Eliza No País Das Maravilhas escrita por Avril_Gomez_108


Capítulo 26
Fico na contra mão com um cavalo


Notas iniciais do capítulo

DESCULPA A DEMORA, VCS QUEREM ME ASSASSINAR, EU QUERO ME ASSASSINAR. é que eu to viciada no tumblr, tumblr, isso mesmo, eu criei um tumblr, só que é de Selena, mas quem quizer me seguir ta aqui o link: http://selenaofmydreams.tumblr.com/
Mas é sério, me perdoem, pra compensar fiz esse capitulo maior que o mundo, espero que gostem.



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...A rainha da beleza do País das Maravilhas, Helena. O que ela fazia ali eu não fazia ideia. Matinha uma expressão decidida ao cruzar as portas e andar com compostura em minha direção. Helena usava um vestido azul bebê simples, que batia no joelho, mas ainda sim a deixava deslumbrante como na noite anterior. Mas da última vez que eu há vi, ela estava de salto, naquele momento usava uma sapatilha branca com um laçinho do mesmo tom de azul de suas vestes. A rainha da beleza estava delicada, mas delicada de um jeito totalmente diferente do que qualquer outro que existisse.

“Até parece que eu vou ser rainha da beleza, perto dela eu pareço é um pato com enjôo depois de cheirar vomito” pensei.

Helena parou de frente para mim, sorrindo. Ela era bem mais alta que eu, e como na comparação, eu parecia mesmo um pato com enjôo depois de cheirar vomito, só que piorou, o vomito virou bola de pelo de gato.

–Bom a dia á todos, eu estou passando em todas as casas das participantes para entregar estas pulseirinhas- ela levantou a mão e mostrou um saquinho cheio de pulseirinha de plástico de várias cores- Assim, as que foram eliminadas vão continuar sendo eliminadas. Não sabem o numero de garotas desesperadas que tentam voltar para o concurso.

Ela pediu, sorrindo, para fazermos uma fila enquanto ela prendia as pulseiras. Quando chegou minha vez, Helena começou a conversar comigo, isso mesmo, conversar, só pra provar como até a voz dela é melhor que a minha.

–Enquanto estava no elevador escutei uma música- disse em sua voz melodiosa

–É que os meninos estavam cantando- falei com vergonha

–O que me chamou a atenção foi a letra- falou terminando de abotoar a pulseira- Porque eles estavam cantando aquela música?- perguntou levantando a cabeça e olhando nos meus olhos

Eu podia ter inventado milhões de mentiras, várias elaboradas, algumas desculpas esfarrapadas, a primeira coisa que me viesse na cabeça pra me tirar dessa situação, afinal, eu me achar feia era uma coisa pessoal. Eu não queria ficar recebendo lição de moral. Mas olhando naqueles olhos, que pela primeira vez notei ser verdes, eu simplesmente não conseguia mentir. Se naquele momento ela perguntasse sobre os meus segredos mais profundos eu lhe contaria sorrindo, se me pedisse pra roubar um banco eu roubaria com todo o prazer. Aqueles olhos pareciam arrancar tudo de mim, mas principalmente o melhor.

–Eles cantaram porque eu e as meninas estávamos discutindo sobre quem era mais feia- falei quase que em transe

–E porque vocês se acham feias?- perguntou ela, mas desta vez olhando para cada menina presente

Todas abaixaram os olhos. Cada uma tinha seu motivo, mas era realmente muito pessoal. E ainda tinham os meninos, que se ousássemos dizer nossa opinião sobre nós mesmas, já insistiriam que somos perfeitas. Eu não sabia das outras, mas eu não diria uma palavra sobre aquele assunto enquanto Nico estivesse por perto. Nem que me pagassem. Nem que me dessem chocolate. Talvez se me dessem um caminhão de chocolate, aí sim.

Helena parecia ter lido minha mente. Ela estreitou o olhar, indo de Nico para mim e como eu evitava olhá-lo. Depois prestou mais atenção nos outros garotos da sala. Nenhuma menina cruzava o olhar com eles, e os mesmos estavam em posição de ataque, prontos para nos contrariar. Uma chama de compreensão pareceu atingi-la. Então a rainha da beleza sorriu enquanto cruzava os braços.

–Meninos vocês podem, por favor, se retirar?- Helena perguntou

–Ã, nã?- disse Nico

–Elas nunca vão se achar bonitas se não se abrirem, e nunca vão se abrir com vocês por perto- explicou

–Ainda não vamos sair- disse Travis

–Se não é por bem, vai ser por mal- disse Helena

–Você vai fazer o que? Sapatojitsu?- perguntou Percy rindo

Helena andou até ele e tocou uma veia em seu pescoço. Percy começou a se curvar como se estivesse com dor, seus olhos se arregalaram e ele soltou uma risada entrecortada. No segundo em que a rainha da beleza tirou o dedo de seu pescoço, Percy começou a respirar pesado, como quem acaba de correr uma maratona.

–O que você fez com ele? Perguntou Annabeth com raiva

–Excesso de prazer- respondeu Helena

–Como é que é?- perguntei

–O que você sentiu?- perguntou Helena para Percy

–Uns arrepios. Parecia que eu estava sendo acariciado por anjos- disse sorrindo do jeito besta que só ele sabe fazer

Helena sorriu para todos nós.

–Essa técnica faz o alvo sentir uma sensação tão boa que todos os sentidos relaxam, ou seja, ele fica privado do olfato, audição, paladar, tato e visão- explicou- Agora, se os meninos não se retirarem formalmente eu terei que tomar as devidas providencias.

