Get Out Alive escrita por Mandy-Jam


Capítulo 7
Sorte


Notas iniciais do capítulo

Veremos o que acontece entre as quatro garotas que acharam a fonte de água...
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/163354/chapter/7

Ninguém falou nada.

Elas quatro continuaram paradas ali, uma na frente da outra, pensando no que fariam. Qualquer passo resultaria em um banho de sangue, e isso estava mais do que claro.

Flávia olhou para a galinha morta no chão, perto dos pés de Amanda, e sentiu seu estômago se apertar. Sabia que nunca conseguiria caçar algum animal, pois detestava a visão deles mortos.

- Você matou o filhote de lobo. – Disse Flávia sem pensar. Amanda olhou para ela, mas não disse nada – E agora a galinha.

- É... Ou eram eles, ou eu. – Respondeu ela – Eu não como nada desde que cheguei aqui na arena.

Flávia ficou muda. Algo naquilo tudo ainda a incomodava, mas a próxima a falar foi Nina.

- Você tirou uma das notas mais baixas. Foi péssima em qualquer modalidade de treinamento. Como conseguiu matar um filhote de lobo? – Perguntou ela sem entender – Você é a mais fraca dos tributos.

- É. Vai pensando isso. – Disse Amanda com um leve sorriso torto.

Nina entendeu. Ela tinha se fingido de fraca para afastar qualquer pessoa de perto. Não queria se mostrar boa e virar alvo de alguém, por isso se passou por fraca. Os carreiristas nunca se importariam em correr atrás dela, e isso provocou certa inveja em Nina. Por que ela não tinha pensado nisso também? Seria bem mais fácil.

- Se é tão boa, dá um passo para frente. – Insistiu Bruna preparando o machado. Amanda girou a picareta na mão com facilidade e a preparou também.

- Vai você primeiro, já que está tão ansiosa. – Insistiu ela.

O clima ainda era tenso. O ar em volta deles era pesado, pois ninguém confiava em ninguém. Um queria matar o outro para poder ficar livre de alguns tributos e ainda ganhar a fonte de água.

- Olha... – Flávia disse com uma voz trêmula e chorosa. Ela estava ficando com cada vez mais medo – Eu... Eu só quero a água. Só isso. Não gosto de matar as pessoas.

- E você acha que eu gosto?! – Perguntou Nina com certo desconforto – Acha que eu gosto de sair por aí matando gente que eu nem mesmo conheço?! Isso é para os carreiristas, ou para os assassinos dos idealizadores dos Jogos. Não para mim.

Amanda olhou para as duas e depois para Bruna.

- Certo. Olhem... Nós podemos muito bem avançar e matar uns aos outros até que só uma pessoa possa ficar com a água. – Comentou Amanda - Mas eu acho que não vai adiantar nada ficarmos com a água se ela estiver vermelha de sangue.

- O que quer dizer com isso? – Perguntou Nina apertando seus dedos em volta da lança.

- Quero dizer que devíamos dar uma trégua temporária. – Disse Amanda em um tom de voz calmo. Flávia sorriu para ela.

- Você quer uma trégua mesmo? – Perguntou ela sorrindo. Logo de cara, Flávia abaixou seu arco e flecha.

Porém... Ela foi a única. Amanda e Nina iam abaixar as armas calmamente, mas viram que Bruna analisava Flávia, buscando algum ponto melhor para atacar.

- Abaixa a arma. – Disse Nina em um tom de voz firme. Bruna olhou para ela, e depois para Flávia novamente. Ela ameaçou avançar, mas Amanda deu passo para frente com a picareta nas mãos.

Nina mirava a sua lança na cabeça de Bruna, e estava pronta para lançar a qualquer momento. A garota do Distrito 7 permaneceu parada.

- Eu não estou nem aí se você tem irmãos menores te esperando em casa. – Disse Nina – Se não abaixar a arma, vamos atacar.

- Faz só mais um movimento, e eu acerto a minha arma no meio da sua testa. – Ameaçou Amanda.

Bruna olhou mais uma vez para Flávia, e parou para pensar. Os olhos azuis quase suplicantes cheios de medo da garota do Distrito 6 mexeram um pouco com ela. Flávia parecia com tanto medo e insegurança quanto seus irmãos estavam quando teve que se separar deles no dia da Colheita.

