Capítulo IX – Conhecendo um conhecido...

Dormitório de Rose, Lucia e Stella – 7h43min

   Rose acordou pensando que tudo não se passava de um sonho. Não era provável nem possível que Scorpius tivesse acordado àquela hora só para falar com ela. Não era possível que ele se preocupasse tanto. Tudo bem. Era mais do que provável. Ele faria isso por Rose, mas ela não queria nem podia acreditar... Já se iludira tanto! Scorpius sempre foi ciumento, super protetor, preocupado, carinhoso... E Rose já interpretou isso como um sinal de que seus sentimentos eram correspondidos, mas naquele momento ela sabia que eram apenas cuidados de amigo. Amigo...

   Sua idéia de que era um sonho se foi quando, ao despir-se para tomar seu banho, encontrou um pingente preso em seu pescoço. Um pingente em forma de uma borboleta de quatro asas, duas maiores e duas menores. As asas grandes tinham, cada uma, uma pedra lilás como representação e as asas pequenas tinham pedras azuis. Scorpius sabia quanto Rose gostava de borboletas. Agora Rose sabia o quanto Scorpius gostava dela. Suas idéias de que ela não era importante se mostraram estúpidas e suas incríveis desconfianças de que ele não se importava pareciam infundadas.

   Tomou seu banho sentindo-se exultante e não se intimidou com as ameaças constantes de Stella, direcionadas ao barulho que fazia para se arrumar.

   _ Não sei porque reclama tanto, Stella _ Rose dizia sorrindo _ Vai ter que acordar daqui à alguns minutos, de qualquer forma!

   _ Então que venham os “alguns minutos”. _ a loira respondia.

   Era estranho... Rose estava tão feliz que nem percebeu a cama vazia ao lado da sua. Ela nem percebeu que Lucia não estava lá.

Sala Comunal da Sonserina – 06h12min

   Lucia ainda tentava se acostumar com a idéia de que acordara tão cedo sem nenhum motivo aparente. Quando despertou, o céu ainda não havia clareado, mas ela não conseguiu dormir novamente. Eram tantas coisas em sua cabeça...

   Na madrugada daquele dia, ela viu Scorpius entrar em seu dormitório apenas para falar com Rose, para demonstrar que se importava com ela. Ela o viu cochichar algo para a amiga, e esta se levantar, ainda grogue de sono. Ela os viu saindo pela janela e imaginou que estivessem em uma vassoura... Era estranho pensar que isso não seria possível na época de seus pais, já que o “covil sonserino” ficava nas masmorras. Todos tinham que concordar com uma coisa: o dormitório em uma nova torre, construída após a Batalha de Hogwarts, era bem mais charmoso do que nas masmorras de um castelo... Aquilo, aos ouvidos de Lucia, soava tão tortura medieval!

   A garota também estava acordada quando os dois voltaram. Achou linda a cena em que Scorpius falava para Rose o quanto ele se importava. Ela sentiu inveja. Ela queria ter alguém assim para se importar com ela. Ela queria que Alvo se importasse assim com ela.

   _ Você sabe que as aulas só começam as nove, não sabe? _ ela ouviu uma voz masculina perguntar.

   Ela sorriu de lado.

   _ Claro que sei, Stan! _ ela sabia que era o garoto novo, apenas pelo tom malicioso que o garoto costumava usar, mesmo que totalmente sem intenção. _ E você deveria saber disso também.

   _ Ah! Eu sei! Só não sabia se você sabia, sabe? _ ele disse sentando-se ao lado de Lúcia no sofá verde de três lugares da Sala Comunal.

   _ Isso soou muito gay... _ Lucia disse rindo e Stan olhou para ela piscando os olhos rapidamente, como se tentasse seduzi-la.

   _ Posso ser gay se você disser que gosta de caras afeminados... _ ele disse com mais uma imitação de uma mulher.

   _ Ah... Até que eu poderia me divertir com você... _ Lucia disse se aproximando do garoto, como se o estivesse provocando _ Mas eu tenho namorado. _ ela disse e se afastou de vez, sorrindo mesmo que tivesse acordado tão cedo.

   _ Quer dizer o seu falso namorado Weasley? _ ele disse e Lucia o olhou, espantada _ Qual é? Eu saquei tudo assim que vi... _ a garota ergueu uma sobrancelha _ Ok, Stella me contou, mas isso não muda o fato de que ele é seu namorado falso e você quer fazer ciúmes no Alvo.

   Lucia parou um pouco e pensou. Ela podia negar. Dizer que era apenas uma brincadeira de Stella. Ela parecia o tipo de garota que gostava de brincar. Mas... O que tinha a perder? Stan poderia ser útil como seu... Espião.