Na mesma hora todos os meninos saíram correndo para o elevador, que ainda estava em nosso andar, apertaram o botão térreo com pressa e sorriram enquanto as portas se fechavam. Não sei o que deu em mim, mas aquela cena me pareceu muito engraçada. Começei a rir desembestadamente, com aquela risada besta que eu odeio em mim mesma. Sério, eu já me vi no espelho enquanto ria daquele jeito, em minha opinião é tipo um cavalo rindo da desgraça de uma lontra.

Minhas amigas olharam pra minha cara, agora vermelha, e riram também. Logo, até Helena estava rindo, não sei do que. Refletindo sobre a cena, acho que eu ri do desespero dos meninos, ou eu sou do mal e rio da desgraça alheia. Acho que é um pouquinho dos dois.

–Você ta parecendo um tomate com febre- disse Julie

Fechei o sorriso lentamente.

–E você é baixinha- falei

–Sou mais velha que você- retrucou

–Só cinco meses, dá pra esquecer isso?- perguntei

Julie fechou os olhos e respirou fundo.

–Cinco meses é muita coisa- falou

–Então por que você não cresceu neles?- perguntei

–Vai conversa com o Nico, vai.

–Cala a boca- rebati

–Vem fazer.

–Minha mãe me ensinou á não mexer no lixo.

–Ai patada!- disse Ane

Todas começamos a rir mais uma vez, menos Helena, que não devia ter entendido uma palavra.

Eu sou muito boa em patadas. Aprendi com os Crazier. A família Crazier não admite ser derrotada, bem mais que os Letter. Quando nós falamos algo sobre alguém e essa pessoa retruca com patada, é do nosso extinto dizer uma patada maior e esplêndida. Uma vez fiz um garoto chorar, minha mãe fez um dos namorados dela chorar, minha vó fez um dos soldados da marinha chorar (aquela história que eu já contei da minha vó), minha bisavó só se separou do marido porque ele chorava todo dia. Os homens da minha família normalmente não se dão muito bem.

Eu também sempre adorei ensinar patadas. Principalmente para Ane, pois a filha de Afrodite tem bem mais situações para usá-las. Como quando ela quer comprar uma roupa e alguém também, só que é a ultima peça. Ou quando o namorado de alguém lhe da uma cantada e a namorada dele vai reclamar com ela. Ou quando uma professora lhe da uma nota baixa. Ou quando alguém acha que é superior á ela. Todas essas situações já aconteceram. Mas eu nunca ensino as melhores patadas, as que as maiores lendas da família Crazier me ensinaram. Essas são minhas armas secretas.

–É por isso que você se acha feia?- perguntou Helena á Julie

–Como?- perguntou Julie

–Você se acha feia por também ser baixinha e nerd, mas nunca alcançar o potencial.

–Não, eu só olho pro espelho e me vejo- contradisse a filha de Atena

–Não, você se acha feia, pois acha que nunca alcançara seu próprio potencial- afirmou Helena

–Beleza, se você quer assim- disse Julie levantando as duas mãos (N/A: Tipo o meme “Ui”, rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs)

Julie olhou para mim com cara de “tira essa mulher doida daqui”. Eu queria mesmo tirar, mas não sei por que, também queria ser educada com ela.

–E você, pelo que pude notar, se esconde atrás de deboches e de risadas para não descobrirem o quanto está descontentada consigo mesma- disse Helena olhando para mim- Embora eu ainda não entenda o porquê de se achar feia.

–Eu me acho feia porque as pessoas me chamavam de feia, eu só aceitei- expliquei sorrindo.

–E você se sente inferior?- perguntou

–Me sentia, até perceber que enquanto agisse como inferior seria digna de pena, não quero que tenham pena de mim, então eu comecei a agir como um ser humano de verdade- respondi- Foi fácil. Começei a ouvir o rock que minha tia ouve, conheci bandas mais atuais e me baseei em letras que diziam para eu seu eu mesma. Fiquei com fama de má depois de bater em uma menina e usar sarcasmo, agora isso é minha vida.

–Uma bad girl- concluiu Helena

–As garotas boas vão para o céu, as más vão para onde quiserem- falei

–Menos pro céu- interrompeu Julie

Lancei meu olhar do mal nela e mesma desviou os olhos rapidamente.

Ficamos em silencio, olhando uma para a cara da outra. De repente todas as meninas estavam se abrindo, parecia uma espécie de magia que Helena tivesse lançado. Todas se sentaram no sofá e falaram sobre traumas de infância, casos tristes, sentimentos e outras coisas que só não vou descrever, porque não quero encher vocês de chatices. Era um saco. Eu e Julie nos entreolhamos, éramos as únicas que não haviam se sentado para conversar com a rainha da beleza. Afinal, já tínhamos tido nossa “consulta com a psicóloga”.

Ainda olhando para Julie, fiz sinal para o elevador. Ela andou disfarçadamente até ele e se encostou junto á parede como quem não quer nadar. Cruzou os braços e usando uma das mãos apertou o botão para chamá-lo. No momento em que as portas se abriram andei rápido para dentro sem fazer barulho com Julie em meu encalço. Apertamos o botão e demos graças aos deuses quando o elevador começou a se mover para baixo. Assim que saímos para o saguão, novamente não cumprimentei a recepcionista, e a mesma parecia aborrecida com isso.

–Lia, por que você nunca diz oi pra ela?- perguntou Julie

–Porque eu não quero- respondi

–Você não tem educação?- perguntou inconformada

–Olha, Julie, eu não sou macaco que diz olá- falei

–Não falei que você era um macaco, perguntei se você tem educação.

–Não, feliz?

Ela revirou os olhos enquanto passávamos pela porta do saguão e íamos para a calçada.

–O que fazemos agora?- perguntou

–Sei lá, vamos só andar- respondi.