Não. Depois de pensar naquilo, Bruna não conseguiria mais atacar tão facilmente. Ela abaixou o machado e olhou para Amanda e Nina.

- Tudo bem. Sinto muito. – Disse ela estendendo as mãos em sinal de rendição – Sem ataques, ok? Eu não vou fazer nada.

Amanda e Nina continuaram paradas, olhando com certa incerteza para Bruna. Nina sabia que ela não era o tipo de pessoa ao qual confiaria sua vida no meio da floresta, mas naquele momento ninguém ali poderia escolher com quem ficaria.

As quatro se encontraram no rio, a possível única fonte de água da arena. Ou elas se matavam, ou davam uma trégua temporária trabalhando juntas por um curto prazo de tempo. A segunda opção parecia a mais agradável, pelo menos para as pessoas que poderiam morrer logo de cara com uma briga.

- Certo... Isso foi realmente divertido. Agora, se não se importam, eu estou morrendo de sede. – Comentou Amanda abaixando o seu garimpo.

- Eu também. – Confirmou Nina – Vamos todas guardar as armas calmamente, e sentar um pouco, ok?

Flávia olhou para Nina e Amanda. A garota do Distrito 12, a que tinha dito que não poderia ajudá-la mais tarde, a que ela imaginou tão nitidamente a matando com o seu garimpo, acabara de salvar sua vida. E Nina também. Flávia imaginava que nenhuma das duas se importaria com a segurança dela, mas ficou aliviada de ver que estava errada.

Elas a tinham protegido, o que ia contra tudo o que elas disseram no salão de treinamentos.

Ela poderia ficar pensando por mais tempo, mas sua sede estava tão forte que resolveu sentar-se junto com as outras aliadas e beber água.

- Como sabemos que essa água é boa? – Perguntou Nina franzindo o cenho.

- Pode muito bem ser ácida. – Comentou Bruna – Lembram daquela edição que eles fizeram isso? Colocaram um rio de água ácida para enganar as pessoas.

- É boa. – Confirmou Amanda e todos olharam para ela – Os animais bebem essa água, e eles continuam vivos. Não se preocupem. Ela está boa.

- É por isso que você está aqui por perto? – Perguntou Flávia.

- Lógico. – Assentiu Amanda – É aqui que os animais ficam. Tem galinhas, cães selvagens, tatus... Muita coisa.

- Como você consegue matá-los? – Perguntou Flávia com um pouco de pena dos bichos que foram mortos pelo garimpo de Amanda.

- O que você queria que ela fizesse? – Perguntou Nina – Se nós não comermos alguma coisa, acabamos morrendo de fome. Antes eles do que nós.

Amanda desviou o olhar para o rio e fez uma concha com as mãos. Ela começou a beber a água como se nunca mais fosse ter essa oportunidade novamente. Nina fez o mesmo, e logo depois Bruna e Flávia.

Quando elas já estavam satisfeitas, resolveram sentir um pouco o ar batendo. O silêncio reinava no lugar, exceto pelos sons produzidos por alguns pássaros nas árvores.

- Então... Nós vamos embora agora? Tipo... Cada uma para seu lado? – Perguntou Nina pensando no assunto. Bruna olhou para ela, e pensou em algo que preferia não falar por inteiro.

- Sabem... Os carreiristas estão por aí. – Comentou ela – Eles estão nos caçando nesse exato minuto. Se nó ficarmos separadas, podemos até ter chance de sobreviver, mas... Eles são 4. Nós estaremos em uma desvantagem enorme.

- O que quer dizer com isso? Que devemos nos unir? – Perguntou Amanda olhando para ela.

- Acho que seria algo mais proveitoso. – Continuou ela – Podemos nos unir até que os carreiristas sejam eliminados. Depois cada uma segue seu caminho.

- Ooown, podemos? – Pediu Flávia com um brilho infantil e inocente no olhar. Nina e Amanda olharam para as duas um tanto incertas.

- Eu não sei. – Respondeu Amanda – Nada contra vocês. Mesmo. Mas...

- Acha que vamos nos virar contra vocês? – Perguntou Bruna.

- Eu não disse isso. – Falou Amanda – É só que eu não estou certa se vou querer andar em grupo.

- Pensem bem. Nós vamos poder usar as habilidades umas das outras. Por exemplo... Eu sei muito bem quais são as melhores árvores para escalar. Conheço bem as vegetações, e também sou bem forte. – Insistiu Bruna – E você, Flávia? O que sabe fazer?

