Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo


Capítulo 2
Uma mãozinha de tinta


Notas iniciais do capítulo

Mandy-Jam: Aqui vai o próximo. Sentimos muito pela demora, certo gente?
Boa leitura!



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Eles tinham preparado quase tudo, menos o meu material escolar. Não que isso fosse fazer muita falta para mim, longe disso. Se eles falassem que eu poderia ficar sem ir á escola até o ano que vem, eu não abriria a boca para reclamar nem um segundo.

- Abigail, você pode conversar com o professor e explicar a situação? Nós vamos comprar os livros no fim do mês. – Disse a senhora Ness.

- Claro. Sem problemas nenhum. Podem relaxar quanto á isso. – Disse calmamente. Eles se despediram de mim e disseram onde era a escola.

Não ficava muito longe dali, para falar a verdade. Claro... A pé o caminho era bem maior, mas de carro deveriam ser no máximo uns 20 minutos.

Mesmo levando mais tempo para chegar lá, eu não me importei. Sempre gostei de andar por aí, com o vento batendo contra o meu rosto. Dava uma certa sensação de liberdade. Como se eu pudesse ir aonde eu quisesse sem ter que me importar com ninguém.

Infelizmente... Eu não estava indo para um lugar que eu queria. Sempre tive problemas com escolas. Ou era expulsa, ou tinha notas baixíssimas. A única coisa que não era ruim era o meu relacionamento com as outras pessoas.

Sempre fui muito simpática, mesmo tendo o meu jeito esquisito de pensar e de me distrair. Geralmente, eu tinha vários amigos, mas as amizades nunca eram duradouras. Até porque eu nunca parava em um lugar definitivo.

Mas lá estava eu. Em uma nova escola, começando tudo de novo. Já tinha poucas esperanças de conseguir passar mais de um ano ali, e posso dizer para você que eu não estava errada.

Assim que pisei na sala de aula abrindo a porta, o professor olhou para mim. Todos já estavam sentados. Acho que foi um jeito meio chamativo de começar, mas não me importava com as pessoas me olharem.

- Posso ajudá-la? – Perguntou o professor, um homem de no máximo 40 anos com óculos redondos. Eu assenti dando um passo para dentro.

- Eu sou nova. – Disse, pois sabia que os professores adoravam ouvir aquela frase. Era tão estranho, mas se você dizia isso logo de cara, podia evitar muitos problemas. Tudo que você fizesse de errado dentro do prazo de uma semana era somente pelo fato de você ser nova, e não por estar querendo arrumar encrenca. Esse era o bom de nunca ficar muito tempo em uma escola só.

- Ah, sim! – Exclamou ele lembrando-se de algo e sorrindo para mim. Um homem simpático, pelo visto – Você é a Abigail?

- Abby. – Corrigi.

- Mas... Não era Abigail? – Perguntou franzindo o cenho – Abigail Strangford.

- É... Pode ser isso também. – Assenti tentando imaginar a razão de ninguém ser capaz de dizer “Abby”.

- Você quer se apresentar? Nós estávamos começando com uma conversa amigável, não era turma? – Perguntou o professor. Todos assentiram olhando para mim. Ajeitei meu cabelo para trás da orelha e me encostei contra a parede do quadro negro, ficando de frente para a turma.

- Ahm... O que eu digo? – Perguntei sem saber.

- Fale um pouco sobre você. – Incentivou ele – Não precisa ser tímida.

- Ah, isso é algo que eu não sou. – Ri baixinho, e depois olhei para a turma, que me analisava atentamente – Eu sou Abigail Strangford, mas agradeceria se fossem capaz de pronunciar o nome “Abby”. Sabe? É bem simples. A-bi. É esse o som.

Algumas pessoas riram, e outras abriram um leve sorriso.

- Eu... Tenho 17 anos, e... – Parei para pensar e depois dei de ombros – Toco violão. Acho que é só.

As pessoas riram mais um pouco. O professor sorriu para mim.

- Seja bem vinda á nossa turma, Abigail. – Disse ele não usando o meu apelido como todo o resto do mundo. Eu sorri e fui me sentar á uma mesa vazia no fim da sala.

