Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo


Capítulo 5
Ringo Von Jagger


Notas iniciais do capítulo

Mais um!



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– Ah, isso é tão emocionante. – Comentou o cara ao meu lado. Eu olhei para ele um tanto incerta, e sorri hesitante.

– É. É... Muito legal. É um carro roubado. – Assenti um tanto nervosa.

Ele riu um pouco e olhou para mim.

– Você não está bem, não é? – Perguntou erguendo uma sobrancelha de um modo bem simpático – É sério. Pode falar para mim.

– Por que acha que não estou bem? – Perguntei sem entender, mas apertei tanto a alça da mochila em meu colo que os nós de meus dedos ficaram brancos – Estou bem. Estou muito bem. Eu não pareço bem?

– Ahm... Não sei. – Ele voltou a olhar para a estrada – É que é a quinta vez que você fala que esse carro é roubado.

Eu assenti devagar. A adrenalina de estar sentada ao lado de um cara que tinha roubado um carro só para dar carona á uma desconhecida que tinha ensurdecido o tutor e fugido de casa estava afetando a minha mente. Eu falava coisas sem nexo ás vezes, mas o que mais escapavam eram as minhas observações aleatórias que levavam as pessoas á perderem o sério.

– Desculpe. – Disse sinceramente – É que eu não estou muito acostumada a roubar carros.

Ele prendeu o riso e olhou para mim pelo canto do olho. Foi só então que me toquei do que tinha dito subliminarmente. Olhei para ele quase gaguejando.

– Sinto muito. E-Eu não estava dizendo que você rouba carros o tempo todo, mas é que nesse meio tempo em que te vi, você conseguiu superar a minha lista de roubos. – Disse e depois dei um riso nervoso, mas depois dei um tapa na minha própria testa – Não que eu tenha uma lista de roubos! Eu não roubo. Sério. Eu... Ahm... Er...

– Eu... Entendi. – Disse ele, e pude notar que estava tentando não rir de mim. Eu respirei fundo e olhei pela janela. Queria ficar em silêncio, mas minha mente não me deixou quieta.

– Então... Esse é o seu modelo favorito de carros? É por isso que roubou ele? Nossa, você fez aquilo tão rápido! Eu levaria anos para aprender a roubar uma coisa desse jeito. – Comentei sorrindo, mas depois me toquei de mais uma besteira – Não que você seja um ladrão com anos de prática! Eu...! Bem, eu nem conheço você. Ahm... Mas não tem problema. Sério. Quando eu era pequena, eu lembro que um amigo meu roubou o mascote da sala de aula, porque achou fofinho. Era um hamster, e eu tenho quase certeza de que ele...

– Você realmente não está bem. – Riu ele sem querer – Diz para mim, o fato de eu ter roubado um carro está te incomodando? Pode ser sincera.

Eu abri a boca, mas milhares de palavras chocaram-se umas com as outras, e eu não consegui dizer nada. Eu a fechei novamente, respirei fundo, e deixei a verdade sair.

– Sim. – Respondi, e ele assentiu devagar. Olhei para seu rosto que estava sendo iluminado pela precária luz da parte de frente do carro e dos postes que passavam – Você roubou um carro. E eu estou aqui com você. Eu fugi de casa, o que me põem ainda mais encrencada. E agora sou cúmplice de um roubo de carro.

– Por que cúmplice? – Ele franziu o cenho.

– Porque eu deixei você roubar o carro, não avisei a polícia, peguei carona com você e não fiz nada para lhe impedir. – Expliquei – Nós dois vamos presos por roubo. Isso se a polícia não achar que você me seqüestrou.

– Pode ficar tranqüila. A polícia está longe de pegar a gente. – Riu ele. Eu respirei fundo e desviei o olhar para a estrada. Ele olhou para mim rapidamente – Você é sempre assim quando fica nervosa? Fica falando milhões de coisas ao mesmo tempo?

– Ah, eu... É. – Confirmei – Eu tento me controlar, mas eu acabo falando demais sem querer. E isso só piora quando a pessoa perto de mim é bonita, porque eu quero falar muito, e ao mesmo tempo fico sem palavras... Ah, não.

Eu dei um tapa na minha própria testa. Tinha acabado de entregar que ele era bonito, o que o fez rir bastante.

