Tengen Toppa Gurren Solvernia escrita por N-Aleatorios513


Capítulo 2
A SUA BROCA VAI PERFURAR A PORTA DOS CÉUS!




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Cavando túneis, dia após dia… Esse é meu trabalho, desde que meus pais morreram. Todos têm seu trabalho, e esse é o meu, ser parte da vanguarda de escavadores. Se cavarmos fundo o suficiente, o vilarejo pode se expandir e isso faz com que o chefe fique feliz. Às vezes ele nos recompensa com bistecas de porco-toupeira, se ele ficar feliz com nosso trabalho. O vilarejo deve se expandir porque, a qualquer momento, um terremoto pode fazer com que o teto caia em cima de nós. É um fato, o teto cai e todo mundo morre...igual aos meus pais. Um homem careca e sábio disse que foi há sete anos, mas ninguém parece se importar com o tempo, já que dia após dia é a mesma rotina para todos. É por isso que eu cavo para encontrar outras coisas, tesouros escondidos no meio da terra. Eles são bem raros, mas se eu procurar com atenção eu posso achar coisas realmente legais.

Dia após dia, os escavadores do vilarejo de Jiha cavavam seus caminhos no meio do solo e entre eles havia uma garota chamada Nia Jiha. Todos ganhavam o mesmo sobrenome indicando o nome do vilarejo, mas todos a chamavam de Nia, a Escavadora. Nia era uma garota magra, de pele clara, praticamente pálida, que tinha solenes olhos azuis e um cabelo curto de uma cor entre dourado e verde-água. Seu cabelo costumava ser mais longo, mas ela teve que cortá-lo devido ao seu trabalho no subterrâneo, era difícil cuidar de um cabelo longo naquelas condições. Sua roupa era uma capa marrom, sempre suja, que ela usava em cima de seu sarashi, e uma saia também marrom, assim como suas botas de couro de porco-toupeira (marrom era a cor mais comum no vilarejo), além dos seus óculos de iluminação, necessários para trabalhar na escuridão. Apesar de seu físico aparentemente frágil, ela era uma das melhores escavadoras do vilarejo, o que era para se considerar, já que ela era a única garota no grupo de vanguarda.


Os escavadores se dividem em três grupos: vanguarda, construção e limpeza. A limpeza cuida em limpar os túneis depois que a vanguarda abria caminho; a construção constrói novas habitações e outras instalações, são o grupo mais numeroso; a vanguarda tinha o trabalho mais perigoso, que era o de abrir caminho para a expansão do vilarejo. A maioria deles era formada por crianças órfãs, já que não era incomum perder um membro para terremotos e deslizamentos, então um antigo chefe decidiu que, para minorar a dor, era melhor colocar órfãos na vanguarda, então menos pessoas poderiam lamentá-las. Os mais pessimistas diziam que aquelas crianças eram sortudas, porque se elas morressem cedo elas não teriam que aguentar viver sob as duras condições do subterrâneo por muito tempo. A expectativa de vida não era tão grande também; o homem careca e sábio calculou que uma pessoa vivia em média 45 desses ‘anos’, e então morria.

Mas, obviamente, isso não estava nos planos de Nia. Apesar de que o futuro não parecia prometer muito, ela queria mais da vida do que só viver e morrer embaixo da terra (e ela tinha amigos que pensavam da mesma maneira). Mesmo sabendo dos perigos de seu dever, ela cavava túneis ‘extraoficiais’, procurando por tesouros. Pedras brilhantes e bonitas, pedaços de relíquias, coisas estranhas que ela não conseguia identificar, que chamaríamos de ‘garfos’, ‘facas’, ‘pentes’, entre outros. Ela guardava no seu quarto. Uma coisa chamava a atenção dela, uma caixa pequena e branca, com o formato de um retângulo que, sempre que ela abria, tocava uma melodia acolhedora e calma (se ela soubesse ler, veria que a música foi composta por alguém chamado Tchaikovsky, indicado no fundo da caixa. Era um milagre que ela ainda funcionava). Este era seu segredo, não por egoísmo ou vaidade, mas pelo prazer de ter algo que somente ela sabia e podia mostrar para seus verdadeiros amigos.


