As três estavam na sala da Sra. Soano, em um silêncio desconfortável. Melissa estava confusa, Jane ainda não disse extamente quem era, apenas seu nome. Melissa estudava a garota de rosto angelical e notava, aos poucos, a semelhança com o rapaz.

            -Jane, certo? –Perguntou a senhora, olhando-a de cima à baixo.

            -Sí, signora.

            -Oh, parla italiano? –Melissa olhava de uma para outra sem entender, elas agora conversavam em italiano...

            -Lo vivo a Volterra, Signora Soano. –Respondeu Jane com um sorriso encantador, e suas feições lembravam uma criança arteira.

            -Hum... –Murmurou a senhora, na cozinha, o bule chiava, anunciando que a água fervera. Tão logo a mulher saiu da sala, Jane olhou mortalmente para Melissa.

            -Sou irmã de Alec. –Anunciou ela, a voz soou calma e confiante, e fez Melissa pular de susto ao ouvir o nome de Alec.

            -Irmã? –Perguntou ela, levantando as sombrancelhas.

            -Sim, e devo dizer que você mexe com ele de uma forma, inexplicável. –Melissa corou, um leve rosar em suas bochechas claras. Jane sorriu, mas não da forma doce á qual sorrira anteriormente, sorriu de forma ameaçadora e assustadora.

            Em Volterra, Alec procurava pela irmã mas não a achava em nenhum lugar do velho castelo.

            -Félix, viu minha irmã? –Perguntou ele ao vampiro alto e ameaçador.

            -Saiu.

            -Jane saiu? –Perguntou desconfiado Alec.

            -Sim... só não pergunte onde ela foi... –Respondeu Félix. Alec esatava com uma curiosidade imensa, Jane quase nunca saía...

            Longe dali, duas garotas, uma loira e outra incomumente pálida, passeavam pela cidade de Montaione. O dia estava nublado, uma grossa camada de nuvens de chuva escondia o céu azul. A pequena Jane guiou Melissa até um local isolado, onde as pessoas não passavam... Era uma casa abandonada e castigada pelo tempo. Havia muito não era habitada.

            -Por que estamos aqui? –Perguntou Melissa. Algo dentro de si avisava: perigo. Mas perigo com a pequena irmã de Alec? Ela parece tão frágil!

            -Minha mãe morava aqui... –Algo no tom da moça de olhos violeta fez Melissa recuar. O olhar da menina baixinha era ameaçador, quase mortal.

            Um grito agudo rasgou o ar na velha casa, o som partiu dos lábios de Melissa, que agora se contorcia de dor no chão empoeirado. Jane desviou o olhar e deixou a garota ofegando no que antes era a sala. Ela foi andando lenta e teatralmente até a soleira da porta, e murmurou, quase para si mesma:

            -Minha mãe morava aqui... há mais de quinhentos atrás... –No chão, a loura ainda se remexia e ofegava, e olhava alarmada a figura de pé. Medo. Medo era tudo o que ela sentia agora. A não ser é claro, a lembrança da dor que sentira a pouco...

            -Para onde Jane foi? –Se perguntava Alec. Mas ele quase não pensava mais na irmã, estava a algumas ruas de Melissa. Mas algo o fez parar, um grito horrível, da parte mais isolada da cidade. Era uma parte muito antiga, onde uma pequena casa o assombrava. Correu até lá e não acreditou quando viu.

            -Ora, irmão! Que bom vê-lo! –Jane sorria sarcasticamente e logo atrás dela, uma humana de cabelos dourados ainda se retorcia no chão.

            -Melissa! –O rapaz correu até ela e se ajoelhou, porém a menina recuou a seu toque, parecia muito assustada.

            -O que você fez, Jane? –Ele perguntou, em italiano, para que Melissa não entendesse.

            -Mostrei a ela o que eu faço. –E sorriu novamente. Era um sorriso duro, cheio de amargura... Alec segurou Melissa pelos ombros e a botou de pé, sem recuar quando ela tentou se afastar.

            -O que aconteceu?! Por que saiu com minha irmã? –Ele perguntou. Mas ela não prestava atenção no que ele dizia, ainda se lembrava da agonia em seus pensamentos, em cada membro de seu corpo, até o ultimo fio de cabelo...

            -O que vocês são? –Ela indagou. A menina não era ingênua, sabia que algo estava escondido. Ela sempre desconfiara de Alec, mas ele era tão gentil, tão atencioso... Mas ela estava realmente abalada com sua irmã, que parecia ser boa...

            -Conte-a! –Gritou Jane, toda a estrutura da casa tremendo.

            -Não! Ela não merece isso. –Alec soltara a menina, mas para apenas encarar a irmã com desgosto. Os olhos verdes da menina não paravam em um lugar, passavam do rosto divertido de Jane para o de repulsa de Alec.

            -Conte-me Alec... –Ela disse, e pôs a mão sobre seu ombro, hesitante. Nele ela confiava, se não fez mal algum a ela até agora, por que ainda faria?

            -Conte a ela irmão! Ela não merece saber a verdade?! –Gritou Jane novamente. As paredes tremeram, mas não pareciam que iam ceder.

            -Que verdade?! –Interpôs Melissa. Mas Alec foi até a frente da irmã e respirou profundamente.

            -Vamos embora. –Foi tudo o que ele disse. Jane sorriu, parecia satisfeita. Mas por quê?

            Os dois saíram da casa, deixando Melissa para trás, na sala escura, confusa e curiosa. Ela tropeçou para fora do lugar e se viu na noite da cidade italiana. Com muito custo, conseguiu achar o caminho para a casa da Sra. Soano.

            A senhora não lhe fez perguntas, achava que como a menina era jovem, queria se divertir e saiu para ver a cidade.