Muitos de nós esperamos por um momento a vida toda.

Ah sim, e por esse nós esperamos.

Hoje eu vou acreditar que há momentos que valem por toda uma vida.

Se Percy soubesse daquele momento antes, daqui a muitos, muitos anos, ele iria pensar “Se eu tivesse descoberto antes, eu saberia então pelo que eu vivi a minha vida toda”. Mas isso só vai acontecer daqui muitos anos.

E essa história não vai até lá.

Estamos aqui pelo presente, o futuro provavelmente é muito melhor agora, por que já passaram por toda essa dor, já sabem onde tudo isso vai dar.

Essa história contada por momentos.

Infelizmente, esse momento é agora.

Simplesmente topar com ela não foi tão agradável quanto a maioria pensou que seria.

O coração de Percy não foi a mil, Annabeth não chorou, eles não se agarraram ali mesmo.

Muito menos transaram e foram felizes para sempre.

Na verdade. Percy se paralisou. Não sentiu absolutamente nada.

Se algum de nós realmente entendêssemos de amor, provavelmente entenderíamos o porquê do desconforto. Mas nós não entendemos nada, nem aquele que amam poderiam entender sobre o assunto, ah, muito menos eles.

Primeiro, eles se encararam. Foi a parte mais difícil.

Às vezes, no meio do dia você se pergunta se realmente já acordou, e percebe que está num sonho desde o início, e que a tarde inteira que viveu na verdade só durou 5 minutos.

Foi assim que Annabeth se sentiu quando viu Percy Jackson ali parado, em sua casa. Foi como perceber que estava sonhando todo esse tempo, e seu subconsciente mandou uma mensagem de alerta. Ela ficou espantada, primeiro, por que não se parecia com o Percy Jackson que ela tinha visto no último ano.

O menino de 17 anos alto com cara de moleque e pele de bebê. Ele tinha crescido mais ainda, espichado, como alguns diria. Tinha ganhado mais massa, não era magrelo como Annabeth se lembrava. Quando o conheceu, ele já era bonito, tinha seus músculos e seu encanto que fez com que Annabeth ficasse louca por aquele garoto.

Mas ele já não era mais um menino, era um homem. E o tempo brincou com a cara dela mais uma vez.

Agora ele tinha barba por fazer, a menina teria se derretido se estivesse prestando realmente atenção naqueles detalhes naquele presente momento. Então esse chame passou despercebido por seus olhos confusos.

Percy não estava mais diferente que Annabeth, foi por isso que ele ficou calado por tanto tempo, o choque maior foi perceber que ela não tinha praticamente nada de igual da menina que ele se lembrava, tinha mudado em tudo. Da última vez que tinha a visto, Annabeth estava terrível, o cabelo quase branco, olheiras, esquelética e cinza.

Agora, o cabelo loiro estava mais escuro, mais cacheado, com o dobro do comprimento, se bobeasse quase na cintura dela. Antes, ela era branca como gesso, antes no que faltava cor, Annabeth agora compensava com bochechas vermelhas e pele corada, estava mais alta, mais encorpada. Nem seus olhos eram os mesmos, ele nunca tinha percebido o quanto os olhos dela eram apagados antigamente. Só agora ele podia perceber o quanto ela era infeliz.

As roupas também foram um choque, ele não podia imaginar Annabeth vestida assim. Ou Annabeth era muito provocativa ou muito moderna, eram essas a opções.

Hoje, ela se parecia muito parecida com a moça pintada no quadro, cardigã, saias, estampas floridas e tons agradáveis. O que tinha acontecido com aquela menina rabugenta e moderna que uma vez ele viu? Ela parecia... uma mulher adorável.

Por favor, diga logo alguma coisa, antes que eu desista de você. Por favor. No fundo de sua mente, Percy pensava assim, a parte inconsciente, que ele não estava controlando agora.

–Percy. – ela foi a primeira a romper o silencio que começava a doer de verdade.

–Oi. – Annabeth sentiu uma pontada aguda na barriga, a voz dele, meu deus a voz dele. Como poderia ter ficado tão rouca em tão poucos meses? Era uma voz mais grossa, do tipo que deixaria menininhas nervosas. Já fazia um certo tempo desde a última vez que ela ouvira sua voz, ela tenta bloquear a memoria dela ligando para Percy no meio da noite com muita frequência, não é algo de que ela se orgulhe - O que faz aqui?