Ficamos rondando a cidade por meia hora. Fomos para a praça central, olhar um pouco as barracas e pra comer cachorro quente (quer dizer pra eu comer cachorro quente, a vegetariana comeu salada). Depois conversamos sobre Harry Potter (nós duas somos as únicas Potter heads do nosso grupo) enquanto passeávamos pelas ruas da cidade. Viramos ruelas, vimos praças e construções estranhas. Julie dizia a cada cinco minutos “isso não faz sentido” e eu tentava explicar para ela, mas parecia que não entrava. Filhos de Atena não são feitos pro País das Maravilhas.

–Como assim o que cai vai pra cima, é impossível – falou com sua voz incrivelmente fina.

A voz de Julie sempre fora fina, isso é um fato sobre ela que eu me esqueci de falar, ou será que falei? Bem, a voz dela é como um filhotinho chorando, às vezes é irritante, às é vezes bonitinho, mas nunca muda.

–Como você sabe que cair no nosso mundo é pra cima, e aqui é que é pra baixo?- perguntei

–Porque o nome que se da á essa direção... – falou apontando para o chão- É baixo.

–Como você sabe se não confundiram na hora de escolher os nomes?

–Bem... Eu... CAIR NÃO É PRA BAIXO!

–Ta bom- falei pra encerrar o assunto

–Mas não é mesmo- insistiu

–Ta.

–Mas não é- disse

–Eu já concordei- eu disse á ela, em seguida revirei os olhos.

–Você revirou os olhos, isso quer dizer que não concorda.

Ela ficou insistindo que cair não é pra cima, se irritando toda a vez que eu concordava, por dez minutos. Até parece que cair é pra baixo, filhos de Atena não tem a menor noção das coisas, tem que ser tudo certinho.

Enquanto andávamos passou uma garotinha linda. Ela tinha um cabelo loiro escuro que batia em sua cintura, pele branquinha e andava como uma fadinha. Começei a prestar mais atenção e percebi que seus cabelos pareciam meio sujos e suas vestes eram pedaços de trapos. Fiquei observando a garotinha enquanto a mesma falava com duas mulheres, uma com um vestido azul e outra com vestido rosa. Ela estendeu a mão e a de azul tirou algo do bolso e deu à menina, a de rosa balançou a cabeça negativamente.

A menininha começou a saltitar para longe das mulheres com um sorriso, enquanto olhava para um objeto dourado em sua mão.

–Tadinha, é uma mendiga- falei.

–É- disse Julie que também observava a garota- Vamos lá.

Julie e eu caminhamos até onde a bela garotinha estava. Ela havia entrado em uma padaria, comprado um sorvete e o chupava feliz encostada á parede de um prédio qualquer.

–Oi- cumprimentei.

–Oi- cumprimentou a menina

–Qual é seu nome?- perguntei

–Dinetria, mas meu apelido é Dini- respondeu.

–Que nome lindo Dini- falei sorrindo

–Acha mesmo?- perguntou abrindo um sorriso lindo

–Acho- respondi- Você quer mais um desses?- perguntei apontando o soverte

Ela sorriu mais ainda e fez que sim com a cabeça, mas então pareceu lembrar-se de algo, e mudou de ideia.

–Minha mãe disse pra não aceitar nada de um estranho- disse Dini

–E onde sua mãe está?- perguntei olhando em volta

–Ela foi pra terra da fruta pegar comida á três dias e já deve estar voltando, lá é perigoso, por isso eu não podia ir junto- explicou-É que nós vendemos as frutas.

–Que legal!- falei- Ela te disse pra não aceitar nada de um estranho, mas eu não vou te dar um sorvete- coloquei a mão no bolso e tirei cinco moedas- Vai compra mais deles, fofa.

–Brigada moça- agradeceu pegando as moedas e correndo pra padaria

Fiquei sorrindo até a menina sumir ao passar pela porta. Em seguida virei-me para continuar passeando pela cidade quando dei de cara com uma Julie que me encarava com suspeita. A filha de Atena havia ficado quieta o tempo todo enquanto eu falava com a menina, e naquele momento finalmente resolveu falar.

–Você foi... Boa com aquela menina?- perguntou

–Fui- respondi

–To meio zonza agora- disse olhando pro céu enquanto massageava a cabeça- Você foi mesmo boa com alguém sem pedir nada em troca?

–Julie, eu sou um ser humano, não uma maquina de fazer maldades. Eu tratei bem aquela menina e posso tratar muitas mais do mesmo jeito- falei- Eu sou boa.

Julie começou a rir ainda com a mão na cabeça.

–Você é boa, mas é bem raramente- falou.

–É que eu me esqueço de ser boa às vezes- expliquei

Em seguida nos viramos e continuamos passeando pela cidade. Mas a cena da garotinha pedindo dinheiro não saía de minha cabeça. Uma pessoa tão inocente como Dini não deveria andar daquele jeito pedindo grana pras pessoas. Eu só queria poder ajudar mais ela do que apenas dando sorvete. Já sei o que você está pensando “a Lia quer ajudar alguém, ó, fujam para as colinas”, mas eu ajudo quem realmente precisa de ajuda, não uma pessoa que tem a capacidade de fazer por si própria. Ai é preguiça da pessoa, só. E acredite, eu sei quando uma pessoa está com preguiça.

Julie e eu falávamos sobre camelos e como eles eram engraçados, quando viramos outra esquina, indo parar em uma rua normal (não estou falando do normal do meu mundo, o normal do País das Maravilhas), mas que possuía o maior edifício que eu havia visto até então em Tenuitate. Ele era largo como um campo de futebol e alto como um arranha céu de Nova York. Suas paredes eram brancas e as janelas azuis, na frente havia degraus de mármore que davam em enormes portas negras e alguns seguranças que mais pareciam armários.

