Escolhido Ao Acaso escrita por Mandy-Jam


Capítulo 11
Um estranho nas sombras


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai. Nesse capítulo veremos de quem a Kim é filha!
Tam tam tam tam taaaam!



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POV Kim

- Aí ela entrou na loja. – Contou Matt e depois olhou para mim – A namorada dele.

Tive vontade de chutar Matt com toda a minha força, mas tive que me conter.

- É, eu sei. Sabe como eu sei que a garota era namorada dele? – Perguntei e ele negou com a cabeça – Porque você já disse isso mais de sete vezes.

- Ah, disse? Tudo bem. – Ele assentiu ainda um pouco esquisito – Aí a namorada dele falou comigo, e...

- Se você falar “namorada dele” mais uma vez, eu quebro a sua cara. – Disse trincando os dentes. No fundo eu entendia que ele estivesse chocado por uma garota querer ficar com o Ares, mas ficar repetindo aquilo o tempo todo, estava me irritando. Respirei fundo e nós continuamos a andar – Mas e aí... Como ela era?

- A namorada dele? – Perguntou Matt. Eu trinquei os dentes.

- Não, a minha namorada. É claro, idiota! – Exclamei irritada – Ela era como? Uma lutadora de boxe profissional, ou uma patricinha com um chiwawa?

- Uhm... Uma garota com suéter. – Respondeu ele e eu parei de andar franzindo o cenho. Matt parou e olhou para mim – O que?

- Uma garota de suéter. É sério isso? – Perguntei.

- É. Ela tinha um suéter, calça jeans, tênis, camisa branca, cabelo bagunçado e um violão com cordas arrebentadas. Nem gorda, nem magra. Nem alta, nem baixa. – Falou Matt. Eu fiquei surpresa pela última parte.

- Nossa... Olha a ironia do destino. O único cliente da sua lojinha medíocre é a namorada do maluco que quer te matar. – Disse surpresa – Mas ela fez o que? Tentou te matar ou coisa parecida?

- Não. – Negou ele e continuamos a andar – Ela foi para lá, pediu para eu concertar o violão dela, e... Logo depois o Ares apareceu. Eu me escondi debaixo do balcão...

- Típico. – Murmurei, e Matt revirou os olhos. Ele parou um pouco de falar e olhou para mim. Eu olhei para ele, e esperei que dissesse alguma coisa.

- Ela me lembra você. – Comentou ele – Ela enfrentou ele sozinha. Disse para ele me deixar em paz, e mandou ele para longe. Não de modo agressivo ou falando milhões de palavrões como você faria, mas foi bem corajosa.

Eu parei para entender aquilo, e depois assenti.

- Está dizendo que eu sou corajosa? – Perguntei, e Matt encolheu os ombros.

- Ou é isso, ou é louca. Também acho que pode ser os dois, é claro. – Comentou ele. Eu lhe dei uma cotovelada.

- Qual é o nome dela mesmo? – Perguntei. Matt parou para pensar.

- Alice Kelly. – Respondeu ele, e aquilo me soou um pouco familiar. Onde eu teria ouvido o nome dela?

- Ótimo. Fique longe dela. – Disse, mas Matt olhou para mims em entender – Você é tão otário assim? Ela está no time inimigo. Mesmo tendo mandado o namorado ficar longe de você, ela ainda não é confiável.

Matt me encarou um tanto incomodado, e colocou as mãos dentro dos bolsos do casaco grosso.

- Ela sabe o que está acontecendo. – Contou ele em um tom sério – Ela me disse que não podia contar, mas que eu devia me afastar do Ares e da Ashley. Que eles arrumam confusão sempre, e que não era bom eu ficar no meio.

- Eu te disse a mesma coisa, mas foi necessário uma desconhecida falar isso para você se tocar. – Comentei em um murmuro – Eu falei para você que ela só ia te usar. Ia criar encrenca, mas você não me ouviu, e deu nisso.