- Eu... – Flávia não sabia muito bem o que responder. Bruna era muito boa, mas ela não tinha certeza sobre si mesma. E se dissesse algo que elas julgassem inútil? Seria morta ou deixada de lado? – Bem, eu sou muito boa em cuidar de ferimentos. Isso pode salvar algumas vidas.

- Isso é muito bom. – Comentou Bruna com um sorriso – E quanto á você, Amanda? O que sabe fazer? Tenho certeza agora que sua nota baixa foi só faixada.

Amanda não tinha certeza se podia confiar em Bruna, mas resolveu contar.

- Eu sei a melhor das habilidades. – Contou Amanda – Sobreviver.

- Como assim sobreviver? – Perguntou Nina.

- Eu sei como me virar. Isso faz uma diferença enorme, acreditem ou não. – Disse Amanda – Sei caçar alguns animais pequenos, sei me camuflar, sei correr se precisar, e também como escalar árvores. Posso não saber brigar corpo á corpo, mas na hora da ação dá para dar um jeito.

- Como aprendeu á... “sobreviver”? – Perguntou Nina.

- Todo dia. Eu moro no Distrito 12. – Respondeu ela – Lá se você não sabe se virar, você morre de fome. Não é fácil viver lá, principalmente se você é pobre como 99% da população.

- No meu Distrito também. – Confirmou Flávia – Lá as pessoas podem morrer de doenças, sabe? A Capital não nos dá muitos remédios, mesmo nós produzindo eles. A minha irmã, por exemplo, está com pneumonia, mas não temos dinheiro para comprar os remédios bons. Eles são bem caros.

- Nós só temos os remédios-porcaria. – Comentou Amanda – As sobras das sobras da Capital. Remédios bem fracos, que quase não fazem diferença. E os que fazem, estão distribuídos em baixas quantidades.

- Nós temos o básico. – Disse Bruna – Mas não é o suficiente para todos, é claro. Mas... E quanto á você, Nina? O que sabe fazer?

Nina olhou para elas de um jeito duvidoso. Como se suspeitasse que elas poderiam matá-la a qualquer momento.

- Eu... Ahm... – Nina teve que parar para respirar antes de responder – Eu sei...

- Alguma coisa a ver com roupas? – Perguntou Bruna.

- Ah, claro. Isso. As roupas. – Confirmou Nina – Eu... Sei... Ahm... Algumas coisas.

- É... Legal. – Confirmou Amanda – “Alguma coisa” é sempre útil.

- Eu prefiro não comentar assim, tá? Mas... Eu sei cortar as coisas. – Disse coçando a cabeça – E também sei lutar corpo á corpo.

- Ótimo. Então temos um pouco de tudo. – Disse Bruna com um sorriso leve – O que dizem então? Uma união?

Elas se entreolharam mais uma vez. Amanda não gostava da idéia de andar em grupo. Qual era a finalidade daquilo afinal de contas? Para que uma delas ganhasse, todas as outras deviam morrer. Cedo ou tarde... Isso aconteceria. Então para que se juntar?

- Sim. Por favor, gente. Vamos nos unir. – Pediu Flávia.

- Estou disposta á isso. – Disse Bruna.

- Uhm... Tá. Só até os carreiristas morrerem. – Disse Nina hesitante. Ela sentiu que era melhor tomar conta de Flávia um pouco. Aquela garota era inocente demais para ser deixada sozinha perto da garota do Distrito 7 e seu machado.

- Pode ser... – Respondeu Amanda com uma voz baixa. Não teria como recusar. Elas três já tinham se juntado, de modo que se Amanda dissesse “não” ela poderia ser morta por todas.

- Ótimo. Então... Para onde vamos? – Perguntou Bruna.

- Olha, eu não sei quanto á vocês, mas acho melhor não nos distanciarmos daqui. – Comentou Nina.

- É, mas também não podemos ficar aqui. – Negou Amanda – Temos que ficar por perto, mas não perto demais.

- Por que não? – Perguntou Nina sem entender.

- Isso aqui vai virar um tipo de Cornucópia. Imagina o que vai acontecer quando todos os tributos ficarem com sede. – Disse Amanda – Se nós quatro quase nos matamos, pensem no que os carreiristas vão fazer.