   _ Bom... E funcionou?

   _ Quer saber se Alvo ficou com ciúmes? Bom, digamos que desde anteontem ele não parou de falar nem por um minuto em “como você não teve a decência de contar a ele que rolava algo entre você e o Fred”. Bom, aí eu já comecei a desconfiar. Vocês estarem juntos logo no primeiro dia de aula indicaria que tiveram um rolo durante as férias. Se tivesse rolado algo nas férias, ele teria ficado sabendo.

   _ Incrível, Stan... _ Lucia disse sorrindo e aplaudindo _ Sua capacidade de percepção pode me ser muito útil algum dia...

   _ Bom... Se eu vou te ajudar com a minha capacidade de percepção, só vai depender de você... _ ele disse se aproximando com um sorriso malicioso.

   Lúcia começou a rir e o afastou com as mãos.

   _ Seu bobo! Por que você ta acordado há essa hora? _ ela perguntou, enquanto o garoto deitava a cabeça em seu colo e ela começava a fazer um leve cafuné no amigo.

   _ Não consegui mais dormir... _ ele disse simplesmente _ Acho que ainda não me acostumei com o fuso horário.

   Lucia rolou os olhos e riu.

   _ São só duas horas de diferença! E a sua irmã lida muito bem com elas, porque acordá-la para ir pra aula é um sufoco absoluto!

   _ Se a Stella fosse pros Estados Unidos, que tem o horário bem mais atrasado do que aqui, ela acharia difícil acordar cedo. _ ele disse, repetindo o ato de Lucia de rolar os olhos _ Aquela lá nunca vai ter dificuldades para dormir. Nem parece que é gêmea da Scarla, porque a outra nunca dorme muito! Chega a ser assustador!

   Ficaram falando sobre coisas banais por um tempo. Era bom conversar com Stan, ele não a conhecia muito bem, então muitos assuntos surgiam e eles continuavam falando. Em um momento, depois que Stan terminou de falar sobre seu relacionamento com as irmãs, Lucia lembrou-se de algo.

   _ Falando em Scarla, depois do problema com o balaço, meu pai resolveu, junto com os outros professores, que seria melhor voltar com as aulas de vôo só para os alunos do primeiro ano... _ Stan abriu a boca categoricamente e Lucia riu de sua expressão.

   _ Como você sabe disso? _ o loiro se ergueu em um pulo, sentando-se ao lado da garota.

   _ Mamãe deixou escapar. _ ela deu de ombros _ Papai vai anunciar hoje. Vai querer fazer que matéria?

   _ Não sei! Só sei que vou matar a minha irmã! E o Thomas!

   _ Nisso a gente vai ter o prazer de te ajudar. _ a voz de alguém surgira do alto da escada do dormitório masculino. Os dois olharam para trás e viram Alvo descendo as escadas _ Matar o Thomas, não a sua irmã. _ ele dava um sorriso sarcástico.

   Merlin! Como ele é lindo! Lucia pensava enquanto via o moreno descendo as escadas. Ele vestia o uniforme normal de Hogwarts, mas com um estilo que apenas ele, Scorpius e, ela percebeu, Stan usavam na Sonserina. A camisa social para fora da calça, a gravata listrada de verde e prata frouxa e alguns botões da camisa branca abertos. Ele não usava o colete preto ainda, mas quando o vestisse, o toque sensual que o uniforme possuía só aumentava. Stan a cutucou na cintura e, quando ela se virou para repreendê-lo, percebeu que devia estar olhando para Alvo com cara de boba.

   _ Bom dia, Lucia _ ele a cumprimentou com o usual beijo na bochecha da garota _ Stan. _ ele e o loiro se cumprimentaram com um toque de mãos _ Estão acordados há muito tempo?

   _ Não muito... _ Stan disse _ Quando eu desci eram seis e pouco, mas a Lucia já estava aqui.

   _ Hã... Cara... Você sabe que já são sete e quarenta e cinco, né? _ Al olhava para os dois com as sobrancelhas erguidas.

   _ Merlin! _ Lucia ofegou _ Estamos conversando há quase duas horas! _ ela dizia olhando para Stan _ Como?

   _ Parece que temos assunto, loira! _ ele disse com um sorriso sarcástico e Lucia revirou os olhos. De novo. _ Cadê o Scorpius?

   _ Terminando de se arrumar. Ele demorou pra acordar hoje. _ Alvo disse dando de ombros e se sentou do outro lado de Lucia. A garota sorriu por dois motivos. Um é que ela sabia por que Scorpius demorava tanto para acordar. E o outro... Bem, Alvo estava sentado ao lado dela... Bem mais perto do que era necessário. _ Então... Falavam sobre...?