Normalmente, em edifícios como esse, há sempre uma placa dizendo o que é, mas naquele não. Eles tão achando que eu sou adivinha.

–Que prédio é esse?- perguntei a Julie

Ela levantou os ombros em um claro “sei lá”.

–Esse é o banco de Tenuitate- disse uma voz atrás de mim

Quando me virei dei de cara com um cabelo verde limão bem berrante. Já estava acostumada a fazer perguntas em voz alta e aparecer esse cabelo.

–Banco?- perguntei

–É, estou indo pra lá agora pegar um pouco de dinheiro pra comprar outro terno- disse ele.

–Então é por isso que é tão alto- comentei

–É. Tem cofres nos andares e cofres abaixo da terra, as famílias mais ricas ficam com os debaixo porque são mais seguros-explicou.

–E você tem um cofre debaixo da terra?- perguntei

–Sim.

Verdesemos olhou no final da rua, acenando para uma senhora que provavelmente conhecia. Aproveitei enquanto ele não olhava e deixei meu sorriso sair, numa situação dessas é inevitável. Mas Julie o notou, e sendo filha de Atena, também percebeu minhas intenções.

–Não - sussurrou ela

–Não o que?- sussurrei de volta

–Eu sei o que você quer, então não.

–Relaxa-sussurrei sorrindo- Estou com uma boa intenção beleza.

–Qual?- perguntou ainda sussurrando

–Depois eu falo.

Nesse momento Verdesemos voltou sua atenção para nós. Ele se despediu e começou a subir os degraus de mármore em frente ao banco.

–Ei, Verde!- chamei

–Verde?- perguntou- Meu apelido é Azul.

–Mas seu nome não é Verdesemos?- questionei

–Sim.

Ficamos sem dizer nada por uns segundos.

–Ta legal- falei devagar- Verde, posso ir com você para cofre?

Julie soltou um risinho de descrença.

–Claro, vou adorar mostrar como é o banco de dentro- respondeu Verde.

–Burro- tossiu Julie

Subi os degraus até onde ele estava depois olhei para trás.

–Você pode voltar e conversar sobre sentimentos com as meninas- falei á Julie

–Eu vou com vocês- disse Julie rapidamente

Verde sorriu e entrou no banco sendo seguido de perto por nós.

De dentro aquele lugar era... Bem... Um Gringotes versão País das Maravilhas. Paredes de mármore branco, teto á metros de distancia com um lustre cheio de diamantes, e um corredor com balcões altos onde pessoas com cabelo estranho preenchiam relatórios e outras coisas de bancos. Verde andou até o final do corredor de balcões e virou à esquerda. Logo em seguida havia uma porta de metal com um guarda de plantão. Assim que o guarda viu Verde, saiu rapidamente do caminho e abriu a porta para o mesmo. Julie e eu ainda o seguíamos achando tudo muito estranho, já que aquele lugar não parecia ter muita proteção. Mas me arrependi de pensar isso um segundo depois.

Assim que a porta fora aberta, chamas flamejaram impedindo a passagem. Mas Verde andou até elas sem medo e não parou, logo vi seu corpo sumir no fogo. Fiquei de boca aberta, e Julie também. Mas derrepente a cabeça dele apareceu sorrindo.

–Acreditaram que era fogo de verdade? É só uma imitação, pra assustar ladrões- explicou.

–Entendi porque me assustei- falei

–Como?- perguntou

–Nada não.

Sorri e pulei nas chamas falsas com felicidade. A sensação é muito boa, nosso corpo acha que estamos nos suicidando, mas nosso cérebro sabe que não vamos morrer, da até friozinho na barriga. É mágico.

Quando me dei conta, estava num daqueles corredores da Indiana Jones, com paredes e piso de terra. Mas no filme, pelo menos há mais corredores, lá era apenas um único e infinito que de vez em quando mostrava uma curva, sem nunca abrir outro túnel. Havias luminárias antigas nas paredes que davam um ar fantasmagórico ao lugar, e a cada cinco metros tinha uma porta de aço arredondada e blindada. Daquelas que parecem impossíveis de abrir. Não consegui imaginar o porquê de um lugar que guarda tanta grana parecer um corredor mal lavado. Tudo bem que tinha a lógica contraria, mas terra não deixa o dinheiro mais seguro... Ou será que deixa?

Finalmente Julie arrumou coragem para ultrapassar o fogo, só que a baixinha fez isso com os olhos fechados, e acabou me derrubando. Mas não parou por aí. A filha de Atena se enroscou em minhas pernas e caiu por cima de mim, me amassando completamente contra aquele chão sujo. Reuni o máximo de fôlego que conseguia e empurrei-a pra longe de mim com o cotovelo. Mais um segundo e teriam que me levar para o hospital por falta de ar. Assim que me senti livre de seu peso sobre mim, virei-me e me apoiei ás paredes para me levantar. Estapeei minhas roupas para tirar o pó com raiva, mas havia muito pó nelas e acabei espirrando.

Verde observava tudo com divertimento.

–Levantem-se meninas, temos um longo caminho pela frente- disse Verde.

–Como é que é? Você não disse que teríamos que andar- falei

–Eu disse que meu cofre era um dos mais fundos.

–Não disse não, só falou que era embaixo- rebati.

–Interessante, pois bem, é um dos mais fundos- falou sorrindo- Agora vamos.

Verde virou-se e começou a caminhar pelo corredor infinito.

–Esse cara está me dando nos nervos- sussurrei á Julie

–Coitado!- disse ela

–Coitado o caraca, ele é louco- sussurrei com raiva.

–Você também é nem por isso te ignoro- sussurrou de volta.

–Só porque você também é.

–Ei... Isso é a mais pura verdade- falou parando para pensar no assunto

Então começamos a andar no encalço de Verde.