- Tem razão. Vamos meter o pé daqui. – Disse Nina tensa.

- Podemos ficar na sua caverna, Mandis? – Perguntou Flávia com um sorriso doce. Amanda franziu o cenho ao ouvir o apelido que ela criara, mas acabou confirmando.

- A caverna não é minha. Eu só fiquei nela, mas... Certo. Vamos para lá. – Respondeu Amanda pegando seu garimpo do chão.

Flávia tinha um pequeno cantil dentro da mochila, e o usou para pegar um pouco de água no rio. Elas foram juntas até a caverna onde Amanda tinha matado um lobo, e sentaram-se mais para o fundo.

Amanda jogou a galinha perto do filhote de lobo que tinha matado, e Nina se ofereceu para prepará-los. Flávia virou o rosto com nojo e medo de olhar a cena da carne dos animais sendo manualmente separada de suas peles.

O barulho era desagradável, mas ela se manteve quieta, olhando para fora da caverna enquanto tampava os ouvidos e cantarolava uma música.

- Eles já foram embora há um bom tempo. Será que é seguro descer? – Perguntou Vinícius.

- Acho que sim, mas é melhor descansarmos um pouco aqui. – Respondeu Rhamon – Se nós descermos, ficamos á vista dos outros tributos.

- Ah, tá. – Foi tudo o que Vinícius falou.

O garoto do Distrito 9 começou a se mexer no seu galho desconfortável, tentando achar uma posição boa para descansar. Vinícius simplesmente não conseguia relaxar com o tronco duro da árvore machucando as suas costas.

Ele olhou para cima e viu que Rhamon estava sentado tranquilamente, como se o galho da árvore fosse uma cama king size. Como aquilo era possível? Será que Vinícius tinha escolhido o pior galho para ficar?

- Ei. Troca de galho comigo aqui. – Pediu ele cutucando Rhamon. Ele olhou para baixo, e franziu o cenho para Vinícius.

- O que? Por que? – Perguntou ele.

- Porque o seu é mais confortável. – Respondeu.

- Todos os galhos são iguais. – Negou Rhamon achando aquilo estranho e sem sentido, mas Vinícius insistiu.

- O seu é melhor! Eu estou dizendo. Troca comigo, vai? – Pediu ele.

- Nem pensar. Já me ajeitei, e estou confortável aqui. – Disse ele voltando a descansar, mas Vinícius resolveu incomodá-lo até ele desistir e trocar de galho.

- Vai. Por favor. Por favor. Por favor. Por favor. – Pediu ele puxando a perna de Rhamon á cada “por favor” dito.

- Não, porra! Para com isso! – Reclamou Rhamon, que acabou levando um empurrão dele. Foi aí que Rhamon perdeu o equilíbrio e acabou escorregando do galho. Vinícius olhou sem acreditar na força que tinha usado.

O garoto do Distrito 9 caiu da árvore e fez um barulho muito estranho quando atingiu o chão.

- Você está bem? – Perguntou Vinícius, mas logo ouviu um tiro de canhão. Ele ficou alguns minutos parados para entender aquilo. Será que o canhão foi para anunciar a morte do...? Não. Claro que não.

Ele desceu da árvore com a sua mochila, e parou do lado de Rhamon, deitado de um jeito torto no chão. Não tinha pulso, nem mesmo respirava. Seu pescoço estava formando um ângulo esquisito, o que fez Vinícius entender tudo.

- Cacete, eu matei ele! – Exclamou incrédulo. Aquilo estava acima de todas as suas expectativas para os Jogos. Ele lembrava de ter dito ao prefeito que talvez teria a sorte de algum dos tributos caírem de uma árvore sem querer. Não é que aconteceu?

Se bem que ele foi o responsável. Vinícius empurrou Rhamon para baixo. Ele era um assassino agora, e... Talvez... Poderia até ganhar os Jogos.

Com agilidade, ele pegou a arma de Rhamon, ajeitou sua mochila nas costas e saiu correndo, deixando o garoto morto para trás em busca de uma fonte de água.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vinícius matou uma pessoa?! Bem... De um modo bem ridículo, e ainda por cima sem querer, mas isso conta, não?
Hahaha! O que vocês acharam?
Espero por reviews ou recomendações. Ou os dois. Nunca se sabe.
Beijos e obrigada por lerem mais um capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Get Out Alive" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.