro- disse Gusttavo- MINHAS CLIENTES QUEREM CHOCOLATE!-gritou no corredor

Em poucos minutos uma mulher apareceu segurando uma bandeja com vários tipos de chocolate. Em trufa, sorvete, brigadeiro, quente, com frutas, derretido e muitos outros. Ela sussurrou algo e uma mesinha apareceu entre as duas camas que Lia e eu estávamos, então deixou a bandeja nela, de forma que se pudesse pegar sem dificuldade, e se retirou formalmente. Logo em seguida senti mãos fortes e habilidosas massageando minhas costas. Depois de uma espiada me decepcionei constatando que era Guilhermo, não Gusttavo. Ele usou cremes extremamente cheirosos, pareciam margaridas (ai, eu amo margaridas!) e conseguiu desfazer todos os nós que eu tinha por estresse.

Você deve estar pensando: “Por que uma filha de Afrodite linda, talentosa, fofa, engraçada e modesta teria estresse?”. Mas é aí que você se engana, minha vida não é tão perfeita quanto eu! Sabe, minha mãe sempre dá para seus filhos três conjuntos de roupas novas por mês, mas no mês passado que recebi uma roupa laranja! LARANJA! Laranja não combina com nada e me dá vontade de vomitar! EU ODEIO ROUPAS LARANJA! E tem mais, alguns falam que eu não sou a mais bonita do chalé de Afrodite. Tem como ser mais cruel? E tem boatos no acampamento que meu shampoo é... Caseiro, sabe, feito em casa. Por que minha vida é tão difícil?! Lia diz que eu sou dramática, exagerada e mimada, mas ela não entende como é ser eu!

Uma vez Lia me convidou para dormir na casa dela, então no meio da noite ela encheu meu lindo cabelo de leite podre. Também teve um dia na escola que eu fui conversar com o garoto que eu gosto e a Lia passou cantando uma música romântica, o garoto nunca mais falo comigo. E uma vez, antes de começar uma prova, aquele peixe do gênero feminino que se alto denomina Lia, encheu minha cadeira de cola. Quando fui me levantar a saia que eu usava rasgou, mas por sorte eu estava com shorts por baixo. Lia faz tudo isso sem a mínima piedade! Ela cruel comigo!

Depois de trinta minutos a massagem acabou. Então me levantei, agradeci Guilhermo e coloquei o roupão e as pantufas. Lia fez o mesmo.

-Agora vocês escolhem o que farão á seguir- disse Gusttavo

Decidimos ir para o banho com rosas que era junto da manicure, do tratamento facial e da hidratação do cabelo. Era uma sala como as outras, mas nessa haviam cinco banheiras redondas de madeira cheias com água até as bordas. Lá tinham 10 mulheres, duas em cada banheira, com um creme verde no rosto e cabelo empapado de um condicionador especial. Percebi que cada mulher tinha duas manicures, uma para cada mão, e todas assistiam uma TV de tela plana de 57 polegadas pendurada na parede. De vez em quando apareciam homens como Gusttavo carregando bandejas com o pedido das mulheres. Era puro luxo!

Uma mulher que eu nem havia notado no fundo da sala se levantou e veio até nós. Ela era loira, tinha olhos castanhos amendoados e bochechas rosadas. Em seu crachá dizia Larissa.

-Olá meninas! Podem tirar o roupão e entrar em qualquer banheira, pedirei uma equipe de tratamento para cada uma de vocês- disse Larissa sorrindo.

-Equipe de tratamento?- perguntei

-Sim, precisamos de uma equipe para cada cliente. É um garçom que vai trazer tudo o que pedirem, duas manicures para deixar suas unhas impecáveis, uma especialista em tratamento facial para embelezar seu rosto e uma cabeleira profissional que fará seu cabelo o mais lindo de toda a Tenuitate!- explicou

Eu adorei aquele SPA! Graças à inteligência maluca de Lia eu teria um dia de princesa e esfregaria na cara nas idiotas das minhas irmãs! Não que eu não goste delas, mas aquelas meninas se acham as Rainhas da Cocada Preta! A última bolacha do pacote! Acham-se top de balada, entende? Mas não são! Elas sempre dizem o quanto são maravilhosas e que eu nunca chegaria á seus pés, então eu finalmente poderia dizer: “Olha aqui minha filha, eu tive um dia num SPA e fiquei mais gata que todas vocês juntas, então é melhor fecharem essa matraca de gralha, se não eu arranco esse seu pescoço de girafa com meu salto! Entendeu ô mocréia?”.