   Lucia abriu a boca para responder algo como “nada de mais” ou “coisas aleatórias”, quando Stan respondeu.

   _ Estávamos falando sobre o Sr. Fred Weasley. Conhece? _ ele disse segurando-se para não rir.

   _ Ah. _ Alvo fechou a cara _ O namorado. Por que não me contou que você estava de rolo com o Fred? _ perguntou virando-se para a amiga.

   _ Hã... _ Lucia olhou para Stan, como se pedisse ajuda. O loiro apenas deu de ombros _ A gente não queria que espalhasse... Sabe como é... E como você disse, era só rolo.

   _ Mas aposto que a Rose sabia! _ Alvo disse, ressentido.

   _ Não! Assim como eu também não sabia do caso do Lohan! _ Lucia sorriu vitoriosa ao perceber que tinha conseguido uma desculpa tão facilmente. E Alvo parecia ter acreditado, pois olhava desgostoso para a lareira. Talvez saber mentir tenha sido um dos motivos para que tenha entrado na Sonserina.

   _ BOM DIA, FAMÍLIA! _ Scorpius berrava descendo as escadas. Algumas garotas do quinto ano olharam para ele dando risadinhas, mas Scorpius nem olhou para elas, o que não era normal para o loiro de olhos cor de gelo. O garoto só se dirigiu ao lugar onde os outros três estavam, cumprimentando todos e sentando-se no tapete. _ Então... Cadê a Rose? Quero dizer, a Rose e a Stella?

   Como ele olhava para Lucia, ela resolveu responder.

   _ Não desceram ainda. Quando levantei elas ainda estavam dormindo.

   Scorpius ia falar algo, quando gritos foram ouvidos da escada.

   _ E NUNCA MAIS ME ACORDE ANTES DAS SETE E MEIA DA MANHÃ NA SUA MALDITA ARRUMAÇÃO DE CABELO! _ todos riam da cena de Stella gritando com Rose e a morena apenas revirando os olhos com um sorriso sarcástico no rosto.

   _ Bom dia, gente! _ Rose disse sorrindo e dando um beijo na bochecha de cada um dos amigos. _ Dormiram bem?

   Lucia, Alvo e Stan disseram que não, porém Alvo era o único que não possuía um sorriso zombeteiro na face.

   _ Pois eu dormi extremamente bem! _ Scorpius disse dando uma piscadela para Rose. Lucia escondeu o sorriso, os amigos não faziam idéia de que ela sabia. _ Vamos tomar o café da manhã? Logo teremos aula de vôo.

   Os amigos saíram rápido, antes que Lucia pudesse dizer qualquer coisa. Stan, que foi o único a continuar ao seu lado, olhou para a loira e os dois começaram a rir.

Salão Principal – 08h30min

   ­_ Como assim as aula de vôo foram canceladas? _ James Potter gritou da mesa da Grifinória, fazendo com que todos olhassem para o diretor, que ainda estava parado frente à mesa dos professores depois de dar o aviso aos alunos.

   _ Sr. Potter, creio que deixei claro que as aulas não foram canceladas. _ ele disse e Jay bufou, assim como Fred e Robert _ As aulas de vôo apenas voltaram a ser como em minha época, apenas para os alunos do primeiro ano.

   Um murmurinho de indignação se espalhou rapidamente pelo Salão Principal depois que Neville Longbottom voltou a sentar-se à mesa dos professores.

   _ Droga! O que vão fazer no lugar de vôo? _ Cassandra perguntou ao irmão e a Luke na mesa da Grifinória.

   _ Acho que Herbologia _ Luke respondeu dando de ombros.

   _ Por que Herbologia? _ Lohan perguntou, indignado _ Minha mãe dá aula de Herbologia! Não quero ter aulas com a minha mãe!

   _ Fale por si mesmo. Vou para a aula de Herbologia. _ Luke olhou para Cassandra _ E você?

   _ Vou com você. _ ela olhou para a mesa da Sonserina, onde Alvo ria de algo que Stella disse _ Você sabe pra qual aula Rose vai? _ ela esperava que Luke não percebesse que queria saber, na verdade, para que aula Alvo Potter iria.

   _ Ela também deve trocar para Herbologia. _ Luke disse olhando para a mesa da Grifinória, também _ Ela precisava escolher entre Herbologia e Vôo... A paixão pelo Quadribol falou mais alto _ ele sorriu e se virou para Cassandra, sussurrando em seu ouvido _ Alvo deve ir com ela. Aquele grupo de sonserinos nunca se desgruda.