Falando em segredos e tesouros, enquanto ela cavava, ela encontrou mais um. Ela podia sentir sua broca tocando em algo diferente de mera terra. Ela marcou o lugar no qual o solo era diferente e tirou a terra. Após esfregar o restante, ela fitou seu novo tesouro: era uma broca, pequena e dourada, com um tipo de punho. O que realmente chamou a atenção dela era que a broca brilhava, um brilho verde que acendia e apagava constantemente. Lindo, ela pensou enquanto sorria, maravilhada com a minibroca.

Ela retornou ao vilarejo, cavando pela entrada do túnel, saindo próxima a um centro de escavação. O chefe, um homem corpulento e um tanto desagradável, supervisionava alguns membros da construção e viu Nia saindo do meio do solo. Ele fez uma carranca e gritou:


– Porque vocês não podem cavar como ela, seus perdedores? E
ela é só uma garota! – ele encorajava eles para trabalharem mais, balançando sua espada embainhada, como um chicote que golpeava o ar. Apenas os chefes podiam usar a Espada Ancestral, como era chamada, uma verdadeira relíquia de eras remotas que ninguém, nem mesmo o homem careca sábio, tinha ideia de como apareceu. Apenas ver um chefe com a Espada Ancestral era o suficiente para inspirar temor respeitoso em qualquer pessoa, mas o incumbente não pensava assim.


Nia não se importava. Após guardar sua broca, ela buscou um pedaço de linha em seu bolso e amarrou na minibroca. Ela rapidamente transformou o artefato brilhante em um colar e sorriu, orgulhosa de seu trabalho. Ela nem percebeu que ela estava próxima das garotas populares, próximo ao tanque central. As populares viviam pensando que eram melhores do que os outros, especialmente os escavadores, que eram sempre os alvos de seus insultos mordazes. Naquele momento, o novo alvo delas era Nia. A escavadora podia ver e ouvir elas dizendo:


– Eca! É Nia! – uma delas disse, entoando uma voz irritante.

– Eu não entendo, - uma outra adicionou com um sorriso presunçoso, - O que tem de tão especial em ficar coberta de sujeira todo dia? – Tudo isso porque elas podiam se banhar mais frequentemente do que ela, se bem que Nia realmente estava coberta de sujeira, a única área limpa era o anel em torno de seus olhos, no qual os óculos ficavam.

Nia abriu sua boca para responder, mas uma delas colocou a mão na frente da cara da escavadora, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.


– Ai, por favor, nos poupe de sua voz irritante!

– Como se não bastasse, ela é tããão nojenta!


– E fede!


– Eu não sei porque o maior gatchénho do vilarejo deixa ela ficar perto dele.


– Olha só, que ingêêênua!


– Há! O que se espera de uma garota que tem uma tábua de
passar nos peitos!

– Ela não tem o que uma mulher precisa para fazer com que
Kamina fique feliz!


Finalmente, elas se viraram e foram embora, ainda insultando
a pobre Nia, - Vamos antes que de pegar germes de sujeira!


Nia estava humilhada. Ela não tinha outra coisa para fazer senão caminhar por outra direção, com a cabeça baixa e autoestima pior ainda. Ela nem olhou para onde ia e portanto mal percebeu que esbarrou em alguém.


– Ande com a cabeça levantada, Nia! – esse alguém a admoestou.


– Kamina! – ela disse após levantar sua cabeça.


Kamina era o melhor amigo de Nia, e meio que seu mentor. Suas características mais distintas eram seus óculos laranja, de formato único, a
última coisa que seu pai deixou para ele, suas tatuagens, que ninguém sabia onde ele fez, e sua falta de camisa, vestindo apenas um sarashi e calças. Ele era, de acordo com o que o homem careca e sábio conseguiu deduzir, dois anos mais velho que Nia.