Tirei o roupão e entrei devagarzinho em uma das piscinas, Lia veio logo atrás. A água era morna e cheirava melhor que minha mãe, e você sabem como minha mãe é cheirosa né? Não sabem não? Deve ser porque vocês nunca a viram, há!

Senti que de baixo d’água haviam bancos de madeira, e achei engraçado não sei por quê. Eles faziam nossa cabeça ficar á uma altura na qual se pudesse encostar o pescoço em uma almofada fofinha. Minutos depois oito mulheres entraram na sala, quatro vieram na minha direção, quatro na de Lia. Para ficar melhor de entender vou chamá-las de 1, 2, 3 e 4. A 1 se sentou no chão de costas para mim, pegou um creme com cheiro de menta e começou a passá-lo suavemente em minha face. A 2 pegou meus cabelos com uma delicadeza sem tamanho, o molhou com um borrifador e o encheu de produtos com aroma de flor. A 3 e a 4 pegaram minhas mãos começaram seu trabalho.

Passei às duas horas seguintes assistindo TV num canal de filmes qualquer, pedindo todas as comidas e bebidas que me davam vontade e conversando com as garotas. É, nós conversávamos como velhas amigas que não se viam á muito tempo e queriam deixar o assunto em dia.

-Não acredito! Ela disse que vocês eram mendigas? Que safada!- exclamou a 1

-Pois é, da para acreditar!- falei

-Nem pensar- disse a 3

-Essas mulheres são esquisitas, você conhecem a historia delas?-perguntou a 2

-Não, conta vai!- pedi

-Parece que essas três irmãs eram novas, todas se apaixonaram pelo mesmo homem, e este morreu num acidente de carro. Depois disso elas passaram á ser amargas e rabugentas, não se misturam com ninguém e agora estão atrás do filho do homem que morreu. Tentem adivinhar quem é- desafiou a 2

Parei para pensar um pouco, mas estava muito curiosa.

-Quem?

-Gusttavo!-respondeu

Todas as mulheres da sala tomaram um susto. Logo cada uma começou a ouvir atentamente o que 2 dizia, pareciam interessadas demais até para respirar.

-O lindo Gusttavo?- perguntou uma cliente da banheira ao lado

-Exatamente! Ele e Guilhermo são a copia perfeita do pai, e as três os querem, mas acham que quando conseguirem seus corações uma vai ficar sem par e pretender matar a perdedora por uma aposta feita entre elas anos atrás- contou

-Mas Gusttavo tem namorada- disse uma funcionaria de outra banheira

-Elas nem ligam, só não matam a garota por medo dela.

-Como descobriu isso?- perguntou uma Lia chocada.

-Uma delas me contou enquanto eu cuidava de seu cabelo na ala sul do SPA- respondeu 2- Essas três fariam de tudo par terem atenção, elas até concorreram no concurso de beleza, você viram? Mas perderam na primeira etapa e ficaram muito mais amarguradas.

Eu me lembrava delas na primeira prova. Três deslocadas que tentavam acertar a bola de vôlei,mas sempre escorregavam e batiam a cara. Lia não devia lembrar, pois estava na piscina á muitos metros de distancia e ela não é daquelas pessoas que se importam em olhar para mulheres como essas piriguetes.

-Afinal, qual é o nome delas?- perguntei

-A do cabelo roxo é Anna Docicreuda, a do cabelo laranja é Anna Pedreuda e a do cabelo vermelho é Anna Marineuda- respondeu 4

Começei a rir desembestadamente junto com Lia. Fala sério, Docicreuda? Que nome brega! E Pedreuda, ela é uma pedra de tão lerda e sem graça! Marineuda também não é grande coisa não, hahahaha.