Depois de meia hora andando aquilo já tinha ficado chato. Era só um corredor e nós andávamos por ele. Só. E o pior é que Julie cantarolava a música que os meninos tinham cantado para nós. Não me leve á mal, eu adoro a música, mas depois de 30 minutos fica irritante, sem falar que Julie não tem a voz, nem a beleza, nem o humor dos garotos da banda... Como é mesmo? One Direction. Não tem ninguém melhor aqueles caras. Tenho certeza que se fossem eles do meu lado eu ficaria a eternidade ouvindo.

Começei a prestar mais atenção nos cofres, quanto mais pra frente íamos mais dinheiro havia em cada um. Foi quando notei uma coisa estranha:

–Hum... Verde- chamei

–Azul- corrigiu

–Verde-água pronto – falei- Por que nenhum cofre é igual?

–Existem três jeitos de abrir um cofre nesse banco- explicou- Com chave, com cartão e com senha. Mas cada fechadura é diferente da outra, cada tipo de senha é diferente e o estilo do cartão também.

–Como assim cada tipo de senha?- perguntei

–Uma senha pode ser de números, outra de botões, outra uma charada...

Concordei com a cabeça.

–E tem entrada pelos fundos?- indaguei

–Tem, na lateral esquerda da porta principal- respondeu- Tem um corredor que no final há um alçapão, ele dá direto nos cofres baixos.

–E por que não viemos por lá?- perguntei já ficando com raiva

–Porque o corredor é cheio de armadilhas para não dar chance á ladrões- explicou- Ele só existe caso ocorra algum problema, ai os funcionários desarmam as armadilhas.

Fiquei fazendo perguntas sobre o banco até chegarmos ao cofre. Descobri um monte de manhas pra enrolar funcionários, a maioria das armadilhas que estavam no corredor dos fundos, as senhas mais usadas entre outras coisas. Era muito intereçante. Mas saber de tudo aquilo ainda não era o bastante, eu precisava de mais conhecimento sobre aquele lugar. Perguntei que tipo de terra que tinha no túnel, e ele respondeu que era terra vermelha. Perguntei sobre os seguranças do banco e ele me disse que era amigo de todos, por tanto sabia do que cada um gostava e não gostava. Verde era muito fácil de enganar.

Então finalmente chegamos á seu cofre. Verde parou em frente de uma porta circular como as outras, mas esta tinha o desenho de limões verdinhos e suculentos. Nem maçaneta tinha.

–Hum... Como se abre?- perguntou Julie

–Achando a uva- respondeu Verde- Tem uma nessa imagem e toda vez que o cofre é fechado ela muda de lugar, mas é muito difícil achar para um morador daqui.

–Ela está na folha desse limão- disse Julie

–Como achou tão rapidamente?- perguntou Verde

–Não sou moradora- respondeu

Enquanto Verde apertava a pequenina uvinha e abria o cofre, olhei a porta ao lado e tomei um susto. Ela era a única que não era de metal, era de ouro maciço e pelo que pude observar, sua senha era de números.

–Que cofre é esse?- perguntei

–O cofre da família Eliert- respondeu Verde, já dentro do cofre- Eles são os mais ricos da cidade, mais ricos até que o rei.

Abri meu sorriso novamente. Havia finalmente achado minhas vitimas.

–E... Eles são legais com você?

–Até parece. Eles se acham, e tratam todo mundo mal. Tem uma garotinha loira aqui na cidade que pede dinheiro pra sorvete. Foram os Eliert que tiraram a casa e o dinheiro da mãe dela- contou

–Que? Por quê?- perguntou Julie alarmada

–Porque ela derrubou sorvete na filha do Sr. Eliert.

Olhei para Julie com espanto e ela para mim. Minhas mãos se fecharam em um reflexo de ódio. Eu queria bater nesses Eliert. Mas por outro lado, tirava a única gotinha de culpa que eu tinha por pensar em roubá-los. Afinal eles mereciam.

–E você sabe algo sobre eles?- perguntei

–Sei de tudo- disse Verde

–Duvido.

Depois disso Verde pegou o dinheiro que queria e fechou o cofre. Nos quarenta minutos de volta Verde contou todos os detalhes sobre os Eliert, ou pelo menos o bastante para eu adivinhar a senha.

De volta ao corredor de balcões, caminhamos tranquilamente em direção á saída. Assim que vimos novamente à luz do dia, despedimo-nos de Verde e esperamos seu cabelo fosforescente sumir enquanto virava a esquina. Em seguida Julie e eu fomos correndo para a entrada dos fundos na lateral esquerda como ele disse. Lá havia mesmo uma porta, e eu já ia abri-la quando Julie perguntou:

–E as armadilhas?

–Ah é. “As armadilhas vão nos matar e nos machucar”- falei

Abri a porta e olhei o que tinha. Só um corredor de metal. Mas assim que pisamos dentro do corredor as armadilhas foram acionadas. Começamos a correr em alta velocidade, eu na frente e Julie atrás. Bombas passaram a centímetros de minha cabeça. Flechas também. E fogo, balas, veneno, facas, borboletas, ratos, morcegos e todo o tipo de coisa mortal que você imaginar. De repente percebi que mais a frente o chão virava um escorregador, mas foi tarde de mais. Perdi o equilíbrio e rolei colina á a baixo na velocidade de um jato. Minha cabeça bateu em alguma coisa bem dura e senti outro peso me prensando mais ainda contra essa coisa.

Com todo o esforço do mundo, consegui ficar de pé. O que tinha me prensando era Julie, que também havia rolado escorregador depois de tropeçar. A coisa dura (que me fez um galo) era uma alça de metal que abria um alçapão.

–Conseguimos- falei- Agora saí do caminho Julie.

–Da pra me ajudar?

