Somente Por Essa Noite escrita por Ana Luiza Lima


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

É a minha primeira história com mais de um capitulo, então espero que gostem! ;)



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Tudo em volta de mim parecia não importar mais, minha vida não tinha mais sentido algum. Sentia o vento cortante do inverno bater em meus cabelos os fazendo voar; até que estar ali era uma sensação boa, me sentir um pouco livre, sem regras, sem vozes, sem restrições, sem absolutamente nada, nada, a não ser eu e o vento. Somente.

Ficava ali olhando para baixo por horas todos os dias, sem a mínima coragem de dar só mais um passo, um simples passo que podia mudar tudo para mim, mas que para os outros não faria a mínima diferença. Um passo que me libertaria da minha dor, que arrancaria todas as minhas lembranças e que me livraria de toda a culpa.

Senti lágrimas quentes invadirem o meu rosto, era bom chorar, nunca reclamei de ser chorona do jeito que eu sou, me sentia melhor chorando, uma sensação que para tantos podia ser ruim, mas para mim era tão bom. Nunca consegui soltar uma lagrima que não fosse verdadeira, uma lagrima que não tivesse um sentimento real envolvido, ao contrário dos meus sorrisos, que para mim só serviam para cobrir a minha tristeza, como uma mascara que nunca era retirada. Confesso que foram poucos que conseguiram me fazer rir por apenas estar feliz, por apenas alguns segundos saber o que era a felicidade, por alguns segundos sentir o gosto da alegria estampada em meu rosto, somente por alguns segundos nada mais.

Mas naquele dia eu estava decidida, aquele pequeno passo não podia ser mais adiado. Era hoje, somente nesta noite eu poderia fazer o que pretendia fazer faz tantos meses, se fosse hoje não seria nunca mais. Paro um pouco com meus pensamentos, todos os meus pensamentos e respiro fundo, olho para cima e vejo pássaros ao longe, pássaros voando livres num céu tingido de laranja, era uma paisagem bonita para se ver na minha despedida. Iria esperar escurecer para finalmente ir, não podia estragar aquela linda paisagem com meus devaneios.

Estava tão distraída com aquele por do sol, que nem percebo a porta do terraço sendo aberta, só ouço uma voz forte falando comigo:

- Moça você está bem? – eu estava bem? Uma coisa que eu não me perguntava fazia muito tempo.

- Acho que sim – respondi pausadamente realmente pensando naquela pergunta, desci lentamente de um pequeno degrau que eu havia subido para observar a paisagem e me viro para ver quem era o homem que estava a falar comigo.

- É lindo não é? – O pôr do sol era, mas o homem com certeza também não era nada mal.

- É mesmo.  – ele havia acabado de acender um cigarro, e continuava a olhar o horizonte.

- Costuma sempre vir aqui olhar o pôr do sol?

- Venho sempre aqui, mas é a primeira vez que vejo um por do sol tão bonito.

- Se fosse sempre bonito já deixaria de ser apreciado, é preciso dias cinzentos, para sabermos apreciar os verdadeiros pôr do sois. – fiquei olhando para aquele homem em pé atrás de mim fumando e olhando para o horizonte, parecia que não parava havia tempo, a gravata mal colocada, a camiseta para fora da calça e o cabelo bagunçado.

- E você sempre vem aqui?

- Primeira vez, não costumo sair muito do meu escritório, contabilistas não tem a sorte de apreciar belas paisagens.

- Bancárias também não.

Continuamos ali parados, em silêncio por um longo tempo, nenhum dos dois se olhava, só ficamos encarando o pôr do sol como se fosse uma pedra preciosa, e o pôr do sol foi se indo, vi aquilo como se fosse areia se perdendo entre meus dedos, tentei olhar mais profundamente, como se aquilo fosse parar o pôr do sol de ir embora, não ele não parou, e o céu foi se escurecendo, e as estrelas foram surgindo, e agora aquilo que era simplesmente magnífico e belo, havia se tornado apenas uma lembrança vaga e vazia, mas que não se apagaria tão facilmente da minha memória.

Olhei de volta para o homem que agora me olhava também e estava terminando o cigarro.

- Aceita um? – perguntou me mostrando o maço de cigarros.

- Não, eu não fumo.

- Se não fuma o que faz aqui em cima tão tarde?

- Só tentando renovar os ares, respirar ar puro.

- Na beira do prédio? É uma nova forma de yoga, para respirar fundo? – Não pude deixar de dar um pequeno sorriso pela piada feita a meu respeito.

- Não faço yoga, só estava pensando qual seriam os prejuízos se eu desse mais um passo.

- Perderia os próximos pôr do sol. Além de perder a sua vida.

- Minha vida sempre foi uma mentira, já não há mais chances de mudar, agora é tarde. Fazendo sempre o que os outros querem, fui somente uma marionete para as pessoas ao meu redor. Já faz tempo que eu não sei o que significa realmente a palavra vida, se é que um dia eu soube. – ele me olhou como alguém olha um enigma a ser decifrado.

- Sei como é isso, - ele deu uma pausa antes de continuar, sempre respirando fundo - mas ouvi dizer que nunca é tarde para um recomeço.

- Com certeza quem disse isso nunca tentou recomeçar.

- E você já tentou? – Parei um pouco, eu já tentei recomeçar?Aquilo realmente latejou um pouco na minha cabeça.

- Não sei nem se eu cheguei a começar. – aquilo era realmente verdade, para você recomeçar, é preciso ter começado antes, eu já tinha tentado começar a viver? Ou apenas fiquei lá esperando que ela começasse por mim?

- Como conseguiu ser bancária?

- Meu pai era da empresa, me colocou lá quando eu fiz 16, eu era apenas uma balconista, depois quanto mais meu pai crescia, eu crescia junto, logo já era gerente de umas das agências e meu pai presidente da empresa. Nada por mérito meu simplesmente fui aceitando as possibilidades que me eram oferecidas, e só dizia sim.

- Sempre quis ser bancária?

- Não, queria ser fotógrafa, viajar pelo mundo e conseguir capturar as imagens mais fascinastes.

- E porque mudou de idéia?

- Não mudei, os outros mudaram por mim, meu pai principalmente, disse que eu já estava na empresa, que eu tinha futuro e que não devia sair agora, e eu novamente só disse sim, acabei fazendo economia e continuei na empresa, me acomodei com a rotina. – ele me olhava com curiosidade, parecia que nunca tinha visto algo como eu.

- Venha para minha casa está noite. Somente por está noite. – ele pegou na minha mão, e me olhava nos olhos, ainda com aquele olhar de curiosidade, como o olhar de uma criança vendo algo novo e estranho.

- O que pretende perguntando isso para uma estranha que conheceu no terraço do prédio?

- Fazer ela não ser mais uma estranha.


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