– Não me chame de Kamina, - ele disse, levantando seus óculos, sua voz ecoando com confiança, - Me chame de Irmão, Mano!


– Bem, eu… - ela ficou sem palavras. Considerando que ela era órfã, ela não tinha família, então era um tanto difícil chamar alguém de família. Era o que ela dizia, mas na verdade ela tinha uma pequena queda por ele, o que explicava porque ela preferia não chamar ele de ‘Irmão’. Era compreensível que todas as garotas do vilarejo suspiravam por ele. Mas para Nia era diferente; ela esteve com Kamina desde que seus pais morreram. Ele era a pilastra de sua vida, e ela sempre tinha a esperança de que se casaria com ele quando fosse o tempo certo.

Sentindo o aumento da falta de confiança dela, ele deu um
tapinha nas costas e disse:

– Está tudo bem Nia, nós somos irmãos de sangue! Você é minha irmãzinha de sangue, irmãos espirituais! Não se preocupe com o que aquelas bruarcas dizem, eu gosto de ficar com você! – as suas palavras a asseguravam. Outra característica de Kamina é que ele era completamente absorto, cego às quedas das garotas por ele, mesmo quando elas tomavam a iniciativa. Tudo o que ele falava era sobre a superfície, que ele dizia ter visto. As pessoas o tratavam como se fosse um excêntrico. Nia deu risadinhas, segurando ambas as mãos, sentindo-se mais confiante. Esse era seu estado normal. Não importava o que as populares diziam, todos concordavam que o sorriso de Nia iluminava a escuridão do vilarejo durante a noite, se bem que sua alegria era temperada por sensibilidade e uma tendência a sempre se preocupar com os outros.

Kamina percebeu que Nia tinha um colar novo e, tomando com
cuidado, examinou a minibroca.


– Isso ficou bem em você, irmãzinha! – ele deu seu veredito, colocando de volta, - Brocas são a sua alma! Agora venha comigo! Tá pensando no que eu tô pensando?

– É outro de seus planos? – ela disse, curiosidade brotando. Ela gostava de participar de seus esquemas, mesmo que fossem malucos e tendessem ao fracasso.

Ela ouviu alguém quebrando o cadeado do lugar onde ficavam os porcos-toupeira ao chegar perto de lá. Eram os outros amigos de Kamina, três garotos, membros da Dai-Gurren, como Kamina chamava seu pequeno time.


– Senhores, perdoem-me pelo atraso, - ele anunciou, trazendo Nia junto, - Tudo está pronto?


– Podecrê! – eles responderam juntos, um deles dando um ‘jóinha’ com o polegar.


– Agora, escute Nia! – Kamina ordenou, apontando para sua broca, - Você é a melhor escavadora de todo o vilarejo! O chefe deu essa broca pra você, então não é mais dele. É sua agora! É quem você é! Você é a broca! – Nia só fitava ele, ouvindo atentamente, mas a última parte saiu meio esquisita, - A sua broca vai perfurar a porta dos céus!


Nia ouvia aquelas palavras desde que ela tinha sete anos, e toda vez que ela ouvia, ela se lembrava da primeira vez que elas foram ditas.


Já eram dois dias que os pais de Nia foram enterrados no cemitério, na parte mais distante do centro do vilarejo. Nia já tinha parado de chorar, mas ainda estava catatônica. Sem família, sem irmãos, ninguém para tomar conta dela. Ela se sentava em uma pedra quando o chefe se aproximou dela.


– Nia, de agora em diante você será conhecida como Nia, a Escavadora, mais nova membra da vanguarda, - ele disse, jogando próximo a ela uma broca portátil e óculos de iluminação.


– Mas eu não sei se consigo… - ela respondeu, nem olhando para ele, voz rouca.

– Você aprenderá rápido, é fácil! Começa amanhã!