Aula de Herbologia – Grifinória e Sonserina

   Os alunos estavam dispostos em grupos de quatro. Isso seria facilmente visto como uma coisa boa pelos amigos sonserinos, mas com a entrada de Stan e Stella no grupo, dois deles teriam que se separar dos demais.

   _ Querem tirar no palitinho? _ Lucia perguntou, vendo que ninguém estava muito disposto a se afastar do grupo.

   _ A gente podia mandar o Alvo para a mesa da Thomas... _ Scorpius disse malicioso e Alvo sorriu, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, Stan interveio.

   _ Não acho que algo vá impedir que o Al mate o Thomas se ele disser algo errado. Ou não disser nada também. Nosso amigo vai querer matar ele de todo jeito. _ todos pareceram ponderar e Lucia sorriu em agradecimento para Stan, que piscou maroto.

   _ Eu posso ir pra mesa do Stephen. _ Rose sugeriu, olhando para o belo garoto de cabelos cor de mel que entrava na estufa. Os garotos a olharam, incrédulos _ Que é? Somos amigos! Ele foi comigo pra Califórnia também!

   _ Como assim? _ Scorpius perguntou coma típica cara de sonserino arrogante, olhando para Stephen.

   _ Fomos com um grupo de viagens e ele também. _ Rose deu de ombros _ Posso me sentar com ele e Daniel Wood.

   _ Tudo bem, mas Alvo vai com você! _ Scorpius disse, o que fez Alvo e Rose olharem para ele com certa confusão nos olhos.

   _ Por que eu e não você?

   _ Porque eu não converso com o Finnigan e com o Wood. Você sim. _ o loiro disse sorrindo _ E não podemos deixar a Rose sozinha, então...

   Rose bufou e saiu andando em direção a mesa dos dois grifinórios. Alvo suspirou e a seguiu, dando um olhar triste para a mesa em que Cass acabara de se sentar com Luke Jordan.

   _ Ei! Rose! _ o garoto gritou e ela foi até ele _ Parece que Lohan não vem, vamos nos sentar com a Cass e o Luke! _ Rose não pode responder, pois ele já se sentava junto da garota. A morena lançou um olhar de desculpas para Lucia e seguiu para a mesa com o primo.

   _ Olá raio de sol! _ Luke cumprimentou Rose assim que ela se sentou ao lado do garoto.

   _ Bom dia, Luke! Bom dia, Cass! _ Rose e Alvo disseram.

   _ Está melhor pelo... Você sabe _ Cassandra perguntou sem graça para Rose.

   _ Ah! Estou sim! Sabe como é... A cabeça dura tem que servir para alguma coisa! _ Rose disse sorrindo.

   A aula passou em um clima muito confortável nas duas mesas. Cho Chang parecia ser uma boa professora, apenas parecia porque ficou a aula inteira explicando as regras de uso da estufa e como lidar com cada planta que estava lá.

   Ao fim da aula, os sonserinos com Cassandra e Luke saíam da sala quando ouviram a professora chamar por Alvo.

   _ Sr. Potter, pode vir aqui um instante? _ Alvo olhou para os amigos que indicaram que o esperariam.

   _ Sim, professora?

   _ Vi que você e minha filha são amigos, certo? _ Alvo assentiu sem saber o que viria a seguir _ Fique longe dela.

   E dizendo isso, a professora entrou em uma sala do outro lado da estufa.

Trato de Criaturas Mágicas– Grifinória e Sonserina

   Era a segunda aula do dia e Hugo já se sentia cansado. A aula de Feitiços fora extremamente chata, uma vez que foi apenas teórica e ele não pôde usar a sua varinha. Ele não estava nem um pouco afim de assistir a aula de Trato de Criaturas Mágicas. Ele nem teria se inscrito na matéria se Lilian não tivesse o obrigado. Aquela ruiva conseguia tudo o que ela queria.

   Andou em passos lentos para a orla da Floresta Proibida enquanto Lilian não parava de falar sobre algo que ele realmente não prestava atenção. Desde que começaram as aulas ele andava meio desligado, já não se divertia tanto quanto antes, não aprontava tanto quanto gostaria de aprontar.

   Algo definitivamente estava errado com Hugo Weasley.

   Ele se sentia vazio. Alguns diriam que ele estava apaixonado, mas por quem? Ele não sentia frio, mas também não sentia calor. Ele não se sentia feliz, tampouco se sentia triste. Ele não sentia nada. Ou melhor, sentia-se estranho. Estranho e cansado.