–Não.

Julie se apoiou nas paredes e se levantou não que isso fizesse muita diferença em sua altura. Agarrei a alça de metal e a puxei, mas era muito, muito pesada. Pedi para Julie me ajudar. Imagine que você está tirando um filhote de elefante do lugar, era assim.

–Que coisa pesada- disse Julie

–Espere- falei- O alçapão não pesa menos que uma pena.

Puxamos mais uma vez e adivinha? Ele pesava menos que uma pena, amo a lógica contraria.

Pulei na abertura e cai que nem uma super espiã de mais. Com aquela posição estranha que elas fazem, mas Julie pulou quando eu ainda não havia levantado e caiu em cima de mim pela 3ª vez. Estragou a posição de efeito que eu estava.

–Julie, eu juro que se você cair em cima de mim mais uma vez eu meto um soco na sua cara- ameacei.

–Calma.

Levantei-me com raiva e dei um peteleco em seu braço. Depois olhei em volta. Estávamos bem em frente do cofre de Verde e logo ao lado estava nosso alvo.

–Economizamos mais 40 minutos, devíamos ter entrado por aqui desde o inicio-falei.

–Jura que você prefere quase morrer?- perguntou Julie toda descabelada.

Andei até o cofre dos Eliert e encarei a pequena tela de computador que estava grudada junto á porta de ouro.

–Qual senha será que é?- perguntei

–Deixe-me pensar – disse Julie- Ele falou o aniversário do cara né? Três de abril.

–Vou tentar, só pode ser... Não, já sei o que é- falei.

Digitei os números que imaginei ser a senha. A porta se abriu silenciosamente e pude ver em seu interior pilhas e pilhas de moedas e notas.

–O que era?- perguntou Julie

–A data em que foi produzida a primeira garrafa da bebida favorita do Sr. Eliert.

–Ele disse até isso? Como não escutei?

–Era quando você estava brisando- expliquei

Ela concordou com a cabeça então finalmente entramos no cofre. Como eu já disse, tinha pilhas e pilhas, mas ao contrario do que eu pensava, não era um dinheiro próprio do País das Maravilhas, eram vários tipos de dinheiro do meu mundo. Havia dólares, reais, libras, euros, ienes. Se roubássemos muito seriamos ricas em qualquer país.

–Nossa isso é demais – falei- Parece que... A meus deuses! Mãe de Deus! Não posso acreditar.

–O que foi?- perguntou Julie

–Aquilo são galeões de ouro?!

–O que?

Corremos para uma pilha mais brilhante que as outras. Eram moedas maiores que as normais e tinham um símbolo estranho. Ao lado desta pilha havia moedas pratas e moedas de bronze.

–Galeões, Sicles e Nuques- disse Julie- As moedas do Harry Potter.

–Não tem sacos gigantes em nossas mãos- falei, e a lógica contraria cuidou disso- Agarra tudo que puder, eu quero esse cofre vazio.

Peguei bolos de moedas com as mãos e coloquei em meu saco. Julie atacou os Sicles e Nuques enquanto eu sumia com os galeões. Logo as moedas bruxas acabaram então pegamos notas das do nosso mundo. Enchemos um, dois, três sacos de uma vez. Mas é sério, acredite, eu não estava fazendo isso por mim, eu não preciso de dinheiro. E eu não costumo roubar bancos, nunca faria isso no mundo real, só ficaria tentada á fazer. Por isso não faça o que estou fazendo, lembre-se, eu poço ser presa á qualquer momento. Mas você não sou eu.

Depois de encher seis sacos, peguei três e ela três, então saímos do cofre e o trancamos. Mas ai que vinha á parte difícil, como sair dali?

–Não estamos fora do banco- falei, mas por incrível que pareça, a lógica contraria não funcionou- Droga, só por que eu achei que ia funcionar.

–O que faremos?- perguntou Julie

Nesse momento ouvimos um barulho dentro do cofre dos Eliert. Aproximei-me da porta e encostei o ouvido nela. Ainda nesse posição olhei pra cima e vi uma coisa que não havia percebido antes, uma única falha no meu plano infalível. Havia uma sirene vermelha bem em cima do cofre, que nem se podia notar, pois o cofre em si prendia a atenção. Então o barulho dentro do cofre ficou maior, com a frequência de uma bomba e de repente o barulho ensurdecedor da sirene explodiu em meus ouvidos. Descobriram que o cofre fora roubado.

–Não estamos fora daqui, não estamos fora daqui, não estamos fora daqui- Julie dizia repetidamente com os olhos fechados.

–Não vai funcio... – comecei a falar

Estávamos paradas bem em frente à porta dos fundos, na lateral ao banco, com os sacos de dinheiro e bem longe do alarme, embora ele ainda pudesse ser ouvido. Quando eu achei que não daria certo, deu. Nunca fiquei tão agradecida.

Olhei para Julie e a mesma olhou para mim. Ficamos em silencio nos encarando tentando descobri uma na cara do outra o que fazer. Tivemos a mesma ideia no mesmo minuto, botando nossos pés para funcionar e saindo correndo dali em alta velocidade. Viramos á direita, já que a entrada cheia de guardas ficava á esquerda, e corremos pela calçada empurrando as pessoas em nosso caminho. Tudo que eu queria era me livrar da prisão, mas culpa mesmo eu não tinha. Os Eliert eram ladrões também. Só que muito piores do que eu, eles tinham que saber como era estar do outro lado.

Chegou um momento em que ficou mais difícil correr. Carregávamos três sacos de dinheiro cheios e nossas pernas já estavam mais cansadas. Só aguentamos os sacos por causa da adrenalina e do treinamento do acampamento, se não afundaríamos no chão feito âncoras. Mas o problema era que já estava cansando e tínhamos de nos distanciar o máximo possível do banco antes dos guardas notarem que fugimos. Enquanto corria vi um homem com uma carroça dando cenoura ao seu cavalo.