Ele começou a falar sobre alguma coisa relacionada á matemática e eu simplesmente desliguei. Francamente... Eu acho que vou morrer sem entender porque as escolas obrigam os alunos á acordarem ás 6 da manhã para irem á aula, proíbem eles de dormirem, mas colocam aulas de matemática. É algo completamente contraditório.

Números... Eles pareciam voar para mim. Você olhava para um número como... O 8. Sim, o número 8. Ele começava a girar e girar, até que sua linha se desfazia na sua frente, e formava outros oitos, que faziam a mesma coisa, e de repente você parecia preso em uma teia de números, e ia perdendo o ar, e...!

- Abigail? – Perguntou o professor.

- Sim? – Disse piscando os olhos.

- Você esta bem? Estava fazendo caretas. – Disse ele.

- Ah... Estou. Esquece isso. – Disse sorrindo de leve. Ele assentiu e continuou.

Não disse que ser aluna nova te salva?

Se fosse qualquer outra pessoa ali na sala ele mandaria para fora. Ou mandaria um comunicado aos pais. Não que a minha vez não fosse chegar. Há! Como se eu conseguisse passar mais de alguns meses sem uma reclamação.

A aula foi seguindo o seu rumo. Ficava cada vez mais difícil entender o que ele estava falando, e a minha falta de atenção só piorava as coisas. Enquanto ele falava de equações de segundo grau, eu estava imaginando se seria capaz de reviver alguém com choques elétricos. Será que era possível?

Por exemplo... Era só colocar aqueles dois parafusos no pescoço, que deviam levar a corrente até o coração. Daí era só...

- Está entendo, Abigail? – Perguntou ele.

- Claro. – Assenti, mesmo não tendo idéia do que ele estava falando.

Quando o sinal finalmente bateu anunciando que as aulas estavam oficialmente encerradas pelo dia, eu fui a primeira a levantar e ir embora.

Não ficaria em uma escola nem mesmo se me pagassem. Preferia mil vezes sair por aí correndo e sentindo a doce brisa da liberdade contra o meu rosto, á ter que ficar em uma sala de aula estudando matemática.

Foi com esse pensamento feliz que eu cheguei á minha nova casa, mas... Os eventos depois disso não foram assim tão felizes...

- A colheita esse ano vai ser boa. – Disse Deméter conversando com Perséfone.

- Tem alguma fruta especial em mente? – Perguntou ela.

- Uhm... Não sei. Particularmente gosto muito das laranjas em contraste com as uvas. – Respondeu a Deusa da agricultura – Acho que poderíamos fazer crescer algumas árvores ao redor do campo. Umas de laranjas, outras de romã. Logo atrás nós podemos ajeitar as videiras.

- Ai, mãe, vai ficar tão lindo! – Disse Perséfone com um sorriso no rosto. As duas estavam imaginando de um modo sonhador como o campo ficaria lindo, colorido com as cores dos frutos tão deliciosos que plantariam.

Mas Hades não estava assim tão animado.

- Já chegamos? – Perguntou ele. O sorriso de Deméter desapareceu, e ela olhou para trás.

- Está vendo alguém descer do veículo? Então não, idiota. – Respondeu ela.

- Sabe? Eu ainda apoio a idéia de colocar a sua mãe amarrada á uma cordinha logo no final dessa caminhonete, e acelerar mais, só para vê-la sair correndo atrás de nós em desespero. – Comentou Hades com um sorriso para Perséfone.

- Hades! – Exclamou Perséfone chocada – Pare com isso!

Deméter meteu um belo soco no estômago de Hades, que revidou agarrando o cabelo de Deméter e puxando-o com força. Os dois estavam sentados um de frente para o outro na caçamba da caminhonete. Deméter preferiu ir ali para ver o campo com mais liberdade.

Perséfone se esticou e separou os dois.

- Parem com isso! – Exigiu ela separando-os – Mamãe, já chega! Hades!

- Ele que começou! Ele sempre começa tudo, esse verme! – Exclamou Deméter com raiva.

- Eu comecei?! Eu estava só brincando, sua velha! – Rebateu Hades.