– Nossa, o que posso dizer? Obrigado, eu acho. – Riu ele. Meu rosto ficou vermelho. A única coisa que consegui fazer foi correr os dedos para o painel do carro ligando o rádio. Eu me encolhi no acento, enquanto ele continuava dirigindo.

Eu parei para ouvir a música. Não a reconhecia, mas o ritmo era tão animado que gostaria de ter a chance de aprender a tocá-la.

Meus dedos começaram a se mexer no ar, formando acordes invisíveis de violão. O cara ao meu lado franziu o cenho para mim, mas eu não tinha percebido até ele falar algo.

– O que está fazendo? – Perguntou, mas logo se tocou sozinho – Você toca violão?

– Eu toco. – Sorri para ele, mas depois eu lembrei do que tinha acontecido na casa dos Ness – Na verdade... Tocava. Meu violão sofreu um acidente.

– O meu também. – Disse assentindo.

– Você também toca? – Perguntei impressionada, e ele soltou um suspiro pesado. Esperava que ele continuasse falando e olhando para a estrada, mas ele virou-se para mim, enquanto o carro continuava a andar, praticamente sozinho. Nossa sorte é que estávamos em uma rua completamente vazia.

– Eu juro que tentei. Na minha humilde opinião eu estava... Ahm... Como dizem mesmo? Ah, sim. Arrasando. Mas acho que o meu meio-irmão levou isso para o outro significado da palavra. Ele disse: “Está arrasando os meus ouvidos”. – Ele revirou os olhos – Eu disse para ele que eu estava bem, muito obrigado, e que não precisava da opinião musical dele. Aí ele tomou isso como uma ofensa e jogou o pobre violão do último andar do Empire States.

Eu levei alguns segundos para entender a história. Pensava que ele estava brincando, mas quando notei que era verdade, somente assenti.

– Puxa... Sinto muito. – Disse encolhendo os ombros.

– Meu irmão é que deveria sentir, mas acho que isso não vai acontecer. É tão sensível quando rejeitam ele. – Ele fez uma careta e voltou a dirigir, o que me deu um certo alívio.

– Ahm... Qual é o seu nome mesmo? – Perguntei sem saber. Ele riu.

– Depois de todos esses minutos eu nem mesmo disse o meu nome? – Perguntou ele erguendo uma sobrancelha.

– Não. Mas isso acontece. – Confirmei.

– Qual nome você acha que parece comigo? – Perguntou ele. Eu franzi o cenho, pensativa – Vamos. Pense em um. Vou precisar criar uma identidade falsa. Agora sou um fugitivo da polícia.

– Você é muito engraçado. – Ri negando com a cabeça – Não leva nada a sério?

– Estou no meu dia de folga. – Respondeu ele.

– Ahm... Ringo Von Jagger. – Inventei tentando não rir. Ele olhou para mim, e tentou não rir também.

– E depois reclama que eu não levo nada a sério? – Disse ele, e eu encolhi os ombros.

– Acho que hoje é o meu dia de folga também. – Disse rindo um pouco.

– Certo, certo. Mas vai precisar de um nome falso também. Esqueceu que você é a minha cúmplice? – Eu abri a boca para tentar rebater, mas ele me interrompeu – Nem vem com essa história de eu ter te seqüestrado, porque eu não vou deixar a polícia acreditar nisso.

– Eu já tenho um nome falso. – Disse me encolhendo no banco do carona.

– Ah, jura? Qual? – Perguntou ele, mas só de olhar para seus olhos castanhos, ele se tocou – Você diz Abby Starr? Eu sou o Ringo, e você se chama Starr? Ah, claro. Eles vão cair nessa.

– Ué... Não foi você que disse que a polícia estava bem longe de nós pegar? – Comentei tentando não rir. Ele assentiu com um sorriso torto.

– Ok. Vamos manter esses nomes. – Assentiu ele – Tenta dormir um pouco, enquanto eu penso em um lugar bem legal de conhecer.

Aquilo me pareceu uma ordem, pois no mesmo instante meus olhos se fecharam e eu adormeci, encostada á porta do carro.


XxX


Hades não conseguia dormir de jeito nenhum.

– Perséfone... É impossível. – Disse o Deus dos mortos. Ele estava deitado completamente reto, de modo que fitava o teto sem mover nem mesmo um músculo. Perséfone estava penteando o cabelo, quando ouviu a voz do marido.