- Moral da história. Sempre ouça Kim, a poderosa dona da razão, para não ser perseguido por um motoqueiro furioso. – Disse Matt em um murmuro irritado. Revirei os olhos e olhei para ele.

- Olha, eu só estou dizendo o que penso, e... – Ele me interrompeu.

- É. Você sempre diz o que você pensa. Uma pena que a sua opinião não mude nada. – Rebateu ele. Eu parei de andar e controlei a minha raiva. Matt não parou. Ele continuou andando, e eu fiquei sem entender.

- Qual é o seu problema? – Perguntei irritada.

Ele parou e virou-se. Estávamos á uma certa distância, mas ainda podia notar que nossos olhos se fitavam.

- Você sempre diz que o que eu faço é errado. Que a minha vida é péssima, que tudo meu é ruim. Eu já sei disso, Kim. Eu estou bem enrolado agora, e a última coisa que eu preciso é ficar ouvindo você jogar a culpa em mim. – Reclamou ele.

- Nossa. Quanta coragem. É uma pena que você não enfrente aquele idiota como você está enfrentando á mim. – Rebati.

- É. É uma pena. – Concordou ele – Eu vou descobrir o que está acontecendo, e depois nós nos falamos.

Eu ia dizer alguma coisa, mas ele me interrompeu.

- A sua casa não é do outro lado da rua? Boa noite para você, Kim. – Falou ele. Matt virou-se e andou com um passo apressado em direção ao seu apartamento. Eu trinquei os dentes com raiva, e pude sentir a terra debaixo de meus pés tremer um pouco.

- Não. Para... Calma. – Murmurei me acalmando.

Ele era um grande retardado. Não podia nem mesmo se tocar quando a culpa era realmente dele. Não podia admitir que eu estava realmente certa sempre, e que se ele me ouvisse sua vida seria mais fácil.

Eu atravessei a rua ainda com raiva, mas ainda faltava um quarteirão para que eu chegasse a minha casa. A rua estava completamente deserta, já que eram umas onze e tanta da noite.

Ninguém andando. A não ser eu, e de repente, alguém logo atrás de mim. O passos da pessoa ficaram mais altos. O estranho era que não tinha ninguém antes. Eu tinha olhado para o fim da rua, e não tinha nenhum único pedestre.

Eu apressei o meu passo e pude ouvir que a pessoa fez o mesmo. Estava me seguindo? Eu olhei de leve para trás, mas não consegui identificar a pessoa.

Estava usando roupas pretas, por isso estava praticamente camuflada na escuridão. Eu continuei andando e andando, mas ainda estava sendo seguida.

Minha mão foi para dentro do bolso do casaco onde estava meu canivete. Estava pronta para abri-lo revelando sua lâmina afiada assim que a pessoa tentasse me parar, mas isso não aconteceu.

De repente, os passos pararam. Olhei para trás, mas não tinha ninguém. Eu estava ficando louca? Eram os meus próprios passos ecoando? Muito estranho.

Eu me virei e estava quase atravessando para o outro quarteirão, quando alguém surgiu na minha frente, virando a esquina.

- Boa noite. – Disse um homem mais alto que eu. Levei um susto, por isso dei um pulo para trás, e saquei meu canivete.

- O que pensa que está fazendo? – Perguntei ainda assustada – Era você me seguindo?

O homem avaliou a lâmina em minhas mãos, e deu um sorriso. Era o mesmo sorriso que as pessoas davam quando encontravam algum conhecido pela rua.

- Ah, sim. Eu lembro disso. Fico feliz que tenha guardado por todos esses anos. – Comentou ele ainda sorrindo de leve. Eu estreitei os olhos para ele, e olhei para mim lâmina.

- Bem... A menos que queira se lembrar de como ela corta bem, dá o fora da minha frente. – Disse, mas ele continuou lá – Quem é você afinal?!