- Velha?! Seu abusado! Vagabundos como você não tem respeito por ninguém! Você não presta, Hades! – Exclamou Deméter.

- Eu disse chega! – Berrou Perséfone, e os dois pararam. A filha de Deméter estreitou os olhos para os dois, mas eles só cruzaram os braços e desviaram o olhar como duas crianças – Francamente, será que vocês não podem pelo menos se odiar menos? Vamos passar um tempo aqui descansando, e eu realmente não quero ter que separar brigas dos dois o tempo todo!

Hades desviou o olhar e resmungou alguma coisa inaudível. Deméter fingiu que aquela bronca não tinha sido para ela também, e resolveu olhar as plantas que passavam por eles.

Ótimo, pensou Perséfone. Ao menos agora teremos um pouco de paz e silêncio.

Depois de alguns quilômetros andando de caminhonete, sobre um Sol relativamente forte, eles finalmente chegaram á casa de campo que Deméter tinha escolhido.

Perséfone e sua mãe estava usando roupas frescas, como bermudas e camisetas com magnas curtas. Mas Hades...

- Você parece a própria morte vestido desse jeito. – Comentou Deméter olhando para ele.

Hades olhou para as suas roupas. Ele usava uma calça comprida preta, uma camisa preta, mas esta estava por debaixo de um casaco enorme e preto. Um capuz estava para cima da cabeça dele.

- Ah, desculpa. Da próxima vez eu venho de rosa, ok? – Rebateu ele.

- A própria morte, ou um ladrão. – Disse Deméter – Acho que eu podia soltar os cachorros, e...

- Deixa dessa! – Reclamou Hades revirando os olhos – Diferente de você, eu não estou acostumado ao Sol, está bem?! Eu ia sair daquela caminhonete completamente vermelho de queimado se não usasse isso.

Deméter ficou em silêncio por um segundo, mas logo depois prendeu o riso ao imaginar a cena de Hades queimado de Sol. O Deus dos mortos lançou um olhar de raiva para ela, mas Deméter continuou andando calmamente.

- Não é lindo, Perséfone? – Perguntou Deméter com um sorriso.

- Own, é sim. – Concordou Perséfone. Hades foi andando logo atrás dela, mas quando viu a casa...

- Isso?! Chama isso de lindo?! – Perguntou ele – Só pode estar de sacanagem que esse é o lugar que vamos ficar!

- Olha a sua boca suja! – Reclamou Deméter – Mas sim. Nós vamos ficar aqui. E saiba você que é um lugar muito confortável. Meio-sangues heróicos costumavam vir aqui para se proteger de monstros e treinar suas habilidades.

- É. Há milênios atrás quando um barraco de madeira era considerado luxo puro. – Rebateu Hades.

- Que barraco de madeira o que, sua anta! Tenha respeito! – Reclamou Deméter – Esse lugar é um dos melhores que tem para se passar a primavera, por isso engula as suas reclamações.

- Olá! Esse lugar está caindo aos pedaços! – Exclamou Hades apontando para a casa. Ele tinha razão, embora Deméter não quisesse admitir.

O telhado da casa estava caindo, e tinha algumas partes que já estavam quebradas. As janelas da casa, tanto do primeiro andar quanto do segundo estavam sujas. A porta estava solta em uma das dobradiças.

- Bem... Creio que não há nada que uma mãozinha de tinta, ou um concertinho aqui não resolva. – Disse Perséfone antes que eles começassem a brigar.

- Amor, o que deu em você?! – Perguntou Hades incrédulo – A única coisa que concertaria esse lugar seria uma bola de demolição.

- Você ouviu a minha filha! Mexa esse traseiro preguiçoso e vamos começar a concertar tudo isso. – Disse Deméter de modo autoritário. Hades ia começar a reclamar, mas ela o interrompeu – E leve as malas. Anda, anda!

As duas foram animadas em direção á casa, enquanto Hades praguejava em grego.


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Notas finais do capítulo

Ok... Quem acha que eles vão se matar um dia levanta a mão! Hahaha!
Esperamos que tenham gostado! Até o próximo, sim?
Beijos e obrigada por lerem nossa fic!