Nia pegou a broca e fitou o artefato, enquanto o pesar inundava seu coração. Ela não sabia o que esperar do futuro; seus pais estavam mortos e ela podia facilmente se unir a eles naqueles túneis. Nia apenas ficou lá, começando a chorar e a soluçar novamente.


– Não chore! – um garoto disse a ela. Era Kamina. Ele também tinha perdido seu pai há não muito tempo e ainda usava seus óculos especiais. O chefe resmungou alguma coisa sobre ele ser um avoado e se retirou.


– Por que, Kamina? – ela ainda não olhou para ele.


– Porque eu sei que seus pais não vão voltar, mas eu sei que eles gostariam que você olhasse para o amanhã, - ela parou de soluçar e levantou sua cabeça, enquanto que o garoto aumentava o tom de sua voz, gesticulando para enfatizar suas palavras, - Eu sei, eu sei que além daquele teto tem uma superfície e com essa broca, - ele apontou para a broca dela, - Você pode perfurar os céus! E é esse o amanhã que devemos perseguir! – ele levantou seu braço e apontou para o teto.

– Mas como? – ela perguntou, ainda machucada, mas sentindo algo diferente de tristeza em seu coração.


– Porque você vai ser a melhor escavadora que esse vilarejo já teve!


– Você tem certeza?

– Mas é claro, porque eu acredito em você! Acredite no Kamina que acredita em você!

As palavras de Kamina instilaram uma nova atitude em seu coração. Apesar de tudo, seus pais sempre ensinaram ela a ser positiva, e agora era a hora. Tudo o que ela precisava era de alguém que acreditasse nela. Nia se levantou e disse, ainda que em voz fraca:


– Obrigado.


– Então esta é a hora? – Nia disse.


– Isso mesmo!


– O que eu devo fazer?


– Tenho tudo sobre controle, nem precisa se preocupar!


Dez minutos depois, uma manada de porcos-toupeira invadiu o açude central. As criaturas, grandes, marrons e peludas, corriam pelo vilarejo, passando sobre tudo e todos e Dai-Gurren em cima deles. Eles estavam em pânico e se segurando ao máximo para não cair, mas Kamina parecia estar se divertindo:

– Yahoo! Abram alas que Dai-Gurren quer passar!


– Estamos subindo! – Nia gritou quando o grupo de animais se
dividiu, cada um indo para lados diferentes.


– Presta atenção Nia! – Kamina chamou a atenção dela, apontando para o teto, - Vamos usar sua broca para explodir aquele teto, você cava, e então... SUPERFÍCIE!

– Esse é seu plano mais louco!


– Você pode fazer isso! – naquele momento, Boota apareceu. Ele era um porco-toupeira diminuto e o bicho de estimação de Nia. Ele tinha pegado uma carona no maior dos animais e conseguiu ficar perto de sua mestra. Nia estava impressionada e então percebeu que Boota não queria ser deixado para trás.


Eles podiam ver o segundo grupo vindo do outro lado e se preparam para a colisão: a colisão de porcos-toupeira criou uma escada, um se empilhando em cima do outro, criando uma espiral marrom e peluda que crescia e crescia em direção ao topo.


– Voem porquinhos! – Kamina gritou, vendo que seu plano estava de acordo.


Mas, antes que eles pudessem chegar à tampa, o chefe apareceu no corredor mais alto, segurando a Espada Ancestral embainhada, e gritou:

– Kamina, você de novo!


– Como ele chegou lá tão rápido? – Nia perguntou, segurando firme.


– Sai da frente! – Kamina berrou, balançando os braços na esperança de que o chefe entendesse a mensagem. Seus esforços foram em vão; o chefe atingiu o porco-toupeira-líder e a escada entrou em colapso instantaneamente, jogando Dai-Gurren no açude central.


Momentos mais tardes, o chefe dava uma bronca daquelas em Kamina e Dai-Gurren, que estavam todos encharcados. O vilarejo inteiro observava.