-Acho melhor vocês tomarem cuidado no concurso, agora que elas odeiam vocês podem tentar sabotar a prova- disse 1.

-Acham que elas fariam isso?- perguntou Lia- Se fizerem, eu corto de vez aquele cabelo ridículo!

Todas na sala riram. Depois de algum tempo, clientes foram saindo e se despedindo aos poucos. Logo, só havia eu, Lia e a nossa equipe, pois fomos as ultimas á entrar. A conversa continuou por pouco tempo, até um alarme tocar sinalizando que nosso cabelo e nossa pele já estavam no ponto. Então 1 tirou todo o condicionador de meu cabelo e 2 limpou o creme verde de meu rosto. Mas ninguém me deixou ver como eu estava, a única coisa que eu podia olhar eram minhas unhas já terminadas com estampa de onça. Então 3 me ajudou á sair da piscina e 4 deu-me uma toalha para eu me enxugar, depois elas me tiraram da sala das banheiras e me levaram numa sala de cabelelero. Fizeram eu me sentar em uma cadeira giratória preta de frente para a parede e disseram para esperar lá.

Minutos depois Lia apareceu e se sentou na cadeira ao lado.

-É aqui que vão cuidar do nosso cabelo- falei radiante.

-Sério? Pensei que iam colocar melancias nos nossos pescoços e nos obrigar á dançar de saia havaiana- disse Lia com sarcasmo notável.

-Você é má comigo- observei fingindo estar chateada.

-Não é que eu seja má, é que eu não sou idiota de fingir que sou boazinha- respondeu

Fiquei pensando sobre isso, eu não gosto de pensar numa coisa por muito tempo. Ela estava certa, não temos que fingir que somos completamente bons, ninguém na Terra é inteiramente bom, só estão escondendo a verdade, o que os fazem piores ainda. Odeio quando Lia tem razão! E pode crer, são muitas vezes. Imaginei se eu fingia ou não, mas conclui que não, pois se fosse sim eu não conseguiria ser amiga de Lia, afinal, ficar muito perto dela meio que deixa agente como ela. Um exemplo é Julie, ela nunca falava com ninguém e era tão tímida que nem se apresentava na frente da sala. Foi só passar um tempo com Lia e a filha de Atena ganhou até um prêmio de melhor discurso do ano.

Duas mulheres entraram na sala, a minha cabeleleira e a de Lia. Pelo visto apenas elas seguiriam dali. Pediram para eu me sentar em outra cadeira, uma mais fofa e que não deixaria minhas costas doloridas. Então 1 pegou o secador, mas antes que 1 começasse á secar meu cabelo, pedi um prato com queijos no espetinho, então a deixei continuar. Ela secou, penteou, cortou, hidratou e fez um monte mais de palavras que terminam com “ou” no meu cabelo. Demorou cerca de 40 minutos, mas eu não reclamei, porque a cadeira fofa era na verdade cadeira de massagem. Não sei como aquela cabeleleira conseguia trabalhar com minha cabeça de um lado pro outro.

Então, assim que acabou, 1 me trouxe um espelho e, modéstia a parte, eu estava M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A! Uma gata! Perfeita! Ela fez luzes no cabelo e o repicou em ondas. Ai, eu me sentia Megan Fox! E agora você quer saber da Lia né? Ela não fez nada de mais, só aparou um pouco e repicou na frente.

Finalmente nos despedimos das funcionarias e desejamos estar com nossas roupas de novo. Então saímos do SPA, demos um abraço em Gusttavo e Guilhermo, que disseram que estávamos lindas. Assim que passamos pelo saguão e fomos para rua sorrimos como criançinhas. Era uma sensação maravilhosa ter sido tratada enquanto comia e se divertia. Graças aos Deuses vencemos a terceira prova!

-E agora o que vamos fazer?- perguntei á Lia- Você quer voltar para o hotel? Ainda é meio dia.