–Eu moro aqui. – ela sorriu fraco, não pareceu natural. Mas que sorriso lindo ela tinha.

–É... Claro. – Sua voz foi rompendo, para onde foram todas as palavras que ele conhecia? Percy tinha a impressão de que mesmo se engolisse um dicionário, não lembraria de palavra nenhuma para dizer agora.

–Minha prima avisou que vocês poderiam vir aqui essa semana. – foi a maior frase que ela havia dito até agora.

–Que controverso, ela não avisou nada sobre você. – não deu para segurar, saiu mais grosso do que ele pretendia dizer. Mas ele não se importou.

Outro tapa na cara de Annabeth, que respondeu antes que ficasse vermelha, era a última coisa que precisava agora.

–Ah... É melhor assim. – ela foi tão vaga, que algo dentro de Percy pegou fogo.

Melhor.

Assim.

–Melhor o que Annabeth?! – e ele gritou, finalmente gritou, ele se sentia tremer, serrava os punhos com toda sua força, se segurando para não explodir, atuando, tentando esconder seu ódio. Reprimir aquela sensação que ele não conhecia. – É assim que você sempre vai fazer as coisas?

–Do que você está falando? - a conversa não estava progredindo, a voz dela já tinha súbito um tom, e sentiu algo no peito que não sentia há meses; irritação, raiva, descrença. Desde que voltou para a mansão Chase, desde que resolveu mudar, Annabeth aprendeu que aquela irritação só fazia mal a ela. Ela adorava a nova personalidade que ela vestia agora, era mais calma e agradável, só que estava sendo impossível mantê-la agora. Vê-lo agora destruiu tudo o que ela tinha moldado para ser, como se nunca tivesse deixado de ser a bipolar histérica que ele conheceu um dia.

–Quer saber? Não importa. Nada do que você fez deveria importar...

No breve silencio que se seguiu entre as palavras dele, a mente de Annabeth foi a mil.

Ele estava tentando dizer que não se importava dela ter escondido que tinha voltado? Que estava perdoada? Que todas as coisas burras que fez não tinham importância¿ Percy ainda gostava del...

–Não deveria importar. Eu não me importo. – ele completou. – nada que tem a ver com você chega a me importar há muito tempo. Não me interessa saber o que está acontecendo. Eu não ligo mais para você.

Por que não importava mesmo.

Por que ela tinha partido,

E por que ela tinha voltado, por que ele não sabia de nada.

Como ele poderia se importar, como ele poderia ficar bravo, ou sequer perdoá-la, ela ainda não havia voltado. Por que a menina que ele amou estava morta numa estrada alheia, aquela coisa que voltou não podia ser ela.

Não podia.

Ah, ele deveria saber.

Quantas pessoas já sabiam que ela estava voltando? Quantas pessoas sabiam que ela estava ali? Quem escondeu, quantos ainda eram ignorantes, só Percy pagava de idiota?

Não foi bonito, não foi agradável, uma vez ele sonhou em vê-la de novo, mas eram só sonhos. Ele não sabia que odiaria vê-la.

Não importava, nem um pouco. Annabeth estava de volta, e o orgulho de Percy Jackson também.

Percy mal havia percebido que já tinha partido, que estava correndo para dentro das árvores, para longe do cheiro dela. A única coisa que não tinha mudado. Quanto ódio ele sentiu quando percebeu isso.

Annabeth ficou ali, corroída.

Ela sempre soube que esse reencontro não seria agradável. Estava se preparando a muito tempo, onde ela tinha esperança de que todos a perdoassem pelo que fez, como Thalia e sua mãe, ela sabia que um jamais olharia para ela novamente. Ela já tinha vestido sua armadura. Mas ainda sim doeu.

Annie ouviu as folhas se mexerem novamente e esperou que Percy tivesse voltado para acrescentar mais palavras desagradáveis ao seu discurso de “eu sequer me importo com você”. Mas quem apareceu foi Thalia, escondida debaixo de seu capuz, Annabeth também não tinha notado que começava a garoar.

Thalia tinha visto Percy sair da casa, e quando Nico apareceu, sabia que Annabeth por algum motivo tinha saído bem mais cedo do internato, por algum motivo algo a fez aparecer justo agora. Thalia sabia que se ela se encontrasse com Percy, seria uma tragédia.

–Annabeth? Aconteceu o que eu penso que aconteceu?