– Mais uma vez, eu estou aqui dando uma bronca em vocês. Vocês não entendem? Essa ‘superfície’ da qual vocês falam tanto não existe!

– Mas é claro que existe! – Kamina respondeu, em tom desafiante, - Eu vi ela com meus próprios olhos! Não há paredes ou teto, apenas
um céu limpo e azul!

– O filho de um mentiroso é um mentiroso também, - o chefe encarou ele, testas se chocando, ódio claro em seus olhos, - Kami não fez nada a não ser encher sua cabeça de porcaria. E o que aconteceu com ele? Morto! Enterrado embaixo de uma pilha de pedras!

– Você está errado! – Kamina respondeu – Meu pai está na superfície! Eu estive lá com ele!

– Então o que você está fazendo aqui, espertalhão? Você não é bom o suficiente para a superfície?


Kamina resmungou, mas não deu nenhuma resposta.

– Entendam que esse vilarejo é tudo o que temos! For gerações e gerações, foi-nos dito que não devemos abrir a tampa do teto! Essa é a regra e quem não obedece as regras, não come, entendido? Para a prisão com eles, sem comida!


Ao ouvir isso, os outros membros do Dai-Gurren, menos Nia, imediatamente entraram em pânico e se ajoelharam aos pés do chefe.


– Nos desculpe, senhor! – eles imploraram.


– Seus traíras! – Kamina gritou indignado. Ele fervia em raiva enquanto o chefe lentamente libertava os outros três, aproveitando para
alimentar a raiva de Kamina com um sorriso malicioso.

– Desculpa, Mano, - um deles se desculpou, encabulado igual
aos outros.

– É muito complicado ficar sem comida, - outro disse. Isso não era mentira; a comida era racionada e distribuída uma vez ao dia.

– Engula seu ego e peça desculpas também, Mano... – o último disse.

– Vocês não tem o direito de me chamar de Mano! – Kamina se voltou para eles com um careta bem irritada, fazendo com que eles entrassem em pânico, - Nunca mais me chamem de Mano, Irmão, o que quer que seja!

– Lealdade não é o forte de seu Dai-Gurren, hein? – o chefe comentou, entretido. Ele também libertava Nia. A garota não disse nada, apenas estava cabisbaixa, com uma cara triste. Ela não gostava de levar broncas, já que ela fazia tudo o que fosse possível para não fazer nada de errado.

– Nia, você pode ir também, - ele disse, em um tom condicente, - Não é sua culpa, e você tem um trabalho importante no nosso vilarejo, diferente daquele idiota.

– Mas eu… - ela disse, inclinando sua cabeça.

– Pode ir, - Kamina a interrompeu, ainda irritado, mas pensativo. Tudo bem que o plano falhasse, não seria a primeira vez, mas ser traído tão facilmente pelos supostos amigos... isso era algo que ele não tinha
se preocupado. Mas agora ele ia ser punido e o bem-estar de Nia era a única coisa que importava.

– Ahn? – Nia murmurou.

– Não se preocupe, eu vou ficar bem.

De repente, o vilarejo inteiro sofreu um grande tremor.

– Terremoto! – alguém gritou. O chefe deu ordens para todo
mundo se proteger. Caos reinou por instantes, todos correndo sem direção, importando-se apenas em se safar. Alguém gritou – O céu está caindo! Eu disse
que esse dia chegaria! O céu está caindo! – apenas Nia e Kamina ficaram em pé,
no meio do lugar.


– Kamina, vamos sair daqui! – Nia disse, pegando seu braço, – Kamina! – ele não se movia.


– Eu não corro de nada! – sem olhar para ela, ele respondeu.


Ela não entendeu.


– Por favor, - ela implorou, com uma expressão de extrema preocupação, quase chorando, - Se nós não formos, vamos ser esmagados!


– Oh, - ele sussurou e olhou para ela, - Eu esqueci o que
ocorreu com você. – ele sorriu e abraçou ela, - Desculpa irmãzinha. Não se
preocupe, já passou. – Nia se sentiu mais confiante, seu medo se dissipou e ela
suspirou aliviada.