   Levantou-se naquele dia sentindo-se... Bom, apenas por dizer que ele sentia algo, já explico que ele não estava diferente. Tomou café da manhã com seus amigos, conversou um pouco com Scarla Zabine e, assim que se levantou da mesa, parou de sentir. Ele só sabia que estava fatigado. E ele não sabia por que. Irritou-se na aula de Feitiços só porque não fizeram uma aula prática e... Por que isso? Ele odiava Feitiços! Só assistia às aulas porque a matéria ainda era obrigatória! Então porque tinha ficado tão bravo?

   Ele começou a ficar cansado do falatório de Lilian. Ela nunca parava! Realmente tinha algo errado apenas pelo falo de ele se referir à prima apenas como Lilian. Nunca Lily, ou Lils, como ele sempre a chamou. Ele deveria ficar preocupado... Ou não? Ele não se sentia nada preocupado, mas pensou que talvez devesse estar, talvez devesse visitar a Ala Hospitalar.

   Estou sendo ridículo ele pensou não tem nada de errado comigo! Hugo dizia a si mesmo. E esse falatório insuportável de Lilian? Merlin! Aquilo já estava o irritando. Se sentir irritado quando acha que não está sentindo nada é bom ou ruim? O garoto ruivo se perguntava. Sinceramente? Ele já estava se achando louco por bater um papo em sua cabeça quando sua prima e melhor amiga estava falando sobre algo.

   Será que ela não percebia que não estava sendo ouvida? Ela fazia um monólogo, um discurso, e continuava falando mesmo que Hugo não respondesse? O garoto não devia se irritar com isso, mas se irritou. Ela só queria falar, mas não queria ouvir o que Hugo tinha a dizer. Que ridículo! Não tenho nada a dizer! Ele pensava, mas algo lhe dizia que ele devia dizer...

   _ Lilian! Cale a boca! _ o ruivo disse rude e a prima o olhou, assustada.

   _ Do que está falando, Hugo? Parei de falar há muito tempo! _ então ela pareceu desgostosa _ Quando percebi que você não estava me ouvindo.

   Então ela saiu e o deixou para trás.

   Tem algo de errado comigo ele pensou enquanto continuava seguindo em direção à orla da Floresta Proibida.

Aritmância – Grifinória e Sonserina

   Terceiro horário do dia e James sentia-se exausto. Parvati Patil, a professora de Transfiguração, tinha mandado que eles transfigurassem o próprio rosto para que se ficasse igual ao de sua dupla. Como os garotos eram um trio, James transfigurou seu rosto para ser igual ao de Fred, Fred ao de Robert e Robert ao de James. O Potter teve muitas dificuldades para se transformar em Fred, assim como o ruivo teve dificuldade para se transformar em Robert. Os dois tiveram que mudar completamente a cor dos olhos e do cabelo, já o amigo Longbottom já tinha os olhos e cabelos castanhos, por isso só teve que mudar os tons para se parecer com James. Maldito sortudo! Fred murmurava enquanto tentava se transfigurar no cunhado.

   Teddy pegara pesado. Parece loucura, mas o professor levou nada mais, nada menos, do que oito dementadores de Azkaban para ajudar os alunos a treinarem o Patrono. Os alunos tinham que se proteger e proteger os colegas também. Enquanto isso, Teddy se mantinha atrás de uma placa de vidro conjurada, indicando os erros de cada um. Foi uma correria imensa, porque uma vez que o aluno se distraia um dementador aparecia e começava a se alimentar de sua felicidade.

   James não se distraiu em momento algum, mas Fred sim. O ruivo foi defender Chanelle Mervin, uma corvinal muito bonita, com os cabelos negros e olhos bem verdes, que estava sendo atacada por uma das criaturas e não viu quando outro se aproximava por trás dele. A sorte foi que Robert viu e protegeu o garoto, que entrava na frente da colega e conjurava seu patrono em forma de raposa. Chanelle ficara extremamente agradecida.

   Agora ele teria de ir para a maldita aula de Aritmancia porque a maldita Scarla jogou o maldito balaço em sua prima no maldito jogo da aula de vôo. E se já não bastasse, ela estava em sua classe.

   Nicole Koppitz. Linda. Loira. Sonserina. Ela era quem os meninos queriam ter e as meninas queriam ser. O caminho pelos corredores lotados de Hogwarts se abriam como o mar vermelho quando ela passava. Ela e seu irmão gêmeo, Cold, eram o que se podia chamar de realeza sonserina. Nenhum Malfoy, Zabine ou qualquer outra família sonserina era mais respeitada do que os irmão Koppitz. Mas, como a sonserina tem a sua realeza, a Grifinória também tem a sua. James Potter, Fred Weasley e Robert Longbottom. Mas Nicole, aquela que tem olhos azuis e pele macia, não se interessava em nenhum deles. Ela era a única.

