A sala era tão fria e isso não diminuía a tensão da garota. Atrás de si ela tinha um vampiro que apagaria sua memória. E a seu lado, a irmã daquele que ela julgou amar. Mas ele era um monstro sádico, não? Esse amor era impossível, não era certo.

            Ao menos ela ficaria viva e voltaria para casa, nunca mais lembraria dos dias de aflição em um castelo medieval, em uma cidadezinha da Toscana. Mas perderia os dias que viveu ao lado dele, aquele tempo em que era tudo normal a seu olho. Onde humanos eram todos aqueles á sua volta e não existiam criaturas místicas.

            Eles pararam no centro da sala, que era iluminada apenas por algumas velas e uma lâmpada velha e amarelada no canto. Sem dúvida aquele lugar lhe dava arrepios.

            -Prazer, sou Robin. –O vampiro loiro a cumprimentou. Ele seria muito bonito se não fosse pelas íris vermelhas apavorantes. O garoto aparentava ter apenas vinte e poucos anos.

            Robin tinha um poder raro, visto apenas uma vez pelos Volturi. Bem, aquele vampiro não teve um final feliz. Mas este, que agora encarava Melissa, tinha se aventurado por Volterra, e preso pelos Volturi antes de poder se deliciar com um “lanche italiano”. Por dias ele ficou trancafiado em uma cela, convivendo com Heidi, uma vampira com olhos maldosos. Então, finalmente, Aro ofereceu um cargo com os Volturi, e ele aceitou.

            -Ora Robin, pare de drama e acabe logo com isso. –Jane disse. A voz era infantil e ameaçadora. Os dois sorriram e Robin voltou a olhar Melissa. Jane andava de um lado para outro, sempre com os olhos em Melissa.

            Algo dentro da garota sofria com a certeza do que viria a seguir. Era... doloroso demais pensar nele e saber que não lembraria de tudo. Mas era o certo a se fazer, era a opção mais sensata a se seguir...

            Vamos logo com isso, ela pensou, e cerrou os punhos, decidida a parecer corajosa. Milhões de pensamentos passavam pela mente da garota. Ela não sabia se ficava apavorada ou se ficava calma, afinal, ela nem se lembraria disso. Mas seu coração continuava acelerado, martelando em seu peito.

            -Melissa. –Chamou o vampiro louro, a menina o encarou séria enquanto a mão do rapaz roçava sua bochecha. Sua mão era gélida e macia, como a de Alec. Não, ela não podia se permitir pensar nele. Bem, talvez uma ultima vez...

            E ela lembrou-se dele, lembrou de como seu beijo era doce e de como ele era gentil. De como ele era misterioso e sempre parecia mais maduro que os outros rapazes. De como seus olhos eram um violeta estranho, seus lábios finos que falavam como melodia, de como, sempre vestido em roupas pretas, ele era muito elegante. Mas ainda assim, ele parecia-se com um garoto, com uma infância marcada demais para poder falar dela, um garoto romântico mas que nunca usara este dom.

            Robin chamou novamente e dessa vez ela ouviu. Sentiu seus rosto corar enquanto ele empurrava seu cabelo loiro para trás. O vampiro sorriu tão docemente que quase parecia ser um “bom-moço”.

            -Então, agora você vai se esquecer de tudo isso, certo? –Então seus olhos ficaram intensos e aos poucos, a mente da garota ficava vazia. Ela já não se lembrava mais do nome do rapaz a sua frente, e se perguntou por que seus olhos eram vermelhos...

            Ao fundo, Melissa ouviu um riso de criança, que depois foi abafado... A menina sentia o frio da sala, mas não sabia onde estava. Sentia a mão do vampiro a sua frente, mas não lembrava quem ele era. Sua mente parecia um borrão, tintas misturadas que formavam um “nada”.

            Quase ao fim, quase apagando completamente, um rosto veio a sua mente. Um rapaz, de sua idade, cabelos escuros e olhos rubi... Quando viu a imagem dele sorrindo, Melissa sentiu algo dentro de seu peito, mas a sensação fugiu para a escuridão, assim como sua consciência.

            Porém, antes de fechar os olhos e se entregar ao torpor, alguém chegou correndo a sala, trazendo consigo uma brisa suave e doce. Mas ali, já era tarde para tentar falar com a menina...

            -Melissa, eu... –E ela não ouviu mais, mergulhou na inconsciencia.

***

            A garota desmaiou e foi amparada pelos braços de Robin. Jane sorria triunfante ao ver o rosto devastado de Alec. Ele chegou o mais rápido possível, assim que teve forças para conseguir se mover. Entretanto chegou tarde, ela já o havia esquecido, já estava apagada. No mínimo de vislumbre de seus olhos, soltou as palavras presas em sua garganta a muito tempo.

            -Melissa, eu te amo.

            A dor que ele sentia era inexplicável, ele podia jurar que nem mesmo quem sofreu do poder de Jane sentiu algo parecido. Ele sabia, bem no fundo, que aquilo seria melhor para a garota. Ele jamais desejara que ela ficasse presa do jeito que ele era.

            Alec saiu da sala desanimado, enquanto Robin segurava Melissa no colo.

            -Ora irmão, alegre-se, agora está livre da garota. –Disse Jane. O rapaz ficou com vontade de atacar a irmã, mas se controlou o mais que pôde. Afinal, de que adiantava agora? Estava tudo perdido, assim como as memórias da garota loira.

            -Eu a amo. Muito. –Disse para si mesmo. Ele começou a correr pelos corredores de pedra, até chegar a seu aposento e sentar na cama.

            Melissa... um dia ele ainda a veria, e não deixaria que eles tivessem o mesmo final. Ele a acharia, e eles ficariam juntos.

           Afinal, ele a amava, não?