-Vamos! Eu quero almoçar!- respondeu

Voltamos para o hotel e logo já estávamos no quarto novamente. Mas tive uma sensação de que não era uma boa hora de chegar e assim que entramos, descobri que estava certa. Nico estava sentado no sofá com três garotas loiras de uns 14 anos em volta, que acariciavam seu rosto. Na mesma hora olhei para Lia e me senti num pesadelo horroroso, como se um monstro fosse sair de dentro dela e arrancar a cabeça de todo mundo. Sua expressão era tão assustadora, que quase me fez correr dali e ir morar na floresta. Não há palavras que descrevam.

Na mesa estavam todos os nossos amigos, que encaravam Lia prontos para segurá-la se ela sacasse uma faca. Mas Lia só olhava as garotas, planejando um jeito de jogá-la pela janela sem ser impedida. E Nico, quando viu Lia, sorriu como nunca antes. Era o sorriso de alguém que acabara de jogar sua arma secreta e havia ganhado o jogo.

-Nossa! Vocês demoraram- disse o filho de Hades

Lia pareceu se irritar mais com aquela simples frase. Então sua expressão mudou. Ela respirou fundo e sorriu, depois entrou saltitando no quarto. Aquilo me deu mais medo do que se ela tivesse apenas matado as garotas. Se eu não conhecesse bem Lia, acharia que ela não ligava para o fato de três garotas estarem agarradas á ele, mas já que conheço, sei que essa reação calma quer dizer que ela vai se vingar. E se Lia vai se vingar, Nico está ferrado. E se Nico se ferrar no final da história eu vou rir muito. Por isso vou a deixar seguir em frente com seu plano.

-É que Gusttavo não queria deixar que fossemos embora- disse Lia

O sorriso de Nico se desfez e ele apertou ainda mais as garotas loiras perto dele. Eu não acreditava que o filho de Hades estava usando aquelas pobres meninas para fazer ciúme, coitadas! Ele nunca pareceu ser disso. Talvez seja essa a razão de Lia ter resolvido não matá-las, porque elas também eram vitimas.

-Quem são sua amigas?- perguntou Lia

-Não sei o nome delas, elas me encontraram na rua e me agarraram- explicou ele.

-É, porque o achamos bonito e queremos um novo namorado!- disse uma delas.

Elas não eram as vitimas na historia, tinham outro nome. Nico nunca pegaria três garotas na rua sem nem saber o nome delas, essas três é que se ofereceram e ele deixou para irritar Lia. Mas elas nunca perceberiam isso pelo modo como parecem burras.

-E Nico é perfeito para ser nosso namorado- disse outra

Vi uma centelha de raiva passar pela expressão pacífica de Lia, mas logo foi desfeita por um de seus sorrisos malignos. Era ali que o plano começaria.

-Meus Deuses! Você disse para elas que seu nome é Nico?- perguntou como se estivesse muito surpresa- Diga seu verdadeiro nome!-ordenou

-Verdadeiro nome?- perguntou a única das garotas que ainda não tinha se pronunciado.

-É, Josefina!- disse Lia

Todos na sala explodiram em risadas. Menos as três garotas, que olhavam com nojo para Nico, o próprio Nico, que encarava Lia com um ódio mortal, e minha querida amiga do mal Lia, que sorria mais feliz do que nunca.

-Aí, Josefina além de ser nome feio é nome de mulher!- disse uma delas.

Lia foi saltitando até a cozinha e abriu a panela de onde vinha um cheiro maravilhoso de macarrão. Fui atrás dela e nos servimos, mas sem deixar de prestar atenção na conversa atrás de nós.

-Ela está brincando, meu nome não é Josefina- disse Nico.

-É SIM!- gritou Lia

-CALA A BOCA!- gritou Josefina/ Nico de volta.

A filha de Poseidon abriu outro sorriso do mal. Aquilo foi um sinal de que a situação iria piorar para Nico.

-Viram meninas? Josefina gosta de ofender mulheres, ele é machista!- disse ela, com um prato na já se sentando á mesa.

-Ai! Não suporto homem machista!- disse uma das loiras

-Nem eu!- disseram as outras duas.

-Ela está brincando de novo! Não é nada disso!- Nico explicou nervoso.