   “Ela é a versão James de saia!” alguns alunos costumavam dizer. James considerava isso como um elogio para Nicolle. A garota chamava isso se ofensa. “Quero ser do grupo de Nicolle!” algumas meninas viviam falando pelos cantos. A loira apenas revirava os olhos e dizia: “Você não tem estilo que seja o suficiente. Tente me surpreender”. Dificilmente as garotas conseguiam.

   Cold Koppitz. Loiro. Lindo. Sonserino. Era mais na dele. Seus lindos olhos azuis eram motivos de sonhos, em que as meninas o tinham nos braços, e pesadelos, em que elas estavam longe de chegar aos pés dele. A voz rouca e sexy o torna alvo de milhões de fantasias das garotas. James, Fred e Robert que se cuidassem. Hogwarts tinha outro galã.

   Lauren Vanucci e Vanessa DiLaurencci. Se Nicolle era a rainha da Sonserina, as duas amigas eram as princesas. A garota podia dizer, com convicção, que Lauren e Vanessa eram as únicas amigas de verdade que ela tinha. Conheceram-se bem antes de saber distinguir galeões de verdade daqueles em forma de moeda. Lauren, com seus rebeldes cabelos cor de chocolate tinha um aspecto meio selvagem e sensual. Seus olhos eram num tom muito escuro de castanho. Alguns diziam que eram escuros porque eram profundos. Vanessa tinha cabelos ondulados, negros. Os olhos, também negros, amedrontavam aqueles que temessem um desafio.

   Pois bem. Aqueles quatro sonserinos estariam na mesma classe de Aritmância que o trio da Grifinória. Simas Finnigan, o professor, já estava na sala de aula quando James, Fred e Robert chegaram.

   _ Desculpe o atraso, professor Finnigan. _ Fred disse _ Tivemos um problema com os Dementadores na aula de DCAT...

   _ Ah! Então Ted conseguiu a permissão para trazê-los! _ Simas sorriu. Um sorriso muito parecido com o de seu filho. _ Me digam, como se saíram?

   _ Bem, mas um deles conseguiu me atingir quando eu entrei na frente de Chanelle Mervin para defendê-la de um deles que a atacava. _ Fred deu de ombros _ Robert me ajudou.

   _ Ah! Que maravilha! Realmente uma maravilha! _ uma voz feminina soou no fundo da sala, onde estavam paradas quatro pessoas, três garotas e um garoto _ Os grifinórios vêm ao resgate das pobres almas!

   Quando James se virou, ele sabia que seu olhar encontraria Nicolle. Não foi surpresa ver a garota e os outros parados em uma típica pose de filmes americanos.

   _ Olá, Koppitz Desalmada! _ Fred disse sorrindo. Ele e Nicolle não se davam tão mal assim. O senso de humor do ruivo não parecia irritar a loira. Não o tempo todo.

   _ Disse algo que é verídico, Weasley! _ Nicolle fingia-se de mãe orgulhosa, para logo depois completar, arrogante _ Minha alma foi removida de meu corpo para caber o meu sarcasmo.

   James ergueu uma sobrancelha. Nicolle sempre usava frases que descreviam bem o espírito sonserino, mas aquela era nova. O Potter viu Robert e Fred sentando-se em uma mesa tripla e logo se juntou a eles, mas não sem antes lançar um sorriso cafajeste a Lauren e Vanessa, o que irritou a garota Koppitz profundamente. Cold já havia encontrado um lugar ao lado de Venus Heil e Jason Trent.

   Jason era o melhor amigo de Cold desde sempre. O garoto de cabelos castanhos e olhos verde oliva tinha um ar sério e compenetrado, que era quebrado assim que se juntava ao companheiro de farra Koppitz.

   _ Bom, turma, hoje iremos começar um trabalho novo. _ Simas dizia _ Muitos de vocês são alunos novos que foram transferidos por causa do fim das aulas de vôo e não viram a nossa primeira matéria que foi o passado. O passado e como ele se tornou o presente e como chegaremos ao futuro. Tudo isso é Aritmância. É o tempo e o espaço, o real e o imaginário, o sonho e o desejo. _ o professor olhava para as pessoas da turma enquanto falava. _ Dividirei vocês em duplas e, por duas semanas, terão que agir com a sua dupla como se fossem casados. _ algumas exclamações foram ouvidas. Algumas positivas e outras, muitas outras, negativas _ Isso irá introduzir você à nossa nova matéria: próximos ao futuro distante.

   Fred, Robert e James se entreolharam. Que tipo de nome para matéria era aquele?