Quando os tremores pararam, Kamina aproveitou para falar com o povo:


– Vocês vão ficar com medo de terremotos para sempre? – ele levantou sua voz, - Não existem tetos na superfície!


– Quando você vai desistir? – o chefe gritou, bem irritado, ao sair de um abrigo, - Eu não cuido de vocês órfãos porque eu sou bonzinho! É porque eu sou o chefe! Eu tenho que cuidar de todo mundo e se você não segue as regras, não tem lugar pra você aqui! – quando o chefe terminou, ele estava ofegante. Ele não era muito popular com a população e isso não ajudava em nada.


– Levem-no para a prisão, - ele deu ordens a dois homens de confiança, - Sem comida!


Enquanto eles levavam Kamina, Nia só ficou parada, olhando, incapaz de ajudar. Ele então conseguiu olhar para ela e sorriu. Por alguma razão, Nia se sentia culpada pela prisão de Kamina.


– Nia, - o chefe chamou a atenção dela, - Termine seu turno. Trabalhar ajuda a esquecer, ignore ele. – Ela balançou a cabeça e voltou à área de escavação.


– Você tem certeza de que isso vai funcionar? – o homem careca e sábio, Hagatama, perguntou, retoricamente. Ele viu tudo. Sendo um dos mais velhos do vilarejo, ele também tinha muita experiência e agia como um professor para as crianças.


– Não me diga que você acredita nessa picaretagem. – o chefe olhou de relance, aborrecido, mas tentando mostrar respeito.


– Você não pode impedir uma pessoa que está completamente determinada a um alvo. Nos meus anos de experiência, eu vejo que é parte da natureza humana buscar coisas novas, se livrar da rotina. O pai de Kamina foi um exemplo, e ele herdou essa característica.


– Quem se importa? Enquanto eles continuem a viver a mesma vida de sempre, tudo vai estar bem, não teremos que nos importar com o que há além daquela tampa.


– Nossos únicos problemas são os terremotos, estamos acostumados a viver aqui embaixo. Estamos tão acostumados que isso já se tornou estranhamente confortável. Mas parece que certas pessoas estão dispostas a
tomar riscos para ir além da nossa ignorância.


– Ignorância é uma bênção e é poder, se conseguirmos evitar criar mais gente como Kamina, não teremos nada mais com o que nos preocupar.


– Eu não sei se isso é possível, o instinto humano é realmente misterioso...


– Pense o que quiser, só não ensine isso às crianças! – o chefe foi embora, murmurando algo. O homem careca e sábio apenas meneou sua cabeça e suspirou.


Um pouco mais tarde, na área de escavação, Nia falava com Boota antes de resumir o trabalho:


– Boota, eu não consigo parar de pensar sobre Kamina, - ela disse, enquanto acariciava as costas do pequeno porco-toupeira. Ela cuidava de Boota desde os 10 anos, quando o adotou. Sua mãe natural havia rejeitado ele e desde então Nia se tornou sua mãe, por assim dizer, dando a ele abrigo e comida. O maior porco-toupeira já registrado no vilarejo tinha quase 450 quilos, mas Boota nunca ultrapassou o tamanho que ele tinha, um pouco maior que a palma da mão de Nia.


– Buu, buu, - ele respondeu, alegremente.


– Então, eu preciso pedir um favor: veja se está tudo bem com ele e, se possível, traga algo para ele comer. – Nia trouxe Boota para o chão e deu uma risadinha. O pequeno animal concordou e correu em direção ao irmão dela.


– Ainda tem tenho tempo o suficiente, - ela disse a si mesma, pegando sua broca e começou a cavar novamente.


