3. Crescendo

Por um longo tempo não houve novidades. Bem, pelo menos, não houve novas emoções estranhas, apenas o amor mutuo entre eu e minha mãe. Mas houve novidades muito interessantes. Eu estava crescendo, não que eu não estivesse crescendo o tempo todo, mas agora, tudo estava ficando mais nítido, eu podia perceber mais coisas a meu redor e em mim mesma.

Por exemplo, eu podia sentir toda a extensão da minha bola, que ficava menor a cada minuto. Eu podia sentir as ondas do liquido amniótico a meu redor me embalando. Contudo, essas não eram coisas tão interessantes se comparadas com minhas outras descobertas.

Antes eu me sentia como algo único, uma massa única, e com um único ponto de percepção, a qual não era tão apurada. Agora, no entanto, eu tinha desenvolvido membros, que se estendiam e terminavam em dedos e cada um deles era um novo ponto perceptivo em meu corpo. E a cada novo momento eu desenvolvia uma nova parte sensorial que eu nunca poderia imaginar ser possível, e cujo ponto de origem era impossível de supor. Eu estava gostando das mudanças. Elas eram divertidas, e era algo novo com o que me ocupar. Já que minha mãe não fazia contato sempre, eu me sentia muito entediada.

Era uma sensação gostosa, e algo curioso como um estimulo nervoso que começasse na ponta do meu pé pudesse seguir até meu cérebro e me fazer senti-lo. É sem duvida algo que pode soar estranho, pessoas normais não deveriam sentir com tanta nitidez esse processo, mas a muito eu notara que devia haver algo de diferente em mim. Eu podia sentir todo meu corpo e cada parte dele separadamente, bastava eu me concentrar. Às vezes fazia isso para me distrair, era engraçado.

O que já não era muito bom era o fato de minha bola estar encolhendo. Por que ela não podia crescer junto comigo? Isso não fazia sentido na época. Eu sabia que existia algo além da bola, ou pelo menos acreditava que sim, mas não concebia o fato de estaria em contato com esse mundo. Muito menos que estaria nele em pouco tempo. Por isso não parecia fazer sentido que minha “casa” não crescesse junto comigo. Eu não fazia ideia de quanto ainda teria de crescer, mas sabia que se continuasse naquele ritmo logo minha bola seria pequena demais para mim. Então o que seria? Para onde eu iria? O que aconteceria comigo? Com minha mãe? Estaríamos juntas? Sim? Não? Tantas perguntas sem respostas, isso me deixava agoniada. Eu queria poder ter algumas respostas, queria poder perguntar isso a minha mãe. Mas infelizmente nosso meio de comunicação tinha mão única e a única coisa que eu podia fazer era sentar e esperar.

Esperar... Esperar enquanto crescia... Crescer enquanto esperava...

É isso era muito enfadonho às vezes.