- Sinto muito. Posso ver que a assustei. – Comentou ele fazendo o sorriso desparecer – Eu realmente não queria aparecer assim no meio da noite, mas é que eu estava por perto. Pude sentir a terra tremer um pouco. Não o suficiente para um terremoto, é claro, mas perceptível mesmo assim. Isso anda acontecendo muito com você, não é minha querida?

A mera menção aos terremotos me fez abaixar o canivete e olhar para o homem com outros olhos. Estava surpresa, mas me mantive parada.

- Quem é você? – Perguntei com uma voz fraca.

- Você não se lembra de mim, Kimberly? – Perguntou ele calmamente – Nem mesmo uma vaga lembrança?

Kimberly. Foi automático. Eu trinquei meus dentes com raiva, mas ainda estava perplexa demais para gritar ou coisa do tipo. Entretanto, o homem notou que eu fiquei com raiva. Ele revirou os olhos.

- Eu tinha esquecido do detalhe do seu nome. Sua mãe é que escolheu sabia? Ela insistiu em colocar “Kimberly”, mas eu realmente acho que não combina muito com você. – Comentou ele. Eu franzi o cenho.

- Minha mãe? Do que você está falando? – Perguntei confusa – Você conheceu ela?

- Ah, sim. Ela era realmente adorável. Um tanto diferente, assim como você. Não gostava de dias de Sol, nem de coisas coloridas, e tudo mais. – Ele soltou um suspiro - Foi amor a primeira vista. Ainda vejo ela ás vezes. Ela sente muito a sua falta.

Eu o encarei por alguns minutos sem dizer nada, até que por fim tomei coragem.

- Ahm... A minha mãe está morta. – Disse para ele. Aquilo não pareceu afetá-lo.

- E daí? – Perguntou sem entender aonde eu queria chegar. Arregalei os olhos um pouco, e neguei com a cabeça.

- Você tem noção de que você é um estranho que simplesmente surgiu do nada no meio da noite, e que por alguma razão sabe o meu nome e conhece a minha mãe, não é? – Perguntei incrédula – Você... É completamente maluco.

- Isso me ofende. Francamente... Estou tendo muito trabalho em aparecer aqui para falar com você, e ainda tem a audácia de me chamar de maluco? – Disse ofendido.

- Tá. – Confirmei – Sinto muito, e quem é você afinal de contas mesmo?

Ele sorriu de leve. Era um sorriso familiar de algum jeito. Tentava transmitir um tanto de carinho, eu acho, mas só estava me deixando mais tensa ainda.

- Desculpe. Eu devia ter me apresentado antes. Isso cortaria tempo. Você me conhece, Kim. Só não lembra. – Ele esperou para que eu adivinhasse quem ele era, mas eu só neguei com a cabeça – Eu sou o seu pai.

Eu parei por alguns minutos. Analisei ele dos pés á cabeça. Ele vestia jeans normais, mais tinha uma camisa preta surrada como os de roqueiros. Seu cabelo era um pouco comprido e estava ligeiramente bagunçado. Seus olhos eram negros como a escuridão.

- Você é o meu pai... – Murmurei franzindo o cenho de leve – Você nunca me viu na vida, mas resolveu aparecer do nada no meio da noite para dizer isso?

- Bem, eu já te vi antes. Não muitas vezes, mas eu a vi. – Comentou ele encolhendo os ombros – Eu vi que estava por perto, e quis aproveitar esse minutos para falar com você. Acho que tenho que explicar algumas coisas, não é? Quanto aos terremotos...

- Primeiro explique outra coisa. – Eu o interrompi. Não sabia se ele era mesmo o meu pai, mas como a minha mãe fora mencionada, eu tinha que jogar a raiva em alguém – Onde você estava enquanto minha mãe cuidava de mim sozinha?

- Ocupado. – Respondeu ele de um modo triste.

- Ocupado?! Por 11 anos?! – Exclamei incrédula.

- Meu ofício nunca para. – Confirmou ele.

- E você trabalha com o que que é tão importante?! – Quis saber.

