- Lucas? – disse a mulher ao telefone – Quanto tempo que não nos falamos, desde que... – ela se interrompeu, sabia que tocar neste assunto era delicado para ele.

- Sim Marta, muito tempo – disse Lucas suspirando – ainda trabalha naquela agencia de empregos?

- Claro Lucas por quê? – disse Marta com uma voz de preocupação.

- Eu preciso de alguém para trabalhar pra mim – disse ele com a voz fraca – preciso de uma empregada e de preferencia que não conheça as bobagens que falam de mim por ai, não posso mais ficar sozinho, não estou dando conta, às vezes simplesmente, não tenho condições de arrumar a casa, entende?

- Sim, acho que eu tenho uma moça ideal para trabalhar para você, ela está chegando de fora semana que vem.

- Você sabe que dinheiro não é problema – disse Lucas – Posso contar com você?

- Claro que sim Lucas – disse ela triste, sabia que ele estava passando por momentos complicados – Você sempre foi meu amigo, não é só porque deixou o nosso convívio diário que eu não iria lhe ajudar.

- Muito obrigada Marta. – disse Lucas

- Não acha que está na hora de vim nos visitar? – perguntou ela esperançosa

- Você sabe que eu não posso, já falam o suficiente de mim sem que eu me exponha, Marta, eles já disseram até que eu matei pessoas!

- Eu sei, Lucas, mas você tem que superar isso – disse Marta – ou eu terei que ir ai.

- Não faria bem a você me ver nesse estado.

- Não importa, se você não se ajeitar com essa empregada eu vou ai, você querendo ou não. – entendeu?

- Sim, Marta, obrigada por tudo – disse ele desligando o telefone.

Marta colocou o telefone no gancho e falou para si mesma:

- Como pode acontecer tanta coisa errada na vida de uma pessoa tão boa?

Ela começou a remexer nos papeis e encontrou a ficha da garota, ela se chamava Mary Trevilin, trinta anos, vinda de família simples e já havia trabalhado como empregada, já cuidara de crianças, de adolescentes e de velhos e também fizera alguns cursos de outros idiomas, essa era a menina que ela iria mandar para Lucas, mas sabia que tinha que ser uma pessoa confiável e que não divulgasse o nome de Lucas, ela ligou para a moça e marcou uma entrevista com ela pela tarde e saiu para almoçar.

Lucas Bugmann, como ele queria ter mudado de nome, apesar de ter dinheiro e uma linha inteira de produtos e lojas, fazia tudo sem sair de casa, e as pessoas não o conheciam, e os que moravam próximo, não sabia quem ele realmente era, ele sentia dores e quando se lembrava daquele traidor piorava a situação, ele não era mais nem a sombra do homem feliz e radiante que foi um dia, agora era apenas uma pessoa vagando em uma casa, que os vizinhos difamam e inventam coisas, há quem diga que ele matou um entregador, e desde então, seu amigo Pedro Hardt fazia as compras necessárias, foi para a cozinha e fez seu almoço, comendo e indo para o quarto ler um pouco, pois agora os livros se tornaram sua única companhia.

Já eram duas horas e Marta se sentou em sua mesa observando a mulher sentada, ela não era linda, mas também não era feia, tinha um sorriso no rosto e uma enorme tranquilidade, ela olhou para moça sorriu e falou:

- Vou colocar algumas situações e você me diz o que faria certo?

- Sim senhora

- não precisa me chamar de senhora, me chame apenas de Marta

A moça sorri e falou:

- Claro, s... Marta.

- Me diga se você fosse trabalhar com uma pessoa, mas esta não quer que você diga quem ela é aos outros, você sabe quem ela é, mas os outros mesmo falando coisas horríveis sem saber de nada não podem saber quem ele é de verdade, o que você faria?

- Se ele não quiser que eu diga, eu não irei dizer.

- E se dissessem muitas coisas, sobre a pessoa, que este cometeu um assassinato, mas ele garantisse a você que não fez.

- Se ele me deixar algo que eu possa me comunicar caso alguma coisa ocorra e me garantir que não é mesmo um assassino, não vejo problemas.

- E se tivesse que trabalhar para alguém que não quer ser visto que te dá às ordens, mas não quer que você o veja?

- Não importa a pessoa não é apenas o que vemos e sim o que ela é por dentro

- E se você juntar tudo isso?

- Não tem problema.

- Bom, isso tudo que eu falei, é a situação de um amigo meu, ele precisa de alguém que arrume a casa para ele e que faça comida, ele está com vários problemas, para você ter uma ideia, desde que aconteceu uma coisa muito ruim na vida dele, ele não deixa mais que nem eu o olhe, ele é um homem incrivelmente famoso e mora aqui na cidade, em uma vila nobre, mas as pessoas não sabem quem ele é realmente, ele não sai de casa e não fala com ninguém exceto o Pedro, ele se estressa fácil, mas é uma boa pessoa, as pessoas dizem que ele mata todos que entram na casa dele, o que é mentira, pois ele apesar de tudo que viveu, é uma pessoa boa, entende uma pessoa muito boa e que sofreu mais do que merecia, mas isso não vem ao caso, quero saber se você quer trabalhar para ele, dinheiro não é problema.

- Eu vou saber o nome dele se aceitar?

- Sim, vai saber se jurar não contar.

- Eu juro que não contarei e aceito o emprego, me parece bom.

- Certo, o nome dele é Lucas Bugmann.