– Ah, Hades. Tente relaxar. – Disse ela com certa pena.

– Me diz... Como eu vou relaxar com o meu corpo todo queimando mais do que o carro do Apolo?! – Exclamou ele com raiva.

– Hades, não precisa ficar com raiva de mim. Só estou tentando te ajudar...! – Ela foi interrompida.

– Eu não estou com raiva de você, amor. – Disse ele em um tom carinhoso e calmo, mas depois se enfureceu – Estou com raiva daquela velha maluca cujo o nome não quero mencionar!

– Hades, isso não é culpa dela. – Disse Perséfone olhando para ele – Quem mandou você ir pintar as paredes debaixo do Sol?

– Ela! Foi ela! – Exclamou ele em resposta – O que?! Você estava lá! Ela me obrigou a pintar a porcaria da casa por fora, e eu fiquei desse jeito! Agora sinto dor até quando respiro!

– Deixa disso. Aposto que mamãe deve estar ignorando a sua existência nesse exato minuto. – Falou ela colocando a escova de cabelo em cima da mesa e indo para a cama.

– Ignorando?! Aquela mulher diabólica deve estar rindo do meu sofrimento nesse exato momento! – Rebateu ele ainda imóvel.

– Por que você acha isso? – Perguntou Perséfone sentando-se.

– Porque eu faria a mesma coisa se estivesse no lugar dela. – Respondeu Hades – Ia passar a noite inteira rindo da cara daquela infeliz.

– Hades! Que coisa horrível de se pensar! – Exclamou Perséfone chocada. Ela deitou-se ao lado de Hades, e então eles dois ouviram uma pequena risada vinda de algum lugar no andar de cima.

Hades olhou de lado para Perséfone morrendo de raiva.

– Viu?! Viu só?! – Hades fitou o teto novamente – Vá dormir, sua miserável, e pare de rir de mim!

Eu estava rindo da TV, seu idiota! – Respondeu Deméter, mas depois riu novamente – Agora eu estou rindo de você.

Hades trincou os dentes cheio de ódio, e desejou com toda a sua força que as sombras do quarto tomassem vida e estrangulassem Deméter. Deméter estava desejando com todas as forças que ervas daninhas surgissem da parede e estrangulassem Hades durante a noite.

Eles dois tinham mais em comum do que pensavam, mas não descobririam isso tão cedo. Perséfone virou-se de lado na cama e olhou para Hades. Ela sorriu e passou os dedos com delicadeza pelo cabelo do Deus.

– Hades. – Ele olhou para ela – Eu gosto de você, sabia?

O Deus resmungou alguma coisa sobre Deméter, mas depois acabou sorrindo de leve e olhando para a esposa.

– Eu também gosto de você. – Disse em um suspiro. Perséfone sorriu feliz e estendeu-se em direção á ele. Ela estava prestes a beijá-lo na testa, quando os pés da cama quebraram fazendo o colchão cair com violência no chão do quarto.

Hades morreu de dor, já que seu corpo bateu com força contra o colchão. E também... Perséfone tinha caído em cima dele. Ele respirou fundo tentando não gritar, e a Deusa deu um pulo para longe dele.

– Me desculpe! Hades, eu não queria te machucar! Você está bem, querido?! – Perguntou ela preocupada. Hades respirava fundo várias e várias vezes seguidas, e então se levantou da cama ignorando todas as dores que sentia.

Foi você, não foi?! Sua barraqueira maldita! Eu vou até aí enforcar você com as minhas próprias mãos queimadas pelo Sol! – Rugiu ele com ódio.

Uh! Estou morrendo de medo. Consegue subir as escadas sem tropeçar e dar de cara com o chão, cafajeste? – Zombou Deméter.

Pode apostar que eu vou tentar! Nada vai me impedir de te alcançar, Deméter! Eu vou fazer você pagar caro por tudo isso! – Berrou ele abrindo a porta e subindo as escadas.

Perséfone, cansada da brigas dos dois, foi em direção á porta e a trancou.

– Se gosta tanto de brigar com a minha mãe, Hades, ótimo! – Exclamou ela para ele ouvi-la – Mas vai dormir no sofá!

Por sorte, não haviam vizinhos por perto, de modo que eles podiam gritar a vontade.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Eu espero por reviews! Amanhã vou responder os reviews antigos, e os novos!
Beijos para todos e até o próximo capítulo!