- Ora, Kim. Sou eu que cuido sozinho de todo o Mundo Inferior. Não tem como parar o tempo todo como os outros fazem... – Eu o interrompi.

- Você disse... Mundo... Inferior? – Repeti sem entender. Ele assentiu e eu ri esperando que ele me acompanhasse, mas sua expressão continuou séria – Não... É sério mesmo? Tipo... O inferno? Gente morta, e... Fantasmas... E... Fogo eterno...

Ele sorriu ao ver que eu tinha entendido aonde ele queria chegar.

- Como eu disse, sua mãe sente saudades. Ela mandou um beijo para você. – Disse ele com grande naturalidade. Meu queixo caiu. Eu neguei com a cabeça.

- O que é isso? O que está acontecendo...? – Murmurei perplexa. Eu olhei para ele – Você... Minha mãe...?

- Eu sou seu pai. – Repetiu ele devagar. Estava sentindo toda a rua girar á minha volta – Lord do mundo dos mortos. Esse também é um nome agradável.

Eu neguei. Dei um passo para trás, mas tropecei e caí sentada no chão. Continuei olhando para ele. Meu suposto pai veio para perto de mim, e se ajoelhou. Ele tocou meu braço tentando me puxar para cima, mas eu o esquivei dele.

- Quem é você? – Perguntei sem entender.

- Eu sou Hades. – Respondeu ele calmamente. Seus olhos analisavam os meus – Senhor dos mortos, Deus do Mundo Inferior.

- Deus?! – Repeti rindo nervosamente – Você é Deus?

- Eu sou um Deus. – Corrigiu ele.

- Como assim um Deus? – Perguntei ainda rindo nervosa – Ah, entendi. Você tem outros amigos nesse ofício.

- Meus familiares. – Comentou ele fazendo careta – Zeus, Deus dos céus. Poseidon, Deus do mar. Atena, Deusa da sabedoria. Ares, Deus da guerra...

Eu congelei. Senti o frio da noite preencher cada parte do meu corpo. Hades continuou falando uma lista de nomes e profissões estranhas, mas eles saiam só como sons distorcidos. O único que era importante no momento...

- Ares?! – Olhando nos olhos dele. Eu ri de nervoso novamente – Um cara alto, jaqueta preta, genes horríveis?

- Ah, você já o conhece, infelizmente. Não é agradável ou coisa do tipo, mas... Humpf. Família. Estamos presos juntos, fazer o que? – Resmungou ele. Eu engoli em seco, e neguei com a cabeça. Deus? Guerra? Mortos? Mamãe com saudade?

Olhei para ele novamente, e pude ver que estava sendo sincero, o que me afetou de verdade.

- Você... É mesmo o meu pai? – Perguntei sem entender. Ele assentiu, deu um meio sorriso, e me abraçou.

- Sim. Sinto muito pela sua mãe. Sinto muito por estar longe também. – Disse em meu ouvido. Eu me sentia cada vez com menos ar nos pulmões. Não por causa de seu abraço, mas sim por toda aquela informação repentina – Mas eu não pude evitar. Bem... Eu estou aqui, Kim. Não sei mais o que dizer.

- Ar. – Disse sem conseguir pronunciar mais nada. Ele me soltou e olhou para mim confuso – Preciso de ar. Eu tenho que ir.

Eu levantei cambaleante, e ele tentou me segurar.

- Deixe-me te ajudar. – Pediu.

- Não! – Exclamei ao senti-lo tocar meu braço – Eu tenho que ir embora. Rápido. Agora. Agora mesmo.

- Vá. – Assentiu ao ver que não poderia fazer mais nada – Direi a sua mãe que você mandou lembranças. Tome cuidado, Kim. Pelo visto, você está prestes a entrar em uma grande encrenca. Quer que eu diga algo para Ares também?

Eu olhei para meu pai e assenti. Mostrei-lhe meus dois dedos do meio, e dei um sorriso trêmulo.

- Manda isso para ele, papai. – Respondi, e logo depois virei as costas e corri até em casa.


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