Também me sentei-me à mesa, do lado esquerdo de Lia, onde nós duas tínhamos vista privilegiada da confusão de Nico na sala. Percy, que estava do lado direito de sua irmã, sussurrou algo no ouvido dela e sorriu. Já que estava perto, ouvi um pouco do que ele disse. Era algo como: Vou ajudar á ferrar Nico ou: Vou dançar com o Francisco. Gente será que esse tal Francisco é bonito?

 -Ei, Josefina! Até agora não entendi por que você está com essas garotas e não com seu namorado- gritou Percy

As três meninas se levantaram e encaram Nico com raiva. Ele logo começou a se explicar e dizer que não era verdade, mas dessa vez elas tinham mais relutância em acreditar. Lia e Percy sorriram um para o outro de um modo maligno que me surpreendeu. Não por Lia, ela faz esse tipo de olhar quase toda a hora, mas por Percy, que parecia estar infectado de maldade de sua irmã.

O resto da refeição, Lia dizia coisas para envergonhar Nico e comia. Suas duas atividades favoritas: irritar Josefina e comer. Poderia ser melhor, ela poderia estar comendo chocolate, mas nem tudo é perfeito. Mas eu sei de uma coisa que é... EU! Eu sou perfeita!

Depois que Lia terminou de comer e desejou pela lógica contraria que o prato sumira. Então se levantou e foi chamar o elevador.

-Aonde você vai mocinha?- perguntou Percy

-Não estou a fim de ficar aqui, vou ir lá para o festival ver se tem alguma coisa interessante para fazer- respondeu.

-Traduzindo você vai comer chocolate- disse Rafael

Lia deu uma piscadela e entrou no elevador. Então eu corri e entrei no elevador também. Logo atrás de mim veio Meg, que não sei por que levava na mão uma latinha de ervilha. Entramos no nano segundo em que as portas se mecharam e por pouco não ficamos sem perna.

-Eu quero ir junto- falei

-Eu também, sabia que é uma droga ficar a tarde inteira nesse quarto? Eu quero me divertir- disse Meg

-Ta legal- disse Lia com cara de tédio

Achei estranho Meg querer ir, ela é muito quietinha e sempre parece estar melhor sozinha lendo do que conversando com agente.  Não que eu tenha algo contra, mas é que eu já me acostumei á não ouvir sua voz muitas vezes no dia. A única pessoa que Meg conversa com frequência é Pâni, elas se divertem juntas e por isso quase nunca opinam nas outras conversas. Vocês já devem ter percebido que elas não falam quase nunca não é? Então, é por isso. Ás vezes eu tinha pena de Meg porque ela não gosta de nenhum menino e nenhum menino gosta dela, sei que ela não se importa, mas filhas de Afrodite tem o instinto de querer montar casais.

Além do mais Meg não tem a aparência que um menino quer para namorada. Ela é gordinha, tem pele escura, que pode mudar de cor graças á sua mãe, e um cabelo muito bem tratado que batia nos seus ombros. Existem homens com muito preconceito e é isso que a impede de ter um namorado, mas também tem o fato de que ela tem pouca alto-confiança. Uma vez perguntei á Meg sobre sua família e a filha de Iris me contou um pouco de sua historia. Seu pai, Hugo Farve, havia acabado de terminar a faculdade quando conheceu a deusa Iris, eles se apaixonaram e depois de alguns meses Iris deu á luz Meg. Mas então teve de ir embora, pois não podia deixar seus deveres como deusa mensageira.

No começo Hugo entendeu e criou a filha com muito amor, virou um empresário de sucesso e ganhou muito dinheiro. Mas com o passar do tempo, as coisas em seu escritório começaram á dar errado e ele entrou numa crise financeira. Criticas e problemas era tudo o que ele ouvia o dia inteiro e foi ficando cada vez mais zangado, frustrado e decepcionado com a vida que levava. Então começou a beber. Meg contou que isso aconteceu por volta de seus oito anos. Ela ouvia seu pai chegar em casa bêbado, e sempre o ajudava dando-lhe café e remédios, mas um dia Hugo estava alterado de mais pelo álcool e bateu nela. Depois disso Meg nunca mais saiu do quarto ao o ouvir chegar e não se importava se ele não aparecia.