Primeiro achei estranho, mas então falei:

–Tive uma ideia!

Parei de correr e chamei Julie para que me seguisse, então andei para perto do homem com o cavalo.

–Me empresta o cavalo?- perguntei

–Eu nunca emprestaria Charlote para estranhos- disse o homem

Abri um dos sacos que carregava, peguei o máximo que pude com apenas uma mão e mostrei ao homem.

–Cuidem bem dela- disse ele e na mesma hora pegando o dinheiro

Joguei os três sacos de uma vez no banco de trás da carroça e Julie imitou o gesto. Então nós duas sentamos no banco da frente, peguei as guias do cavalo e bati. Charlote começou a correr bem meio da estrada onde carros espalhafatosos passavam, mas detalhe: estávamos na contra mão.

–AHHHHHHH- gritamos eu e a filha de Atena

Desviei de um carro que nos atropelaria, então de outro e de outro. Esquerda, direita, direita, esquerda. Eu nunca havia montado em uma cavalo ou muito menos guiado uma carroça, não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo, mas se não estávamos morrendo estava dando certo. Só que a situação piorou, o transito ficou muito maior e mais carros passavam a centímetros de Charlote. Fiquei preocupada com a égua, mas ela tinha mais chance de se salvar que do que eu.

Olhei um pouco mais adiante. Havia milhares de carros parados por causa de um sinal, que um instante depois, abriu. Tinha que arranjar uma estratégia, mas no meio de tanta confusão minha mente não funcionava. Eu teria de apelar por Julie se não acabaríamos mortas.

–Acelera!- disse Julie

Olhei para ela como se a mesma fosse louca das ideias.

–ACELERA LOGO! Tenho um plano!- berrou

Bati com a rédeas três vezes e Charlote acelerou mais ainda sua velocidade. Os carros em nossa frente não brecaram quando viram uma égua de 300 quilos, eles na verdade aceleraram também. O automóvel mais perto de nós era uma Ferrari amarela, ela estava á uma distancia de metros das patas de Charlote, quando notei sua placa. “Eliert”. O motorista era um homem careca com a expressão enfurecida que focava o olhar nos sacos atrás de mim. Uma raiva sem tamanho se apossou de mim assim que tomei consciência de quem era aquele homem. Bati mais uma vez com as rédeas em Charlote, e ela acelerou ainda mais.

Os segundos seguintes se passaram em câmera lenta. O carro dos Eliert estava á um centímetro de distancia, logo atropelaria as pernas da pobre Charlote e Julie e eu seriamos lançadas da carroça pelo impulso direto na rua. Bateríamos a cabeça na rua e provavelmente morreríamos atropeladas. Nico e os outros ficariam sabendo e chorariam pelos nossos corpos inertes. Teríamos um velório, seriamos enterradas no País das Maravilhas e nossa alma jamais veria o mundo de onde viemos novamente. Ficaríamos ali para sempre. E fim.






Fim? Fim o caraca. Aquele não era meu fim.

–Charlote, se você estiver me ouvindo, pule!- gritei

Quando o carro Eliert estava pronto para nos matar, Charlote deu um saltou sobre a cumprida Ferrari, e caiu em cima de um fusca, afundando o teto. Depois a égua pulou de carro em carro, amassando todos e deixando vários motoristas raivosos. Um dos carros brecou impedindo a passagem de outros, então a rua inteira ficou congestionada. Aproveitei que nenhum estava em movimento para voltar a carroça á calçada e continuar dali. As pessoas por perto berraram de pânico e saíram correndo quando Charlote se aproximou. Pelo menos isso os habitantes sabiam fazer, sabiam como não ficar no meu caminho.

A única coisa que Julie fazia, era gritar em meu ouvido e quase estourar meu tímpanos. Ela gritou quando Charlote saltou de carro em carro, quando a rua ficou congestionada e gritou mais do que as pessoas na calçada. Mas o grito dela era esquisito por causa de sua voz fina, então foi fácil ignorá-la, até ela resolver agarrar meu braço e apertá-lo com muita, muita força.

–Julie, para de apertar meu braço sua doida- gritei.

Gritando com ela eu perdi a atenção em Charlote e quase capotei com a carroça.

–Parem! Parem já!- gritou alguém atrás da gente

–Julie olhe o que é, to meio ocupada- falei

Julie esticou a cabeça na beirada da carroça para ver.

–Acelera!- gritou- São os guardas!

–Como é? Eles nos acharam?!- perguntei gritando

–Foi meio fácil. Era só achar as duas doidas amassando carros em cima de uma carroça- disse

–Tem quantos guardas?

–Acho que uns trinta- respondeu

–Pega as rédeas- falei e quando Julie só ficou me encarando gritei- PEGA LOGO!

Ela agarrou as rédeas de minhas mãos como mandei.

–Vou atrasar os guardas, depois que eu sair continue na carroça, depois vá para a floresta, em seguida peça pela lógica contraria que o dinheiro duplique então leve a cópia para o banco e diga que achou- falei- Entendeu?

–Sim, mas e você?

–Vou dar um jeito de atrasar os guardas e o Sr. Eliert, que já deve estar vindo-respondi.

Ela concordou com a cabeça. Então fiquei de pé sobre o banco e saltei da carroça em alta velocidade, caindo calmamente no chão sem sofrer um arranhão. Lógica contrária, claro.