Horas se passaram e, quando Nia terminou sua quota, ela começou a cavar para si mesma. Quanto mais fundo ela ia, mais quente ficava o solo. Seguindo sua curiosidade, ela decidiu seguir o rastro de calor, cavando um caminho, mas ela só encontrou mais e mais terra. Ela se perguntava quanto ela precisaria cavar para finalmente achar algo diferente e, após um tempo, ela finalmente achou algo. Após cavar e limpar ela viu algo diferente de tudo o que ela já tinha visto. Era mais duro que uma pedra e brilhava, assim como seu colar. Ela continuou a limpar a área ao redor dela e, quando terminou, ela viu uma face, uma face enorme, vermelha e branca. A face não demonstrava nenhuma expressão discernível, apenas inatividade, mesmo que os detalhes eram bem definidos, e ela podia ver claramente linhas de expressão como se não fosse metal; havia uma cavidade circular na testa. Eu tenho que contar pro meu irmão! Ela pensou e sorriu.


Ela foi diretamente para a prisão, já que ela sabia como ir para qualquer lugar do vilarejo por meio do subterrâneo. Ela até conseguiu emergir embaixo dele:

– Kamina!


– Nia? - ele disse, surpreso com a aparição dela, bem entre suas pernas, - O que foi?

– Você não vai acreditar no que eu descobri. Você tem que ver!

– Sério? – ele respondeu, um tanto sonolento, - Isso seria fugir da prisão, mas quem se importa? – ele mexeu seus braços e rompeu as cordas que estavam prendendo ele, sem muito esforço.


Nia levou Kamina para a área de escavação, já que seria difícil para ele usar o mesmo túnel que ela cavou, devido ao seu tamanho. Durante o trajeto, ela se desculpou pela aparição súbita, já que ela estava tão maravilhada com a descoberta que nem se deu conta do tempo que se passou. Kamina comentou que o chefe ficaria irritado, mas ele não se importava.

– Então, o que é tão importante para me fazer sair da prisão pra ver, Nia?


– É uma face! – Nia disse, enlevada, sua voz ecoando pelo vilarejo vazio. Ela iria se arrepender por seu lapso, posteriormente, - É uma face enorme!


Não mais que de repente, a luz de um holofote os iluminou. Os novos ajudantes do chefe, os três (ex-)membros da Dai-Gurren estavam lá. Nia e Kamina cobriram seus olhos por um momento, mas eles podiam ouvir a voz do chefe, e dizer que ele estava decepcionado era uma maneira leve de se colocar. Eles esqueceram que o chefe ficava de guarda à noite.

– Kamina! Nia! Vocês estão em sérios apuros!

– Nia, a face enorme de que você falou era essa? – Kamina disse, inexpressivo, quando seus olhos se acostumaram com a luz. Ela só meneou a cabeça nervosamente. Ela estava enrascada.

– Fugir da prisão é um crime sério! – o chefe gritou. Ele então olhou para Nia, - E nem pense que eu não sei o que você tem feito, cavando túneis em segredo! – Ele estava ainda mais enrascada.

– Deixe ela em paz! – Kamina se colocou na frente dela, levantando seus braços, tentando livrar ela, - Ela não fez nada de errado, é minha culpa!


Novamente o chefe olhou raivosamente para ele, chocando sua grande testa contra a dele:

– Ah, eu sei o quanto você é culpado! Corrompendo as mentes das crianças com essa bobagem de superfície, se recusando a seguir as regras, igual ao seu pai! É hora de ensinar a você uma lição que você nunca vai esquecer! – ele atingiu ele com a Espada Ancestral. Apesar de ter sido um golpe forte, Kamina não se moveu, nem pisco. Sua rebeldia irritou mais ainda o chefe. Julgando pelo olhar em seus olhos, qualquer podia ver que o pensamento de desembainhar a espada passou pela sua cabeça, uma forma fácil de acabar com seus problemas, mas ele não fez isso e bateu nele de novo. Novamente, ele não se moveu, mas Nia percebeu que ele moveu os lábios um pouco, indicando que ele estava aguentando a dor. Quando o chefe levantou novamente a espada para bater nele mais uma vez, Nia se colocou na frente dele, dizendo em voz alta:

– Por favor, pare!