No dia do seu aniversario de 13 anos, Meg convidou umas amigas para ir até sua casa de tarde, para as garotas não verem seu pai. Só que Hugo foi despedido nesse mesmo dia e apareceu mais bêbado do que nunca. As amigas de Meg foram embora com medo e a filha de Iris foi obrigada a passar o resto de seu aniversario sozinha, chorando em seu quarto. Uma semana depois Meg desistiu de viver ali e fugiu de casa. Passou meses morando na rua e sentiu de perto o que um mendigo fazia para sobreviver. Então foi encontrada por um sátiro e levada ao acampamento, onde conheceu Lia e todas as outras. Confesso que fiquei com raiva de mim mesma por ficar reclamando de sapatos e outras coisas, enquanto uma amiga convivia com uma lembrança daquelas.

Só percebi que estava no festival 105 quando passamos mais ou menos da vigésima barraca.

-O que eu perdi?- perguntei

-Um macaco laranja estapeando um homem vestido de biscoito- respondeu Lia- No que estava pensando?

-Sei lá, já me esqueci- falei.

-Vamos jogar? Eu quero jogar! Nós vamos jogar não é?- perguntou Meg toda feliz

Lia fez que sim com a cabeça. Então nós três jogamos tudo quanto é jogo maluco, ganhamos prêmios, comemos, bebemos, pulamos, gritamos e rimos. Lilis queria experimentar todas as comidas, naquele momento ela mordiscava um salsichão de frango com uma planta esquisita do País das Maravilhas. Ela dizia ser gostoso, mas eu sentia enjoo só de pensar em colocar uma coisa dessas na minha boca com dentes perfeitos! Já Meg comia um super hambúrguer com batata palha, carne, tomate, alface, molho e mostarda.

Pelas minha contas estávamos no festival há apenas uma hora, mas não confie, não sou boa com contas, ou com geografia, ou com História. Nem com certa matéria que termina com “ência”.  Mas o importante é que ainda estávamos no meio da tarde e entramos novamente no tédio. Agora eu lhe pergunto como alguém pode ficar com tédio no País das Maravilhas? Bom, ninguém não é? A dimensão paralela mais maluca que existe logo pregaria uma peça conosco, eu sentia isso em cada unha bem feita minha.

-Olhem só!- disse Meg

Ela apontava para uma tenda roxa, com desenhos de luas, sóis e estrelas em amarelo. Na frente havia uma entrada, de onde se podia ver uma luz branca pulsando dentro da barraca. E ao lado da entrada havia uma placa escrito: Vidente por 1,99.

-É uma vidente- falei

-Não, pela modo como está escrito vidente na placa posso presumir que seja uma lontra!-disse Lia com sarcasmo

Mostrei á língua pra ela e Lia revirou os olhos com desdém.

-Porque não vamos lá?- sugeriu Meg

-Essa mulher deve ser no máximo uma doida que acha que prevê o futuro em uma bola de plástico e usa esse “dom” para comprar enlatados no mercado- falou Lilis

-Se é falso, não vai nos acontecer nada e é uma chance para zoarmos ela- insisti, pois sempre tive vontade de consultar uma vidente.

-Está bem- concordou Lia com raiva

Andamos calmamente até a tenda roxa e entramos. Por dentro aquele lugar parecia bem maior do que por fora. Era uma sala escura com luas, sóis e estrelas douradas no chão graças á luz do sol batendo nos desenhos do lado de fora da barraca. O chão estava coberto de tapetes peludos de cores escuras e sombrias, e bem no centro do lugar uma mulher muito esquisita encarava uma esfera em cima de uma mesinha. Percebi que luz branca que vi era de dentro da esfera, e aquilo me deixou com medo, porque eu nunca vi esfera brilhar sem tomada.

Chegamos um pouco mais perto e conseguir enxergar direito à mulher, que obviamente era a vidente. Ela era negra, tinha cabelos cacheados cumpridos que batiam em sua cintura, lábios carnudos e olhos prateados como a lua. Usava uma blusa preta com mangas estufadas que deixavam seus ombros e seu umbigo de fora, uma bandana verde com símbolos que não consegui identificar e uma saia comprida azul marinho toda remendada e cheia de stress. O que mais me chocou nela foram as unhas, cumpridas como facas, e as cicatrizes que cobriam todas as poucas partes que ela deixava encobertas.