A loira olhou bem pro rosto da amiga, de braços cruzados e ombros encolhidos.

–E poderia ser diferente Thalia? - os olhos de Annabeth estavam fechados, ela segurou com força a barra de sua blusa. – algo poderia ter acontecido além disso? Nós brigamos, é claro.

–Vocês voltaram ao pé de guerra então? Achei que tinham pulado dessa fase ridícula de orgulho e preconceito há muito tempo. – Thalia reclamou, irritada por perceber que uma coisa entre eles não tinha mudado então. Eles ainda se repeliam. Sempre foi assim.

–O que eu posso fazer? Ele não mudou nada. Não mudamos nada...

–Não mudaram nada? Você não mudou nada? Percy Jackson não mudou NADA?– Thalia ergueu as sobrancelhas.

Era inaceitável. Ela viu os dois mudar, viu Annabeth se reconstruir finalmente do jeito certo, viu Percy amadurecer e virar homem. Thalia tinha tido a tola esperança de acreditar que por causa disso Percy e Annabeth se veriam de outro jeito, se tratariam diferente agora que haviam mudado. Mas não. Ainda eram os mesmos idiotas de sempre.

–Annabeth o que você fez? - Thalia estava quase horrorizada, deixou uma amiga quase sem expressão e seguiu mata a dentro, procurando o outro amigo.

–Eu não o amei o suficiente. – ela sussurrou, respondendo. Mas não havia mais ninguém lá para ouvir.

[...]

Thalia alcançou Percy assim que ele saiu do meio das arvores. O tênis dele estava sujo de barro, as pontas de seu cabelo estavam espetadas por causa da breve chuva. Eles podiam ouvir as vozes dentro do Solar, todos desarrumando as malas, explorando a casa.

Percy pareceu que não ia parar para falar com ela, mas Thalia entrou na sua frente, tinha que confrontá-lo agora.

Estava esperando que ele gritasse com ela, por que ela não contou nada sobre Annabeth ter voltado, nenhuma palavra. Eles eram amigos, mas Thalia falhou feio com ele.

Porém, Percy parecia não se importar nenhum pouco.

–Ela ainda está fugindo Thalia. Ela ainda não voltou.

Foi o que ele disse, Percy não parecia estar falando com ela, parecia que Thalia o havia pegado no meio de uma linha de pensamento e que ele havia soltado os pensamentos em voz alta.

–O que quer dizer? - Thalia engoliu em seco e começou a preparar seu discurso e de desculpas. – olha Percy, eu sabia...

–Não. Cala boca Thalia. Eu não quero saber. Não quero mesmo. Não quero descobrir por quanto tempo você me faz de idiota por que Annabeth achou que assim fosse melhor. Não quero saber as razões dela. Só quero entender, por que ela foi embora. Eu nunca entendi, ela tinha tudo. É claro que ela sofreu perdas, todo mundo sofre. Por que fugir se ela ainda tinha tudo? Por que ainda está fugindo de mim?

Thalia respirou fundo. E jogou fora todas as palavras que vinha pensando em todo aquele tempo, desde o dia que em que percebeu que talvez Percy tivesse uma queda por Annabeth, os pensamentos que ela reprimiu em sua mente e não compartilhou com nenhum dos dois.

–É claro que ela ainda está fugindo. E você não devia ficar surpreso quando ela deixou todas as suas memorias para trás. Só por que ela nunca admitiu que não estava doendo, você não pode achar que estava tudo bem com ela. A vida dela nunca foi perfeita. Sim ela tinha dinheiro, sim ela tinha a gente. Mas Annabeth nunca ficou bem enquanto estavesse incompleta, ela não é uma pessoa que se deixa ficar assim. Ela estava definhando, pode estar esperando que você a leve de volta para casa. Annie tem dezenas de pessoas ao seu lado, mas seu idiota, talvez ela precise de você para ficar completa. Não devia sequer ser novidade que ela quer ser importante para você. Percy, você me olha com essa cara de surpreso agora, mas isso é por que você sempre teve seu lar completo. Então não banque o idiota. Você a viu ir embora, e ficou sentado, esperando ela mudar de ideia. Portanto Percy Jackson, não a deixe ir mais uma vez. Por que eu não quero ser aquela que diz eu bem que avisei.

Eu queria dizer que o reencontro foi tudo o que vocês esperavam. Que ele aconteceu do jeito certo, que foi maravilhoso e emocionante, mas se fosse, não haveria história.