Mas era tarde demais. O chefe a atingiu por acidente, bem no topo de sua cabeça. Todos ficaram chocados. Nia, sentindo a dor indo da cabeça por todo seu corpo, ajoelhou-se a levou as mãos para sua cabeça, chorando quietamente. Kamina se esqueceu do chefe a se abaixou, massageando sua cabeça:


– Nia, tudo bem? Já vai passar...

A raiva do chefe se transformou em remorso, e ele murmurou:

– Isso vai deixar uma marca.

– E você sabe que marca é essa? – Hagatama apareceu, após ver tudo, - A marca da dor. Nosso vilarejo é uma comunidade, todos conhecem a todos, e se um sofre, o vilarejo inteiro também sofre. Não importa o quanto tentemos conter o desejo de Kamina de ir para a superfície, ele decidiu fazer o que ele quer, e é melhor mostrarmos o caminho que seu pai usou para ir. Eu não quero ver mais ninguém sofrer.


– Peraí, careca, - Kamina disse, enquanto ajudava Nia a se levantar. Ela ainda estava com os olhos marejados. – Como você sabe?


– E você está dizendo que a superfície é real? - o chefe perguntou, boquiaberto.

– Você nunca prestou atenção nas instruções do meu irmão, - ele o repreendeu e então se dirigiu a Kamina, - Seu pai era tratado como um baderneiro e excêntrico, assim como você, quando meu irmão era o chefe, e ele o deixou ir, mostrando os dutos de ar que nos ligam com a superfície. Creio que você era  muito jovem para se lembrar.


– E por que você não me disso isso antes? – ele perguntou, com uma mistura de surpresa e indignação.

– Kamina, pense por um momento, - o homem sábio e careca disse calmamente, - Você não acha que nossos ancestrais tinham uma boa razão para nos dizer para nunca abrir a tampa do teto? Você não acha que há perigos além da imaginação lá em cima? Antes de você ir, eu devo te perguntar: você está ciente de que essa decisão pode levar à sua morte?

– Sim, eu estou, - ele respondeu, orgulhoso, pronto para ir à superfície a qualquer custo, - Um homem de verdade deve ser responsável por suas próprias ações e encarar as consequências com masculinidade.

– Muito bem, eu lhe mostrarei o caminho amanhã. Enquanto isso, vamos dormir, foi uma noite muito longa esta.

– Mas eu quero ver a superfície agora! – ele reclamou. Ele estava tão ansioso para ir à superfície que ele ignorou o sábio conselho de Hagatama, em uma maneira bem contrastante com sua última declaração. Por outro lado, o jovem tatuado deveria ter escolhido melhor suas palavras. Outro terremoto se iniciou, acordando todo mundo, e mais uma vez todos estavam correndo, procurando abrigo. Desta vez era um bem forte; eles viam atônitos o teto se enchendo de rachaduras e finalmente abrir completamente. Raios de luz desceram sobre o vilarejo, assim como poeira e pedras vinham da abertura.

– Eu vejo a luz, - um homem gritou, - E ela queima!

– O céu está caindo! O céu está caindo! – o paranoico gritou.

– É a superfície! – o chefe gritou em choque.

– Tem algo mais caindo!


O que parecia ser uma pedra enorme também veio da abertura, caindo no meio do açude central. Quando a poeira baixou, eles viram uma face gigante. Era branca e era assustadora, porque a face tinha muitos, mas muitos dentes, que formavam um sorriso malevolente e sinistro; tinha também olhos amarelos e ameaçadores, que brilhavam, e um par de chifres em cima da cabeça. Na sua mão, segurava um grande porrete.

– Então, Nia, a face enorme que você queria me mostrar... – Kamina disse, colocando seus óculos, enquanto os outros estavam assustados.

– É ESSA?


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Notas finais do capítulo

Bom, talvez eu tenha que editar um pouco, eu não me lembro muito bem do sub em português, mas espero que tenham gostado



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