   _ Bom, as duplas estão escolhidas e... Sim, Sr. Weasley? _ ele perguntou vendo a mão de Fred erguida.

   _ Professor, acho que o senhor vai entender que eu não me sentiria bem fingindo estar casado com alguém que não a minha namorada... _ o ruivo disse, recebendo alguns olhares encantados das meninas.

   _ Entendo, Sr. Weasley, mas sua namorada não está nessa turma e, de qualquer forma, esse é para ser um projeto desafiador. _ Fred assentiu _ Mais perguntas? _ como ninguém se manifestou, ele continuou _ Já separei as duplas. Cold Koppitz com Alyssa Mervin. _ Cold olhou para a gêmea de Chanelle e deu um sorriso de lado _ Fred Weasley com Venus Heil _ Fred percebeu que nunca tinha visto aquela garota antes, mas os olhos avelã davam a impressão de que ela era uma boa pessoa _ Robert Longbottom com Lauren Vanucci _ a garota corou quando Robert sorriu ao avaliá-la. O professor foi falando outras duplas, até que _ E a última dupla é James Potter e Nicolle Koppitz.

   _ COMO É?

Almoço – Salão Principal

   A notícia de que James Potter e Nicolle Koppitz seriam um casal no novo trabalho na aula de Aritmância se espalhou mais rápido do que o grifinório esperava. Assim que ele entrou no Salão Principal, muitos rostos se viraram para ele. Scorpius, Alvo e Rose, na mesa da Sonserina, assim como Lilian na mesa da Grifinória prendiam o riso. Lucia apenas se levantou da mesa das cobras e se dirigiu a Fred, dando vários tapinhas nos ombros do falso namorado.

   _ Como assim você está casado? _ ela perguntou em um tom bravo _ Você não me contou isso quando começamos a ficar! Você é comprometido! _ a loira assumiu um tom de brincadeira _ Eu nunca teria aceitado ser a outra! _ ela pronunciou a última palavra como se fosse algo maligno.

   Venus Heil, que estava ao lado de Fred, sorriu de lado. Ela era uma corvinal de olhos num castanho chocolate e tinha os cabelos cacheados e também castanhos nas pontas. Ela era linda e se Lucia realmente namorasse Fred, ela morreria de medo de perdê-lo para a garota.

   _ Ah! _ a morena olhou para Fred, entrando na brincadeira _ Quer dizer que você estava me traindo?

   Fred olhava de uma para a outra, elas mantinhas as expressões sérias, então ele não tinha certeza se elas estavam brincando ou não.

   _ Você estava enganando a minha irmã, Fred Weasley II? _ Robert levantava a voz, juntando-se as meninas.

   _ É... Bem... _ ele conhecia Robert bem o suficiente pra saber que era uma brincadeira _ James pode explicar, não pode, Jay?

   _ Por que o professor Finnigan tinha que me colocar com a Koppitz? _ James perguntou, totalmente alheio a conversa dos demais _ Quero dizer, todo mundo sabe que eu odeio ela!

   _ E ela te odeia, cara. _ Fred completou sorrindo e passou um braço pela cintura de Lucia e outro pelos ombros de Venus. As duas o olharam com um sobrancelha erguida _ Que é? Fred e suas duas mulheres!

   _ De qualquer forma, _ James continuou _ vocês podem não conhecer as suas “mulheres”, o que é mau, porque elas podem ser psicopatas... _ ele olhou para Venus, que sorria de lado _ Sem ofensas. Mas comigo é diferente! Eu sei que ela é uma psicopata!

   _ Também não me agrada estar casada com você, Potter. _ a voz de Nicolle foi ouvida se aproximando dos garotos _ Mas não tenho escolha. Olá, Lu! _ as loiras se cumprimentaram sorrindo. Eram, de certa forma, amigas. Conheceram-se quando Lucia cursava o quarto ano e conseguiu entrar na equipe de Quadribol, quando Cold e Nicolle eram co-capitães do time. Depois de um tempo, eles resolveram passar o cargo ao, então capitão, Scorpius Malfoy.

   _ Soube que se casou com o James... _ Lucia disse se aproximando de Koppitz _ Sinto muito!

   _ Ei! Lucia! _ James quase gritou _ Era para você estar do meu lado!

   A loira apenas revirou os olhos, deu um beijo em Fred e acenou para Venus e os demais. Voltou, então para a mesa da Sonserina, onde os outros conversavam.

   _ Perceberam que o Hugo não está sentado perto da Lily? _ Lucia perguntou enquanto voltava a se sentar à mesa, depois de dar uma olhadela para a mesa dos leões.