-Bom dia meninas- disse a vidente numa voz extremamente bonita.

-Oi, eu sou... –comecei, mas ela interrompeu

-Anellize Morfs, a cética ao seu lado é Eliza Letter Crazier e a outra é Megan Farve- disse a mulher sem tirar os olhos da esfera.

Um arrepio percorreu meu corpo. Um aperto no meu coração me fez congelar. Como ela sabia nossos nomes? Nós nunca dizíamos á ninguém, nunca nem falamos no concurso. Eu nunca nem vi essa mulher antes, então porque Hades ela sabia meu nome? Olhei para Lia, que também parecia assustada, mas não tanto quanto eu. Meg já tinha dado três passos para trás e parecia estar pronta para correr, sua expressão era a de alguém que acabou de ver um fantasma. Perguntei-me se também estava daquele jeito, porque com certeza aquela cara ficaria muito feia em mim.

-Vocês vieram aqui imaginando que eu era uma dessas fingidas não é? Pois bem, eu realmente vejo pelas estrelas, pelas cartas e por milhares de outros meios, a sorte que uma pessoa teve, tem e terá- disse a vidente, finalmente levantando seus olhos prateados e nos encarando- Meu nome é Catrina. Quem quer vir primeiro?

Por alguma razão, ela olhou para mim quando fez a pergunta, então senti que eu deveria ser a primeira, mesmo estando com mais medo que uma galinha na véspera de natal. Engoli em seco e andei, com pernas bambas, até a mesinha onde Catrina estava ajoelhada de frente para o globo luminoso, e ajoelhei-me também. Ela me estudou cuidadosamente e pareceu se divertir com meu medo, o que me deu mais medo. Girei a cabeça para olhar Lia que já estava recuperada do susto que a vidente nos dera e me dizia com o olhar que nada de ruim aconteceria. Isso me deu força para pelo menos parar de tremer.

-Quer que tipo de leitura? Todas custam 1,99- disse Catrina

-Quero a da bola de cristal- falei

-Boa escolha Anelize!- disse- Quer saber de que assunto? Dinheiro? Família? Amor? Carreira?

Pensei bem. Se ela era uma vidente de verdade, então qualquer que seja a categoria que eu escolhesse, a leitura seria verdadeira. Imaginei sobre o que eu mais tinha duvidas, uma coisa que ao saber eu não me arrependeria de ter escolhido. Muitas filhas de Afrodite diriam logo amor, mas eu queria deixar esse assunto ainda como um mistério, eu acabaria sabendo de qualquer jeito!

-Amigos!- respondi

Catrina concordou. Então voltou a se concentrar na bola de cristal, que começou a brilhar em tons de roxo e verde.

-A cor que a bola assume define o curso do futuro que a pessoa requisitada tomará- disse Catrina- E por sorte o seu futuro é lúcido e claro para que eu o veja.

Ela tocou a bola e de repente uma fumaça começou a se formar dentro do globo. A fumaça era rosa e serpenteava em todas as direções da bola de cristal lentamente. Catrina agora massageava a esfera luminosa de um lado para outro e, graças ao silencio dentro da barraca, era fácil ouvir o barulho de sua pele raspando no cristal.

-Você perderá amigos valiosos no decorrer da vida, mas alguns em especial nunca te deixarão-começou Catrina- Uma amiga próxima revelará quem é de verdade e trairá a sua confiança, e por causa disso receberá uma lição. Um amigo vaidoso deixará o posto de amigo em seu coração. Ganhará companheiros fiéis de legados diferentes e uma hora será forçada á seguir sem eles. Mas anos depois todos se reverão, para lutar por uma mesma causa e vencerão.

Outro arrepio percorreu meu lindo e perfeito corpo enquanto eu via a fumaça se dispersar dentro do globo. Eu não sabia se aquela era uma boa ou uma má previsão, mas cada palavra soava com uma verdade tão pura, que não pude contestar. Apenas agradecia á ele e levantei-me com a ajuda de Lia. Então Meg se ofereceu para ser a próxima.