Observei a carroça sumir pela calçada, batendo em alguns postes e assustando pessoas. Depois me levantei do chão e fiquei parada no meio da rua, esperando. O primeiro guarda veio chegando, correndo feito um pato desesperado, e logo muitos outros apareceram virando a esquina e saindo de trás de alguns carros. Julie estava certa, ao meu contar haviam trinta guardas, mas se você acha que é pouco, lembre-se que cada um tem o peso e tamanho do armário de Nárnia.

Logo, os da frente, perceberam minha presença e agiram com cautela. Alguns pareciam ter medo de mim, outros deveriam estar querendo me socar, outros estavam confusos, só faziam aquilo para cumprir ordens. Mas nenhuma expressão era tão intensa quanto á do homem gordinho e careca de terno creme. Ele exibia um ódio tão fervente e avassalador que mataria de susto pessoas bobas. Não sei se eu devia contar ou se seria indelicadeza, mas eu não era boba e não me assustaria com aquele velho ladrão que mais parece um pedaço de toicinho.

Os guardas deram passagem ao toicinho ambulante e este levantou uma arma de choque em minha direção.

–Onde está meu dinheiro?- perguntou completamente enfurecido

–Em um lugar- respondi

–Não estou de brincadeira, se não me falar eu te mato!- ameaçou

–Se me matar nunca saberá.

–Então vou ajustar minha arma para fazê-la apenas desmaiar, então eu a torturo até dizer-disse mexendo no botão de intensidade na arma.

Sorri para o Sr. Eliert e levantei a mão bem devagar. Enfim mostrei o dedo do meio. Na mesma hora o rosto dele ficou vermelho tomate e seus olhos quase transbordaram ódio.

–Guardas, suas armas de choque- gritou- Quero está menina tostada, pouco me importa o dinheiro.

Os guardas levantaram armas idênticas as do toicinho, e todos apontaram para mim. O Sr. Eliert levantou o dedo e apontou em minha direção, numa ordem clara de “podem atirar”. Trinta pistolas foram acionadas e liberaram raios elétricos de alta voltagem que vinham em minha direção.

Eu tinha de agir rápido, não havia tempo para falhas. Levantei as mãos e chamei a água mais perto de mim, a água dos bebedouros, poças, chuveiros, torneiras, reservatórios, tudo. Senti a dor constante apertando meu interior, a dor que eu fora treinada para ignorar, a dor que me comprava que estava dando certo. Quando os raios iam me eletrocutar, jatos e mais jatos de água surgiram de todos os lados como tentáculos assassinos, alagando tudo menos o chão onde eu pisava.

Ainda com as mãos levantadas, fechei os punhos, dando outra ordem para toda aquela água. “Evapore”. E foi o que ela fez. Em menos de cinco segundos, o que qualquer um chamaria de lago sumiu, formando nuvens densas e bem negras sobre a cidade de Tenuitate.

–Eu disse que não ia contar- falei

Então andei calmamente entre os corpos dos guardas, que não estavam mortos, mas sim cansados demais para me perseguir. Agora tente adivinhar o que eu fiz depois. Apenas tente. Pois bem, eu procurei uma padaria, comprei sorvete e esperei Julie perto do banco. Não fiz mais nada, deixei o resto do trabalho para ela, afinal eu já havia derrotado trinta guardas e um homem chato, por tanto merecia um sorvetinho. Observei um menina loira baixinha carregando três vezes seu peso em dinheiro andar pela rua na direção do banco. Ri baixinho com sua dificuldade de subir os degraus, e ri mais ainda da cara que os seguranças fizeram.

Minutos depois a mesma garotinha saiu do banco, agora sem o dinheiro, e olhou confusa para o dois lados. Provavelmente me procurando. Finalmente corri para perto dela, dando-lhe um susto.

–Porque demorou?- perguntei

–Estava separando o dinheiro, colocando a maior parte em uma bolsa encantada e o resto dividi para nós, em outras bolsas encantadas- respondeu- Já subi rapidinho no apartamento sem as meninas me notarem e escondi a nossas bolsinhas.

–Está com a maior parte aí?

–Sim.

–Então vamos procurar Dini- falei

Procuramos a rua que achamos Dini e a vimos lá com sua mãe, uma moça com cabelo da mesma cor e bochechas cheias, uma versão maior de Dini. Elas vendiam as frutas que Dini contou. Pensei em um jeito de dar o dinheiro, porque pelo que percebi em Dini, elas não eram o tipo de pobre que pede dinheiro, elas tem dignidade. Então pedi papel, caneta e fita adesiva pela lógica contraria. Escrevi: “Estou te devolvendo o que é seu” no papel e colei na bolsinha. Em seguida lancei a bolsa como se fosse uma bola na direção das duas, e eu e Julie nos escondemos para observar.

Dini pegou a bolsinha e, como não sabia ler, deu o papel á mãe enquanto abria para ver o conteúdo. A mãe pareceu não entender o bilhete, mas quando pegou a bolsa das mãos da filha e viu o dinheiro, olhou em volta com uma cara pasma. Como não viu ninguém, apenas olhou a filha com lágrimas nos olhos e abriu os braços dizendo “agora tudo vai ficar bem”. A menina abraçou a mãe com felicidade.

Julie e eu fomos embora na direção do hotel e quando entramos pelo saguão nos surpreendemos em ver todos os nossos amigos reunidos.

–Já íamos para o concurso, está na hora, onde você foram?- perguntou Nico

–Só fomos passear- respondi

–E foi fácil pra você andar?- perguntou Percy rindo

–Tão fácil como roubar doce de criança- respondi, em seguida olhei Julie e apenas nós duas rimos da piada.


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Notas finais do capítulo

Eu sempre soube que a Lia faria algo assim, rsrsrsrsrs, mas por uma boa razão? Isso já estranho. Mandem review e recomendações, to morrendo de saudades dos meu leitores, espero que não tenham me largado porque demorei, você me odeiam né?~le chora~