   _ Estávamos falando disso. _ Rose disse com um olhar preocupado _ Ele está conversando com a irmã de vocês. _ ela disse olhando para Stella e Stan. Não pôde deixar de estranhar que o irmão estava falando com a garota que a fez cair de uma vassoura há quinze metros do chão... Hugo nunca faria isso.

   _ Não acho uma boa idéia ele andar com Scarla... _ Alvo disse _ Ela é maligna. Sem ofensas _ ele olhou para os amigos Zabine _ E soube que ela e Lohan estão se dando bem... Desse jeito, logo, logo Hugo estaria conversando com o Thomas!

   _ Não! _ Lucia disse _ Hugo nunca faria isso!

_Lucia... _ Stella disse olhando com os lábios entreabertos para a mesa da Grifinória ­_ Ele acabou de fazer.

   Todos olharam para a mesa da Grifinória, onde Hugo conversava com Lohan. Ele não sorria, mas também não parecia odiar o garoto. Scarla olhava para aquilo sorridente e o garoto moreno também sorria. Fred, que olhava para Lucia, seguiu o olhar da loira e viu a cena, logo cutucando James e Robert que conversavam com Cassandra. Três segundos depois e todos olhavam para aquilo, abismados.

   Lily, que estava alheia à situação, continuava conversando com Suzan McGraw quando percebeu que todos os amigos dirigiam o olhar para a mesa de sua casa. Olhando atentamente para os colegas, não viu nada de estranho até que viu uma garota loira sorrindo para um ruivo, que conversava com ela sem parecer se importar com quem ela era ou com o que ela tinha feito à sua irmã. Mas não foi aquilo que chamou mais a sua atenção. O que realmente a deixou de boca aberta foi ver Lohan Thomas participando dessa conversa.

   _ Mas o que... ­_ ela começou a pensar em voz alta quando ouviu passos vindos da porta do Salão Comunal.

   Duas garotas corvinais loiras entraram no Salão Principal.

   _ Eu já disse que não, Mah! _ uma delas falava em tom normal, mas um pouco irritado. Já haviam atraído muita atenção naquele dia, mas não pareceram perceber.

   _ Mas Kendall! _ Malice insistia _ É um show de talentos! Significa que você _ ela apontou para a amiga _ tem que mostrar o seu talento para o mundo! _ ela fez um gesto abrangendo todo o Salão Principal.

   _ Repito: não! _ ela disse e olhou para a mesa da Grifinória, procurando por Cassandra e, talvez, Luke. Quando viu a cabeleira negra da amiga, pensou em ir cumprimentá-la, mas viu que Cass estava sentada ao lado de Robert Longbottom. Ela tinha que sair dali antes que um dos dois a visse.

   _ Ei! Kendall! _ ela ouviu voz conhecida da Grifinória gritar _ Malice! _ Cassandra fazia gestos mandando elas se aproximarem.

   Ao ouvir o nome Kendall, Robert ficou alerta. Não ouvia aquele nome há um bom tempo... Também não o pronunciava há um bom tempo. Gostaria de dizer que não via a dona do nome também, mas às vezes cruzava seu caminho. Sempre se desviava para que ela não o visse. Mas ele a via. Dakota Kendall Taylor continuava a mesma. Os cabelos continuavam no mesmo tom de loiro, os olhos continuavam no mesmo tom de chocolate. Ela continuava linda como sempre. Mas agora ele não podia dizer isso em voz alta.

   Kendall percebeu a hesitação de Robert, apesar de não entender o motivo. A garota fez um gesto para Cassandra, indicando que depois se falavam e a oriental assentiu.

   A atenção de todos se voltou, novamente, à porta do Salão Principal, por onde o zelador Argo Filch entrou carregando, firmemente, uma caixa de madeira do tamanho de uma caixa de sapatos. Sem dar atenção aos cochichos dos alunos e continuando com seus incessantes resmungos, ele caminhou em direção à mesa dos professores e entregou a caixa para Draco Malfoy, que sorriu ao ver o pacote.

   O professor levantou-se e sussurrou algo a Neville, que olhou meio espantado para o loiro. Aos poucos, um sorriso foi se abrindo e ele assentiu enquanto seus lábios se moviam, parecendo sugerir algo. Draco deu de ombros e assentiu, parecendo concordar. O diretor levantou-se apressado e entrou em uma sala ao lado da mesa dos professores, sumindo da vista dos alunos que olhavam curiosos para a cena.

   O loiro adiantou-se à frente do palco e, como todos já o encaravam, sorriu.

   _ Sabem, na minha época não era tão fácil alguém ter atenção aqui... Mas de qualquer forma, podemos começar a aula de História da Magia de hoje?