Depois de se sentar e respirar fundo, Meg disse:

-Quero que leia na bola de cristal sobre minha família.

Fiquei com pena dela. É claro que ela queria saber do pai, se ele melhoria, se morreria ou qualquer outra coisa, pois mesmo tendo desistido dele e fugido, Meg ainda o amava e tinha esperanças de voltar á ter o pai que á muito tempo teve. Tinha também a questão de sua mãe. Ela nunca disse nada, mas dava para notar em seus olhos toda vez que mencionávamos Iris que ela queria vê-la.

Catrina fez exatamente a mesma coisa que fez comigo, mas as cores que a bola de cristal tomou eram outras. Amarelo e branco. Mas a fumaça que apareceu no centro da esfera e que saiu serpenteando exatamente como a minha era de um azul escuro lindo!

-Seus familiares agora são poucos, mas aumentarão com o passar do tempo- disse a vidente dos olhos de lua- Você não receberá um novo ente com alegria, mas aprenderá que a felicidade de outros às vezes é mais importante que a sua. Você vai ajudar alguém muito importante á se recuperar de uma crise e viverá sem culpa com outro alguém que ama.

Meg sorriu. Ela pareceu interpretar bem a previsão, pelo menos melhor do que eu.

Chegou então à vez de Lia. Ela se ajoelhou diante da mesinha com uma expressão imparcial e vazia. A expressão que ela faz quando não quer que percebam suas emoções. Lia não percebe que faz isso, mas eu já aprendi á entender os milhares de códigos quase invisíveis que ela possui.

-Leitura na bola de cristal sobre amor- disse Lia para minha surpresa

Catrina a encarou com olhos curiosos.

-A primeira á ter coragem de perguntar o que realmente quer saber- disse a vidente

Meg e eu nos entreolhamos. Nenhuma de nós teve a intenção de não perguntar sobre amor de propósito, nós achávamos que realmente queríamos saber daqueles outros assuntos. Mas segundo Catrina isso não era verdade.

Catrina massageou sua bola de cristal como fez comigo e com a filha de Iris ao meu lado. As cores que dessa vez o globo possuiu eram todas em tons quentes, como laranja e amarelo. A fumaça que sempre costuma aparecer era de um vermelho tão forte que lembra fogo, pensei até que a esfera explodiria com o calor.

-Você amará dois ao mesmo tempo durante anos- disse Catrina- Tu serás a única vida de ambos e uma hora terá de escolher. Um ficará com você e outro perecerá por você, sem nunca te esquecer. Uma duvida irá surgir em tua mente se fizestes a escolha certa, mas a certeza virá depois que recebestes três presentes dos deuses.

Lia inclinou a cabeça para um lado em um gesto de dúvida. De todas nós ela foi a que pareceu mais confusa. A filha de Poseidon se levantou num salto e assumiu uma expressão de descrença.

-Eu não acredito- disse Lia- Só porque você adivinhou meu nome não quer dizer que seja realmente uma vidente, essas coisas não existem e você só enche as pessoas de esperanças e decepções.

Catrina também se levantou em três segundos.

-Ousa ofender-me em meu próprio lar?- perguntou em desafio

-Ouso. Ouso sim. Porque você é uma bruxinha de araque e estou perdendo meu tempo aqui!- Lia deu meia volta e agarrou a minha mãe e a de Meg- Vamos sair daqui!

Fui arrastada para fora da barraca. Então olhei para trás e vi Catrina andando atrás de nós, sussurrando umas frases estranhas, quando percebi o que eram, já era tarde.

-Por sua falta de gentileza e nobreza, serás amaldiçoada até aprender uma valiosa lição!- gritou Catrina

Instantaneamente depois que ela disse essas palavras, senti uma força sobrenatural queimando meu corpo. Meus ossos se contorceram e minha cabeça latejou como nunca. De repente, percebi que as casas á minha volta estavam crescendo numa velocidade alucinante e as pessoas na rua de repente viraram gigantes. Mas então entendi qual era maldição que Catrina jogará.

Minhas amigas e eu estávamos do tamanho de formigas!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tchau!!!!